terça-feira, 29 de novembro de 2022

Arcebispo Nassar: que o Advento ilumine o "calvário silencioso" do povo sírio

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da Vatican News


‘Um ‘calvário sem fim’ que já dura há 12 anos e ‘mergulhou no silêncio’ o povo sírio, que há muito tempo grita de dor pelos sofrimentos que suporta por causa da guerra, seguida de uma crise econômica e de saúde desencadeada pela ‘bomba da pobreza’.

É o que denuncia o arcebispo maronita de Damasco, capital da Síria, dom Samir Nassar, em um testemunho enviado à AsiaNews por ocasião do Advento. ‘Um silêncio - continua o prelado - que fala muito do sofrimento no coração das pessoas’ esquecidas pela comunidade internacional, enquanto no país do Oriente Médio persistem focos de conflito e a perspectiva de uma invasão por terra pelo exército turco, com mais um fardo de dor, morte e destruição.

‘Colocando-nos à escuta deste silêncio - escreve o arcebispo - é possível ler nos rostos tristes e cansados das pessoas as razões para este desânimo’. O olhar ‘melancólico’ tomou o lugar da alegria de viver e ‘mostra todo o peso do sofrimento ligado a uma crise sem fim’.

Indiferença da comunidade mundial que ‘esqueceu a Síria’

O olhar ‘preocupado’ reflete ‘as muitas carências’ que afligem a vida diária, tais como ‘a falta de combustível, eletricidade, pão cotidiano, medicamentos, gás, diesel e daqueles que são forçados a ficar em filas de espera dias inteiros’ para obter os gêneros de necessidades básicas.

E novamente o ‘olhar incerto’ para um ‘futuro perdido’ por causa do bloqueio, das sanções e da indiferença da comunidade mundial que ‘esqueceu a Síria’. Preocupação ‘pela dispersão das famílias para os quatro cantos da terra’, pela diáspora dos cristãos e pelas contínuas migrações ‘mesmo que isso às vezes signifique morrer nas estradas do êxodo’.

Por fim, ‘a angústia’ causada pelo ‘colapso da moeda local, a inflação e o consequente aumento dos preços, a falta de trabalho e o desemprego crescente, a pobreza e os muitos sofrimentos que parecem não ter um fim previsível’.

‘Riscos catastróficos’ em vista do inverno

Enquanto isso, o Escritório para Assuntos Humanitários da ONU e o coordenador regional da ONU para as crises Muannad Hadi falam de ‘riscos catastróficos’ em vista do inverno, com temperaturas rígidas, neve e chuvas torrenciais, enquanto o plano de apoio permanece à espera.

‘Até hoje, alertam os especialistas da ONU, foram alcançados apenas 42% dos fundos necessários e ainda há muito a ser feito para aliviar o sofrimento de seis milhões de pessoas em risco.’

Entre os mais afetados estão os deslocados, os idosos, os doentes e as crianças com doenças graves, um total de seis milhões de pessoas, 2,5 milhões das quais estão no noroeste. Atualmente, a maioria da população não pode arcar com itens essenciais, como roupas quentes ou aquecimento, incluindo aqueles que vivem nos centros de acolhimento.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2022-11/siria-arcebispo-nassar-advento-calvario-silencioso-relatorio-ONU.html

sábado, 26 de novembro de 2022

Uma vida ao serviço dos mais pobres

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


*Artigo da Redação da Além-Mar


José Ambrosoli nasceu a 25 de Julho de 1923 em Como, no Norte da Itália. Depois do ensino secundário, José inscreveu-se na Faculdade Médico-Cirúrgica da Universidade de Milão, mas teve de interromper os seus estudos por causa da Segunda Guerra Mundial.

Após o armistício de 8 de Setembro de 1943 [Armistício de Cassibile, mais propriamente a rendição incondicional da Itália], arriscando a sua vida, comprometeu-se a ajudar um grande número de judeus, ex-militares e desertores da República Italiana, destinados aos campos de concentração nazis, a procurar refúgio na Suíça. As autoridades da República de Salò alistaram-no e enviaram-no com outros estudantes de Medicina para a Alemanha para o campo de treino em Heuberg (Estugarda). Durante este tempo, amadureceu a sua vocação missionária.

Após a guerra, retomou os seus estudos médicos e formou-se em 1949. Ingressou nos Missionários Combonianos do Coração de Jesus. Fez os seus primeiros votos e foi ordenado sacerdote a 17 de Dezembro de 1955. Partiu para África um mês e meio depois. Na missão de Kalongo fundou o hospital que serviu como médico-cirurgião por mais de trinta anos.

Médico da caridade

Em Kalongo, José contribuiu com o seu trabalho incansável para levar a pleno florescimento as obras de saúde da missão. Com o seu trabalho desenvolve o centro de saúde de Kalongo e consegue que seja declarado hospital. A estrutura é grande e funcional : 350 camas e 30 pavilhões. Também inicia uma escola para preparar obstetras e enfermeiras. Mais tarde, associou também o hospital de Kalongo aos centros que podiam atender os doentes de lepra.

