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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Martas e Marias

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Jesús Ruiz Molina,

Bispo auxiliar de Bangassou, RCA

 

‘Betânia foi para Jesus um lugar de repouso, um oásis onde podia recarregar as suas baterias humanas e espirituais. A casa de Lázaro e das suas irmãs, Marta e Maria, tinha sabor a lar, a amizade profunda, a lugar de repouso para o coração. O que teria sido de Jesus e dos seus discípulos se Marta não se tivesse dado ao trabalho de os acolher, de lhes dar uma boa refeição e de lhes proporcionar um lugar de repouso? Onde se teria expandido o coração de Jesus se Maria não tivesse sabido escutar e acolher os segredos do Mestre? E aquele amigo Lázaro, que Jesus tanto amava. Marta e Maria, duas faces de uma mesma realidade, nem sempre fácil de combinar. Marta, a dona de casa que soube extrair de Jesus palavras de vida eterna : «Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá.» Maria, que aos pés do Mestre aprende os segredos escondidos no seu coração : «Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada.»

Estas reflexões sobre a vida de Jesus vêm-me à mente enquanto escrevo no meu diário tudo o que estou a viver com o povo centro-africano da diocese de Mbaiki, que me foi confiada como bispo. Talvez eu esteja enganado, mas tenho a sensação de que, desde há algum tempo, nós, na Igreja, estamos a inclinar a balança para o lado de Maria em detrimento de Marta. O fato de o Papa Francisco ter ido viver para a Casa de Santa Marta é um símbolo que pode equilibrar a realidade do discípulo que tem de nadar entre duas águas, a ação e a contemplação, duas asas da mesma ave. Não se trata de escolher uma em detrimento da outra, as duas juntas permitem-nos voar para as alturas do Reino. 

Ação e contemplação

Este difícil equilíbrio deve existir também na vida religiosa e missionária. Nos últimos tempos fui confrontado com uma situação que gera um conflito entre as duas asas da vida do discípulo. Na diocese há 40 religiosas pertencentes a uma dezena de congregações, entre as quais há apenas cinco Martas com as quais posso contar incondicionalmente para qualquer missão. As outras não são necessariamente Marias. Estas cinco Martas de que falo são mulheres preparadas, ativas, prontas a enfrentar novos desafios, a romper com os moldes, a misturar-se com os pigmeus Aka, a curar os doentes que ninguém se atreve a tocar, a enveredar por caminhos até então inexplorados por uma religiosa, a viver uma liderança feminina na Igreja... Mas o que descubro é que o fato de agirem como Martas, mulheres do Evangelho ao serviço da diocese, as coloca em sério conflito com as suas congregações. Várias superioras provinciais vieram queixar-se : que as irmãs estão sempre fora da comunidade, que viajam demasiado, que dormem nas aldeias com as pessoas, que abandonam a comunidade da qual são por vezes superioras, que dão prioridade aos compromissos diocesanos em detrimento dos congregacionais. A situação está a fazer sofrer três delas.

Nalguns casos, o conflito é latente com as suas congregações e leva-as a acentuar a sua identidade e pertença a uma Igreja diocesana, mas, outras vezes, o conflito cheira-me a ciúme escondido, como se houvesse infidelidade à congregação quando há grande doação à pastoral diocesana. E digo a mim mesmo : se o carisma da congregação não está ao serviço da Igreja particular, então corre-se o risco de «sectarismo». Como é difícil o equilíbrio entre esta Marta e esta Maria que cada instituição, cada congregação, cada discípulo, traz dentro de si! Durante séculos, a Igreja idealizou Maria e encerrou as freiras nos conventos, sem se dar conta de que Marta é indispensável para as coisas de Jesus.

Sofro quando vejo o conflito das cinco religiosas com as suas congregações, que as censuram pelo seu afastamento. Procuro não me meter nos assuntos internos, mas como é difícil para mim quando o que está em causa é um estilo de missão, um estilo de Igreja. Sofro porque pressinto as ameaças que pesam sobre algumas delas e que as destinarão a outra comunidade. Uma das superioras disse-me que tinha feito um ultimato a uma delas. Eu disse-lhe : «Sei que estás em vantagem, mas também te peço que revejas o teu carisma de fundação. Tenho a certeza de que a vossa fundadora foi uma mulher que abriu novos caminhos, que ultrapassou muitas fronteiras eclesiais e sociais. Ah, e por favor digam às vossas superioras em Roma que o bispo está muito grato pela vossa preciosa presença na diocese e, especialmente, pela irmã N.» Que equilíbrio difícil!

Mais tarde, falando com uma das Marias, conhecendo a espada de Dâmocles que paira sobre o seu destino, pedi-lhe que não rompesse com a sua congregação, que construísse pontes, que tentasse exercer a asa das Marias que a sua congregação lhe reclama. Eu não gostaria de a perder.

Ação e contemplação, Marta e Maria. Uma sem a outra não gera a vida de Deus.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/actualidade/6/1294/martas-e-marias/

terça-feira, 2 de julho de 2024

Conexão humana. Conexão divina.

