sábado, 30 de novembro de 2019

Ouça um dos melhores álbuns de canto gregoriano da história

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 score - chant - gregorian
*Artigo de Daniel R. Esparza,


‘O canto gregoriano é uma forma de música sacra monofônica e desacompanhada, cantada em latim (embora também inclua o grego) e pertencente à tradição ocidental católica romana.

Desenvolveu-se principalmente na Europa Ocidental e Central durante os séculos IX e X, e sofreu algumas modificações posteriores no final da Idade Média e no início do Renascimento.

Embora a tradição atribua ao Papa Gregório I a invenção do canto gregoriano (daí o nome ‘gregoriano’) hoje, a maioria dos estudiosos acredita que esse tipo de salmodia monofônica é um desenvolvimento musical decorrente dos cânticos litúrgicos carolíngios, romanos e galegos.

O Mosteiro de Santo Domingo de Silos é uma obra-prima da arte românica ibérica. O edifício data do século VII e foi originalmente chamado de Mosteiro de São Sebastião de Silos. Mesmo que em seus primeiros dias os monges desse mosteiro cantassem o canto moçárabe, eles mudaram para o gregoriano no século XI. Agora, como membros da Congregação Solesmes, seu canto é influenciado pelo da Abadia de Solesmes.

Os monges beneditinos do Mosteiro de Santo Domingo de silos gravaram o álbum ‘Chant’. Acredita-se que a gravação tenha ocorrido em 1970, mas o sucesso só veio mesmo no relançamento, em 1994. ‘Chant’ é o álbum de canto gregoriano mais vendido da história. Atingiu o número 3 na Billboard 200, e foi certificado como dupla platina, o que significa que dois milhões de cópias foram vendidas nos Estados Unidos. Em todo o mundo, o álbum vendeu cerca de seis milhões de cópias.’ Ouça :



Fonte :

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Sinal do amor de deus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 ---


‘A Irmã Joana Sofia Carneiro é originária da paróquia da Póvoa de Santo Adrião e Olival de Basto (Lisboa). Nasceu no seio de uma família católica e desde sempre esteve envolvida nas diversas atividades paroquiais. Durante os anos de estudo começou a crescer nela o desejo de ser médica. «O gosto pelo estudo e sobretudo pela arquitetura do organismo humano motivaram a que me empenhasse para alcançar este objetivo. E, nesse momento, quando consegui entrar na Faculdade de Medicina, pensei que tinha alcançado o que Deus queria para mim e considerei a medicina como a minha vocação primordial. Contudo, Deus sonha sempre mais alto para cada um de nós e desejava, para mim, algo mais belo, mais radical, mais abundante», refere a missionária comboniana.

Caminho missionário

Quando ainda estudava na universidade, a irmã Joana conheceu as Missionárias Combonianas. «O que me cativou mais foi a profunda alegria que transmitiam quando falavam da sua vida partilhada com os mais pobres. Se, ao princípio, esta vocação missionária me pareceu longínqua e inalcançável, a presença destas irmãs fez-me questionar muito a coerência com que vivia a minha fé cristã.»

«Após anos intensos de procura, senti que Deus me chamava a comprometer-me mais seriamente com o meu projeto vocacional. E assim, sentindo fortemente o chamamento a ser missionária comboniana, uma vez terminado o curso de Medicina, comecei as etapas de formação religiosa», refere a irmã.

Convencida da sua decisão, a irmã Joana viajou para Granada, Espanha, para ingressar no Postulantado – a primeira etapa de formação para a vida consagrada e de contato com a forma de vida orante, comunitária e apostólica de uma missionária comboniana. Em seguida, para fazer o Noviciado, teve de deixar o continente que a viu nascer e partir para o Equador, na América do Sul. Transcorridos dois anos, fez a sua consagração religiosa e viajou para a Escócia para melhorar o inglês e, posteriormente, para a Jordânia, para aprender a língua árabe. Nesse país fez uma «bela experiência de encontro com a realidade dos refugiados e migrantes que lá se encontram, fruto das inúmeras guerras que ainda se travam na região que é considerada Terra Santa pelas três principais religiões mundiais : Judaísmo, Islamismo e Cristianismo».

Depois do tempo dedicado ao aperfeiçoamento da língua árabe, a irmã Joana viajou para o Sudão do Sul.

