segunda-feira, 24 de novembro de 2025

A criminalização da migração e a atribuição da violência aos que “veem de fora”

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Caçados como animais

*Artigo do Padre Alfredo J. Gonçalves, CS


‘No decorrer da história humana, os temas da violência e da migração sempre andaram de braços dados. Tensões, conflitos e guerras têm produzido, aos milhares e milhões, esses ‘condenados da terra’ (Frantz Fanon) : são exilados vencidos, não raro utilizados como escravos pelos vencedores; vítimas do tráfico, em especial de mulheres e crianças, para fins de exploração sexual ou trabalhista; refugiados que se põem em fuga por motivações étnicas, religiosas, políticas, ideológicas e climáticas; migrantes, filhos da pobreza e da desigualdade socioeconômica, que escapam da miséria e da fome, na busca por novas oportunidades de melhor vida. Isso sem falar na saúde e educação, fatores que também deslocam muitas pessoas.

Esse casamento por vezes perverso entre violência e migração vem jogando hoje um papel primordial na prática política dos regimes democráticos. Um papel que emerge com força redobrada no momento dos pleitos eleitorais. Alguns países podem servir de exemplo : Estados Unidos, Portugal, Equador e Chile. Nos quatro casos, a disputa eleitoral mais recente envolveu direta, ou indiretamente, a posição dos candidatos quer em relação à violência, quer em relação à migração. Como pano de fundo, em lugar dos direitos humanos dos migrantes desenraizados, vinha à tona o famigerado discurso da segurança nacional.

Nos Estados Unidos, caso mais emblemático, essa temática foi tão evidente durante a campanha eleitoral que, logo após o retorno de Donald Trump à Casa Branca, este colocou em prática um processo de deportação de números sem precedentes, punindo muitos trabalhadores e trabalhadoras que há anos, e até décadas, fizeram daquele país a sua pátria de adoção. Em Portugal, o partido Chega ganhou um número expressivo de cadeiras no parlamento. E, como havia alardeado e como era de se esperar, pôs-se logo a trabalhar para endurecer e legislação migratória, fechando as portas a novas tentativas de entrar no velho continente. No Chile e no Equador, migração e violência estiveram no topo da disputa pelo poder, porém, ao que tudo indica, com resultados ainda incertos e talvez distintos.

O cenário torna-se sombrio, preocupante. Criminaliza-se a migração e o migrante, a ponto de atribuir a violência aos que ‘veem de fora’. Uma e outro, em geral, aparecem nas páginas, imagens e comentários da crônica policial, ao lado do crime organizado e do terrorismo. Impõe-se como novo bode expiatório o outro, o diferente, o estrangeiro. Com isso legitima-se toda e qualquer atitude de repressão e racismo, de xenofobia, preconceito e discriminação. Trata-se de um rechaço que se mede, de um lado, pela ascensão da extrema direita em boa parte do planeta e, de outro lado, pela rejeição crescente de grande parte da população. Os céus estão prenhes de tormenta e tempestade para quem se aventura pelas estradas do êxodo.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://migramundo.com/a-criminalizacao-da-migracao-e-a-atribuicao-da-a-violencia-aos-que-veem-de-fora/

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