sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O OLEIRO E O BARRO

Por Maria Vanda (Ir. Maria Silvia, Obl. OSB)                                                        
                                                                                                    




 NOSSAS ORAÇÕES



Senhor, nos abandonamos inertes, em nossos espíritos para que possais tocá-los.

Sois o Oleiro Perfeito e podeis moldar-nos segundo a Vossa vontade.

Fazei-nos vulneráveis ao Vosso temor, mas sustentados em Vossa plena obediência.

Dai-nos, ó Oleiro Celeste, a medida adequada de discernimento para nos determinarmos por Vossas verdades e mistérios.

Alimentai-nos no espírito! Fazei-o faminto de Vós; mas abastai-o com Vosso pão bendito.

Livrai-nos dos perigos do deserto e dai saciedade a nossa sede, tal samaritana, com água da fonte de água viva.

Remodelai-nos, ó nosso Divino Oleiro, segundo a Vossa vontade; perdoai as nossas faltas, por pura misericórdia, e colocai os nossas almas voltadas ao cumprimento dos vossos desígnios.

Concedei-nos a ventura de perseverar em Vós, até o dia em que remireis a todo o Vosso povo, quando esperamos encontrar o Vosso olhar e a Vossa voz a nos chamar pelo nome, e a nos indicar o lugar iluminado pelo Vosso eterno amor, onde repousaremos para sempre .

Amem.

             

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

QUEM TEM MEDO DA LITURGIA?

Por Maria Vanda (Ir. Maria Silvia, Obl. OSB)






Este artigo foi gentilmente cedido por Dom João Evangelista Kovas, OSB, monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo.


            Desde o primeiro de meus artigos no Musu Lietuva venho falando de liturgia. Para cada artigo escolho uma festa litúrgica mais significativa do mês e aproveito para falar sobre ela e desenvolver algum assunto de fé a ela relacionado. Assim podemos refletir sobre a nossa fé e indicar a importância da liturgia na vida do cristão.

            A proposta é simples, mas, reconheço, não deixa de causar certo estranhamento. Afinal, quem sabe exatamente o que é liturgia? A maioria das pessoas não ouviu falar de liturgia durante a sua formação  catequética. Pelo menos, assim vejo acontecer com a maioria dos cristãos católicos que vem conversar comigo.  A palavra “liturgia” causa até a repulsa esperada de quem ouve um termo técnico que desconhece. Parece um termo teológico sofisticado, que alguns teólogos imoderadamente zelosos querem fazer os leigos entender a todo custo.

            No entanto, a liturgia é o centro da vida da Igreja e da vida pessoal de fé. Ela muda tudo para nós.  De maneira geral, liturgia é toda celebração da Palavra de Deus na Igreja. A missa é uma liturgia. Toda celebração de algum sacramento é uma liturgia. A liturgia é, enfim, a oração da comunidade de fé. Nada mais simples do que isso, porém isso faz toda a diferença.

            Perguntam muitas vezes a nós católicos qual é a diferença entre os cristãos católicos e os evangélicos. Eu ouso responder: a liturgia!  Normalmente, se responde que é a salvaguarda da função do Papa, a veneração de imagens ou alguma questão doutrinal particular. As respostas variam muito, porém nada mais contundente do que a liturgia.

            Há uma diferença muito grande entre aqueles que acreditam na Palavra de Deus, na Bíblia, e buscam sinceramente praticar os seus ensinamentos e aqueles que assim também o fazem, porém sabem que a Palavra de Deus deve ser ouvida e celebrada primordialmente na liturgia. O poder da Palavra não se restringe em algum milagre, que pode favorecer esse ou daquele crente, por mais maravilhoso que ele possa ser, como a cura de um câncer ou retomar a visão. Ninguém nega a grandeza disso. Porém, o benefício maior de Deus na nossa vida e na vida de todo fiel é a Eucaristia. O poder maior da Palavra de Deus proclamada na assembléia é o fato de transformar o pão e o vinho em corpo e sangue de Cristo. Ouvir e colocar em prática a Palavra de Deus é muito mais do que seguir uma norma moral. Na Igreja Católica, ouvir e praticar a Palavra de Deus tem seu início e seu fim na liturgia, quando o Povo de Deus se reúne para celebrar a Palavra de Deus e oferecer a Deus por Jesus Cristo um louvor perfeito.

