Um fotograma do documentário, de 1919, Leilão de Almas,
que retratou eventos testemunhados do genocídio armênio,
incluindo meninas cristãs crucificadas.
‘O século XX foi o século dos genocídios, dos massacres
em massa e do uso científico para impor a dor, a violência e a morte a milhões
de seres humanos indefesos. Famoso, lamentável e internacionalmente reconhecido
é o genocídio dos judeus e de outras minorias perpetrado pelos nazistas durante
a primeira metade do século XX.
No entanto, no início do século XX houve dois genocídios
pouco conhecidos e que foram uma espécie de ‘ensaio’, de ‘experiência’
do que, um pouco mais tarde, seria o grande massacre do século XX. Trata-se do
genocídio armênio e do genocídio grego-assírio.
O genocídio armênio ocorreu entre 1915-1917 e tratou-se
da matança e deportação forçada de aproximadamente 1, 5 milhões de pessoas de
origem armênia que viviam no Império Otomano, atual Turquia, com a intenção de
exterminar sua presença cultural, sua vida econômica e seu ambiente familiar.
Existem registros históricos que demonstram que toda essa violência foi feita
de forma planejada e utilizando os métodos científicos disponíveis na época.
Já o genocídio grego-assírio não possui tantos estudos
históricos e científicos como o genocídio armênio. No entanto, foi um genocídio
tão cruel como o armênio. No período entre 1915 a 1922 tropas regulares e
milícias paramilitares do Império Otomano, atual Turquia, perseguiram e mataram
entre 500 e 950 mil gregos, e entre 250 e 750 mil assírios perderam suas vidas.
Calcula-se que aproximadamente 1,7 milhões de grego-assírios tenham morrido
vítimas da perseguição.
No dia 12/04/2015, durante uma Missa para lembrar os 1,5
milhões de mortos durante o massacre, o Papa Francisco foi claro ao dizer que,
de fato, houve um genocídio dos armênios entre 1915-1917. Foi a primeira fez
que um Papa afirmou que houve um genocídio do povo armênio. Apesar de muitos
países já terem reconhecido o genocídio armênio, as palavras do Papa foram
reconfortantes para as vítimas e os descendentes do genocídio e, ao mesmo
tempo, deu mais força para que, a nível internacional e nos órgãos de apoio aos
direitos humanos (ONU, Anistia Internacional, etc), o genocídio armênio seja
definitivamente reconhecido. O Papa Francisco foi Apóstolo, uma voz profética,
ao ter a coragem, mesmo diante de muitas pressões internacionais vindas da
Turquia e de outros países, de ter publicamente reconhecido a existência do
genocídio armênio.
De forma oficial, por meio das palavras do Papa
Francisco, a Igreja reconheceu oficialmente a existência do genocídio
armênio. Daqui por diante padres, leigos
e ministros poderão livremente afirmar que, de fato, houve um brutal genocídio
do povo armênio, entre 1915 e 1917, pelos turcos-otomanos. Apontam-se 3 relevantes motivos para que as
palavras do Papa Francisco sejam tão importantes.
Primeiro, como salienta o jornalista Breno Salvador, os
genocídios dos armênios e dos grego-assírios, pelo turco-otomanos, representa ‘um caso marcante de ataque à cristandade,
porque havia uma tentativa de dominação e imposição do Islã. O que se passa no Oriente
Médio hoje gira em torno disso, da mesma forma como com os armênios, gregos e
assírios. O Estado Islâmico promove um genocídio’. (Jornal O Globo,24/04/2015).
Segundo, a luta pelo reconhecimento internacional do
genocídio grego-assírio é fortalecida. Trata-se de uma das grandes lutas do
século XXI. O povo grego-assírio necessita ter a memória e a identidade dos
seus compatriotas reconhecida. Foram 1,7 milhões de vítimas que necessitam de
algum tipo de reconhecimento.
Terceiro, em um momento de incerteza, com o aumento da
violência sectária, religiosa e étnica, com a ameaça de genocídios por parte de
grupos extremistas, as
palavras do Papa são um alerta que a luta em prol da dignidade da pessoa humana
está penas começando e que não pode ser interrompida. A Igreja é convocada a
ser sinal e luz em prol dos grupos humanos mais violentados e vulneráveis.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.zenit.org/pt/articles/a-igreja-e-os-genocidios-armenio-e-grego-assirio