segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

A depressão e o (re)encontro com o sentido da vida

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 *Artigo de Talita Rodrigues

 

Vejo e percebo muitas pessoas vítimas da depressão. Pode-se dizer que a depressão tem sido o mau do século XXI e que é caracterizada como uma doença psiquiátrica crônica, que produz uma alteração de humor marcada pela tristeza profunda, pela desesperança e pela falta de sentido.

A depressão bate à porta de qualquer um, e comigo não foi diferente.

Após o término doloroso de um noivado, me vi mais uma vítima da tão temida depressão. Meus dias já não tinham mais cor, uma boa notícia não alterava meu humor e o sentimento de desesperança e falta de prazer se tornaram recorrentes. Meus dias se resumiam apenas em realizar as obrigações e sentir uma profunda tristeza.

Eu não sentia alegria, não sentia paz, não sentia amor e não sentia esperança.  Perdi minha fé, logo, perdi o sentido de viver.

Dentro da psicologia analítica, trabalhamos com a ‘falta’, e, como consequência, em como recuperar a nossa ‘alma’ perdida em algum momento de nossa história.

Alma’, como já escrevi em outros textos, significa tudo aquilo que nos torna completos, felizes e esperançosos. É a própria alma que nos dá o sentido de viver.

A necessidade de buscar pela minha alma perdida foi justamente o que me possibilitou saber sobre qual era o meu sentido de viver. O deserto – referindo-me a um contexto católico – é o que faz com que nos aproximemos de quem nós somos realmente. Foi no meu deserto, quando eu não conseguia sentir absolutamente nada, que encontrei Deus e me dei conta que só o Seu amor e Sua graça me bastavam. A partir de então, só então, fui feliz novamente.

Se você também está passando por um deserto e enxerga o mundo em uma escala de cinza, seja corajoso e busque por sua alma perdida. Com sua coragem, no meio do caminho, tenho certeza de que (re)encontrará o seu sentido de viver.’ 


Fonte  *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2019/07/01/a-depressao-e-o-reencontro-com-o-sentido-da-vida/

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Os doutores de Francisco

  Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Mirticeli Medeiros,

jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras

credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé


Com a proclamação de São Irineu de Lyon (século II) como doutor da Igreja, o catolicismo passa a contar com 37 santos com esse título - sendo 8 mulheres e 29 homens. Uma escolha que não foi feita ao acaso, principalmente se pensarmos no que significa atribuir esse reconhecimento a um teólogo do cristianismo hoje.

Foi no século 13 que, em âmbito católico, começaram a surgir os doutores da Igreja, Os primeiros santos a receberem o título, mais precisamente em 1298, foram Gregório Magno, Ambrósio de Milão, Agostinho e Jerônimo. A segunda geração de doutores foi inaugurada por Tomás de Aquino, três séculos depois. Na ortodoxia, não é muito comum a adoção do termo ‘doutor’, mas Basílio Magno, São Gregório Nanzianzeno e João Crisóstomo são considerados os grandes ‘hierarcas da fé’. Já na Igreja Anglicana, preferem usar o termo ‘mestres da fé’.

Segundo os critérios oficiais, que só foram definidos sistematicamente no século 18, durante o pontificado de Bento XIV, se torna um doutor da Igreja aquele que, durante sua trajetória, tenha se destacado no ensinamento e na santidade de vida. Ou seja, não se dissocia a reflexão teológica do testemunho. Além disso, também foi definido, a partir daquela época, que tanto o Papa quanto o concílio têm autoridade para fazer esse tipo de proclamação.

As duas nomeações de Francisco, na verdade, são a expressão máxima de um dos pilares do seu pontificado : o ecumenismo. Foram ‘nomeações ecumênicas’ e em vista do ecumenismo.

Em 2015, o Santo Padre reconheceu Gregório de Narek (século 10) como doutor da Igreja, um santo venerado tanto por católicos quanto pela Igreja Apostólica Armênia, uma das comunidades cristãs mais antigas da história do cristianismo. A instituição integra a lista das igrejas pré-calcedonianas, ou seja, que não reconhecem alguns dos cânones produzidos pelo Concílio de Calcedônia (451 d.C), principalmente o relacionado às duas naturezas de Cristo numa única pessoa, doutrina seguida tanto por Roma quanto por Constantinopla.

Aliás, a Armênia foi o primeiro país do mundo a adotar o cristianismo como religião oficial, no século IV, após a conversão do seu soberano, Tiradate III.

A proclamação de Narek é importante não simplesmente por evocar essa necessidade de aproximação entre os cristãos do Ocidente e do Oriente, mas por reforçar um posicionamento da Santa Sé frente aos dramas vividos pelo próprio país. Narek, além de santo, é um símbolo nacional e um dos mais importantes poetas da história da literatura armênia. E o pontífice, não por acaso, o reconheceu como modelo de fé no ano do centenário do genocídio armênio, em 2015.