            A liturgia é a expressão maior da sacralidade de cada vida humana e da Palavra de Deus transmitida aos homens. Os católicos são aqueles que ouvem a palavra de Jesus de que devemos amar o próximo como a nós mesmos (cf. Mt 19,19; 2,39; Mc 12,31; Lc 10,27; Rm 13,9; Gl 5,14; Tg 2,8), ouvem ainda de Jesus que todos saberão que somos discípulos dele se amarmos uns aos outros (cf. Jo 13,35). E ouvindo esses dois ensinamentos, os católicos são aqueles que não os separam do “Fazei isso em memória de mim” (Lc 22,19; I Cor 11,24). Seguir a palavra de Jesus é reunir-se com os irmãos de fé em torno do mesmo altar e celebrar o milagre eucarístico, e, assim fazendo, levar toda essa riqueza para o seu dia-a-dia. Quem comunga do corpo e do sangue de Jesus é aquele que busca em sua vida a justiça, a retidão, o amor fraterno; é aquele que aprende a agir com prudência e sabe reconhecer com clareza as próprias maldades cometidas. Sabe pedir perdão a Deus e se reconciliar com o próximo. Em tudo isso, o católico é aquele que tem como ponto de partida a mesa eucarística e a tem como ponto de chegada. Pois não é outro o que celebramos, senão o próprio Filho de Deus, que se encarnou por nós, para nos salvar e para reunir em si uma multidão de irmãos em Deus.
           
            Não nos esqueçamos nunca: a nossa identidade de cristãos é forjada e aprimorada na liturgia. Por meio dela, nós reconhecemos todos os benefícios que Deus fez em favor da humanidade e qual a esperança a que Ele chama a todos nós.






terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Carta a Diogneto : Revelado o Mistério Cristão

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)






         Dando prosseguimento às nossas reflexões de virada de ano, vejamos esta matéria interessantíssima, divulgada no periódico ZENIT de 09 de janeiro de 2012.

