Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do Padre José Inácio de
Medeiros, CSsR
‘Uma das mais
intrigantes histórias da Bíblia é a que trata da diferença entre os irmãos Caim
e Abel, colocada bem no começo da narrativa bíblica, no Livro do Gênesis,
diretamente ligada com a origem da humanidade sobre a face da terra.
Caim e Abel
eram filhos de Adão e Eva, o primeiro casal criado por Deus. Abel era pastor de
ovelhas, enquanto Caim trabalhava como agricultor. Ambos decidiram oferecer
sacrifícios a Deus em gratidão por suas colheitas e criações. Abel ofereceu o
melhor de seu rebanho, enquanto Caim apresentou os melhores frutos da terra.
De acordo com a
narrativa, Deus aceitou com agrado a oferta de Abel, mas rejeitou a de Caim. As
razões exatas para isso não são explicitamente detalhadas, mas a tradição
interpreta que Deus preferiu a oferta de Abel devido à sua sinceridade e
dedicação, enquanto Caim teria sido menos generoso ou de coração impuro em sua
oferta.
Tomado pelo
ciúme e ressentimento, Caim, em vez de buscar melhorar o seu comportamento,
deixou que a ira o consumisse. Deus advertiu Caim, dizendo-lhe que o pecado
estava à porta e que deveria dominá-lo. No entanto, Caim não deu ouvidos à
advertência divina e chamando Abel para o campo em um ato de violência brutal,
matou seu irmão.
E aconteceu que
Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos
primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e
para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se
Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante.
E o Senhor
disse a Caim : Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem
fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à
porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar.
E falou Caim
com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim
contra o seu irmão Abel, e o matou. E disse o Senhor a Caim : Onde está Abel,
teu irmão? E ele disse : Não sei; sou eu guardador do meu irmão?
E disse Deus :
Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra. E agora
maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para receber da tua mão o
sangue do teu irmão. (Gên 4,3-11)
Após o
assassinato, Deus confrontou Caim, perguntando : ‘Onde está Abel, teu irmão?’.
Caim respondeu : ‘Não sei; serei eu o responsável pelo meu irmão?’. Então, Deus
revelou que o sangue de Abel clamava da terra por justiça. Como punição, Caim
foi amaldiçoado e condenado a vagar pelo mundo como um errante, sem uma terra
para cultivar.
Embora Deus
tenha infligido a punição a Caim, Ele também o protegeu, colocando um sinal
sobre ele para que ninguém o matasse durante seu exílio.
Chegando nesse
ponto a narrativa bíblica provoca uma séria inquietação nos leitores : Em suas
andanças pela terra Caim encontrou outras pessoas fora do Paraíso, chegou a
contrair matrimônio. Mas como, havia outras pessoas fora do paraíso que Deus
criou?
E saiu Caim de
diante da face do Senhor, e habitou na terra de Node, do lado oriental do Éden.
E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu, e deu à luz a Enoque; e ele
edificou uma cidade, e chamou o nome da cidade conforme o nome de seu filho
Enoque (Gên 4,16,17).
O drama das
relações humanas
A história de
Caim e Abel frequentemente é interpretada como uma lição sobre os perigos da
inveja, a importância da sinceridade no relacionamento com Deus e as
consequências da violência. Também é uma reflexão sobre a fragilidade das
relações humanas e a responsabilidade de cada indivíduo em cuidar de seu
próximo. A frase ‘Sou eu o cuidador do meu irmão?’ tornou-se emblemática,
destacando o dever moral que os seres humanos têm uns com os outros.
A história de
Caim e Abel narrada no Livro de Gênesis, é também um dos primeiros relatos de
conflito humano, representando o drama da inveja, do ciúme e da violência entre
irmãos.
O célebre
biblista Carlos Mester escreveu um livro intitulado 'Paraiso terrestre,
saudade ou esperança’ no qual retoma a narrativa bíblica do paraíso e
da criação dos primeiros seres humanos não em sua versão literal, com suas
múltiplas contradições como a que levou Caim a encontrar pessoas fora do éden,
mas numa versão simbólica dos primórdios da humanidade.
O povo hebreu
sustentou durante muito tempo uma tradição na qual as histórias eram passadas
de geração em geração de forma oral. Até que os primeiros textos bíblicos
passassem a ser redigidos, receberam muitas influências dos povos vizinhos.
Certas ‘lendas’ e mitos são repetidos nas páginas da bíblia para tentar
explicar as perguntas fundamentais que a humanidade sempre se fez : Quem sou eu?
de onde eu vim? para onde eu vou? como se explica o mal na face da terra?
A história da
criação, o fratricídio entre Caim e Abel, o dilúvio e outras narrativas
bíblicas são chamados de ‘mitos originais’, uma tentativa de resposta a estas
perguntas fundamentais.
Primeiramente o
paraíso designa não um espaço geográfico, mas um lugar de paz e
felicidade, que pode ser encontrado em qualquer lugar e depois expressa o mundo
espiritual pós-morte reservado para todos os que serão salvos.
Porque, eis que
eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas
passadas, nem mais subirão ao coração. Porém vos alegrareis e exultareis
perpetuamente no que eu crio; porque eis que crio para Jerusalém uma alegria, e
para o seu povo, um regozijo (Is 65,17-18).’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2025-09/curiosidades-biblia-historia-caim-abel.html
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