IV Domingo de Páscoa – Ano B
– 26 de Abril de 2015
Atos 4, 8-12
Salmo 117
1João 3, 1-2
João 10, 11-18
Reflexões
‘O Bom Pastor (Evangelho) é a primeira
imagem usada pelos cristãos, desde as catacumbas, para representar Jesus
Cristo, muitos séculos antes do crucifixo. ‘O bom Pastor é a versão suavizada do crucifixo. Suavizada
só a nível figurativo, porque a substância é a mesma. Não é por acaso que no
trecho de João a frase ‘dar a vida’ seja a mesma que explica o que significa ‘bom’,
e aparece pelo menos cinco vezes’ (D. Pezzini). Jesus repete com insistência que ‘o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas’
(v. 11.15). Jesus é identificado com a imagem bíblica do pastor (cf. Êxodo, Ezequiel, Salmos…), e João
releu-a em chave messiânica. Abunda mas expressões que indicam uma vida de
estreita relação entre Jesus e as ovelhas : entrar-sair, abrir, chamar-escutar,
conduzir, guiar, caminhar-seguir, conhecer, dar a vida… Até se identificar
plenamente com o ‘bom pastor que dá a
vida pelas ovelhas’ (v. 11.15). De notar que o texto grego usa um sinónimo :
o pastor ‘belo’ (v. 11.14), isto é bom, perfeito, que une em si a perfeição
ética e estética. Bela, ou seja, boa, é : uma pessoa, uma alma, uma colheita,
um casal, etc. É assim, porque ‘a beleza
salvará o mundo’, segundo a tese de vários autores atuais : F. M.
Dostoievski, card. Carlo M. Martini, Bruno Forte, G. Bergantini…
Jesus dá a sua vida por todos : há
ainda outras ovelhas a reunir, até formar um só rebanho e um só pastor (v. 16).
Ele não renuncia a nenhuma ovelha, mesmo se estão distantes e não o conhecem :
precisam todas de entrar pela porta que é Ele mesmo, porque Ele é o único
salvador. A missão da Igreja move-se dentro destes parâmetros de universalidade
: vida oferecida por todos, perspectiva de rebanho único, vida em abundância…
Mesmo se o rebanho é numeroso, ninguém está a mais, ninguém se perde no
anonimato; pelo contrário as relações são pessoais : o pastor conhece as suas
ovelhas e estas conhecem-no (v. 14), chama-as uma a uma, pelo nome (v. 3). Há
uma circularidade de vida e de relações entre o Pai, Jesus e as ovelhas,
animados por uma mesma seiva de conhecimento e de amor (v. 15). Esta
circularidade torna-se modelo para a missão pastoral da Igreja.
O intenso amor com que o Bom Pastor dá
a sua vida pelas ovelhas produz frutos extraordinários : faz de nós filhos de
Deus (II leitura). João assegura-nos que ‘somo-lo
realmente!’. E que um dia veremos Deus ‘tal
como Ele é’ (v. 1-2). Com o dom da sua vida, o Bom Pastor tornou-se o
Salvador único e universal, de todos. Afirma-o com firmeza o apóstolo Pedro, ao
falar de Jesus Cristo perante o Sinédrio (I leitura) : ‘Em nenhum outro há salvação; pois não existe debaixo do céu outro nome,
dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos’ (v. 12).
Seguir as pegadas de Jesus ‘Bom Pastor’ é também o objetivo que se
propõe hoje o 49º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, com o convite a refletir
sobre o tema : ‘As vocações, dom da
Caridade de Deus’. (*) É necessário ter confiança em Deus,
que quer a vida e cuida do seu rebanho, e portanto suscita certamente os
pastores que o guiem; mas é preciso que os chamados respondam ao apelo do ‘Senhor da messe’. A vocação de especial
consagração (sacerdócio, vida consagrada, vida missionária, serviços laicais…)
reforça-se solidamente na experiência pessoal de sentir-se amado e chamado por
Alguém que existe antes de mim. Para qualquer tipo de vocação, é determinante
sentir como verdadeira a palavra de Jesus : ‘Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me’ (v. 14).
Trata-se de uma experiência fundante, que o teólogo protestante Karl Barth,
superando o idealismo cartesiano, exprime assim : ‘Cogitor, ergo sum’ (sou pensado, logo existo). Sentir-se pensado
por Deus faz-me viver, faz-me sentir grande, dá-me segurança, faz-me sentir
filho e irmão, faz de mim um apóstolo.
Saber que vivo no coração de Deus
abre-me ao mundo, torna-me disponível a partilhar os projetos e as preocupações
do Bom Pastor, que tem ‘outras ovelhas’
(v. 16) a reunir, guiar, salvar. A proximidade e a contemplação do Bom Pastor
faz-me ser Igreja missionária, com horizontes tão amplos quanto o mundo
inteiro. Com esse fim é preciso habilitar as paróquias e as comunidades a não
ser recintos tranquilos onde se cuida do que restou, mas campos de base onde se
experimenta o encontro com o Ressuscitado e de onde se parte para anunciar
Jesus aos que estão perto e aos que estão longe.’
Palavra do Papa Francisco
(*) ‘O
Dia Mundial de Oração pelas Vocações nos lembra a importância de rezar para que
o ‘dono da messe – como disse Jesus
aos seus discípulos – mande trabalhadores
para a sua messe’ (Lc 10, 2). Jesus dá esta ordem no contexto dum envio
missionário : além dos doze apóstolos, Ele chamou mais setenta e dois
discípulos, enviando-os em missão dois a dois (cf. Lc 10,1-16). Com efeito, se
a Igreja ‘é, por sua natureza,
missionária’ (Conc. Ecum. Vat. II., Decr. Ad gentes, 2), a vocação cristã
só pode nascer dentro duma experiência de missão. Assim, ouvir e seguir a voz
de Cristo Bom Pastor, deixando-se atrair e conduzir por Ele e consagrando-Lhe a
própria vida, significa permitir que o Espírito Santo nos introduza neste
dinamismo missionário, suscitando em nós o desejo e a coragem jubilosa de
oferecer a nossa vida e gastá-la pela causa do Reino de Deus.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EukAZlZyypkpjMteTk
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