         
'ROMA - Há um escrito apologético que explica o que é o cristianismo melhor do que qualquer texto moderno. Chama-se “Carta a Diogneto”, mas um profundo mistério envolve este pequeno escrito, que ainda hoje, data, autor, origem e o caráter mesmo estão ainda sujeitos a vivas discussões.
Para explicar o "mistério cristão", o desconhecido autor escreve, a um destinatário chamado Diogneto: "Os cristãos nem por razão, nem por linguagem, nem por costumes se distinguem dos outros homens. De fato, não habitam cidades próprias, nem usam um jargão que se diferencia, nem conduzem um gênero de vida especial. A sua doutrina não está na descoberta do pensamento de homens vários, nem eles aderem a uma corrente filosófica humana, como fazem os outros. Vivendo em cidades gregas e bárbaras, como correspondeu a cada um, e seguindo os costumes do lugar no vestido, na comida e no resto, testemunham um método de vida social admirável e sem dúvida paradoxal”.
E ainda: "Casam-se como todos e geram filhos, mas não jogam fora os bebês. Colocam em comum a mesa, mas não a cama. Estão na carne, mas não vivem segundo a carne. Habitam na terra, mas tem a sua cidadania no céu. Obedecem às leis estabelecidas, e com a sua vida superam as leis. Amam a todos, e por todos são perseguidos. Não são conhecidos, e são condenados. São mortos, e retornam a vida. São pobres, e fazem a muitos ricos; Não têm nada, e abandonam tudo. São desprezados, e nos desprezos têm glória. São ultrajados e proclamados justos. São injuriados e abençoam; são maltratados e honram. Fazendo o bem são punidos como malfeitores; condenados se alegram como se recebessem a vida...”
Verdades que mostram a admiração que os cristãos geravam entre os pagãos do tempo, mas também conceitos que são de grandíssima relevância, especialmente no contexto de um projeto de uma "Nova Evangelização".
Após a "editio princeps" (primeira edição impressa) do 1592 a "Carta a Diogneto" foi republicada totalmente ou em parte, pelo menos, 65 vezes, a sua bibliografia ultrapassa a cifra de 250 publicações.
A sua história é incrível e lendária.
Por volta de 1436 um jovem clérigo chamado Thomas d'Arezzo, que estava em Constantinopla para estudar o grego, descobriu o manuscrito em uma peixaria no meio de uma pilha de papel de embrulho.
O clérigo em questão partiu depois de missão junto aos muçulmanos e entregou o manuscrito a um teólogo dominicano, o futuro Cardeal Giovanni Stojkovic de Ragusa. Este último levou-o consigo ao Concílio de Basiléia e passou-o para o humanista Giovanni Reuchlin.
Entre 1560 e 1580 o manuscrito foi encontrado na abadia de Marmoutier na Alsácia, e entre 1793 e 1795 foi transferido para a biblioteca municipal de Estrasburgo.
No 24 de Agosto de 1870, durante a Guerra Franco-Prussiana, o fogo da artilharia prussiana incendiou a biblioteca, no qual também se destruiu o manuscrito da carta. Apesar da perda da original, o texto da carta é certo porque no século XVI fizeram-se ao menos três cópias. A primeira feita provavelmente em 1579 por Bernard Haus por conta de Martin Crusius, foi redescoberta três séculos mais tarde da C. I. Neumann e se encontra ainda hoje na Biblioteca universitária de Tubingen.
A segunda foi realizada em 1586 por Henri Estienne pela editio princeps da obra, que foi publicado em 1592: cheia de anotações de leitura e de propostas de correções, essa se encontra hoje em Leida.
A terceira, feita por J. J. Beurer entre 1586 e 1592, perdeu-se, mas o autor tinha comunicado, com suas próprias anotações, a Estienne e a Friedrich Sylburg, e este último publicou uma edição própria em 1593. Os dois estudiosos marcaram nas suas edições uma parte das notas de Beurer. Para desvendar o mistério, contar a história, procurar as fontes, identificar o autor e o destinatário, as edições francesas de autoridade, "Sources Chrétiennes", publicaram o livro "Para Diogneto", com introdução, edição crítica e comentários do especialista em história do cristianismo primitivo, Henri-Irénée Marrou.
O livro em questão foi traduzido e publicado na Itália pela Editora San Clemente e pelas Edições Studio Domenicano. A tradução foi feita por Maria Benedetta Artioli.
Segundo o autor, "a carta a Diogneto" poderia ter sido escrita em Alexandria, num período entre os anos 90 e 200, e o seu destinatário deveria ter sido o Procurador Equestre Claudio Diogneto que no 197 estava em função do Grande Sacerdote do Egito.
Para Henri-Irénée Marrou o texto apresenta “uma incontestável afinidade global e pontos de contato parciais mas numerosos como o conjunto da literatura apologética dos anos 120-210, muito semelhante aos fragmentos da ‘Pregação de Pedro’ e Aristide".
Durante anos este texto tem sido atribuído a São Justino, mas agora está certo que o filósofo e mártir Justino não tem nada a ver. O autor é provavelmente um contemporâneo de Hipólito de Roma e de Clemente de Alexandria e segundo o livro de Sources Chrétiennes, seria Panteno, mestre de Clemente.
De Panteno, Clemente escreve "o último que conheci, mas o primeiro em potência. O descobri no Egito, onde ele estava escondido... Era uma verdadeira abelha siciliana, colhia as flores no prado dos profetas e dos apóstolos e gerava na alma dos seus ouvintes um mel puro ... "
Na conclusão Marrou explica que não surpreende o interesse ao cristianismo de um administrador romano, num período de conversões nos quais a mesma imperatriz mãe Julia Mamaea (ou Giulia Mamea) apelava ao ensinamento de Origenes.'