Sinais da Ressurreição

A irmã Joana encontra-se há pouco mais de um ano em Wau, uma pequena cidade do Sudão do Sul. O seu principal apostolado é o serviço alegre e dedicado no campo da saúde. De facto, as Irmãs Missionárias Combonianas são responsáveis pela administração de dois hospitais diocesanos – Nzara, próximo de Yambio, e Wau.

O Sudão do Sul, o país mais jovem do mundo, tem atravessado momentos de grande tensão por causa dos conflitos tribais e devido a todos aqueles que, aproveitando-se da situação, levam as riquezas do país, nomeadamente as petrolíferas, abandonando-o às lutas internas com graves consequências para todo o povo.

«Os que mais sofrem são sempre as crianças e as mulheres. Como gostaria que vissem os seus rostos! Cada pessoa precisa de ser acompanhada com muito cuidado e amor, na esperança que um dia possamos dar melhores notícias deste país, infelizmente sempre associado às guerras, aos conflitos, às tensões, aos refugiados e aos mortos», comenta a irmã Joana.

No desempenho do seu labor quotidiano a irmã lembra a atitude do Papa Francisco, que nos «deu o mesmo poderoso e interpelante exemplo de Jesus ao beijar os pés do presidente do Sudão do Sul e de outros membros da oposição : aqueles que têm autoridade devem servir, ao ponto de lavar e beijar os pés dos mais pobres, dos mais pequenos, pelo simples fato de serem nossos irmãos e irmãs». É esse exemplo, refere a religiosa, «que me sinto chamada a imitar em cada dia tratando cada pessoa que chega ao nosso hospital, necessitada de todo o gênero de cuidados».

As condições em que a missionária trabalha são precárias e, por isso, «enfrenta-se com grande dificuldade em oferecer as condições para um melhor serviço médico». No entanto, «com a ajuda de Deus vamos caminhando, dia após dia, procurando aliviar o sofrimento permanecendo junto da Cruz como Maria, a Mãe de Jesus. Por isso – sublinha a irmã Joana –, os pequenos sinais de ressurreição são muito importantes. O mistério da fé que celebramos todos os dias é um convite a prestar atenção aos pequenos sinais de vida, pois são os pequenos e sutis sinais que apontam para a possibilidade da Vida nova».’


Fonte :

domingo, 24 de novembro de 2019

A Igreja Católica no Japão

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 1573773569734.JPG
*Artigo de Cidade do Vaticano


‘O Papa Francisco chegou ao Japão neste sábado, 23, segunda e última etapa da sua 32ª Viagem Apostólica, onde até a manhã da próxima terça-feira cumpre extensa agenda. No contexto de sua visita, trazemos alguns dados sobre a Igreja Católica no País do Sol Nascente, começando por alguns dados históricos.

Séculos XVI-XVIII - As origens

O cristianismo foi introduzido no Japão no século XVI por São Francisco Xavier, que chegou ao arquipélago em 15 de agosto de 1549 proveniente de Malaca, acompanhado por outros jesuítas. Seguiram-se os franciscanos, os dominicanos e os agostinianos. No arco de 60 anos, esses primeiros missionários, incluindo outro jesuíta, o italiano Alessandro Valignano (1539-1606), conseguiram estabelecer uma comunidade cristã próspera enraizada na fé e, ao mesmo tempo na cultura local.

Graças ao esforço para encontrar expressões apropriadas em japonês para tornar o cristianismo compreensível, a comunidade católica cresceu, chegando a superar os 300.000 fiéis para os quais, em 1588, foi instituída a Diocese de Funay. Seu centro era a cidade de Nagasaki.

As perseguições do século XVII

Essa primeira comunidade cristã foi quase completamente destruída pelas perseguições iniciadas no final do século XVI com a crucificação, em 1597, de 26 mártires cristãos (6 franciscanos, 3 jesuítas e 17 fiéis) e que atingiram seu ápice no século XVII, um dos mais violentos na história do cristianismo.

Privados do clero e de igrejas onde celebrar liturgias, e apesar dos massacres, alguns cristãos japoneses conseguiram sobreviver e transmitir secretamente sua fé de geração em geração, criando uma simbologia, ritos e uma linguagem incompreensível fora de suas comunidades. Começou assim a era do kakure kirishitan, os ‘cristãos escondidos’, cuja existência foi descoberta em Urakami, cercanias de Nagasaki, em meados do século XIX quando, com discrição e entre várias dificuldades, foram lentamente retomados os trabalhos de evangelização confiados desta vez à Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris (MEP).