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Brás e Lorenzetti


Os seres vivos tendem a se aproximar. As pessoas possuem um magnetismo que, por um lado, pode energizar ou, por outro, também pode sugar. Essa troca de energia é comunicação e a buscamos porque restabelece o nosso equilíbrio e nos tira da solidão. Dessa forma, a aproximação nos faz bem porque a comunicação significa troca de energia. 

Algumas pessoas são assim : simplificam a vida, descomplicam a existência e a tornam mais leve. Uma situação desesperadora é amenizada, uma verdadeira tempestade se transforma em bonança; os piores momentos se tornam possíveis de ser enfrentados. Se é assim na vida a ponto de se transformar em vida nova, o mesmo também acontece na vida espiritual e, em especial, na nossa prática da oração e na devoção a Maria.

Essa energia, que se chama virtude, de nossa parte é adquirida pela oração e pela contemplação. Assim como acontece com a bateria de um aparelho, que se energiza pela conexão à fonte, também nós nos ‘energizamos’ pela graça, com a oração. Em nossa relação com Deus e com a Virgem Maria, quanto mais nos aproximamos em oração, no nosso dia a dia, mais adquirimos as virtudes que lhe são próprias ou que nós estamos dispostos a acolher. Que virtudes seriam essas? As mais próximas e simples são fé, esperança, caridade e obediência.

Pela fé, Maria acreditou no projeto de Deus a seu respeito, não teve por que duvidar; pela esperança, Maria acreditou firmemente que Deus seria fiel ao cumprimento de sua promessa; enfim, pela caridade, Maria viveu intensamente a sua vocação à maternidade e à vida, dando a Jesus o que podia haver de melhor : sua doação e seu carinho. Pela obediência, Maria se aproxima de nós e nos ensina à confiança total nos desígnios de Deus.

Para alcançar a maturidade na fé, o caminho é intensificar a vida espiritual, buscando em Maria o modelo para alcançar a união perfeita com o Pai.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/conexao-humana-e-conexao-divina.html

sábado, 15 de julho de 2023

Quem são os monges jerônimos?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Daniel R. Esparza


‘A ordem católica monástica dos jerônimos, ou Ordem de São Jerônimo, foi fundada no século XIV, mas sua inspiração carismática remonta à influente figura de São Jerônimo, teólogo e estudioso cristão primitivo conhecido principalmente pela sua tradução da Bíblia para o latim – a Vulgata. Seu nome, em grego, significa ‘aquele de nome sagrado’.

Assim como ocorre com muitas outras ordens contemplativas, a dos jerônimos segue a Regra de Santo Agostinho.

Seu primeiro mosteiro oficial foi estabelecido perto de Toledo, na Espanha, mas a ordem se desenvolveu a partir de um interesse bastante espontâneo de algumas comunidades eremíticas tanto na Espanha quanto em Portugal, imitando a vida de São Jerônimo : uma vida semi-eremítica dedicada à contemplação e ao estudo. Esse modo de vida logo se difundiu pela Espanha. Dois desses eremitas, Pedro Fernández y Pecha e Fernando Yáñez y de Figueroa, consideraram que seria mais proveitoso adotar um modo de vida mais regular, em comunidade, sob uma regra monástica autorizada.

Sob sua liderança, o Mosteiro de São Bartolomeu foi fundado em Lupiana, com Fernández y Pecha atuando como o primeiro prior. Imediatamente depois, em 1373, o Papa Gregório XI emitiu uma bula papal reconhecendo-os como ordem religiosa. Em 1415, já havia 25 mosteiros jerônimos na Espanha. A ordem rapidamente se destacou no mundo católico e atraiu numerosos membros em toda a Península Ibérica.

Durante os séculos XV e XVI, os jerônimos viveram um período de expansão e reforma, recebendo o patrocínio dos reis de Espanha e Portugal, que apoiaram os seus mosteiros para que a ordem pudesse contribuir para a vida intelectual e cultural da época. Seus membros se dedicavam ao estudo das Escrituras, à pesquisa teológica e à preservação de textos antigos. As bibliotecas da ordem se tornaram repositórios renomados de conhecimento. De fato, muitos monges jerônimos eram estudiosos, teólogos e escritores por mérito próprio.

No entanto, como tantas outras ordens religiosas, também eles enfrentaram desafios durante a Reforma e os subsequentes períodos de turbulência religiosa. A ordem sofreu um declínio em seu número de membros e teve mosteiros suprimidos em vários países. Apesar disso, os jerônimos conseguiram sobreviver e se adaptar aos novos tempos, continuando a sua missão de oração, contemplação e atividades acadêmicas – ainda que tivessem de recorrer à panificação e à venda de pastéis de nata para sustentar-se em tempos difíceis.

Nos dias de hoje, a Ordem dos Jerônimos ainda existe, embora com número bastante pequeno de membros : 26 conventos e apenas um mosteiro masculino permanecem ativos na atualidade. Seus mosteiros continuam sendo lugares de retiro, oração e estudo. Os jerônimos permanecem comprometidos com as suas tradições de austeridade, pesquisa intelectual e contemplação, preservando o legado de São Jerônimo.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2023/07/07/quem-sao-os-monges-jeronimos/


quinta-feira, 4 de maio de 2023

Quando estamos desfeitos, a oração nos recria

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo de Peter Cameron


‘Um poema de George Herbert (+1633) fala da oração como ‘o sopro de Deus no homem que retorna ao nascimento… trovão invertido… o sangue da alma’.

