*Artigo
do Padre Fernando Domingues,
Missionário Comboniano
‘Um dia destes, passou no meu escritório um bispo de Madagáscar.
Queria falar de uma preocupação que o acompanha desde quando chegou à sua diocese.
«Temos alguns rapazes –
dizia ele – que se apresentam pedindo para serem aceites no seminário. Querem
ser padres. Naturalmente, já fizeram um caminho de fé razoável, nas comunidades
cristãs a que pertencem, não é que estejam sem bases cristãs. O problema que eu
vejo – prosseguia – é que lhes falta uma experiência verdadeira de família.»
Esta diocese, Morondava, fica na costa ocidental da ilha, em
frente de Moçambique. E o bispo sabe muito bem que nesta zona são poucas as
famílias que têm um mínimo de estabilidade. A maior parte dos jovens nascem e
crescem em famílias – quando há família! – desfeitas e refeitas sabe Deus como
e quantas vezes!
Estes rapazes, sem uma verdadeira experiência de vida em
família, como poderão um dia mais tarde, como padres, ser animadores de
comunidades cristãs, eles que nunca experimentaram a comunidade humana por
excelência que é a família? Como poderão reunir a ‘família de Deus’ se nunca souberam o que é viver em família?
Assim, este bispo sonha construir, perto da casa dele, uma casa
onde possa acolher por um ou dois anos os seus futuros seminaristas. Ali, o
objetivo principal será ajudá-los a viver como uma família, com um ou dois
sacerdotes que organizam com eles a vida comunitária de trabalho, de oração e
de estudo. Eles poderão, assim, recuperar pouco a pouco aqueles que eram os
valores culturais mais importantes das famílias daquela zona, antes que
chegasse a situação atual de desagregação geral das famílias. Solidamente
enraizados nas melhores tradições culturais do seu povo, os jovens poderão
então enfrentar a preparação teológica e pastoral para se tornarem verdadeiros
pastores da família de Deus.
Gostei muito da conversa com aquele bispo malgaxe, cheio de
vitalidade e de sabedoria ao mesmo tempo. O Papa Francisco gosta de dizer que,
para o que é mesmo necessário na vida da Igreja, nunca nos hão de faltar os
meios. Também neste caso, espero que seja mesmo verdade.
Afinal, o Natal que vamos celebrar daqui a pouco lembra-nos isso
mesmo : Jesus, o fundador da nova família de Deus, começou, ele mesmo, por uma
experiência prolongada de vida em família, bela mesmo se nem sempre fácil :
primeiro em Belém e depois em Nazaré.
Precisamos de trabalhar para que os nossos padres, do presente e
do futuro, sejam mesmo ‘homens de família’,
pessoas com grande capacidade de construir e reunir à sua volta comunidades que
sejam células vivas da grande família de Deus.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EVEkyuAEVEUapxYxom
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