Séculos XIX-XX - O renascimento da Igreja no Japão

Seguiu, em 1862, a canonização dos 26 mártires cristãos de 1597, aos quais foi dedicada uma igreja construída em 1863 em Nagasaki pelos missionários franceses das MEP. Após a abertura forçada ao Ocidente imposta pelos Estados Unidos e a restauração do Império Meiji em 1871, foi introduzida a liberdade religiosa que permitiu aos cristãos praticar sua fé. O catolicismo pode assim retomar sua difusão livremente, particularmente nas cidades de Osaka, Sendai, a então capital Kyoto, mas também em direção ao norte.

No país chegaram diversas Ordens religiosas, entre os quais os jesuítas, franciscanos, dominicanos, salesianos. Ao mesmo tempo, começava a ganhar forma a organização eclesiástica da Igreja japonesa com a ereção das Dioceses de Nagasaki e Osaka e da Arquidiocese de Tóquio (1891).

Em 1927, a Igreja no Japão teve seu primeiro bispo de nacionalidade japonesa, Dom Januarius Kyunosuke Hayasaka, nomeado à frente  da Diocese de Nagasaki.

Relações diplomáticas com a Santa Sé

Para favorecer boas relações com o Império do Sol Nascente, em 1919 a Santa Sé erigiu uma Delegação Apostólica com jurisdição também sobre a Coreia e Taiwan. Em 1942, a própria Sé Apostólica aceitou o pedido do Imperador Hirohito para estabelecer relações diplomáticas com o Japão, um processo interrompido pela guerra e que se concretizou em 1952 com a elevação, por parte do Papa Pio XI, da Delegação Apostólica ao grau de Internunciatura, seguida pela instituição da Nunciatura Apostólica em 1966, sob o Pontificado de Paulo VI.

Uma comunidade vista por longo tempo como estranha à cultura japonesa

Não obstante o reconhecimento da liberdade religiosa, a presença da Igreja Católica no Japão permaneceu discreta por um longo tempo e mesmo depois da derrota do Império do Sol Nascente para os Aliados na Guerra do Pacífico (1945), o cristianismo continuou a ser percebido como uma religião estranha à cultura japonesa. Somente no final dos anos cinquenta, e especialmente após o Concílio Vaticano II (1962-1965), uma série de iniciativas colocou no centro da evangelização no Japão a urgência da inculturação.

A Igreja no Japão no período pós-conciliar

Partindo da tradução dos documentos do Concílio, ela continuou com a reforma da liturgia e com a tradução dos textos litúrgicos para o japonês; a reorganização das estruturas administrativas da Igreja; a formação do clero, dos religiosos e dos leigos; a promoção do diálogo ecumênico e inter-religioso; o compromisso social e a promoção da justiça e da paz.

A histórica visita de João Paulo II ao Japão em 1981 (23 a 26 de fevereiro), por ocasião de sua nona Viagem Apostólica, deu um ulterior impulso ao processo de renovação da Igreja japonesa.

A Igreja no Japão hoje é uma pequena comunidade, mas respeitada após séculos de perseguição

A Igreja Católica no Japão hoje conta com 536 mil batizados, o equivalente a cerca de 0,42% da população, de maioria xintoísta e budista. A estes somam-se os cerca de 600 mil fiéis imigrantes residentes para trabalhar. As comunidades católicas estão concentradas em uma área homogênea compreendida entre a Ilha de Hirado, o arquipélago de Goto e a cidade de Nagasaki. A Arquidiocese de Tóquio ainda detém o primado no número de fiéis, seguida por Nagasaki, Yokoama e Osaka.

Instituições educacionais católicas canal de diálogo inter-religioso

Como em outras realidades asiáticas, a influência da comunidade católica vai além de seus números muito pequenos. São sobretudo as instituições educacionais da Igreja - incluindo a prestigiosa Universidade Sophia de Tóquio - que fizeram com que o catolicismo, após séculos de perseguição, seja hoje uma realidade respeitada no País do Sol Nascente, especialmente nos ambientes mais urbanizados e instruídos. As escolas católicas são de fato frequentadas principalmente por estudantes não-batizados, aos quais é dada a possibilidade de se familiarizar com a cultura cristã.