O serviço do P.e José, realizado com tenacidade e fortaleza, foi constantemente inspirado por uma frase sua que o definiu e o fez entrar no coração de todos os que eram tratados por ele com total dedicação, infinita ternura e competência : «Deus é amor e eu sou seu servo para o povo sofredor.» O P.e José caracterizava-se pela sua grande hospitalidade e generosidade, foi para todos os que o encontravam a boa notícia do Deus Pai misericordioso.

Em 1984, os médicos detectaram-lhe uma insuficiência renal significativa e aconselharam-no a não voltar a África ou, no máximo, a dedicar-se apenas a tarefas administrativas e a abster-se de fazer trabalho que ocasionasse um grande desgaste físico, nomeadamente realizar operações.

Entretanto, a guerra civil, que varreu o Norte do Uganda, causou bastante problema ao P.e José. Os soldados do Norte, enfurecidos pela derrota, procuravam pessoas do Sul para vingar-se. O hospital estava cheio de ugandeses do Sul que tinham procurado refúgio. Mais de uma vez, o missionário teve de enfrentar soldados armados no portão do hospital, pois queriam entrar à procura de «inimigos escondidos».

Em Janeiro de 1986, o novo regime de Yoweri Kaguta Museveni instalou-se em Campala. Após alguns meses de relativa calma, os soldados acholis reorganizaram-se e lançaram um movimento guerrilheiro. Em Janeiro de 1987, o exército, incapaz de resistir à situação de assédio constante por parte dos guerrilheiros, forçou todo o pessoal de Kalongo a abandonar a missão.

Os missionários foram para a cidade de Lira. A única preocupação do P.e José era encontrar um novo lugar para a escola de parteiras, para que as alunas não perdessem o ano letivo. Depois de um mês de esforços e dificuldades intermináveis, a escola estabeleceu-se na missão de Angal, na região ugandesa do Nilo Ocidental.

A saúde do P.e José, já minada por graves insuficiências renais, agravou-se em resultado destes enormes esforços e sacrifícios. Quando regressou a Lira, no início de Março de 1987, para organizar a transferência das alunas e das religiosas responsáveis pela escola, adoeceu com insuficiência renal aguda.

Colaborou em tudo para se preparar e partir ao encontro de Deus. Coube ao P.e Marchetti, seu companheiro, colher as suas últimas palavras no dia 27 de Março de 1987 : «Senhor, faça-se a tua vontade – depois como um suspiro – mesmo que fosse uma centena de vezes.»

Beatificação

O P.e José foi beatificado no dia 20 deste mês de Novembro (a cerimónia foi adiada dois anos por causa da pandemia), na paróquia de Kolongo, lugar onde viveu e trabalhou como missionário. No dia 28 de Novembro de 2019, o Papa Francisco tinha autorizado a Congregação para as Causas dos Santos da Santa Sé a publicar os decretos relativos a três milagres, de entre os quais o milagre atribuído à intercessão do novo beato: uma senhora com um tumor maligno foi curada miraculosamente no hospital de Kalongo.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticias/?id=1594553

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Vade retro, fundamentalista!

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Mirticeli Medeiros,

jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras

credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé


‘Francisco governa a Igreja Católica num dos períodos mais desafiadores para a história da instituição. Isso porque, em 2013, quando foi eleito o 266° da Igreja Católica, viu o fundamentalismo cair como uma avalanche sobre a sua cabeça. Alguns grupos católicos radicais, que até o momento flertavam com o submundo dos populismos de extrema-direita, esposaram, de papel passado, a donzela far-right que, na ocasião, havia atingido a maioridade.

Graças ao advento das redes sociais, esse conservadorismo caricato conseguiu o feito de promover o revival de uma Guerra Fria, usando inclusive categorias do passado para declarar guerra a esse comunismo stalinista imaginário.

Digo caricato porque o ‘referencial teórico’ desse pessoal pode ser comparado a uma fanfarra desgovernada na qual cada músico resolve, a seu bel prazer, seguir a partitura que mais lhe agrada.

Basta ver o debate entre Paulo Cruz e Carla Zambelli no programa Flow, em outubro deste ano, para entendermos o quanto os ditos ‘conservadores bolsonaristas’, principalmente os cristãos, não têm noção sequer do significado dessa filosofia social da qual se dizem adeptos.

E, claro, não é diferente quando o assunto é catolicismo. Todo e qualquer insipiente com microfone, que desponta no youtube, vira um santo Atanásio do dia para a noite. E o pior é que esse ‘zelo ignorante’, infelizmente, conseguiu fazer orbitar, em torno a si, fiéis discípulos.

E é esse o cenário intra e extraeclesial que o Papa Francisco precisa levar em consideração.