Repetindo o que fez seu antecessor, João Paulo II, Francisco condenou uma das maiores tragédias da história, impetrada pelo então Império Otomano, atual Turquia, que continua a negar que tenha existido, de fato, um genocídio. Prefere, em vez disso, defender que houve, na verdade, um ‘deslocamento de pessoas’, interpretação refutada por quase toda a comunidade internacional.

São Irineu de Lyon, portanto, é mais uma ‘aposta ecumênica’ de Francisco. O santo foi o primeiro teólogo a elaborar uma síntese global do cristianismo e embora fosse um ferrenho combatente das heresias de sua época, era reconhecido pela sua forte capacidade de diálogo. Não à toa, ele é venerado por todas as igrejas que praticam o culto aos santos. O grupo acadêmico de diálogo ortodoxo-católico, que já produziu várias obras conjuntas sobre a teologia e a história das duas tradições, foi batizado com o nome do santo. E Irineu não é qualquer doutor, mas um doctor unitatis, segundo definição do próprio Papa Francisco.

O sínodo sobre a sinodalidade, que está em curso, poderá trazer outras surpresas sobre essas nomeações. Lembrando que figuras como Dom Bosco e Oscar Romero integram a lista de ‘doutoráveis’. Entre as mulheres estão Margarida Alacoque e Faustina Kowalska, cuja trajetória também é avaliada pela Santa Sé. E então, será que teremos um ‘doutor sinodal’? É o que veremos.’

 

Fonte  *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticia/1562072/2022/01/os-doutores-de-francisco/

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

“Catolicismos” ideológicos de esquerda e de direita: heresias farisaicas disfarçadas de zelo

  Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo da redação da Aleteia  


Fariseus de esquerda e direita estarão sempre a postos para condenar a justiça, o amor e a misericórdia em nome de regras - esquecendo que as regras só fazem sentido quando baseadas na justiça, no amor e na misericórdia


Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos : se vos amardes uns aos outros’ (João 13,35).

Não existe absolutamente nenhuma forma de ‘provar’ o próprio catolicismo que não seja o amor ao próximo.

E como se prova o amor ao próximo?

Cristo responde : ‘Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos’ (João 15,13).

E quem é amigo de Cristo?

Cristo responde : ‘Vós sois meus amigos se fizerdes o que vos mando’ (João 15,14).

E o que Cristo nos manda?

Cristo responde : ‘Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai que está no céu, pois Ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos?’ (Mateus 5,44-46).

Tudo isso deveria ser a coisa mais batida do universo para qualquer um que tem o atrevimento de se dizer ‘cristão autêntico’.

Mas…

Assim como ocorria no tempo do próprio Jesus sobre esta terra, o aparente zelo religioso pode ser um abominável disfarce para um nível assassino, apóstata, diabólico de egoísmo, vaidade, arrogância, sectarismo e desprezo escandaloso pelo próximo.

Aparentavam grande zelo aqueles que não hesitavam em ‘coar um mosquito e engolir um camelo’ (cf. Mt 23,24), denunciou Jesus depois de descrevê-los : ‘Atam fardos pesados e esmagadores e com eles sobrecarregam os ombros dos homens, mas não querem movê-los sequer com o dedo’ (Mt 23,4). Mais veemente ainda : ‘Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Percorreis mares e terras para fazer um prosélito e, quando o conseguis, fazeis dele um filho do inferno duas vezes pior que vós mesmos’ (Mt 23,15).

Os fariseus hipócritas prezam a forma acima do conteúdo. Para eles, o importante é o protocolo, a regra, a lei exterior – mesmo que o espírito seja traído da mais nefasta e satânica maneira em nome das aparências.

Um fariseu preza as exterioridades e se preocupa com as aparências, formalidades e rigidezes protocolares. E não há nada de errado nisto – desde que não se fique apenas nisto. ’Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da lei : a justiça, a misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar, sem contudo deixar o restante’ (Mt 23,23).

Justiça, misericórdia, fidelidadeAmor ao próximo – inclusive aos inimigos. Amor ao próximo até dar a vida pelos amigos. Orar pelos que nos perseguem. Perdoar até setenta vezes sete. ‘Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar’.

O erro dos fariseus, que se explicita nas suas palavras e nos seus atos (porque ‘pelos seus frutos os conhecereis’, cf. Mt 7,20), é um erro de priorização.

Nos tempos atuais, como em qualquer outro tempo, esses erros continuam a ser cometidos na priorização da forma, do protocolo, da regra, que, mesmo sendo necessários, não podem jamais sobrepor-se ao amor. Afinal, é só a serviço do amor que existem as formas boas de comportamento.