Ele fala a partir da situação comum de quem se sente esgotado, de coisas que estão desmoronando – de precisarmos de algo maior do que nós mesmos para sermos nós mesmos. Quando estamos desfeitos, precisamos ser refeitos. E buscamos, então, a oração para nos recriar.

O clássico espiritual A Nuvem do Desconhecido (The Cloud of Unknowing), do século XIV, fornece excelentes conselhos práticos aos que estão desgastados em busca de um modo de orar :

Sempre que fores atraído pela graça para o trabalho contemplativo e estiveres determinado a fazê-lo, simplesmente eleva teu coração a Deus com uma suave moção de amor. Pensa apenas em Deus, o Deus que te criou, te redimiu e te guiou a esta obra.

A oração poderia assumir uma forma como esta. Instalando-se num lugar tranquilo, acalme-se o máximo que puder e, então, com uma serena moção de amor, ore : Deus Amantíssimo… Vós me criastes… Vós me redimistes e me chamastes para Vós… somente pela vossa graça. Eu anseio por Vós… A Vós procuro… A Vós, e nada menos que a Vós. A simples reafirmação orante desses fatos revoga o caos, renovando-nos e rejuvenescendo-nos enquanto leva a Verdade à irrupção.

A gigante espiritual Santa Isabel da Trindade era devota deste mistério e nos anima com seu fervor :

Ó meu Deus, Trindade a quem adoro, deixai-me esquecer inteiramente de mim, para que possa habitar em Vós, em quietude e tranquilidade, como se minh’alma já estivesse na eternidade. Pacificai a minh’alma! Fazei dela um paraíso vosso, amada morada vossa e lugar do vosso repouso. Que eu nunca vos deixe só, mas sempre esteja alerta, com fé sempre atenta, sempre adorando e totalmente entregue à vossa ação criativa.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2023/02/22/quando-estamos-desfeitos-a-oracao-nos-recria/

domingo, 22 de maio de 2022

São Carlos de Foucauld, rogai por nós!

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do Padre Geovane Saraiva,

jornalista, colunista e pároco

de Santo Afonso de Fortaleza, CE

 

‘Na mais viva esperança de vermos novas todas as coisas, somos agradecidos ao bom Deus pelo dom da vida do Irmão Carlos de Foucauld – místico, referencial e patrimônio espiritual para o nosso mundo cristão, na experiência do absoluto de Deus –, que foi canonizado pelo Papa Francisco no dia 15 de maio de 2022. Igualmente, somos convidados, a partir da Oração do Abandono, a levar a sério o Evangelho da Cruz, longe dos primeiros lugares, nunca perdendo de vista a conversão permanente, tendo Jesus de Nazaré, o Cristo eucarístico, como eixo da nossa vida cristã.

No mundo utilitarista, que busca os primeiros lugares e é marcado por vantagens, atitudes e comportamentos acintosos, em detrimento do bem maior e em favor da humanidade, seja no Brasil, na América e em todo o planeta, recordamos, agradecidos ao bom Deus, sobre a vida de Carlos de Foucauld, que ensinou à criatura humana – e, especialmente, aos seus seguidores – a misteriosa importância do caminho da contemplação, da oração e do último lugar.

Pensemos na radicalidade de sua vida, quando se colocou no último lugar, totalmente em harmonia com o Evangelho de Jesus de Nazaré, reservado e discreto, sem se esforçar para converter alguém, mas querendo fazer uma única coisa : ‘proclamar bem alto o Evangelho com a própria vida’. Que o nosso indulgente Deus, na solidão ou na aridez, como no exemplo do Irmão D’Foucauld, agora São Carlos de Foucauld, nos permita continuar a jornada do dia a dia, como sendo algo precioso e raro, uma dadivosa manifestação da bondade afável e terna de Deus : mérito, dom e graça.

Na canonização de Carlos de Foucauld, Deus quer se manifestar, abrindo caminhos, animando-nos com o alimento e com a água verdadeira, que, com seu próprio exemplo, fez sair água das pedras ou do rochedo e alimento do céu, matando a fome e a sede de sua esposa sedenta : a Igreja. Na travessia do primeiro deserto, nota-se que se sucedeu o mesmo na vida das pessoas, mas com sua presença no meio do seu povo, na metáfora da Igreja, representado como se fosse sua esposa, que nem sempre foi correspondida, no amor do povo de Deus.

Que São Carlos de Foucauld rogue a Deus pela humanidade nestes tempos difíceis, acompanhando-nos e abençoando-nos em nossos desertos da vida.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticia/1578680/2022/05/sao-carlos-de-foucauld-rogai-por-nos/

sábado, 23 de abril de 2022

A contemplação na sociedade do cansaço

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Eder Vasconcelos e Roberto Camilo Órfão Morais


‘Segundo o filósofo Byung- Chul Han, o excesso de positividade, presente no mundo, devido às grandes mudanças tecnológicas, se manifesta também como excesso de estímulos, informações e impulsos.  Descreve que a chamada ‘multitarefa’, não apresenta nenhum progresso civilizatório.

