*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
‘O que deve acontecer para que o novo ano seja realmente novo?
Eis uma pergunta que deve tocar a consciência e o coração de cada pessoa, para
renovar o compromisso de todos com a cidadania. Para construir um futuro
diferente, o primeiro passo é fazer um balanço do último ano que passou.
Uma avaliação que deve nortear-se pelos parâmetros da ética e das práticas que
se alicerçam na solidariedade. Imprescindível é constatar : a novidade almejada
não depende somente do outro. A sociedade não avança
se seus cidadãos buscam transformar apenas o que está fora da própria
interioridade. Sem uma sincera avaliação pessoal é inviável reformular o que
precisa ser mudado no mundo, pois se desconsidera a chama da consciência. Com
isto, convive-se com a incoerência de querer uma sociedade melhor, mas, ao
mesmo tempo, continuar a tratar a delinquência de forma normal e a considerar
que tudo se justifica quando o objetivo é o de alcançar benefícios pessoais,
além de achar que as mudanças esperadas devem sempre partir dos outros.
Quando cada pessoa não cuida da própria consciência o prejuízo é
enorme para a sociedade. Prevalece um generalizado descrédito que, se não for
debelado, inviabilizará os processos institucionais que são necessários para
uma vida civilizada. Triste exemplo dessa situação é o desânimo dos cidadãos em
relação à política e aos políticos. Essa carência de credibilidade afeta não
apenas as instâncias do poder, mas também os campos da educação, da cultura, da
religiosidade e das organizações empresariais. Um grave problema alimentado
pelo desrespeito aos direitos, pela incompetência na eleição de prioridades,
por marasmos e entraves burocráticos de governos. E assim o povo brasileiro
prossegue encurralado nos cenários de misérias e exclusão que se perpetuam.
O ponto de partida para edificar uma nação é a consciência de
cada um. Renovar a interioridade é compromisso pessoal, cada pessoa avaliando a
própria conduta para desenvolver novos hábitos, conquistar perspectivas
promissoras, ajudar a encontrar respostas para os problemas contemporâneos.
Essa transformação no nível da consciência deve incidir no ambiente familiar,
nos desempenhos profissionais e no desenvolvimento da competência solidária
para mudar situações. Cada pessoa, na regência da própria vida, precisa
refletir a respeito de sua participação na sociedade, se está orientada nos
parâmetros da cidadania. Além do exame de consciência, todos precisam se
organizar, com coragem, a partir do apoio de Igrejas, instâncias
governamentais, segmentos da cultura e da educação, para recuperar o descrédito
patológico que ameaça a participação política. Um sintoma grave desse momento
crítico e difícil do Brasil.
É a partir da participação de todos, sem medo, que se conquista
uma força iluminadora capaz de modelar as reformas tão necessárias ao futuro,
sem prejuízos para os mais pobres e com a erradicação de privilégios. O ‘novo’ que se busca exige, pois, o
cumprimento de duas etapas: inicialmente, um sério exame de consciência e, em
seguida, corajosamente, participar da vida cidadã, construindo propostas
capazes de ajudar na solução dos muitos problemas atuais. Trata-se de aceitar
um verdadeiro recomeço para a sociedade brasileira, dando passagem ao
surgimento de novos líderes, em diferentes âmbitos. O ‘novo’ para o ano novo não pode dispensar uma ampla agenda de
debates, corajosa, respeitosa e incidente.
Não vale simplesmente criticar de longe. É preciso envolver-se,
cotidianamente, na tarefa de erradicar as sujeiras da corrupção, muitas vezes
camufladas nas instâncias do poder. Agir de modo cidadão, sem
espetacularizações e favorecimento aos poucos privilegiados. A meta diária deve
ser aperfeiçoar a Constituição Cidadã, sem artifícios para beneficiar quem já é
muito rico. Nessa tarefa, questões urgentes devem ser consideradas, a exemplo
da defesa do meio ambiente, a promoção do desenvolvimento sustentável e
integral, com ações capazes de deter a idolatria e a hegemonia do mercado que
alimenta uma economia excludente. Incontáveis pautas merecem e necessitam da
reflexão e do envolvimento de todos. Importantes e crescentes participações
qualificadas para gerar clarividências e permitir encontrar o ‘novo’ para o ano novo.’
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