*Artigo de Padre José Vieira,
Missionário Comboniano
‘O Papa Francisco recebeu uma
representação do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar
(SECAM) no início de Fevereiro e deixou-lhes um recado importante : ‘Na África, o futuro está nas mãos dos
jovens, que precisam de ser protegidos de novas e inescrupulosas formas de ‘colonização’
como a busca de sucesso, riquezas e poder a todo o custo, bem como o
fundamentalismo e o uso distorcido da religião juntamente com novas ideologias
que destroem a identidade dos indivíduos e das famílias.’ E propôs uma saída : ‘A
maneira mais efetiva de ultrapassar a tentação de cair em estilos de vida
nocivos é o investimento na educação.’
Não é por acaso que os fundamentalistas
islâmicos do Norte da Nigéria se denominam a si mesmos Boko Haram, que
significa ‘educação proibida’, e
fazem das escolas e da população estudantil alvos distintos. Em Abril do ano
passado, raptaram quase 300 meninas do Internato de Chiboko e pelo menos 219
ainda estão nas suas mãos. Os extremistas continuam a matar e raptar estudantes
e a destruir escolas, mantendo cerca de 10 mil crianças fora da educação.
O papa argentino acrescentou que ‘a educação também ajuda a ultrapassar a
mentalidade vigente de injustiça e violência juntamente com as divisões étnicas’.
E preconizou um modelo de educação que ensine os jovens a pensar criticamente e
encoraje a adoção de valores morais.
Pedi a Orla Treacy um comentário sobre
as palavras do Papa Francisco. Esta freira irlandesa de 42 anos dirige com
carinho e determinação a Escola Secundária de Loreto, um internato para
meninas, em Rumbek, no Sudão do Sul. A escola, aberta pelas Irmãs de Loreto em
Abril de 2008, já formou 64 estudantes e tem 184 matriculadas neste ano
lectivo.
A Ir. Orla confessou-se encantada com o
comentário do papa sobre as dimensões acadêmica e pastoral da educação. E
explicou : ‘Aqui em Loreto, lutamos muito
por uma abordagem integral da educação. As nossas alunas vêm de um fundo
cultural muito forte que nega às mulheres e às meninas direitos básicos, e em
particular o direito à educação. Ao aceitarmos as meninas na escola, sonhamos
que sejam educadas num nível em que possam aprender a refletir criticamente sobre
valores cristãos e questões morais e possam ser empoderadas. Desgraçadamente, a
cultura da Igreja e da sociedade nem sempre apoia isto. Muitas meninas são
tiradas da escola e casadas à força e as que terminam devem seguir a prática
cultural de serem casadas pelo seu valor em vacas.’
A religiosa salienta o problema da
poligamia. Recorda que as meninas são espancadas até à submissão para aceitarem
um casamento polígamo e depois a Igreja considera-as estranhas porque não
celebraram o matrimonio cristão.
Uma aurora de esperança já rompe o
horizonte. A Ir. Orla explica que ‘no
internato recebemos meninas de todos os clãs e tribos dos pais. Aprendendo a
viver, estudar, refletir juntas levou-as a vínculos profundos de amizade. Fora
da escola, as famílias das alunas podem estar a lutar umas com as outras, mas
na escola vivem em harmonia e todas as diferenças são postas de lado. Muitas
crescem com mitos sobre os clãs vizinhos, mas quando se juntam na escola
descobrem que são todas iguais.’
A Ir. Orla termina com uma nota de
expectativa : ‘Muitas das alunas que
conseguiram terminar a escola secundária continuaram a sua educação. O sonho é
que estas graduadas no futuro venham a ter posições de autoridade na sociedade
e lentamente ajudem a trazer mudança sobretudo na construção da paz e na
dignidade da mulher.’’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EukZAZpkupwCWagNwK
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