O papa Francisco vai a Cuba? Não pode. É comunista. Mas e o amor ao próximo? Não pode. É comunista. Mas como ajudar os cubanos a viverem a fé com liberdade sem ir até as causas da sua falta de liberdade para superá-las com amor, misericórdia, justiça? Não pode. É comunista.

O papa Francisco se encontra com o patriarca Kirill? Não pode. É laranja da KGB. Mas e a reconciliação? E o pedido de Cristo ‘para que todos sejam um’? Não pode. É laranja da KGB. Mas a Igreja ortodoxa existe há mil anos, séculos e séculos antes do surgimento da KGB. Não pode. É laranja da KGB.

O papa Francisco escreve uma encíclica sobre o cuidado da nossa casa comum? Não pode. É New Age, ecologismo e comunismo verde. Mas Deus não nos confiou o cuidado responsável da criação já no primeiro livro da Bíblia? Não pode. É New Age, ecologismo e comunismo verde. Mas Jesus mesmo não estava sempre em contato com a natureza, não contemplava e citava constantemente em suas parábolas e discursos as sementes, os ramos, as árvores, os campos, os lírios, as flores, o trigo, os frutos, o mar, os pássaros? Não pode. É New Age, ecologismo e comunismo verde. E São Francisco de Assis, que chamava de irmãos e irmãs o sol e a lua e os animais e plantas? Não pode. É New Age, ecologismo e comunismo verde.

O papa Francisco fala de justiça na distribuição dos bens materiais? Não pode. É teologia da libertação. O papa defende uma economia a serviço das pessoas e não pessoas a serviço da economia? Não pode. É teologia da libertação. Ir até as periferias da existência, promover a equidade no acesso aos recursos, garantir uma sobrevivência digna, derrotar o pecado gravíssimo da usura e da ganância? Não pode. É teologia da libertação.

O papa Francisco denuncia a cultura do descarte e da coisificação dos seres humanos? Não pode. É obscurantismo e insensibilidade reacionária. O papa arremete contra a irresponsabilidade no desfrute inconsequente do sexo? Não pode. É obscurantismo e insensibilidade reacionária. O papa reitera que o aborto é um crime abominável, perpetrado em nome do egoísmo, do utilitarismo e da eugenia, que inventaram o suposto ‘direito’ a ter ‘filhos perfeitos’, como se uma vida humana fosse comparável a um ‘sonho de consumo’? Não pode. É obscurantismo e insensibilidade reacionária.

O papa Francisco reafirma a doutrina moral da Igreja? Não pode. É dogmatismo e intolerância. Ele reitera que o sacerdócio instituído por Cristo foi confiado somente aos seus discípulos homens? Não pode. É dogmatismo e intolerância. O papa Francisco reafirma que o matrimônio – não só cristão, mas natural – é exclusivamente entre um homem e uma mulher, é indissolúvel e é aberto à vida? Não pode. É dogmatismo e intolerância.

O papa Francisco prioriza a misericórdia na pastoral familiar? Não pode. É modernismo, heresia e sentimentalismo. Os casais em segunda união devem receber compreensão, amor e misericórdia, precisamente porque é necessário testemunhar ao mundo o compromisso indissolúvel do matrimônio para as próximas gerações? Não pode. É modernismo, heresia e sentimentalismo. Os homossexuais não devem ser julgados e condenados, mas sim acolhidos com respeito, fraternidade e amor cristão? Não pode. É modernismo, heresia e sentimentalismo. Mas Cristo não andava com as prostitutas, pecadores e publicanos? Não pode. É modernismo, heresia e sentimentalismo. Mas Cristo não acolhia e oferecia amor e misericórdia a samaritanos, pagãos e romanos drasticamente imorais? Não pode. É modernismo, heresia e sentimentalismo.

O papa Francisco pede acolhimento para migrantes e refugiados? Não pode. São terroristas infiltrados. O papa mandou abrir as portas das igrejas de todo o mundo para acolher os refugiados, ainda que não sejam cristãos, ainda que sejam muçulmanos? Não pode. São terroristas infiltrados. Mas muitos deles são crianças. Não pode. São terroristas infiltrados. Mas milhares deles, mesmo muçulmanos, estão sendo perseguidos, torturados e assassinados em seus países. Não pode. São terroristas infiltrados. E as obras de misericórdia? Não pode. São terroristas infiltrados.

O papa Francisco pede ecumenismo entre os cristãos e diálogo civilizado e amoroso com as outras religiões? Não pode. É estupidez, frouxidão e traição. Mas como é que os não cristãos vão conhecer a Cristo se os cristãos não O testemunharem na prática? Não pode. É estupidez, frouxidão e traição. E como vai brilhar a nossa luz diante dos homens se a escondemos deles, recusando-nos até a manter contato? Não pode. É estupidez, frouxidão e traição.