Fonte :
http://www.zenit.org/index.php?l=portuguese




sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Tempos Litúrgicos

 

        
            A Igreja vive suas celebrações em forma de Tempos Litúrgicos.  Para isso, adotou certos  critérios para distribuir esses tempos nos 12 meses de cada ano, segundo um calendário especial adotado pela Igreja Católica.

            Obedece aos ditames estipulados segundo as normas da Constituição Apostólica,  que determina que sejam observados estes tempos, nos quais se assentam as celebrações do Ano Litúrgico.

            Estamos vivendo o  1o. período do Tempo Comum,  tempo este que se compõe de 34 semanas, sucedendo o Tempo do Natal. O Tempo Comum se inicia com a comemoração do BATISMO DO SENHOR. É um dos mais longos da Igreja e que comporta as mais  diversificadas comemorações de solenidades,  festas e memórias.  

      Para cada um  dos Tempos, a Igreja celebra diferentes momentos bíblicos, ou seja:

a)    Tempo do Advento:  é o primeiro deles e começa 04 semanas antes do Natal, celebrando a espera de Jesus  e Seu nascimento. É um tempo de esperança e de expectativa para se ver cumprido o anúncio do Anjo Gabriel  a  Maria, de que ela haveria de dar à luz um filho, que, segundo o Evangelho, é baseada no Profeta Isaias.  Nesse tempo,  incluem-se as Antífonas do Ó, que vai de 17 a 24 de dezembro

b)     Tempo do Natal:  inicia em 25 de Dezembro e vai até 06 de janeiro, dia da Epifania do Senhor.  Celebra-se o mistério  da encarnação de Cristo e a notícia alvissareira de Seu nascimento em Belém.
c )  Tempo da Quaresma:   inicia na 4ª. feira de cinzas e termina na manhã da quinta-feira santa. Dura  40 dias.  Celebra, também,  um  maior relacionamento do fiel com Deus; um tempo voltado para se permanecer mais na presença do Senhor, estreitar laços com os irmãos, sendo um tempo propício para o jejum, a penitência, a oração, a esmola e batismo.  É um tempo em que cada dia  tem um tema e se encerra com o Domingo de Ramos (entrada do Senhor em Jerusalém).
Aqui se inclui o Tríduo Pascal: (Tríduo do crucificado, o morto e o ressuscitado) –  começa na quinta-feira santa – onde se rememora a Santa ceia do Senhor, quando se celebram 03 instituições da máxima importância: a Sagrada Eucaristia, o novo mandamento ‘amai-vos uns aos outros como eu vos amei’  e o sacerdócio.  
Sexta-feira Santa – mergulha-se no Mistério da Paixão - Cerimônia de Adoração da Cruz : é o único dia em que não se celebra a Eucaristia.  O Sábado Santo ou Sábado de Aleluia.  É o dia de repouso, de silêncio e da Vigília Pascal.  Se celebra a Liturgia da Luz, que anuncia o acabar  das trevas, o Batismo (sacramento de morrermos e ressuscitarmos em Cristo) e a Eucaristia.             
d)     Tempo Pascal: Todo o calendário da Igreja se organiza em torno dessa comemoração: as primícias do mistério da páscoa. O Tempo Pascal se inicia no Domingo de Páscoa e vai até o dia de Pentecostes, durando 07 semanas. Nele se inclui a celebração da Oitava da Páscoas (08 dias); 40 dias depois da Páscoa a Ascensão do Senhor;  50 dias após a páscoa, celebra-se o dia de Pentecostes - O corpo Místico de Cristo.  É em Pentecostes que se comemora a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos no Cenáculo.
 
e)     Tempo Comum: Este tempo se perfaz em 34 semanas.  Nele se celebram várias solenidades, festas, memórias, dias santos, como exemplo citamos a solenidade de Corpus Christi, Sagrado Coração, Santíssima Trindade, Cristo Rei; festa da Imaculada Conceição, Assunção de Ns. Senhora,  Festa dos Santos (S. João, S. Pedro, S. José, S. Paulo, S. Bento entre outros); Festas do Senhor, Transfiguração, Apresentação do Senhor, Batismo do Senhor entre outras;     


      Como vimos, em linhas pretéritas, esse tempo se inicia com o Batismo do Senhor, se interrompe para o tempo da Quaresma e Páscoa, reiniciando-se logo após a comemoração de Pentecostes, até se encontrar, novamente, com o Tempo do Advento no final de novembro início de dezembro. 