Elas são, portanto, um importante veículo de anúncio da mensagem cristã e de diálogo intercultural e inter-religioso. Um diálogo que ao longo dos anos foi se fortalecendo, no espírito conciliar, e conheceu um novo ímpeto com o primeiro Dia Mundial de Oração de Assis, em 1986, no qual também participaram expoentes religiosos japoneses budistas e xintoístas e o encontro inter-religioso dos 1987 no Monte Hiei (Kyoto).

A presença da Igreja japonesa na esfera social

Outro fator importante que contribuiu para a boa imagem da Igreja no Japão é o trabalho de muitas obras de caridade católicas presentes no país. Além de numerosas estruturas de saúde, a Igreja administra casas para idosos, centros para desabrigados e outros serviços sociais, sobretudo nas áreas mais abandonadas nas periferias das grandes metrópoles.

Ademais, houve dois eventos que tornaram essa presença na sociedade japonesa mais visível : o terremoto de Kobe em 1995 e o terremoto e o tsunami catastrófico em Fukushima em 2011, que viram organizações católicas como a Caritas na linha de frente nas ajudas.

O compromisso da Igreja japonesa com a paz e contra a energia nuclear

Sempre no campo do compromisso social, outro tema no qual a Igreja é particularmente ativa, junto com outras Igrejas e organizações, é o da paz. Nestes últimos anos foram os bispos a indicar com crescente apreensão o risco de que o valor da paz inscrito na Constituição de 1946 seja deixado de lado sob a pressão de eventos internacionais e o nacionalismo emergente.

Na mensagem de 2015 por ocasião do 70º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, eles novamente chamaram a atenção para o retorno de uma mentalidade belicista e reiteraram que o Japão deveria continuar a ter uma vocação especial para a paz, recordando que o conflito mundial foi ‘uma experiência horrível também para o povo japonês’.

Além disso, todos os anos, de 6 a 15 de agosto, no aniversário do bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki, os bispos promovem a iniciativa de oração ‘10 dias pela paz’, na qual em 2013 também tomou parte o cardeal Peter Turkson.

A esse compromisso com a paz, deve-se acrescentar a crescente sensibilidade da Igreja local para as questões ambientais, em particular após o desastre de Fukushima que colocou novamente em discussão, na sociedade japonesa, o tema da energia nuclear e todo o modelo de desenvolvimento seguido pelo país nessas décadas.

Novas estratégias pastorais à luz do Concílio Vaticano II

A Viagem Apostólica de João Paulo II ao Japão em 1981, além de contribuir para um maior conhecimento do catolicismo na Terra do Sol Nascente, ajudou a fortalecer a identidade da Igreja Japonesa e a conscientização de sua missão evangelizadora. Uma missão hoje não mais dificultada pela perseguição, mas que permanece ainda difícil em um contexto cultural distante do mundo cristão.

Essa consciência levou o Episcopado a redefinir suas estratégias pastorais nos anos 80, à luz das indicações do Concílio. Duas ideias as ideias de fundo : que o Evangelho da Salvação deve ser levado a todos e que a mensagem cristã da misericórdia, do perdão e da caridade deve chegar a toda a sociedade japonesa, com uma especial atenção aos últimos

NICE I e NICE II

Os Bispos indicaram, portanto, três prioridades : transformar as paróquias e dioceses em comunidades evangelizadoras; criar estruturas de cooperação dentro das dioceses entre as Ordens religiosas, os missionários e as comunidades nelas presentes e convocar todas as realidades eclesiais (clero, religiosos e leigos) em uma Convenção nacional para a promoção da evangelização (NICE).

A primeira (NICE I) foi realizada em 1987 em Kyoto. Dela os bispos extraíram as seguintes indicações ilustradas no documento ‘Vivamos juntos com alegria’ : a exigência de uma evangelização encarnada na realidade japonesa; a de aprofundar a fé na vida cotidiana e a de fazer das paróquias as protagonistas da evangelização. A segunda convenção, em 1993 (NICE II), foi dedicada ao tema ‘Encontrar uma evangelização ideal na realidade da família’, e confirmou o compromisso com a renovação da Igreja local, a fim de torná-la mais próxima da sociedade japonesa e, em particular, dos mais vulneráveis.