Por contraditório que pareça ser, para Byung- ChuHan as evoluções tecnológicas- sociais, tem aproximado cada vez mais a sociedade humana da vida selvagem. Na vida selvagem, o animal está obrigado a dividir sua atenção em diversas atividades : ‘O animal não pode mergulhar contemplativamente no que tem diante de si, pois tem de elaborar ao mesmo tempo o que tem atrás de si’. O bem viver, no mundo contemporâneo, cedeu lugar à preocupação por sobreviver.

As novas tecnologias disponibilizam informação em excesso, com o ritmo acelerado, gerando uma atenção ampla; porém, rasa - superficial. Conforme a filósofa Hanna Arendt, ‘quanto mais superficial a pessoa é, mais suscetível está a ceder ao mal’. A disseminação de uma ‘cultura de ódio e intolerância’, em boa parte, se explica por essa ausência de compreensão da vida e, de suas relações. Sujeito às manipulações nas redes sociais, parte da população é conduzida numa onda de superficialidade e insensatez.

Assertivamente, já no final do século XIX, o poeta e filósofo Ralph Waldo Emerson, caracterizou o ser humano moderno : ‘um andarilho que corre sobre uma fina camada de gelo. Ele não tem um destino certo. Mas sabe que, se parar, o piso racha e morre afogado’ (...) ‘nossa segurança está em nossa velocidade’.

Por sua vez, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, evidencia que, a vida humana, finda numa hiperatividade mortal se, dela for expulso todo elemento contemplativo. Eis suas palavras : ‘Por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto. Assim, pertence às correções necessárias a serem tomadas quanto ao caráter da humanidade fortalecer em grande medida o elemento contemplativo’. O homem e a mulher do século XXI, tem a responsabilidade de fortalecer e estimular o ‘elemento contemplativo’, tão necessário para uma cultura do bem-viver e do bem-conviver equilibrado.

A contemplação, diante da vida, inicia e sustenta a aprendizagem, estabelece uma relação amorosa com saber. O amor à sabedoria, nasce do espanto (admiração), que por sua vez é fruto da contemplação da beleza do mundo. Essa contemplação cósmica, diante do mistério da vida, levou o místico Thomas Merton a dizer : ‘O poeta entra em si mesmo para criar. O contemplativo mergulha em Deus para ser criado’. Tanto o poeta, quanto o contemplativo, são envolvidos por uma aura de leveza, recolhimento e quietude.

O filósofo coreano Chul Han faz uma constatação : ‘A massa de informações eleva massivamente a entropia do mundo, sim, o nível de ruído. O pensamento necessita de silêncio. É uma expedição para o silêncio’. O nível de ruído, de barulho, interfere na qualidade do pensamento, da reflexão. Essa cultura contemporânea hiper ruidosa não gera nada de novo, reproduz o que já existe, expressa aflição, inquietação e, uma concepção reducionista da vida.

Contemplar significa compreender que, a acelerada rotina, não basta para a plenitude de nossa existência. Significa recuperar e, se reconciliar com a vida em seu instante vivido, dizendo sim à sua beleza. O tédio cansa, esgota. A contemplação reencanta e revigora a integridade da vida. ‘É uma expedição para o silêncio’. 

A busca da contemplação não deve ser confundida com anseios por sensações de arrebatamento. Nas palavras do Papa Francisco, ‘Contemplar e cuidar : eis duas atitudes que indicam o caminho para corrigir e reequilibrar nossa relação de seres humanos com a criação’.

A contemplação está presente também nos ensinamentos e na vida de Jesus de Nazaré : ‘Olhai os lírios do campo que não trabalham e nem fiam e, no entanto, nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como um deles’ (Lucas 12, 27). Jesus de Nazaré é o contemplativo itinerante que sabe ver, olhar e contemplar a beleza da natureza presente nos lírios do campo. Quanta sensibilidade contemplativa. Parar e contemplar : eis a grande dificuldade do ser humano da pós-modernidade.

Parafraseando o teólogo Karl Rahnner que afirmou que ‘o cristão do futuro, ou será um místico ou não será cristão’, a humanidade nesse século ou será contemplativa ou perderá sua própria humanidade.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticia/1575081/2022/04/a-contemplacao-na-sociedade-do-cansaco/

sábado, 6 de junho de 2020

Trindade Santa: Deus é o que ama, o amado e o amor

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

Trinity | Definition, Theology, & History | Britannica
*Artigo d0 Padre Adroaldo Palaoro, SJ



‘Ao longo do percurso litúrgico, a Igreja quis, em sua sabedoria, reservar um dia especial para que dedicássemos a glorificar a Trindade Santa. E que, nesse dia nos voltássemos a ela, não a partir de nossas misérias, necessidades e petições, mas que dirigíssemos para esse Mistério o olhar de nossa admiração, gratuita e livremente, a fim de contemplar os segredos de sua beleza, bondade, amor..., assim como o fazemos, por exemplo, ao contemplar a vastidão dos céus ou o jogo de cores e luzes de um pôr-do-sol.

A revelação da Trindade nunca poderá ser apreendida ou controlada por nós, pelo nosso rigor verbal nas formulações dogmáticas sobre Deus e seu ser. A Trindade não é uma simples doutrina a ser acolhida, ou uma verdade a ser pensada, mas uma presença a ser vivida, com espanto e admiração. É encantador contemplá-la, dobrando-nos em reverência, deixando-nos impactar por tão grande e tão profundo mistério, tão belo e inefável dom que a teologia tentou expressar em palavras, mas sentiu-se impotente.