      São essas, sucintas e breves informações que postamos para os visitantes do “Pérolas”, sobre o Ano Litúrgico, prometendo acompanhar as diversas celebrações desses magníficos tempos.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O BATISMO DO SENHOR



 
Este artigo foi gentilmente cedido por Dom João Evangelista Kovas, OSB, monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo.


O ano litúrgico começa com o Tempo do Advento, em preparação para o Natal do Senhor, em fins de novembro, início de dezembro. Segue-se o Tempo do Natal, um breve período de no máximo três semanas, terminando na segunda quinzena de janeiro, aproximadamente. Com a Festa do Batismo do Senhor, termina o ciclo de celebrações do Natal e inicia-se o Tempo Comum, tempo ordinário das celebrações litúrgicas, salpicadas por diversas memórias, festas e solenidade, classificação das cerimônias de acordo com a importância da comemoração para a compreensão do Mistério da Salvação, ou seja, o conjunto das celebrações que lembram as grandes ações de Deus em favor de nossa salvação.

Todo o calendário litúrgico gira em torno da Solenidade da Páscoa do Senhor, ápice de toda celebração do mistério cristão. Calculada a data exata da Páscoa, todo o calendário se organiza, apontando sempre para a obra salvífica por excelência: a ressurreição de Jesus Cristo, por quem alcançamos a salvação.

No início do Tempo Comum, temos essa celebração bastante desconhecida para a maioria dos cristãos: o Batismo do Senhor. A festa lembra o momento no qual Jesus se deixou batizar por João, chamado o Batista. Aquele personagem profético que surgiu na época de Jesus e era bastante controverso. As autoridades judaicas não queriam reconhecê-lo como profeta, a despeito do povo reconhecê-lo como tal. Ele vivia no deserto pregando um batismo de conversão, na espera da salvação de Deus que estava próxima. Essa salvação viria como um julgamento que separaria os bons dos maus, por isso era tempo de conversão. Os Evangelhos nos narram que João era primo de Jesus. São Lucas diz que Maria, a mãe de Jesus, logo que recebeu o anúncio do arcanjo Gabriel de que ela fora escolhida para ser a mãe do salvador, ela também recebeu o anúncio de que sua prima Isabel e Zacarias estavam esperando um filho na velhice por graça de Deus. E Maria toda solícita pela sua prima vai até sua casa prestar-lhe auxílio até o nascimento de João.

A pergunta que se coloca desde o início diz respeito ao motivo que levou Jesus a se deixar batizar por João no rio Jordão; justamente Jesus não precisava de um batismo de conversão. Podemos entender o fato por dois motivos: por duas linhas sucessórias. O primeiro diz respeito à linha sucessória profética. Jesus se deixa batizar por João, porque ele representa o último profeta do Antigo Testamento. Doravante, com Jesus, inicia-se o Novo Testamento, sinalizado pela Nova e Eterna Aliança estabelecida em Jesus, o Filho de Deus. É nessa oportunidade que João aponta para Jesus e diante de todos diz: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Assim, completa-se a Antiga Aliança e inicia-se o regime da Nova.

A segunda linha sucessória diz respeito à relação mestre-discípulo. Jesus é reconhecido como Mestre da Lei, uma função religiosa muito respeitada e nobre entre os judeus. Um Mestre da Lei tem a função de viver exclusivamente de interpretar a Lei de Deus e ensiná-la com sabedoria e propriedade ao povo. Mas um mestre não se forma, senão por outro mestre. Sua autoridade vem do mestre com quem aprende a interpretar as Escrituras. Jesus não teve propriamente um mestre, mas ligando-se a João Batista, ele aponta para todos os judeus a que interpretação da Lei ele se filia. Com efeito, a partir das sucessões profética e magisterial, Jesus é a continuidade do trabalho de João e mesmo sua plenitude. Logo após seu batismo no rio Jordão, Jesus inicia sua missão pública, que duraria três anos até sua morte de cruz e sua ressurreição ao terceiro dia.