O desafio de transmitir a fé aos jovens e o papel da família

Passados mais de vinte anos da NICE II, o desafio da evangelização ad intra e ad extra permanece aberto. Entre os problemas particularmente sentidos está o da transmissão da fé às novas gerações, cada vez mais influenciada por modelos individualistas e por estilos de vida consumistas propostos pela mídia, mas também atraídos pelas novas seitas.

Emerge portanto, a necessidade de uma pastoral da juventude capaz de envolver os jovens na vida da Igreja e de responder às suas aspirações e a sua necessidade de sentido. A experiência da JMJ é considerada nesta perspectiva muito importante. O local privilegiado para a transmissão do Evangelho continua sendo a família, mas as famílias católicas japonesas nem sempre se mostram à altura para tal missão, principalmente quando um dos cônjuges pertence a outra religião, o que é muito comum no Japão.

Este, entre outros, é um dos dados que emergiram do questionário para o Sínodo Extraordinário dos Bispos sobre a Família realizado no Vaticano em outubro de 2014. A investigação também destacou o escasso conhecimento dos fiéis japoneses da doutrina da Igreja sobre casamento, família, tutela da vida e a pouca consideração que se tem pela própria doutrina, especialmente em relação à contracepção, ao aborto e a prevenção à AIDS.

No geral, observa-se um distanciamento geral da instituição matrimonial, tanto que a coabitação está aumentando mesmo entre casais católicos. O mesmo vale para o divórcio : no Japão, a porcentagem de divórcios entre católicos não difere da dos não-católicos. Além disso, com referência à questão da comunhão para os divorciados e casados ​​novamente, foi verificada uma grande ignorância em relação à doutrina católica sobre o assunto.

Áreas rurais, nova fronteira da evangelização e o papel dos migrantes

No que diz respeito à evangelização ad extra, a Igreja japonesa está dando mais atenção, em comparação com o passado, às áreas rurais, tradicionalmente mais conservadoras e, portanto, menos dispostas a acolher o Evangelho. Para os bispos, um novo recurso importante nessa área é representado pelos imigrantes da fé católica (especialmente filipinos), cujo número também está crescendo devido ao envelhecimento da população japonesa. Por esse motivo, os bispos sentem a necessidade de maior atenção pastoral a essas comunidades para favorecer sua integração nas paróquias.

Promovendo o papel dos leigos na evangelização

Outra prioridade para a Igreja local é por fim a promoção do papel dos leigos na Igreja, o que implica a necessidade de melhorar sua formação. Nesse sentido, os bispos veem com favor a difusão de movimentos eclesiais.

Dados estatísticos¹

O Japão ocupa uma superfície de 377.829 km², onde estão distribuídos 126 milhões 786 mil habitantes. Os católicos são 536 mil, o que corresponde a 0,42% da população.

No país há 16 Circunscrições Eclesiásticas, 859 paróquias, 102 centros pastorais, 29 bispos², 511 sacerdotes diocesanos, 896 sacerdotes religiosos, 20 diáconos permanentes, 173 religiosos não sacerdotes, 4.976 religiosas professas, 174 membros de Institutos seculares, 5 missionários leigos, 1.307 catequistas, 80 seminaristas maiores, 815 centros de educação³, atendendo a 204.335 estudantes, além de 606 centros caritativos e sociais.’

¹ Situação em 31 de dezembro de 2017
² Situação em 30 de setembro de 2019
³ De propriedade e/ou administrados por eclesiásticos ou religiosos


Fonte :

sábado, 23 de novembro de 2019

A missão dos anjos da guarda

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Ombe d'une jeune fille marchant sur chemin
*Artigo do Padre Paulo Ricardo


‘A Igreja sempre acreditou na existência dos santos anjos da guarda, a partir do testemunho das próprias Sagradas Escrituras. Nosso Senhor, por exemplo, ao pedir que não se escandalizassem os pequeninos, disse que ‘os seus anjos, no céu, contemplam sem cessar a face do meu Pai que está nos céus[1]. Em um episódio relatado nos Atos dos Apóstolos, a comunidade cristã, que rezava por São Pedro enquanto ele era mantido na prisão, confundiu a sua presença com a de seu anjo [2]. Por fim, o Catecismo da Igreja Católica ensina que ‘cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida [zoé][3].

