Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Padre Alfredo J. Gonçalves, CS
‘No decorrer da
história humana, os temas da violência e da migração sempre andaram de braços
dados. Tensões, conflitos e guerras têm produzido, aos milhares e milhões,
esses ‘condenados da terra’ (Frantz Fanon) : são exilados vencidos, não raro
utilizados como escravos pelos vencedores; vítimas do tráfico, em especial de
mulheres e crianças, para fins de exploração sexual ou trabalhista; refugiados
que se põem em fuga por motivações étnicas, religiosas, políticas, ideológicas
e climáticas; migrantes, filhos da pobreza e da desigualdade socioeconômica,
que escapam da miséria e da fome, na busca por novas oportunidades de melhor
vida. Isso sem falar na saúde e educação, fatores que também deslocam muitas
pessoas.
Esse casamento
por vezes perverso entre violência e migração vem jogando hoje um papel
primordial na prática política dos regimes democráticos. Um papel que emerge
com força redobrada no momento dos pleitos eleitorais. Alguns países podem
servir de exemplo : Estados Unidos, Portugal, Equador e Chile. Nos quatro
casos, a disputa eleitoral mais recente envolveu direta, ou indiretamente, a
posição dos candidatos quer em relação à violência, quer em relação à migração.
Como pano de fundo, em lugar dos direitos humanos dos migrantes desenraizados,
vinha à tona o famigerado discurso da segurança nacional.
Nos Estados
Unidos, caso mais emblemático, essa temática foi tão evidente durante a
campanha eleitoral que, logo após o retorno de Donald Trump à Casa Branca, este
colocou em prática um processo de deportação de números sem precedentes,
punindo muitos trabalhadores e trabalhadoras que há anos, e até décadas,
fizeram daquele país a sua pátria de adoção. Em Portugal, o partido Chega
ganhou um número expressivo de cadeiras no parlamento. E, como havia alardeado
e como era de se esperar, pôs-se logo a trabalhar para endurecer e legislação
migratória, fechando as portas a novas tentativas de entrar no velho
continente. No Chile e no Equador, migração e violência estiveram no topo da
disputa pelo poder, porém, ao que tudo indica, com resultados ainda incertos e
talvez distintos.
O cenário
torna-se sombrio, preocupante. Criminaliza-se a migração e o migrante, a ponto
de atribuir a violência aos que ‘veem de fora’. Uma e outro, em geral, aparecem
nas páginas, imagens e comentários da crônica policial, ao lado do crime
organizado e do terrorismo. Impõe-se como novo bode expiatório o outro, o
diferente, o estrangeiro. Com isso legitima-se toda e qualquer atitude de
repressão e racismo, de xenofobia, preconceito e discriminação.
Trata-se de um rechaço que se mede, de um lado, pela ascensão da extrema
direita em boa parte do planeta e, de outro lado, pela rejeição crescente de
grande parte da população. Os céus estão prenhes de tormenta e tempestade para
quem se aventura pelas estradas do êxodo.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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