*Artigo
do Padre Mauro Sérgio da Silva Izabel, EP
Advento :
significado e origem
‘Receber uma visita é uma arte que uma dona de casa exercita com
freqüência. E quando o visitante é ilustre, os preparativos são mais exigentes.
Imagine o leitor que numa Missa de domingo seu pároco anunciasse a visita
pastoral do bispo diocesano, acrescida de uma particularidade : um dos
paroquianos seria escolhido à sorte para receber o prelado em sua casa, para
almoçar, após a Missa.
Certamente, durante alguns dias, tudo no lar da família eleita
se voltaria para a preparação de tão honrosa visita. A seleção do menu, para o
almoço, o que melhorar na decoração do lar, que roupas usar nessa ocasião
única. Na véspera, uma arrumação geral na casa seria de praxe, de modo a ficar
tudo eximiamente ordenado, na expectativa do grande dia.
Essa preparação que normalmente se faz, na vida social, para
receber um visitante de importância, também é conveniente fazer-se no campo
sobrenatural. É o que ocorre, no ciclo litúrgico, em relação às grandes
festividades, como por exemplo o Natal. A Santa Igreja, em sua sabedoria
multissecular, instituiu um período de preparação, com a finalidade de
compenetrar todas as almas cristãs da importância desse acontecimento e
proporcionar-lhes os meios de se purificarem para celebrar essa solenidade
dignamente.
Esse período é chamado de Advento.
Significado do termo
Advento — adventus, em
latim — significa vinda, chegada. É uma palavra de origem profana que designava
a vinda anual da divindade pagã, ao templo, para visitar seus adoradores.
Acreditava-se que o deus cuja estátua era ali cultuada permanecia em meio a
eles durante a solenidade. Na linguagem corrente, significava também a primeira
visita oficial de um personagem importante, ao assumir um alto cargo. Assim,
umas moedas de Corinto perpetuam a lembrança do adventus augusti, e um cronista da época qualifica de adventus divi o dia da chegada do
Imperador Constantino. Nas obras cristãs dos primeiros tempos da Igreja,
especialmente na Vulgata, adventus se
transformou no termo clássico para designar a vinda de Cristo à terra, ou seja,
a Encarnação, inaugurando a era messiânica e, depois, sua vinda gloriosa no fim
dos tempos.
Surgimento do Advento cristão
Os primeiros traços da existência de um período de preparação
para o Natal aparecem no século V, quando São Perpétuo, Bispo de Tours,
estabeleceu um jejum de três dias, antes do nascimento do Senhor. É também do
final desse século a ‘Quaresma de São
Martinho’, que consistia num jejum de 40 dias, começando no dia seguinte à
festa de São Martinho.
São Gregório Magno (590-604) foi o primeiro papa a redigir um
ofício para o Advento, e o Sacramentário Gregoriano é o mais antigo em prover
missas próprias para os domingos desse tempo litúrgico.
No século IX, a duração do Advento reduziu-se a quatro semanas,
como se lê numa carta do Papa São Nicolau I (858-867) aos búlgaros. E no século
XII o jejum havia sido já substituído por uma simples abstinência.
Apesar do caráter penitencial do jejum ou abstinência, a
intenção dos papas, na alta Idade Média, era produzir nos fiéis uma grande
expectativa pela vinda do Salvador, orientando-os para o seu retorno glorioso
no fim dos tempos. Daí o fato de tantos mosaicos representarem vazio o trono do
Cristo Pantocrator. O velho vocábulo pagão adventus se entende também no
sentido bíblico e escatológico de ‘parusia’.
O Advento nas Igrejas do Oriente
Nos diversos ritos orientais, o ciclo de preparação para o
grande dia do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo formou-se com uma
característica acentuadamente ascética, sem abranger toda a amplitude de espera
messiânica que caracteriza o Advento na liturgia romana.
Na liturgia bizantina destaca-se, no domingo anterior ao Natal,
a comemoração de todos os patriarcas, desde Adão até José, esposo da Santíssima
Virgem Maria. No rito siríaco, as semanas que precedem o Natal chamam-se ‘semanas das anunciações’. Elas evocam o
anúncio feito a Zacarias, a Anunciação do Anjo a Maria, seguida da Visitação, o
nascimento de João Batista e o anúncio a José.
O Advento na Igreja Latina
É na liturgia romana que o Advento toma o seu sentido mais
amplo.
Muito diferente do menino pobre e indefeso da gruta de Belém,
nos aparece Cristo, no primeiro domingo, cheio de glória e esplendor, poder e
majestade, rodeado de seus Anjos, para julgar os vivos e os mortos e proclamar
o seu Reino eterno, após os acontecimentos que antecederão esse triunfo : ‘Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas;
e, na Terra, angústia entre as nações aterradas com o bramido e a agitação do
mar’ (Lc 21, 25).
‘Vigiai, pois, em todo o
tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males
que hão de acontecer, e de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem’
(Lc 21, 36). É a recomendação do Salvador.
Como ficar de pé diante do Filho do Homem? A nós cabe corar de
vergonha, como diz a Escritura. A Igreja assim nos convida à penitência e à
conversão e nos coloca, no segundo domingo, diante da grandiosa figura de São
João Batista, cuja mensagem ajuda a ressaltar o caráter penitencial do Advento.
Com a alegria de quem se sente perdoado, o terceiro domingo se
inicia com a seguinte proclamação : ‘Alegrai-vos
sempre no Senhor. De novo eu vos digo : alegrai-vos! O Senhor está perto’.
É o domingo Gaudete. Estando já próxima a chegada do Homem-Deus, a Igreja pede
que ‘a bondade do Senhor seja conhecida
de todos os homens’. Os paramentos são cor-de-rosa.
No quarto domingo, Maria, a estrela da manhã, anuncia a chegada
do verdadeiro Sol de Justiça, para iluminar todos os homens. Quem, melhor do
que Ela, para nos conduzir a Jesus? A Santíssima Virgem, nossa doce advogada,
reconcilia os pecadores com Deus, ameniza nossas dores e santifica nossas
alegrias. É Maria a mais sublime preparação para o Natal.
Com esse tempo de preparação, quer a Igreja ensinar-nos que a
vida neste vale de lágrimas é um imenso advento e, se vivermos bem, isto é, de
acordo com a Lei de Deus, Jesus Cristo será nossa recompensa e nos reservará no
Céu um belo lugar, como está escrito : ‘Coisas
que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou,
tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que O amam’ (1Cor 2,
9).’
Fonte :
Nenhum comentário:
Postar um comentário