Os fariseus de esquerda e direita estarão sempre a postos para condenar a justiça, o amor e a misericórdia em nome de regras e protocolos, esquecendo que as regras e protocolos só fazem sentido quando baseadas precisamente na justiça, no amor e na misericórdia.

Diante da tentação constante do farisaísmo de direita e de esquerda, sejamos justosamemos e pratiquemos a misericórdia.

Afinal, ‘ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine’ (I Coríntios 13,1).

Afinal, ‘ama e faz o que queres’ (Santo Agostinho), porque, se amas de verdade, só vais querer fazer o melhor pelo próximo.

Amemos. Com obras. Na prática. Inclusive aos inimigos. Até dar a vida. Isto é o Evangelho. Isto é o cristianismo.

O resto é ideologia farisaica.’

 

Fonte  *Artigo na íntegra

https ://pt.aleteia.org/2016/02/15/catolicismos-ideologicos-de-esquerda-e-de-direita-heresias-farisaicas-disfarcadas-de-zelo/

domingo, 23 de janeiro de 2022

Encontro

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do Padre Manuel Augusto Lopes Ferreira,

Missionário Comboniano

 

‘Começamos a rubrica destinada a favorecer um aprofundamento das palavras-chave do vocabulário do Papa Francisco, relevantes para a missão, com Encontro. Ele recorda-nos que na origem da fé não está uma ideia ou um ideal ético, mas sim um «encontro» com uma pessoa concreta, Cristo; e que a identidade do caminho cristão se vive no encontro com Deus e os outros.

Já na narrativa bíblica da criação, a terra é idealizada como lugar do encontro da pessoa com as outras criaturas e com a Natureza, num dinamismo de fruição e de liberdade, sob o olhar de Deus que «passeava no jardim ao cair da tarde». Com a experiência traumática da liberdade e da falta de confiança em Deus e no outro, introduz-se nas relações humanas o medo e a distância, que tornam o encontro problemático. Deus continua a descer e a passear no jardim, à procura de um encontro, mas «o homem e a mulher escondem-se do Senhor no meio das árvores do jardim» e culpam-se um ao outro pelo desconforto do encontro (Génesis 3, 8-13).

Na raiz do caminho de fé está a ideia do encontro entre Deus e aqueles que Deus escolhe para viver em aliança. A tradição litúrgica em Israel constrói-se, igualmente; sob o paradigma do encontro. O primeiro templo que o povo da aliança conhece é a tenda. A palavra «tenda», em hebraico, tem a mesma raiz que a palavra «encontro». A tenda guarda a arca da aliança, com as tábuas da Lei, e é chamada lugar do encontro.

Jesus insere o seu movimento neste dinamismo do encontro : com o seu ensinamento itinerante procura um encontro com as pessoas, nos seus lugares habituais de encontro (na sinagoga, nas praças, nos caminhos, nas margens do lago). Ele faz o anúncio da soberania de Deus, num modo e com palavras que favorecem o encontro e expõe-se à surpresa que cada encontro comporta, com a possibilidade de abertura, mas também de recusa. Os evangelhos dão-nos conta destes encontros de Cristo com as pessoas. Primeiro, na intimidade da casa, na relação pessoal, em que o mistério da pessoa se revela e a identidade se constrói. Depois, no tumulto da vida e do trabalho. Por fim, no meio da alegria de viver, à volta da mesa, nas festas e nos momentos decisivos da vida das pessoas e da comunidade. No centro deste movimento estão os excluídos (pobres e doentes), de uma sociedade que, apesar de ser construída sobre a aliança com Deus e com os outros, consentia o descarte de pessoas. Jesus procura o encontro e oferece uma resposta, na sua palavra e na sua acção.

Francisco convida-nos a reconduzirmos a vida cristã a este paradigma do encontro, e a não nos deixarmos roubar a alegria do encontro com Cristo e os irmãos (Evangelii Gaudium 1 e 92). E a iluminarmos a missão dos cristãos no mundo de hoje com o sonho da fraternidade humana : na Fratelli Tutti (216-221) ele sugere um modelo de missão centrado na fraternidade; e propõe também, às demais religiões e às pessoas de boa vontade, a cultura do encontro que torne possível uma política melhor.

Nós, nesta questão como noutras, deixamos o papa a falar sozinho. Ele fala ao coração das pessoas, com palavras que elas entendem e com gestos que falam da sua procura de encontros com todos, a começar pelos descartados da nossa sociedade tão opulenta e fechada em si.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2022/01/21/entrevista-com-um-monge-o-deserto-pode-ser-um-lugar-implacavel/

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Entrevista com um monge: o deserto pode ser um lugar implacável

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Daniel R. Esparza


‘São Bento de Núrsia é habitualmente considerado o pai do monaquismo ocidental, mas ele não foi o primeiro monge cristão. Esse título muitas vezes vai para Antão, o Grande. A vida cristã monástica e eremítica nasceu no deserto egípcio pelo menos dois séculos antes de Bento, por volta do ano 270. Enquanto Paulo de Tebas foi o primeiro a se aventurar no deserto, foi Antão quem o transformou em movimento. Aqueles que o seguiram logo formaram uma espécie de sociedade cristã – os famosos Padres do Deserto. Foi um desses padres, São Pacômio, quem organizou as primeiras comunidades monásticas cristãs sob a autoridade de uma figura conhecida como ‘abade’ – palavra derivada do aramaico ‘abba’, pai.