Trata-se de uma experiência contemplativa silenciosa, que ativa em nós uma sensibilidade intensa, capaz de nos despertar para entrar em sintonia com fluxo trinitário que atravessa toda a realidade, nos envolve e faz de nosso coração sua morada.

Se conseguirmos viver isso, com delicadeza, humildade e esvaziamento de nós mesmos, poderemos, então, perceber, que a Trindade de Deus não é uma experiência reservada apenas a uns poucos e privilegiados místicos, nem tampouco um complexo dogma teológico que só os especialistas, através de suas especulações racionais, conseguem se aproximar.

Afirma-se que o dogma da Trindade é o mais importante de nossa fé católica, pois estamos diante do maior mistério que os olhos não viram, os ouvidos não escutaram, nem a mente conseguiu compreender... Nada do que podemos definir, pensar ou dizer sobre a Trindade é adequado a seu ser mais íntimo.

O mais urgente neste momento para o cristianismo, não é explicar melhor o dogma da Trindade, e menos ainda, uma nova doutrina sobre Deus Trino. Seria, em definitiva, a busca de um encontro vivo com Deus, a perfeita comunidade. Não se trata de demonstrar a existência da luz, mas de abrir os olhos para ver.

Tudo o que ‘sabemos’ da Trindade pode ser um estorvo para viver sua presença vivificadora em nós. Calar sobre Deus, é sempre mais exato que falar. Dizem os orientais : ‘Se tua palavra não é melhor que o silêncio, cala-te’. O decisivo é viver o mistério da Trindade a partir da adoração e da partilha fraterna.

Grandes teólogos fizeram profundos estudos sobre a Trindade, tratando de pensar conceitualmente o mistério de Deus. No entanto, eles mesmos dizem que, para ‘saber’ de Deus, o importante não é ‘refletir’ muito, mas ‘saber’ algo do amor.

O dogma da Trindade, portanto, nos liberta do ‘Deus poder’ e nos lança nos braços do Deus Amor.

O mistério de Deus uno e trino é fruto da experiência de revelação progressiva na história da Salvação, culminando na revelação que Jesus nos fez. ‘Deus é um, mas não está jamais sóDeus não é um ser isolado, distante da criação, solitário. É um Deus comunitário, família, sociedade, fraternidade, etc... Por isso, o auge de toda a revelação bíblica é esta : ‘Deus é amor’, ou seja, Deus não é uma realidade fria e impessoal, um ser triste, solitário e narcisista. Não podemos imaginá-lo como poder impenetrável, fechado em si mesmo. Em seu ser mais íntimo, Deus é amor, vida compartilhada, amizade prazerosa, diálogo, entrega mútua, abraço, comunhão de pessoas. O amor trinitário de Deus é amor que se expande e se faz presente em todas as criaturas. E o amor nunca é solidão, isolamento, mas comunhão, proximidade, diálogo, aliança...

O Deus revelado por Jesus é amor e aproximar-nos do Deus Amor é descobrir a Trindade.

Em Deus o amor não é uma qualidade como em nós, mas sua essência. Se Deus deixasse de amar um só instante, deixaria de ser Deus. O movimento que parte do Pai, passa pelo Filho e se consuma no Espírito é um movimento de amor sem fim. Amor expansivo que envolve o mundo todo, segundo o relato do evangelho deste domingo.

Nesse sentido, ‘saborear o mistério da Trindade’ nos sensibiliza e nos capacita para nos aproximar do nosso mundo, com uma visão mais contemplativa. O ‘subir’ até Deus passa pelo ‘descer’ até às profundezas da humanidade.

Como ‘contemplativos na ação’, movidos por um olhar novo, entramos em comunhão com a realidade tal como ela é.  É olhar o mundo como ‘sacramento de Deus’; um olhar capaz de descobrir os sinais de esperança que estão surgindo; um olhar afetivo, marcado pela ternura, pela compaixão e gerador de misericórdia; um olhar gratuito e desinteressado, ‘janela da alma’, que nos expande numa atitude acolhedora de tudo que nos rodeia; um olhar que rompe distancias e alimenta encontros instigantes.

Precisamos retornar às palavras de Jesus, que ora ao Pai por seus discípulos : ‘Não te peço que os tires do mundo, mas que os defendas do maligno’ (Jo. 17,15).

Ser cristão é ser presença diferenciada e inspiradora no mundo. O mundo da globalização é a realidade que agora nos cabe transformar. O Evangelho não nos ensina doutrinas, mas um modo original de estar no mundo, à maneira de Jesus. Nossa vida deve ser um espelho que, em todo momento, deixa transparecer o mistério da Trindade.

Somos desafiados a ‘viver uma vida no mundo e no coração da humanidade’ (P. Kolvenbach).

Se o ser humano é o caminho para Deus, o ponto de encontro do ser humano com Deus está no mundo. Este princípio cristão significa que o encontro do ser humano com Deus se dá no campo da cultura, das relações, do diálogo inter-religioso... enfim, uma espiritualidade enraizada na realidade do mundo. Um mundo configurado pela ciência e pela tecnologia : este é o cenário em que o cristão está chamado a encontrar-se com Deus, recriando um novo tipo de humanismo de acordo com o nosso tempo.

