Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Ouve-se que o
ritmo de vida anda difícil. A aceleração tomou conta dos seres humanos enquanto
a natureza dança sob o ritmo do Criador. A Terra gira num ritmo invariável
dentro de um universo que define bem o que é ritmo. A natureza do micro ao
macro responde o que é ritmo e vida. O ser humano tornou-se ‘surdo’ ao próprio
ritmo do corpo; o coração bate involuntariamente, mantém o ritmo da vida e a
maioria não presta atenção a isso. Não há mais tempo nem mesmo para sentir a
vida dentro de si. Medo, violência, ambição, inveja, mentira, corrupção e
maldade são ruídos que tomam o lugar da vida nas pessoas onde deveria pulsar o
ritmo do amor.
O cristão é
alguém que escolhe escutar o ritmo do amor para desenvolvê-lo de modo
consciente e ativo. Ritmo é direção. Cristão é aquele cuja direção é a caridade
plena, amando ao próximo mais do que a si mesmo. É o ritmo do Espírito Santo.
Murray Schafer escreve no livro O ouvido pensante : ‘Originalmente,
‘ritmo’ e ‘rio’ estavam etimologicamente relacionados, sugerindo mais o
movimento de um trecho do que sua divisão em articulações’. A única certeza que
um cristão tem de estar fluindo, caminhando, movimentando-se na direção certa é
uma verdadeira vida de oração. Dela depende todo o restante. Dela brota a
verdadeira caridade. É por meio da oração que se conquista o ‘fazer o bem sem
olhar a quem’. Gestos caritativos sem vida de oração correm o risco de ser
narcísicos : ‘eu faço’, ‘eu sou’, ‘eu tenho’, ‘eu…’. A verdadeira oração
direciona o espírito para o ‘nós’ e o ego não mais se sustenta cedendo ao amor
divino. Por isso, orar com o coração e a voz em comunidade é fundamental ao
ritmo da Igreja.
Anselm Grün
esclarece bem a oração em comunidade no livro Liturgia das horas
e contemplação : ‘A salmodia comunitária se limita a ‘recitar’ os textos
sagrados, para que eles se façam presentes não só na escrita e na letra, mas
também ao som da voz da comunidade que reza e para que possam ser absorvidos
também pela audição e pelo coração. Mas são justamente o comedimento reverente
com o qual isso acontece e a simples uniformidade da execução musical que
permitem – e isso é confirmado pela experiência de muitos cantores e ouvintes
da salmodia ao longo dos séculos – a criação de uma atmosfera na qual o coração
é conduzido a um silêncio atento e receptivo’.
Recitar
significa simplicidade. Quem entendeu a mensagem contida no sexto capítulo do
Evangelho de Mateus entenderá com facilidade o texto de Anselm Grün acima
transcrito, do contrário, ainda não entendeu muitas coisas e corre grandes
riscos de deturpar a mensagem de Jesus.
Santa
Teresa de Calcutá disse que ‘É difícil rezar se você não sabe como rezar, mas
devemos nos ajudar a rezar. A primeira coisa a fazer é recorrer ao silêncio.
Não podemos nos colocar diretamente na presença de Deus se não praticarmos o
silêncio interno e externo. (…) No silêncio encontraremos uma nova energia e a
verdadeira unidade’.
O coração manso
e humilde solfeja o ritmo do Céu!’
Fonte : *Artigo na íntegra

Nenhum comentário:
Postar um comentário