Isso significa que a famosa Regra de São Bento não é a primeira regra monástica. No entanto, quando comparada com as de São Basílio ou Pacômio, a sua é certamente mais ampla. Organizada em 73 capítulos, é utilizada ininterruptamente pelos monges beneditinos desde o século VI.

Regra

Uma das passagens mais famosas da regra de Bento XVI é o capítulo 53. O texto é relativamente breve. Em poucas linhas, resume o princípio da lendária hospitalidade beneditina. Lê-se da seguinte forma :

Todos os hóspedes que chegarem ao mosteiro sejam recebidos como o Cristo, pois Ele próprio irá dizer : ‘Fui hóspede e me recebestes’.

As comunidades monásticas consideram a hospitalidade como o cerne de sua missão e identidade, especialmente se estiverem no deserto ou em outras áreas relativamente isoladas, onde os mosteiros são frequentemente encontrados – os viajantes que vagam por essas regiões particularmente remotas precisam de toda ajuda possível.

A caridade cristã obrigaria os monges a ajudar. Essa tradição ainda é preservada e honrada hoje. Entrevistamos o responsável pela hospitalidade da Abadia Beneditina de Cristo no Deserto (fundada em 1964 pelo Pe. Aelred Wall), para discutir brevemente hospitalidade, contemplação e vida.

Lugar

Chega-se a esse mosteiro depois de percorrer 5 km ao longo de uma estrada de terra e cascalho fora da Rota 84, no noroeste do Novo México. O mosteiro, projetado pelo famoso George Nakashima, é cercado por quilômetros de uma paisagem desértica protegida pelo governo, garantindo assim a solidão e a tranquilidade da vida monástica. Começamos nossa entrevista perguntando ao monge Crisóstomo sobre esta localização excepcional.

Thomas Merton disse que o Mosteiro de Cristo no Deserto é o melhor edifício monástico dos EUA. É impressionante como ele se encaixa na paisagem. Você pode dizer mais sobre por que isso é importante para a comunidade monástica?

Os moradores da cidade tentam permanecer conectados ao seu entorno por meio de construções, temas arquitetônicos e cores. Também desejamos seguir esta tradição de nos misturarmos com o nosso ambiente. Sentimos que ao fazê-lo não estamos apenas contribuindo para sua preservação, mas estamos valorizando o respeito pela natureza de que fala o Papa Francisco na Laudato Si’, sua segunda encíclica. A estruturas [do mosteiro] parece ter sido esculpida nas paredes do cânion.

A hospitalidade é um valor bíblico paradigmático. Alguns escritores espirituais explicam que a criação é o principal gesto hospitaleiro de Deus. Se não fosse por sua hospitalidade, Abraão nunca teria tido Isaac. Inúmeras referências bíblicas à hospitalidade (incluindo o nascimento de Jesus) deixam claro que esta é uma preocupação central abraâmica. Sendo o responsável pela hospitalidade de um mosteiro (no deserto, nada menos), como o senhor acha que a hospitalidade poderia ser trazida para a vida cotidiana de todos?

Acredito na mesma coisa que outros escritores espirituais mais instruídos expressaram sobre Deus : Ele é o grande provedor de hospitalidade. A criação foi feita para a sua Igreja. Para não teologizar demais como Deus é hospitaleiro com Sua criação, basta perceber que Ele sabe o que faz. Nós, sua criação, por outro lado, podemos nos beneficiar de lembretes sobre como participamos de Sua criatividade e Sua hospitalidade. Sim, dar abrigo aos pobres, roupas aos nus, comida aos famintos são aspectos importantes da hospitalidade. Jesus nos diz que quando fazemos isso pelo menor de nossos irmãos, fazemos por Ele. No entanto, a hospitalidade pode ser estendida às nossas atitudes abertas e amorosas para com as pessoas, nossa falta de pré-julgamento e nossa disposição de ouvir os outros. Esses também são atos de hospitalidade que não devemos ignorar.

A maioria das pessoas pode ter uma ideia quase romântica do deserto, como se tudo fosse silêncio e paz. Mas o nome do seu mosteiro (‘o Mosteiro de Cristo no Deserto’) refere-se claramente ao fato de que o deserto é de fato o lugar onde se é tentado. O senhor poderia compartilhar seus pensamentos sobre isso?