Por conseguinte, na festa que celebramos o início da missão pública de Jesus, iniciamos no calendário litúrgico o Tempo Comum, o tempo das celebrações ordinárias da Igreja, quando temos a oportunidade de lembrar e meditar nas palavras de Jesus e nas suas ações em favor de todos aqueles que com ele se encontravam.


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Os Agentes da Nova Evangelização

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)




           Virada de ano é sempre um bom momento para reflexões.
          Iniciaremos por esta matéria, divulgada no periódico ZENIT do dia 23 de dezembro passado.


          Cidade do Vaticano – Em sua quarta pregação do Advento, diante do Papa Bento XVI, o Pe. Raniero Cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia, explicou como reacender a fé nos corações dos homens e indicou os leigos como protagonistas da Nova Evangelização :

          'Diante do mundo ocidental secularizado, em alguns aspectos pós-cristão, e ecoando as palavras que o Santo Padre falou sobre a fé encontrada na África, mais vibrante e intensa do que aquela encontrada no Ocidente de agora, Pe. Cantalamessa indicou o surgimento de uma nova categoria de anunciantes: os leigos.

          Não se trata - ele explicou - da substituição de uma categoria por outra, mas de um novo componente do Povo de Deus que, vem somar aos outros, permanecendo sempre os Bispos, liderados pelo Papa, os guias competentes e responsáveis últimos pela tarefa missionária da Igreja.

          De acordo com o Pregador da Casa Pontifícia, a tarefa principal é ajudar a humanidade a estabelecer um relacionamento com Jesus. O Evangelho de Lucas relata que foram 72 os primeiros apóstolos que Jesus enviou em missão.

          E São Leão Magno, comentando, escreve que Jesus enviou os 72 , dois a dois, porque em menos de dois não pode haver amor; e, é a partir do amor que os homens podem reconhecer que somos seus discípulos.

          Isso vale para todos - disse Cantalamessa - mas de maneira especial para os pais, por isto, são determinantes as famílias missionárias.

          A parábola da ovelha perdida – acrescentou, se apresenta atualmente invertida: 99 ovelhas estão longe e uma manteve-se à oliveira. O perigo é passarmos o tempo todo a cuidar daquela única que permaneceu, e não ter tempo, até mesmo pela escassez do clero, de ir à busca das perdidas. Isso revela a contribuição providencial dos leigos.

         E, ainda assim, Jesus queria que seus apóstolos fossem pastores de ovelhas e pescadores de homens. Para nós, o clero, é mais fácil ser pastores que pescadores, isto é, nutrir com a palavra e os sacramentos aqueles que vêm à igreja, do que andar em busca dos distantes, nos mais diferentes ambientes da vida.

          Sobre as razões da eficácia dos leigos e dos movimentos eclesiais, o Pregador da Casa Pontifícia, citou um famoso canto espiritual dos negros, intitulado There is a balm in Gilead, que diz: 
 
           Se não sabe pregar como Pedro,
           Se não pode orar como Paulo,
           Basta citar o amor de Jesus
           E dizer que Ele morreu por todos nós!
           É reconfortante, aos irmãos leigos, lembrar que ao redor do berço de Jesus, além de Maria e José, estavam seus representantes, os pastores e os reis magos.

           E concluiu : “Tudo começou com aquele Menino na manjedoura e Cristo nasce para mim quando eu o reconheço e acredito no mistério. (...) Vem, Senhor, e salva-nos!” '
         

          Abordaremos, em breve, textos que nos remeterão a uma mescla de antigas e novas reflexões, sob diversos prismas, para aguçar nossa fé católica apostólica romana e levarmos adiante a Palavra e os Ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Aguardem!

Fonte :
http://www.zenit.org/index.php?l=portuguese

domingo, 1 de janeiro de 2012

O Dia Mundial da Paz e a celebração de Maria a Mãe de Deus






Este artigo foi gentilmente cedido por Dom João Evangelista Kovas, OSB, monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo. 


