*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘Admitir a urgência de
mudanças é um dos maiores desafios existenciais. Reconhecer a necessidade de
promover transformações exige percorrer um longo caminho. É superar obstáculos
que incluem o apego a garantias e confortos e a resistência ao novo. Diante das
dificuldades, a tendência é resistir às mudanças nos processos existenciais,
sociopolíticos e culturais, causando uma cadeia de prejuízos à sociedade. O ser
humano é constantemente desafiado a compreender que as mudanças e as conquistas
de novas etapas são uma exigência da vida.
Nesse horizonte, a celebração do Natal é oportunidade para
assumir o desafio de encontrar respostas novas, o que exige flexibilidade.
Resiste-se a mudanças porque falta a clarividência para enxergar um percurso
diferente, capaz de dar rumo novo à vida, aos muitos processos que constituem
responsabilidades pessoais e profissionais. O conforto conquistado, quando
emoldurado por mediocridades, cega a competência para perceber a hora de mudar.
As consequências são sempre tristes : vidas naufragam e as oportunidades para
qualificar a sociedade são perdidas. Tudo porque uma pessoa ou segmento social
acredita estar preso a uma situação em que as mudanças não são possíveis.
Percebe-se, assim, que o vetor mais preponderante na resistência às mudanças é
a mentalidade.
Posturas pouco cidadãs emolduram atitudes mesquinhas. Atitudes
que revelam uma visão obscurecida, impedindo o ‘pensar grande’, prejudicam modos de agir que poderiam atender aos
anseios da realidade social, política, cultural e religiosa. Crescem os
equívocos nas escolhas. Agravam-se o fenômeno das considerações aprisionadas no
enrijecimento e a visão distorcida do mundo. A tendência é a repetição de
esquemas falidos que provocam colapsos institucionais e existenciais. Com isso,
são desperdiçadas riquezas e possibilidades, substituídas pela mediocridade que
contamina a convivência cidadã. Compreende-se, assim, a razão de uma nação
rica, com potencial para ser uma economia forte, estar ferida por cenários de
exclusão social e desigualdades que alimentam a violência.
A flexibilidade para viver transformações é uma urgência e o
Natal - acontecimento de proporções incalculáveis – aponta a mudança que o ser
humano precisa buscar, de modo engajado, como prática existencial. A encarnação
do Verbo de Deus, Jesus Cristo, é a mais perfeita indicação de que a humanidade
só avança quando se abre às reformulações necessárias. O Mestre ensina cada
pessoa a compreender-se como sujeito de mudanças, capaz de alcançar um estágio
de desenvolvimento que somente o ser humano, no conjunto de toda a criação de
Deus, pode alcançar. Essa lição é revelada na encarnação do Verbo, assumindo a
condição humana, igual em tudo, exceto no pecado. E, se mudar o ser humano,
muda o mundo, a vida, a história.
O Natal é a vinda do Salvador que fecunda transformações
em todos, para que, assim, se tornem autores de uma nova história, capazes de
qualificar a sociedade, promovendo e respeitando a dignidade humana. Celebrar o
Natal, além das festas, gastos, enfeites e barulhos é, sobretudo, a
oportunidade para assumir, na própria vida, novos propósitos, priorizando o
compromisso de cultivar a solidariedade e a fraternidade – um advento de
urgentes e inadiáveis mudanças.’
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