O deserto é de fato romantizado. E, sim, Cristo foi compelido a ir ao deserto logo após ser batizado. Lá ele foi tentado por Sua fome (ele jejuou por 40 dias) e Sua mansidão (ele foi desafiado a provar a Si mesmo como Deus e foi oferecido domínio sobre centros de poder). Pessoalmente, achei o deserto um lugar lindo e implacável também. Lindos céus (dia e noite), o canyon, o rio, a flora e a fauna contribuem para esta paisagem inesquecível. Também pode ser inóspito para a vida às vezes. Pode ser perigoso. Pode ser muito frio e muito quente, às vezes no mesmo dia! O deserto, para mim, é um lugar que pode te tirar, não sem dor, da arrogância da autossuficiência. É também um lugar onde as distrações se dissipam e a simplicidade da vida emerge : Onde está a água? Onde está a comida? O que eu realmente preciso para sobreviver?

A vida contemporânea está repleta de conversas aparentemente intermináveis telefones celulares e laptops mantêm todos expostos incessantemente a praticamente tudo. Em um mundo em que reina a informação, a contemplação e o silêncio parecem contraculturais, até mesmo inúteis. O que pode nos dizer sobre isso?

Acredito que as distrações daquilo que desejamos perseguir ou focar sempre estiveram conosco. Em nosso mundo moderno, dependendo das escolhas do indivíduo, essas distrações aumentam em múltiplos, talvez até exponencialmente! Recentemente, refleti sobre Nossa Mãe Maria durante sua festa de 1º de janeiro. Ao longo das Escrituras, os escritores dos Evangelhos a descrevem como guardando coisas e ponderando os mistérios dessas coisas em seu coração : a Anunciação, água se transformando em vinho nas bodas de Caná, a visita dos Magos. Maria deve ter guardado muitas lembranças de seu filho notável, Jesus. Nós, como Maria, armazenamos memórias de como Deus trabalhou em nossas vidas ao longo dos anos, as quais podem vir à mente para nós no deserto. Podemos compor um florilegium (um livreto) que ganha vida quando temos tempo para ficar quietos e sentar em solidão e silêncio. Pode parecer inútil para alguns, mas eu digo, experimente! Você nunca sabe que frutos inesperados podem vir de um corajoso passo de fé.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2022/01/21/entrevista-com-um-monge-o-deserto-pode-ser-um-lugar-implacavel/

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Presenciamos milagres

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Carla Mora e sua irmã gêmea, também missionária comboniana e em missão em Moçambique (© Foto do arquivo pessoal da autora)

*Artigo da Irmã Carla Mora, 

Missionária Comboniana

 

‘Estou em Moçambique há quase quinze anos, país onde estou a servir como missionária no meio deste povo e desta terra gloriosa. Sou originária da Costa Rica e quando era muito jovem, movida por Deus, decidi seguir Jesus como irmã comboniana, de acordo com o espírito e o carisma de São Daniel Comboni, um homem com uma grande paixão por Deus e pela missão. O seu exemplo de dedicação generosa e total aos africanos é, para mim, uma grande inspiração, que me guia e acompanha até aos dias de hoje.

Abraçar esta vida não foi fácil, porque seguir Jesus implica renúncia, adesão, fidelidade e, acima de tudo, muita fé Naquele que me chamou. Como irmã, vivo a minha vocação em total disponibilidade para Jesus Cristo, não obstante as minhas fragilidades e fraquezas, deixando-me guiar pela sua voz e pelo que Ele quer de mim. É uma força interior difícil de explicar, mas que me ajuda, cada dia, a doar-me generosamente com alegria e amor. 

Servir os mais pobres

A realização da minha vocação como missionária comboniana em Moçambique tem sido marcada por vários momentos, alguns bons e outros não tão positivos. Neste momento, trabalho no hospital de Mangunde, no Centro do país, não muito longe da cidade costeira da Beira. Também colaboro na paróquia, acompanhando jovens estudantes no colégio interno.

Sou religiosa missionária, mas também sou enfermeira especializada em obstetrícia, o que considero um grande dom que Jesus me deu. Por meio da minha profissão posso ir onde nunca imaginei ir e fazer coisas que nunca pensei poder fazer. Gosto muito do meu trabalho e sou feliz nesta terra. Fico feliz ao ajudar as pessoas, especialmente as pacientes que encontro todos os dias. Nelas vejo a esperança e resiliência deste povo. Todos os dias descubro como os Moçambicanos são grandes e maravilhosos. Admiro a sua força, capacidade e tenacidade para enfrentar a vida, que nestas terras não é nada fácil, e reconheço neles a presença de Deus. Da minha parte, com as minhas palavras e ações, quero transmitir-lhes o mesmo amor que recebi.

