Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de
Fabrício Veliq,
teólogo protestante
‘Esse
versículo, talvez mais conhecido no meio evangélico do Brasil pela tradução de
João Ferreira de Almeida que diz : ‘qual de vós, por mais ansioso que
esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?’, faz parte de
outra parte muito conhecida da Bíblia, já consolidada como Sermão do Monte.
Nesse
longo trecho, que em Mateus segue do capítulo 5 até o capítulo 7, ao contrário
do que muito se ouve, não se trata de uma síntese do ensinamento de Jesus,
antes, como nos mostra a Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB), Mateus apresenta
tal sermão como uma didakhé, ou seja, ‘um ensino que supõe a proclamação anterior
do Reino’.
Esse
pequeno versículo, por sua vez, lendo no conjunto do sermão, traz um grande
ensinamento para nossos dias. Num primeiro momento, quem trata a Bíblia como
uma grande caixa de promessas, da qual se tira somente alguns versículos
motivacionais para o dia a dia, ao pegar tal versículo pode pensar que o que
Jesus está falando seja sobre uma espécie de fatalismo. Ou seja, a ideia de que
já se tem tudo determinado e, por esse motivo, não devemos nos preocupar com
nada, visto que não podemos alterar a ordem das coisas, ou aquilo que já foi
pré-determinado por Deus em algum passado distante. Nesse sentido, uma vez que
não se pode fazer nada contra a ordem de Deus, então se torna inútil se
preocupar com a existência etc.
No
entanto, lido no contexto do texto, percebe-se que a fala de Jesus aborda a
questão da confiança em Deus, a quem se dirige a oração citada no início do
capítulo 6. Em outras palavras, por termos um Pai/Mãe amoroso/a que caminha
conosco, não devemos andar ansiosos diante das circunstâncias da vida.
Ao
mesmo tempo, a fala de Jesus, ainda que tão distante temporalmente de nós,
convida-nos a refletir sobre a sociedade contemporânea.
Por
um lado, constantemente vemos aqueles e aquelas que mesmo fazendo todo o
possível para sobreviver, não conseguem, muitas vezes, suprir as necessidades
básicas para uma vida tranquila. Na realidade de milhões de pessoas que passam
fome e outras carências que assegurem sua dignidade, a ansiedade e o medo se
mostram presentes e não há nada a ser recriminado nisso. Somente quem nunca
passou por situações assim diz a alguém que não consegue saber se terá comida e
moradia no próximo mês : ‘que isso, você está se preocupando à toa’. No
entanto, o versículo nos admoesta a nos lembrarmos de que Deus caminha
conosco, ao nosso lado, e nos dá forças e coragem para passar pelos momentos
nos quais pensamos não haver mais saída. Em outras palavras, Deus
continua cuidando de sua criação e se faz presente de diversas maneiras, até
mesmo no mais profundo do sofrimento humano e diante de suas carências diárias.
Numa
outra perspectiva, temos a própria vida e sua imprevisibilidade, algo muito
difícil para muitas pessoas aceitarem. Principalmente hoje, em que pululam
discursos motivacionais que afirmam que devemos ter o controle da nossa vida,
como se de alguma forma isso fosse possível. Tais discursos, por sua vez,
esquecem-se de que tentar controlar a vida é esquecê-la de viver, uma vez que
uma de suas principais características é o caráter de surpresa que ela possui.
Aceitar
a imprevisibilidade da vida, por sua vez, não tem a ver com o conformismo ou
com uma ideia fatalista da qual falamos mais acima. Antes, é reconhecer-se
humano e, como tal, pequeno, não imortal e sujeito ao acaso, sendo exatamente
tal vulnerabilidade diante da imprevisibilidade aquilo que nos humaniza.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://domtotal.com/noticia/1572734/2022/04/apesar-da-imprevisibilidade-da-vida-deus-cuida-de-nos/
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