Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
jornalista, colunista e pároco
de Santo Afonso de Fortaleza, CE
‘O
Filho de Deus, antes de subir ao Pai, falou com veemência sobre o sacramento da
Eucaristia, com a seguinte afirmação : ‘Eu sou o pão vivo que desceu do céu;
se alguém come deste pão, viverá eternamente’ (cf. Jo 6, 51-71). Temos
consciência de que sempre, e por toda parte, a refeição foi símbolo de união.
Para nós, cristãos, a refeição salutar por excelência é a Eucaristia, com
caráter de sacrifício e de ação de graças, como repetição do sacrifício de
Cristo no mistério pascal. No comer e beber da carne e do sangue de Cristo, já
experimentamos, pela nossa fé, a eternidade, unidos na recíproca permanência,
conforme as palavras do Mestre, que nos leva, não só a compreender seu gesto
maior, ao lavar os pés dos discípulos, mas na tarefa desafiadora de procurar fazer
o que ele fez, na acolhida ao irmão, quando parece um lapso importuno e
inadequado de tocar a campainha.
São
Jerônimo, num comentário sobre o Salmo 102, dizia : ‘Sou como um pelicano do
deserto, aquele pássaro bom que fustiga o peito e alimenta com o próprio sangue
os seus filhos’. Ele é o símbolo do sacrifício e da doação de si mesmo. E a
Eucaristia é Jesus Cristo mesmo, como pão da vida, do céu e da paz, porque nele
está a redenção da humanidade. A principal característica do pelicano é
carregar consigo uma bolsa membranosa, prendendo nela o bico, sendo duas ou
três vezes maior que seu estômago, com a finalidade de armazenar alimento por
um determinado período de tempo. Assim, como a maioria das aves aquáticas,
possui os dedos unidos por membranas. Eles são encontrados em todos os
continentes, com exceção da Antártida, medindo até três metros de uma asa a
outra e pesando até 13 quilos. Os machos são normalmente maiores e possuem
bicos mais longos que as fêmeas e alimentam-se de peixes.
Na
Europa medieval eram considerados animais especialmente zelosos e alimentavam
os filhotes com o alimento tirado da sua própria bolsa e, se chegasse a faltar
alimento, eles, num modo de proceder, alimentavam seus filhos com o próprio
sangue, gesto este que, por analogia, nos faz pensar no próprio Filho de Deus.
Daí o pelicano nos representar, nós que abraçamos a fé, nessa profunda
simbologia da Paixão de Cristo, da Eucaristia e da autoimolação do Cordeiro
Pascal. Esse tipo de ave costumava sofrer de uma doença, que a deixava com uma
marca vermelha no peito. Outra versão é que esse tipo de animal tinha o hábito
de matar os seus filhotes; depois disso, ressuscitava-os com seu sangue, o que
seria análogo ao sofrimento de Jesus, ao memorial de sua morte e ressurreição.
Jesus
Cristo é o pássaro bom e imprescindível, para que nossa Igreja seja
verdadeiramente pascal. É por isso que suplicamos : ‘Ó pássaro bom! Ó
pelicano bom, Senhor Jesus!’. Temos consciência de que a Eucaristia é a
renovação da aliança do Senhor com a humanidade e que, através dela, se
realiza, de um modo contínuo, a obra da redenção. Temos convicção de que a
Eucaristia é o sinal da unidade e do vínculo da caridade que, por meio dela,
tende toda a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte de onde emana toda a sua
força (cf. SC. 522, 537, 537 e 600). Que o pássaro bom nos ensine a amar mais a
Eucaristia, sacramento no qual Jesus se acha presente, com seu corpo, sangue,
alma e divindade. Ele é o banquete sagrado, ‘o pelicano bom a nos inundar
com vosso sangue, pelo qual de uma só gota quis salvar o mundo inteiro’
(Santo Tomás de Aquino).
Que
a nossa fé na Eucaristia possa, não só nos empolgar e nos fascinar em
determinados momentos da vida, mas que nos produza um forte desejo de aprender
sempre, e cada vez mais, na certeza de vivermos animados na esperança, como
bons pelicanos, na renúncia, na doação e na generosidade, como tão bem
assertivou Dom Helder : ‘Que eu aprenda afinal, no mistério pascal, a cobrir
de véus o acidental e efêmero, deixando em primeiro plano, apenas, o mistério
da redenção’.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://domtotal.com/noticia/1573463/2022/04/acolher-o-irmao-importuno-e-inadequado/
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