No primeiro dia do ano, 1º de janeiro, a Igreja celebra a Solenidade de Nossa Senhora Mãe de Deus. Nesta mesma data, é celebrado em todo mundo o Dia Mundial da Paz. A Igreja Católica contribuiu muito com o estabelecimento internacional da comemoração da paz, quando ela celebra em sua liturgia esse dia de Nossa Senhora. Nada mais conveniente do que celebrar a Paz em um dia de Nossa Senhora. Mas qual é a definição dada pela bíblia ao termo “paz”? 

Paz, em hebraico, é shalom. Até hoje os judeus se saúdam mutuamente com essa expressão. Jesus também fez isso. Na primeira vez que enviou os seus discípulos para anunciar a Boa Nova, ele os recomendou essa saudação. Assim que eles entrassem em uma casa, deveriam saudar os que nela habitavam com “a paz esteja nessa casa” (Lc 10,5). O próprio Jesus saudava os seus discípulos dessa maneira, sobretudo quando ele se reencontrou com eles, após sua ressurreição. Disse: “A paz esteja convosco” (Jo 20,19). Doravante, essa será a saudação que designará os cristãos dos primeiros séculos, quando se encontravam e se congratulavam com a ressurreição do Senhor. E a mensagem do perdão viria selar, com laços ainda mais fortes, essa paz confiada à comunidade cristã. 

Podemos entender a força dessa saudação evangélica, quando procuramos o seu sentido ao longo dos textos bíblicos. A paz é a plenitude de vida em Deus. Assim, nossos primeiros pais (que o Livro do Gênesis evoca como Adão e Eva) tinham a promessa de viver em paz, porque viviam na presença de Deus e Ele se manifestava às claras para eles. A paz era o patrimônio divino destinado à humanidade, confiado, no entanto, àqueles que viriam transmitir a vida a uma numerosa descendência. Em diversos momentos da Bíblia, o mesmo princípio é evocado. Quando o Povo de Israel é libertado do Egito, recebe de Deus a promessa de uma Terra boa, “que jorra leite e mel”, dizendo com isso que esse povo viria experimentar prosperidade, sempre que obedecesse aos santos mandamentos e conservasse sua fidelidade a Deus em seus corações. Em conseqüência, gozariam de paz por todos os seus dias.

A história de Israel não foi bem assim, posto que foi permeada de infidelidade da parte do povo e perdão da parte de Deus. A paz, porém, ficou sempre marcada como uma promessa de felicidade na presença salvífica de Deus, se o povo fosse fiel.

Nós cristãos sabemos que essa promessa viria tomar dimensões inauditas, quando contemplamos o enviado do Pai para a salvação de toda humanidade, restaurando a paz definitiva. Jesus Cristo é o mediador da verdadeira paz, pois restitui à humanidade, de um modo todo novo, sua comunhão com Deus. Ele mesmo é Deus que veio visitar o seu povo. Por isso, a “Paz pascal” de Jesus Cristo ressuscitado é o protótipo da realização de todas as promessas feitas ao Povo de Israel, e inclusive da solene promessa que Deus fez a Noé, de que estabeleceria uma Nova Aliança com toda humanidade.

Maria, a Mãe de Jesus, é aquela que por primeiro recebe esse bom anúncio de paz e a transmite para nós, seus filhos na fé. Enquanto o “não” de Eva, nossa primeira mãe, nos mereceu perder tão grande riqueza, o “sim” de Maria nos restitui a presença de Deus entre os homens, Jesus Cristo Nosso Senhor. Doravante, o Espírito Santo formou no seio de Maria um corpo e uma alma humanos para a divindade do Filho. E a menina Maria, em nome de todos nós, deu o seu sim ao plano salvífico de Deus e “o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Ela tornou-se Mãe de Deus, uma vez que Jesus é seu filho legítimo, em sua humanidade.

Peçamos a intercessão de Maria Santíssima, a fim de que possamos também nós dar o nosso “sim” ao plano de salvação que o Senhor tem para nós e possamos viver em Paz, a começar restabelecendo a paz com nossos irmãos.