Num mundo em que a competência se degenera em competitividade sem limites, em que o individualismo e a falta de solidariedade criam novas fronteiras e exclusões, em que a cultura da indiferença, do preconceito e da suspeita é fonte das mais variadas formas de violência..., é preciso recuperar o discurso e a prática do ‘ser-para-os-outros’, o saber e a autoridade como serviço, solidariedade, compaixão, partilha, perdão, gratuidade, compromisso, dom de si mesmo, amor...

O surpreendente é que nós fomos criados à imagem do Deus Trindade; todos carregamos em nosso interior a ‘faísca amorosa’ da Trindade Santa. É fácil perceber isso : sempre que sentimos necessidade de amar e ser amados, sempre que sabemos acolher e buscamos ser acolhidos, quando desfrutamos compartilhando uma amizade que nos faz crescer, quando sabemos doar e receber vida, estamos saboreando o ‘amor trinitário’ de Deus. Esse amor que brota em nós provém dele.

Nesse sentido, o melhor caminho para nos aproximar do mistério do Deus Trindade não são os tratados teológicos que falam dele, mas as experiências amorosas que compartilhamos na vida. Só encontramos o Deus Trino com o coração. ‘Só corações solidários adoram um Deus Trinitário’.

Texto bíblico :  Jo 3,16-18

Na oração : Quando nos abrimos à comunhão com a Trindade, ela entra em comunhão conosco na forma sutil de um perfume. Não força, não invade, mas cria um ambiente agradável, perfumado, que nos eleva e nos suscita alegria interior. Tal como o perfume, a Trindade derrama sua graça sobre toda a criação e a humanidade inteira. Quê há de mais suave, reconfortante e realizador do que sentir a Trindade a partir do coração?

- A oração é o momento privilegiado para abrir-se ao dinamismo do amor trinitário; deixe-se empapar por esta presença perfumada.’



Fonte :
*Artigo na íntegra

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Eremita de Charles de Foucauld


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Vanderlei de Lima, 
eremita na Diocese de Amparo


‘Este artigo trata, em suas peculiaridades, do eremita de Charles de Foucauld à luz da tradição católica e do Código de Direito Canônico atual.

A palavra eremita vem do latim eremus (= deserto) e designa, originalmente, aquele que se retirava para o deserto a fim de lá viver entregue a Deus na oração, no silêncio e na solidão. É considerado o primeiro tipo de vida consagrada masculina na Igreja. Depois, também mulheres o abraçaram. Podemos distinguir, para efeito de legislação canônica, dois tipos de eremitas : os ligados a uma Associação ou Instituto reconhecido pela autoridade eclesiástica competente, com sua Regra de vida própria, e os autônomos, regidos pelo cânon 603 do Código de Direito Canônico, de 1983. Tanto uma como outra modalidade de eremitismo não devem ser vistas como fuga da realidade (o que não seria sadio), mas, sim, como entrega a Deus em favor dos(as) irmãos(ãs). 

Ora, o eremita de Charles de Foucauld segue o modelo de vida desse homem de Deus que viveu, no Saara, nos fins do século XIX e início do XX. Nasceu ele, em Estrasburgo, na França, no dia 15 de setembro de 1858, e morreu assassinado por um adolescente, no dia 1º de dezembro de 1916, em Tamanrasset, região do Saara, na Argélia. Sua beatificação se deu, no dia 13 de novembro de 2005, em Roma. Pode-se dizer que foi um contemplativo, intelectual e atento aos grandes problemas de seu tempo. Este último ponto causa estranheza, pois o distingue da ampla maioria dos demais eremitas. Todavia, escreve o Papa Francisco na Gaudete et exsultate, de 19/03/2018, n. 26 : ‘Não é saudável amar o silêncio e esquivar-se do encontro com o outro, desejar o repouso e rejeitar a atividade, buscar a oração e menosprezar o serviço. Tudo pode ser recebido e integrado como parte da própria vida neste mundo, entrando a fazer parte do caminho de santificação. Somos chamados a viver a contemplação mesmo no meio da ação, e santificamo-nos no exercício responsável e generoso da nossa missão’.

Charles de Foucauld foi contemplativo. Afastado das turbulências, alimentava-se da Palavra de Deus e da Eucaristia. Rezava, diariamente, o Ofício Divino (Liturgia das Horas), o Rosário e o Angelus. Passava horas, em adoração, diante do Santíssimo Sacramento e nutria grande devoção à Encarnação e ao Sagrado Coração de Jesus, cujo símbolo trazia no hábito. Era respeitado geógrafo, linguista, antropólogo, teólogo, escritor e tradutor. Sua obra Reconnaissance au Maroc, em francês, o fez ganhador da medalha de ouro da Sociedade Geográfica de Paris, em 1885, quando tinha apenas 27 anos. Contudo, estava atento aos grandes problemas de seu tempo. ‘Frequentemente, recebo de 60 a 100 visitas por dia, se não todos os dias’ (Irmãzinha Annie de Jesus. Charles de Foucauld : nos passos de Jesus de Nazaré. São Paulo : Cidade Nova, 2004, p. 59). Denunciou – mesmo correndo sério risco de vida – a escravidão em nome da dignidade humana. ‘Quando um governo deste mundo comete uma injustiça grave contra seres humanos pelos quais, em certa medida somos responsáveis […], é preciso dizê-lo a ele, pois representamos na terra a justiça e a verdade, e não temos o direito de bancar as ‘sentinelas adormecidas’, de ser ‘cães mudos’ ou ‘pastores indiferentes’’ (Jean-Francois Six. Charles de Foucauld : o irmãozinho de Jesus. São Paulo : Paulinas, 2008, p. 69).

