Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Segundo
o filósofo Byung- Chul Han, o excesso de positividade, presente no mundo,
devido às grandes mudanças tecnológicas, se manifesta também como excesso de
estímulos, informações e impulsos. Descreve que a chamada ‘multitarefa’,
não apresenta nenhum progresso civilizatório.
Por
contraditório que pareça ser, para Byung- ChuHan as evoluções tecnológicas-
sociais, tem aproximado cada vez mais a sociedade humana da vida selvagem. Na
vida selvagem, o animal está obrigado a dividir sua atenção em diversas
atividades : ‘O animal não pode mergulhar contemplativamente no que tem
diante de si, pois tem de elaborar ao mesmo tempo o que tem atrás de si’. O
bem viver, no mundo contemporâneo, cedeu lugar à preocupação por sobreviver.
As
novas tecnologias disponibilizam informação em
excesso, com o ritmo acelerado, gerando uma atenção
ampla; porém, rasa - superficial. Conforme a filósofa
Hanna Arendt, ‘quanto mais superficial a pessoa é, mais suscetível está a
ceder ao mal’. A disseminação de uma ‘cultura de ódio
e intolerância’, em boa parte, se explica por essa ausência de
compreensão da vida e, de suas relações. Sujeito às
manipulações nas redes sociais, parte da população é
conduzida numa onda de superficialidade e insensatez.
Assertivamente, já no
final do século XIX, o poeta e filósofo Ralph Waldo
Emerson, caracterizou o ser humano moderno : ‘um andarilho
que corre sobre uma fina camada de gelo. Ele não tem um destino certo. Mas
sabe que, se parar, o piso racha e morre afogado’ (...) ‘nossa segurança está
em nossa velocidade’.
Por
sua vez, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, evidencia
que, a vida humana, finda numa hiperatividade mortal se, dela
for expulso todo elemento contemplativo. Eis suas palavras : ‘Por falta
de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em
nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto. Assim,
pertence às correções necessárias a serem tomadas quanto ao caráter da
humanidade fortalecer em grande medida o elemento contemplativo’. O
homem e a mulher do século XXI, tem a responsabilidade de fortalecer e
estimular o ‘elemento contemplativo’, tão necessário para uma
cultura do bem-viver e do bem-conviver equilibrado.
A
contemplação, diante da vida, inicia e sustenta a aprendizagem, estabelece uma
relação amorosa com saber. O amor à sabedoria, nasce do espanto
(admiração), que por sua vez é fruto da contemplação da beleza do mundo. Essa
contemplação cósmica, diante do mistério da vida, levou o místico Thomas
Merton a dizer : ‘O poeta entra em si mesmo para criar. O contemplativo
mergulha em Deus para ser criado’. Tanto o poeta, quanto o contemplativo, são
envolvidos por uma aura de leveza, recolhimento e quietude.
O
filósofo coreano Chul Han faz uma constatação : ‘A massa de informações
eleva massivamente a entropia do mundo, sim, o nível de ruído. O pensamento
necessita de silêncio. É uma expedição para o silêncio’. O nível de
ruído, de barulho, interfere na qualidade do pensamento, da reflexão. Essa
cultura contemporânea hiper ruidosa não gera nada de novo, reproduz o que
já existe, expressa aflição, inquietação e, uma
concepção reducionista da vida.
Contemplar
significa compreender que, a acelerada rotina, não basta para a plenitude de
nossa existência. Significa recuperar e, se reconciliar com a vida em seu
instante vivido, dizendo sim à sua beleza. O tédio cansa, esgota. A
contemplação reencanta e revigora a integridade da vida. ‘É uma expedição
para o silêncio’.
A
busca da contemplação não deve ser confundida com anseios por
sensações de arrebatamento. Nas palavras do Papa Francisco, ‘Contemplar
e cuidar : eis duas atitudes que indicam o caminho para corrigir e reequilibrar
nossa relação de seres humanos com a criação’.
A contemplação
está presente também nos ensinamentos e na vida de Jesus de
Nazaré : ‘Olhai os lírios do campo que não trabalham e nem fiam
e, no entanto, nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como
um deles’ (Lucas 12, 27). Jesus de Nazaré é o
contemplativo itinerante que sabe ver, olhar e contemplar a beleza da natureza
presente nos lírios do campo. Quanta sensibilidade contemplativa. Parar e
contemplar : eis a grande dificuldade do ser humano da pós-modernidade.
Parafraseando
o teólogo Karl Rahnner que afirmou que ‘o cristão do futuro, ou será um
místico ou não será cristão’, a humanidade nesse século ou será
contemplativa ou perderá sua própria humanidade.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://domtotal.com/noticia/1575081/2022/04/a-contemplacao-na-sociedade-do-cansaco/
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