A partir desta citação de São Basílio Magno, fica bem evidente que a missão dos anjos da guarda é ‘conduzir à vida’, ao Céu, os seres humanos. Mesmo já contemplando a Deus face a face, eles receberam na Terra a missão de levar os homens à Pátria Celeste. O seu ofício não é, pois, uma simples ‘proteção física’, como se os anjos existissem tão somente para ajudar criancinhas a atravessarem a rua. Trata-se de uma missão eminentemente espiritual, cujo foco é a salvação eterna das almas – mesmo que, para isso, se passe por sofrimentos, doenças ou tragédias.

Santo Tomás de Aquino, ao questionar se ‘os anjos sofrem pelos males dos que guardam’, responde :

Os anjos não sofrem nem pelos pecados, nem pelas penas dos homens. No dizer de Agostinho, tristeza e dor resultam do que contraria a vontade. Ora, nada acontece no mundo que contrarie a vontade dos anjos e dos demais bem-aventurados, porque suas vontades aderem perfeitamente à ordem da divina justiça. Com efeito, nada acontece no mundo que não seja feito ou permitido pela justiça divina. Portanto, absolutamente falando, nada acontece no mundo que contrarie a vontade dos bem-aventurados. Todavia, o Filósofo diz no livro III da Ética, que se diz voluntário de modo absoluto aquilo que alguém quer em particular quando age, isto é, consideradas todas as circunstâncias, embora considerado em geral fosse voluntário. Por exemplo, o navegante que não quer de modo absoluto e em geral atirar as mercadorias ao mar, mas que, na iminência de um perigo de vida, o quer. Um gesto assim é mais voluntário que involuntário como aí mesmo se diz. Assim os anjos, falando de modo geral e absoluto, não querem que os homens pequem e sofram. Mas querem que a respeito disso seja guardada a ordem da justiça divina segundo a qual alguns são sujeitos a penas, sendo-lhes permitido pecar[4]

Então, os anjos da guarda querem e lutam pela salvação dos homens – inspirando-os, iluminando-os e, às vezes, até realizando milagres e lutando contra os próprios demônios. Como são instrumentos santos que possuem inteligência e são livres, eles são chamados de ‘ministros’, pois foram colocados por Deus ao nosso serviço.

São João Bosco, ao recomendar a invocação ao anjo da guarda na hora das tentações, dizia que ‘ele deseja ajudar você mais do que você deseja ser ajudado por ele’. Por isso, não deve haver dificuldade alguma em pedir o auxílio dos nossos santos anjos : não precisamos convencê-los, mas apenas abrir-nos à sua ação.’

Referências
  1. Mt18, 10
  2. Cf.At 12, 6-15
  3. Catecismo da Igreja Católica, 336
  4. Suma Teológica, I, q. 113, a.  
Fonte :

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Migrantes: histórias de integração de Admon, Monika, Soumaila

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 A estação do bairro romano de Torpignattara, onde se cruzam diariamente as vidas de Admon, Monika e Soumaila
A estação do bairro romano de Torpignattara, onde se cruzam diariamente as vidas de Admon, Monika e Soumaila 

*Artigo de Alessandro Guarasci,
jornalista

‘Na Itália há mais de 2 milhões e 500 mil migrantes que trabalham principalmente em hotéis e restaurantes, na agriculltura e na construção civil e principalmente como cuidadores de idosos. Histórias de integração, história de contribuição constante e preciosa à vida do país. Ainda assim muitos italianos não percebem o valor que estas pessoas dão à vida do país. Estão presentes em todo país, e muitas vezes pode-se tratar da pessoa da porta ao lado de casa.

Admon, da Síria a Roma, agora ajuda os idosos

 Admon Alhabib
Admon Alhabib

Admon Alhabib tem 20 anos e deixou sua cidade Al-Qaryatayn, perto de Homs, na Síria em 2016. Sua cidade foi totalmente destruída pelas tropas governamentais e pelos rebeldes. Seu pai morreu de ataque cardíaco durante a fuga da cidade. Agora este jovem estuda e trabalha. Faz um curso noturno e de dia trabalha como cuidador de dois idosos. Também faz muito trabalho voluntário, graças à Comunidade Santo Egídio de Roma. Todos os fins de semana visita os idosos internados em um lar de repouso que fica em outro bairro da capital. Um gesto de proximidade que dá a possibilidade de Admon encontrar pessoas que viram e viveram o crescimento da Itália desde o pós-guerra até hoje.