Ainda : quando a região de Tamanrasset tornou-se perigosa devido às ameaças dos tripolitanos aos tuaregues, Foucauld, com a ajuda de mais sete pessoas, construiu um Forte, o ‘Forte-eremitério’, e em seu interior mantinha armamentos capazes de ajudar os tuaregues a se defenderem. Ele próprio é quem declara : ‘Eu transformei meu eremitério em um pequeno forte. […] Foram-me entregues seis caixas de cartuchos e trinta carabinas que me fazem lembrar a juventude’ (idem, p. 117).

O (a) eremita de Charles de Foucauld, fiel ao ideal de seu inspirador, sem deixar a contemplação, entrega-se, portanto, modestamente, também à ação concreta do anúncio e da denúncia, segundo os meios lícitos de que dispõe. Isso incomoda a alguns, mas tem de ser feito. Afinal, é Cristo quem padece nos que sofrem (cf. Mt 25,31-46).


Fonte :

domingo, 10 de março de 2019

Como praticar o silêncio em sua rotina diária

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Krispin Mayfield,
terapeuta



Foi repousante, senti-me mais ligada a mim mesma e a Deus, e voltei pronta para viver todos os dias com mais propósito. Nas semanas seguintes, eu tive mais energia para estar presente para as pessoas da minha vida.

O silêncio nos permite passar o tempo conosco. Isso nos abre espaço para que nossos pensamentos cresçam em criatividade e se conectem com nossas emoções.

O silêncio nos ajuda a diminuir a velocidade e reconhecer o que está acontecendo internamente, ao invés de responder continuamente ao estímulo externo. Isso nos oferece uma ruptura com a entrada constante de informações que vêm com a vida moderna.

Pesquisas mostram que as práticas contemplativas têm vários benefícios. Um estudo mostrou que tais práticas aumentam a percepção precisa da taxa de batimentos cardíacos, que melhoram a habilidade de falar do próprio estado emocional. Quando podemos pausar em silêncio, podemos verificar o nosso corpo e nossas emoções, o que nos ajuda a cuidar melhor de nós mesmos, além de aumentar a conscientização sobre o que estamos trazendo em nossos relacionamentos.

Outro estudo mostrou que a prática contemplativa regular tem múltiplos impactos positivos em nossos cérebros. Pode melhorar a memória de trabalho, a função de manter informações no curto prazo, como lembrar instruções ou sobre o que você estava trabalhando antes de ser interrompido. Também apresentou aumentar o seu ‘filtro verbal’ e sua capacidade de manter a tarefa em direção a seus objetivos. Também ajuda a regulação emocional, nos permitindo sentir emoções sem ser dominado por elas.

Praticando o silêncio no dia-a-dia

Muitos de nós teríamos dificuldade em identificar um momento no nosso dia em que experimentamos mais do que alguns minutos de silêncio. Quando não estamos conversando com os outros, preenchemos nosso espaço sonoro com diferentes tipos de mídia, e sempre podemos ter algo para ouvir. Para alguns de nós, a ausência de som é quase surpreendente, pois nos sentimos automaticamente obrigados a ligar a TV ou o rádio.

Outros desejam o silêncio, mas parece difícil. Temos dias complicados, cheios de crianças barulhentas ou colegas de trabalho inquietos. Nós temos pessoas em nossas vidas que precisam de conexão e da nossa presença, e o tempo para si mesmo não parece se encaixar na mistura durante essa temporada de vida. Mesmo com tempo e oportunidade, parece que há outro item na lista de tarefas que precisa ser concluída antes de poder descansar na quietude.

Há momentos ao longo do dia que você pode integrar o silêncio no seu dia se você ficar de olho neles. Se você é um pai/mãe que fica em casa, você pode dedicar os primeiros 15 minutos de um descanso para silenciar. Se você trabalha, considere deixar seu telefone na sua mesa e dar um passeio na hora do almoço, ininterrupto. Tire cinco minutos durante o dia para olhar pela janela e fixar-se no instante presente.

As práticas de silêncio nem sempre devem ser estacionárias. Se você regularmente usa fones de ouvido na academia, considere deixá-los de lado uma vez por semana e preste atenção ao que está acontecendo dentro de você, incluindo pensamentos e emoções. Considere andar devagar durante a transição, como andar do seu carro até o prédio de escritórios, levando um momento para perceber seu próprio corpo e seus próprios sentimentos, antes de entrar no seu dia. Ou se você estiver em casa, encontre uma parte calma da sua casa para que você possa sentar-se por 2 a 10 minutos ininterruptos e, intencionalmente, ficar em silêncio.