Sinto sempre que a nossa vida está nas mãos de Deus. O trabalho que faço centra-se, na maioria dos casos, no acompanhamento das mulheres durante a gravidez e, sobretudo, no momento do parto, para que os seus bebês possam nascer nas melhores condições possíveis Para dizer a verdade, aqui presenciamos realmente milagres! No nosso hospital não temos condições médicas para poder ajudar os bebês e as suas mães e, por vezes, as situações tornam-se dramáticas. Em muitas ocasiões, porém, tocamos a mão auxiliadora de Deus e conseguimos salvar vidas que pareciam perdidas. Os doentes com aids e tuberculose também acorrem ao nosso hospital, alguns deles em muito más condições, no entanto, com a nosso cuidado e os medicamentos apropriados conseguimos salvar muitos. Este, sem dúvida, é também outro desses milagres diários que aqui testemunhamos.

A vida é bela

Neste canto de Moçambique vivo e experimento as palavras que Jesus disse aos seus discípulos : «Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos». Estas palavras ressoam no meu coração todos os momentos do dia ou da noite, e dão-me força e motivação para estar sempre disponível, como irmã missionária e enfermeira, para as necessidades das pessoas que Jesus colocou no meu caminho, especialmente os doentes e as mulheres que vêm dar à luz.

A vida é bela e vale a pena vivê-la ao serviço dos mais pobres e abandonados. Aceitei com alegria, seguindo as pegadas do nosso fundador, São Daniel Comboni, fazer causa comum com o povo de Moçambique.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/artigos/8/661/presenciamos-milagres/

domingo, 16 de janeiro de 2022

O que é Refugiado? Entenda Agora e Veja Fatos Pouco Conhecidos

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Artur Torres 

 

‘Refugiado é toda pessoa que busca refúgio saindo de seu país de origem devido a graves descumprimentos dos direitos humanos. Esse refugiado ou grupo de refugiados migram pois estão sendo ameaçados devido a sua raça, religião, nacionalidade, opinião política ou grupo social a qual pertencem.
Segundo a Convenção de Genebra de 1951 (normativa que inaugura o Direito Internacional dos Refugiados), refugiado é aquele que está fora de seu país por ‘fundados temores de perseguição devido à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião política (…)’.

A partir da Declaração de Cartagena – a definição de refugiado estabelecida pela ONU em 1951 – o conceito de refugiado foi ampliado, então é considerado a pessoa ou grupo de pessoas que saem de seu país de origem devido a perseguição e/ou temor pela sua vida, relacionado à graves violações de direitos humanos e conflitos armados, tornando-se, assim, um refugiado.

Nesse texto, você irá ampliar seu conhecimento sobre o que é refugiado, descobrindo o que são refugiados, qual a diferença entre refugiados e imigrantes, como é a vida do refugiado no Brasil e como a Missão Paz oferece assistência ao refugiado.

O que são Refugiados?

Refugiado é toda pessoa que busca refúgio, saindo de seu país de origem devido a graves descumprimentos dos direitos humanos. Esse refugiado ou grupo de refugiados migram pois estão sendo ameaçados devido a sua raça, religião, nacionalidade, opinião política ou grupo social a qual pertencem.

De acordo com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), mais de 6 milhões de sírios foram forçados a sair de seu território. Os conflitos que afligem o país fizeram com que a Síria se tornasse o país que mais gerou refugiados no mundo.

Além do refugiado sírio, evidenciam-se as pessoas que saíram do Sudão do Sul, Venezuela, Myanmar e Afeganistão para se refugiar em outros países. Em escala mundial, Burundi, Iraque, Nigéria e Eritréia também são países que geraram números consideráveis de refugiados nos últimos anos.

Independentemente de onde essas pessoas saem e qual o seu destino, uma coisa elas têm em comum : estão todas em situação de refúgio, ou seja, são consideradas um refugiado.

Agora que você entendeu o que são refugiados, podemos falar sobre a diferença entre refugiado e imigrante!

Qual a Diferença entre Refugiados e Imigrantes?

Apesar de às vezes serem confundidos, há uma grande diferença entre refugiados e imigrantes. Um jeito simples de entender é saber o motivo que fez essas pessoas saírem de seus países. O refugiado migra pois está em situação de perseguição, guerra e violação de direitos humanos em seu país de origem.

Já o imigrante muda-se por vontade própria, comumente visando trabalhar e/ou residir em um determinado país. Essa residência pode ser temporária ou definitiva.

Agora que você já sabe qual a diferença entre Refugiados e Imigrantes, vamos abordar quem são e como é a vida dos Refugiados no Brasil?

Quem é o Refugiado no Brasil?

Atualmente, podemos destacar o refugiado vindo da Venezuela e Cuba. De acordo com dados levantados pelo Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), no ano de 2019, o Brasil recebeu seu maior número de pedidos de reconhecimento de condição de refugiado.