Admon chegou na Itália através de um corredor humanitário da Comunidade de Santo Egídio com a Federação das Igrejas Evangélicas na Itália. De fevereiro de 2016 até hoje já chegaram quase 2.500 sírios que fogem da guerra e no norte da África. 

Os objetivos destes corredores humanitários são evutar as viagens com os bacos precários atravessando o Mediterrâneo, que já causaram inúmeros mortos, entre os quais crianças; impedir a exploração dos traficantes de seres humanos que lucram com as pessoas que fogem das guerras; conceder a pessoas em condições de vulnerabilidade (por exemplo além de vítimas de perseguições, torturas e violências, famílias com crianças, doentes e pessoas com deficiências) um ingresso legal em território italiano com visto humanitário e a possibilidade de apresentar em um segundo momento o pedido de asilo. 

Monika mostra-nos o calidoscópio de Tor Pignattara

Monika Islam 
Monika Islam

Monika Islam mostra aos visitantes os lugares mais bonitos, mais característicos, mas também mais multiculturais de Roma. Monika faz parte de uma associação que se chama Viagens Solidárias. As ONGs Acra, Viagens solidárias e Oxfam Itália promoveram uma rede EU Migrantour, uma iniciativa que permite aos cidadãos europeus de velha e nova geração, turistas e curiosos, estudantes descobrir com as palavras dos cidadãos migrantes segredos pequenos e grandes que muitas vezes nem os moradores locais conhecem.  Monika chegou à Itália quando era criança vinda de Bangladesh, e faz parte do grupo chamado ‘novos italianos’. O seu processo de integração é total, e aproveita plenamente para conhecer novas culturas. Acompanhamos um tour guiado por ela a uma universidade americana em um dos bairros mais multiculturais e multiétnicos da Capital : Tor Pignattara. Aqui tradições, modo de cozinhar, cores, religiões, odores se misturam de modo admirável. Desde a Primeira Guerra é considerado um bairro popular, agora é famoso pelos seus ‘murales’, que espelham o caleidoscópio de culturas que se instaurou aqui. A principal escola pública de ensino fundamental ‘Carlo Pisacane’ é um verdadeiro modelo de integração.

Soumaila, de Mali agora trabalha como intérprete

Soumaila Diwara
Soumaila Diwara

Soumaila Diwara sobreviveu a um dos muitos naufrágios que funestaram as viagens entre a Líbia e a Itália. Agora escreve livros e trabalha como intérprete e conta sua história nas escolas. O projeto Finestre no qual está envolvido, tem como objetivo encontros sobre o diálogo inter-religioso, principalmente com as escolas, professores e estudantes ajudados pelos refugiados e pelas testemunhas, em um verdadeiro exercício de construção de comunidade, de diálogo e de criatividade social. Segundo a ótica do projeto, os que chegam de fora não são vistos como um problema ou um obstáculo, mas como portadores de conteúdos e de riqueza humana e cultural.

Em Mali, depois da graduação em direito em Bamako, Soumaila entrou para a política no partido de oposição. Por este seu empenho social, em 2012 foi obrigado a abandonar seu país, e fazer a rota do atual fenômeno migratório partindo da Líbia em um barco. Graças ao resgate de um navio da Marinha Militar chegou à Itália em 2014 e obteve a proteção internacional, até hoje é um refugiado político.

Portanto, a sua história é a de um migrante que se integrou e que tenta mostrar, principalmente aos mais jovens, as histórias dos que fogem de perseguições religiosas ou políticas. Porque a desconfiança só é superada depois do conhecimento.’


Fonte :

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Deus, a religião e a Igreja Católica


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 MASS OF THE AMERICAS,WASHINGTON DC
*Artigo de Vanderlei de Lima, 
eremita na Diocese de Amparo


‘Há, em nossos dias como também já houve em outros momentos da história, duas ideias divergentes : ‘Só Deus basta, a religião não importa’ ou, em contrário, ‘Ter uma religião basta, não importa como Deus é por ela entendido’. Este artigo pretende, de modo breve, mas esclarecedor, abordar a temática em foco.