Um simples começo para silenciar é desligar os aparelhos eletrônicos. Uma vez por semana, volto para casa do trabalho e faço o jantar enquanto o resto da minha família está fora. Enquanto antes eu costumava ouvir rádio, fiz uma prática de cozinhar em silêncio, permitindo que a quietude da casa crie espaço para meu próprio ser, pensamentos e emoções. Em primeiro lugar, o silêncio era desconfortável, pois me sentia aborrecida ou dominada por meus próprios pensamentos. No entanto, uma das chaves para o silêncio é reconhecer que, como a maioria das coisas que são boas para nós, é difícil no início, mas fica mais fácil com o tempo. Outros fizeram uma prática de dirigir sem o rádio, ao invés de preencher o tempo silencioso em seu carro.

Definir um temporizador pode ser uma boa maneira de se permitir estar presente sem se preocupar com o tempo. Passar pelo menos 20 minutos em silêncio produz muitos benefícios, simplesmente começar com dois a cinco minutos pode ter um impacto profundo no seu humor e consciência, especialmente se praticado ao longo do dia.

Propósito

Se pensarmos em práticas contemplativas apenas em termos de visitar um mosteiro por um dia, nunca teremos tempo para praticar o silêncio. No entanto, mesmo os mais ocupados de nós pode tirar pequenos períodos de silêncio e decidir fazer uma pequena pausa na vida ocupada. O principal meio para uma vida mais contemplativa não é ter mais tempo, mas mais propósito. Usar o tempo que já estamos gastando – dirigindo, sentado em casa, lavando a louça – e decidindo praticar o silêncio, virando para dentro e ficando quieto.’


Fonte :
* Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2019/03/07/como-praticar-o-silencio-em-sua-rotina-diaria/

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

O que é oração contemplativa?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 PRAY
*Artigo via A12.com



Mas todos que já tiveram uma pequena experiência de oração sabem que embora essa definição seja verdadeira, ela precisa ser melhor detalhada se queremos ter uma ideia mais exata do que se trata. Quando buscamos entrar um pouco mais nas formas e métodos para rezar, parece comum encontrar a contemplação como um ápice dessa vida. Mas do que se trata a contemplação?

Seguindo os passos de Antonio Royo Marín, um mestre Dominicano, podemos entender a contemplação, de modo geral, como a resposta que dá o nosso espírito a um grandioso espetáculo que chama poderosamente a nossa atenção. É, de alguma maneira, olhar um objeto com admiração. Por exemplo, quando vemos o desabrochar de uma flor, podemos simplesmente ver e constatar uma realidade, como também podemos deixar que isso de alguma forma toque o nosso interior e que nos ‘fale’ e nos ‘questione’. Talvez possamos distinguir aqui a diferença entre um mero olhar e o contemplar.

E podemos contemplar não só uma flor, mas o mar, uma cadeia de montanhas, uma bonita cachoeira ou uma bela obra de arte. No entanto, em todos esses casos estamos falando de uma espécie de contemplação que podemos chamar de natural. A contemplação cristã é sobrenatural e foi definida de muitas formas. Santo Agostinho disse que ‘a contemplação é uma deliciosa admiração da verdade resplandecente’. São Francisco de Sales, por sua vez, disse que ela ‘não é mais que uma amorosa, simples e permanente atenção do espírito às coisas divinas’. Uma característica dessa contemplação é que ela é infundida em nós, ou seja, que uma luz superior (de Deus) nos ilumina com essas verdades que contemplamos.

Royo Marín, no seu livro chamado ‘Teologia da Perfeição Cristã’, entra em muitos outros detalhes referentes à contemplação e, ao final, chega a seguinte definição : ‘É uma simples intuição da verdade divina procedente da fé ilustrada pelos dons do entendimento, sabedoria e ciência em estado perfeito’. Talvez não seja uma definição tão bonita quanto a de Santo Agostinho ou São Francisco de Sales, mas ilustra bem como contemplar é um dom de Deus ao homem que tem fé.

Aprenda com o Papa Francisco : 

Para a oração de contemplação basta ‘pegar o Evangelho, ler e imaginar-se na cena, imaginar o que acontece e falar com Jesus, como me vem do coração’.

De tudo isso, pode vir a sensação de que a contemplação é algo muito elevado, para alguns escolhidos para revelações místicas, mas não para o cristão ‘comum e corrente’. Entretanto, os mestres espirituais insistem que todos somos chamados a percorrer a vida de oração até chegar a essa contemplação. E acho que para isso, vale a pena entender que não existe nenhum cristão ‘comum e corrente’ porque a santidade a qual estamos chamados é sempre nova, única, reflexo da grandiosidade infinita e bela de Deus. Nós não somos chamados a sermos comuns e correntes, mas a sermos santos e a contemplar a face de Deus cara a cara em sua Glória.

Com esse pequeno texto nem chegamos a arranhar a superfície da realidade da oração de contemplação. Muito há para aprofundar e crescer, mas que pelo menos possamos, como Maria o fez quando contemplou a mensagem de Deus por meio do Anjo, deixar que Deus infunda em nossos corações sua Verdade para que contemplando-a, nos coloquemos a seu serviço nas diversas realidades em que vivemos.’


Fonte :