Dentre 82.520 solicitações, 65,1% são de venezuelanos, 20,1% de haitianos e 4,8% de cubanos. Também em 2019, 81,74% dessas solicitações foram feitas nos estados da região norte do Brasil, sendo Roraima o estado com maior número de solicitações. O refugiado que reside no Brasil, atualmente, vêm do hemisfério sul.

Refugiado no Brasil : Lei e Proteção ao Refugiado

No Brasil, a Lei 9.474 de 1997 estabelece o mecanismo para determinar, cessar e perder a condição de refugiado, os direitos e deveres dos que solicitam refúgio e do refugiado, como também as soluções a longo prazo para essa população.

A Lei Brasileira de Refúgio considera refugiado todo indivíduo que sai de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas imputados, ou devido a uma situação de grave e generalizada violação de direitos humanos no seu país de origem.

A decisão perante os requerimentos de refúgio no Brasil são estipulados pelo Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) – órgão vinculado ao Ministério da Justiça e composto por membros do Ministério da Justiça, Ministério das Relações Exteriores, Ministério do Trabalho, Ministério da Saúde, Ministério da Educação, Departamento da Polícia Federal e de organizações da sociedade civil que oferecem auxílio e assistência para o refugiado que chega no Brasil.

O refugiado pode pedir sua solicitação de refúgio no Brasil a partir do momento que chegar em território nacional, indo até uma Delegacia da Polícia Federal ou autoridade migratória na fronteira e solicitando claramente o refúgio.

Importante realçar que o refugiado que solicitou refúgio no Brasil não pode ser deportado para o território ou fronteira do território de onde sua liberdade e vida estejam ameaçadas.

Refugiado No Brasil : Dificuldades Enfrentadas e Como Ajudar o Refugiado

Sair forçadamente do seu país de origem é uma experiência que pode potencializar conflitos e prejuízos à saúde psicológica. Ao deixar seus lugares de origem, o refugiado também está deixando seu trabalho, casa e cultura. O Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) identificou que a principal dificuldade enfrentada pelo refugiado no Brasil é o acolhimento.

Falaremos de alguns obstáculos que o refugiado encontra ao chegar em um novo país, especificamente o refugiado que chega ao Brasil. Para além da barreira cultural, da língua, da moradia, acesso a documentações e trabalho, o refugiado acaba não sendo acolhido e nem amparado pelo estado brasileiro e, às vezes, nem pela população.

Essa brecha deixada pelo Estado é muitas vezes suprida pelas ONGs, instituições e membros da organização civil, que prestam apoio ao refugiado. As comunidades melhores estabelecidas – como é o caso dos imigrantes Sírios – também acolhem o novo refugiado que chega sem moradia.

No caso da sociedade civil, a informação é o primeiro aliado para superar os preconceitos e entender quem é o refugiado, como podemos facilitar o acesso dessas pessoas à informação e buscar conjuntamente burocracias acessíveis para o refugiado.

A ação de aprendizado passa também pelos campos do afeto – no caso, o aprendizado aqui é de uma nova cultura, uma nova língua – , acolher esse refugiado pode ser uma via para tornar esse processo mais simples.

No Brasil, o imigrante e o refugiado podem contar com algumas organizações. É o caso do CONARE, Comitê Nacional para os Refugiados, que, dentre outras atribuições, recebe solicitações de refúgio. Na cidade de São Paulo, a Missão Paz presta apoio e acolhimento a imigrantes e refugiados.

Você sabia que tem mil brasileiros reconhecidos como refugiados fora do Brasil? Em 2014, 1207 brasileiros viviam como refugiados no mundo, segundo levantamento da ACNUR. Os Estados Unidos são o país com maior número de casos, totalizando 679 refugiados brasileiros, em seguida estão o Canadá, com 175 e a Alemanha, com 163.

Refugiado no Brasil : Missão Paz

A Missão Paz busca acolher migrantes, imigrantes, solicitantes de refúgio e refugiados, respeitando suas histórias e identidades, visando possibilitar integração e protagonismo em novos contextos sociais; promover políticas públicas e o acesso à direitos por meio do diálogo com as diferentes esferas nacionais e internacionais, baseados no carisma Scalabriniano. A instituição cumpre essa missão através de todos os seus serviços e atividades.

Renovando-se constantemente e atendendo a mais de 132 nacionalidades de imigrantes e refugiados, a Missão Paz ganhou visibilidade por sua atuação em vários momentos de sua história.

O acolhimento ocorre através de atendimento e orientações para o público migrante, imigrante e refugiado. A Missão Paz também oferece cursos, capacitação, trabalho voluntário e apoio ao refugiado. A Missão Paz é membro de uma rede internacional de incidência política em favor do migrante e refugiado, com assento consultivo na Organização das Nações Unidas, a Scalabrini International Migration Network (SIMN).’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://missaonspaz.org/2021/12/15/refugiado/