No que toca a Deus, três grandes correntes buscam apresentá-Lo de formas diversas : o politeísmo, o panteísmo e o monoteísmo. As duas primeiras escolas são, de início, descartáveis, e a terceira aceita tanto pela razão quanto pela fé esclarecida.

Sim, o politeísmo, como o próprio nome diz, supõe vários deuses. É uma forma antiga e arcaica de religião ligada à mitologia, pois a própria razão sem a fé nos ensina ser impossível a existência de dois deuses todo-poderosos, ambos se anulariam e nenhum dos dois seria Deus. O panteísmo ensina que tudo (pan) é Deus (Theos), ou seja, as criaturas racionais e irracionais são partes do Criador. Também essa forma de conceber a Deus não resiste à sã razão. O Senhor é, por definição filosófica, perfeito, absoluto e eterno, ao passo que as criaturas são imperfeitas, temporais (têm começo e fim) e relativas.

Resta, pois, o monoteísmo : há um só Deus distinto de suas criaturas, conforme atestam as descobertas feitas entre povos primitivos e a revelação divina ao patriarca Abraão, no século 19 a. C. Ora, são três as religiões monoteístas da humanidade: o Judaísmo, que ainda vive a expectativa do Messias, que já veio. Daí o Cristianismo. E, por fim, o Islamismo que junta elementos judaicos e cristãos com artigos de fé de antigas religiões árabes. Desse modo, nos toca, por coerência, escolher o Cristianismo.

Ele tem, no entanto, vários segmentos (católico romano, católicos ortodoxos, protestantes…), mas a Igreja que, de modo ininterrupto, vem de Cristo até nós é a Católica Apostólica Romana : o Senhor Jesus fundou-a e confiou-a a Pedro – o primeiro Papa – e aos seus sucessores, chamando-a de ‘minha Igreja’ (cf. Mt 28,20). 

Dito isso, resta-nos examinar o termo religião. Ele se prende ao verbo latino religo, religare e trata da ligação do ser humano com Deus, por meio de três principais elementos : um Credo, um Culto sagrado e um Código de Ética. 

Credo reúne as verdades da nossa fé, de modo a nos oferecer uma visão global de Deus, do mundo e do ser humano. O que cremos não é mero fruto de estudos pessoais ou acadêmicos, mas, sim, da Revelação divina. Creio porque Deus revelou e provou – com a coerência da mensagem, o cumprimento das profecias e a realização de milagres ser verdade (e não ilusão sem credenciais ou crendice) – o que professamos. 

Culto sagrado leva o homem e a mulher a se exprimirem, de modo filialmente dependente, diante de Deus por meio da oração pessoal ou comunitária. Ela, embora brote sempre do mais íntimo do ser humano, exprime-se também no físico (ajoelhar, erguer os braços, inclinar a cabeça etc.) e no social (em local apropriado, geralmente em um templo, com trajes típicos etc.).

Ética que inspira o comportamento humano à luz do Evangelho, por isso existe uma disciplina chamada Teologia Moral. São os costumes humanos vistos à luz de Cristo Jesus em Seu Evangelho. Além da Tradição Oral, transmitida ao longo dos séculos e da Tradição Escrita (a Bíblia), interpretadas pelo Magistério da Igreja, temos também a Lei natural moral (presente como a marca do Criador na criatura em toda consciência sadia). A Igreja é guardiã dessa Lei que muito ajuda a guiar o comportamento humano em geral. 

Opõe-se à sua fé ou dá forte contra testemunho aquele que se diz católico, porém contesta a Igreja com ideias mais ou menos assim : sou católico, mas… defendo o aborto; sou católico, mas… penso que a Igreja não deve falar em ética na política; sou católico, mas… não vou à Missa; sou católico, mas… não me confesso; sou católico, mas… Dito isso, resta-nos questionar : como alguém pode se dizer católico e opor tantas objeções à Igreja?

O fiel sente com a Igreja, em todas as áreas de sua vida e não em oposição a Ela, por isso não é fácil ser verdadeiro católico nos nossos tempos relativistas nos quais se deseja que a verdade adapte-se ao homem, não o contrário.’


Fonte :