Ficou ainda mais evidente, com o pontífice atual, o quanto muitos católicos foram mal catequizados, inclusive em relação às bases da própria doutrina cristã. Temas sociais que fazem parte do corpus doutrinário da própria Igreja Católica, e foi sendo formado e reproduzido por décadas, foram violados massivamente por quem sequer tem instrumentos suficientes para interpretá-los.

Tomamos como exemplo as críticas ao neoliberalismo e a visão do catolicismo em relação à propriedade privada, presentes na Fratelli Tutti (2020). Uma boa lida no roda-pé do documento evitaria muitas dessas distorções mirabolantes.

Francisco também é um papa que promove o debate teológico aberto, e por isso muitas vezes é mal compreendido.

O santo padre sabe que há um depositum fidei que não pode ser negligenciado, mas nem por isso deixa de ouvir outros pontos de vista em relação ao que pode ser mudado. Basta tomarmos como exemplo algumas questões de disciplina que estão fora do espectro doutrinal.

A sinodalidade, que ele tanto evoca, nada mais é que colocar a instituição em atitude de escuta, como se fazia no passado. São Cipriano de Cartágo (sec. III) disse, uma vez, que ‘que tudo o que compete a todos, deve ser debatido por todos’.

Mas se um Cipriano da vida fosse nosso contemporâneo, certamente seria chamado de herege em meio a toda essa sandice coletiva de ‘preservar’ o catolicismo, militando contra o papa ‘che non mi sta simpatico’.

Mas quem vive entre nós hoje é Francisco, então é ele quem acaba pagando a conta por tentar resgatar a essência do próprio cristianismo.

‘Herege’, ‘comunista’, ‘falso papa’. João XXIII também ouviu isso quando despontou como o grande mediador do conflito entre as potências da cortina de ferro, na década de 1960.

E seguindo os passos de seu antecessor, não dá importância aos insultos e segue adiante. Ainda bem.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticias/?id=1594553

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Luz que faz a diferença

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Geovane Saraiva,

jornalista, colunista e pároco

de Santo Afonso de Fortaleza, CE

 

A oração é essencial, na sua preciosidade de valor, para o seguidor de Jesus de Nazaré, comparando-se ao respirar das pessoas e da própria vida. A oração deve ser em vista das atividades e do dia a dia, recordando-se de todos e levando em conta suas necessidades, no caso dos irmãos, dos amigos e até dos que não gostam de você. Uma oração radicalmente solidária deve sempre estar presente na nossa vida, sem jamais prescindir da realidade contraditória das coisas, da vida e do mundo.

Na busca do eterno Sol, é sempre muito importante ver a oração, mas que seja cristalinamente reveladora, pelo nosso direcionamento e evocação a Deus, evocação esta no sentido de se compreender o clamor da felicidade sem fim, não apegado e muito menos afeiçoado excessivamente aos bens materiais, que nas suas vantagens, segundo a lógica do mundo, não passam de ilusões. Favor perceber o filho mais novo da parábola do Evangelho (Lc 15, 11-32), que, longe do aconchego do pai, terno e afável, passou por uma angústia tenebrosa e desalentadora, numa vida quase sem nenhum sentido.

No retorno, o pai, saindo com pressa, acolhe o filho desgarrado, no mais magnífico grau de contentamento, revelando que, mesmo rompido e no empinado desespero das pessoas, encontra-se o amor, infinito e inesgotável, favorecendo-nos, mesmo na mais insignificante circunstância. Faltando-nos a esperança, na frívola lacuna das criaturas, o pai “corre” para inundar e preencher a existência humana.

Aqui um pouco do vivenciado por mim, no Cristo / Sol eterno, ao abrir portas e janelas da Casa Paroquial de Santo Afonso, na Parquelândia, Fortaleza/CE, vi que a claridade do Sol passou a entrar. Logo, pensei que, quanto mais tudo for aberto, mais a luz e o calor farão aquela benfazeja e salutar diferença. Assim também na oração : quanto mais se fizer a vontade de Deus, mais se permitirá que seu indizível amor chegue e transforme a vida das pessoas de boa vontade.

Lembre-se de que o amor insondável e incalculável de Deus, mesmo ele não precisando de nós, é fecundidade e gratuidade, dom e graça, no que nos assegura a liturgia da Igreja: “Ainda que nossos louvores não vos sejam necessários, vós nos concedeis o dom de louvar. Eles nada acrescentam ao que sois, mas nos aproximam de vós”, num alegre viver : pasmado, na sabedoria da sua eterna realeza / na qual luz se fez fascínio de beleza / luz a deslumbrar pela sua correnteza / premiado, mas no encanto de sua riqueza.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticias/?id=1594374

domingo, 20 de novembro de 2022

Comunidade Shalom em Madagascar: um consolo para os pobres e para os jovens

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Mariangela Jaguraba,

da Vatican News


As missionárias da Comunidade Católica Shalom Vanda Santos, responsável da Comunidade Shalom em Madagascar, natural de Salvador (BA), e Magnaura Lima de Maria, natural da Parnaíba (PI), visitaram recentemente a Rádio Vaticano-Vatican News. Elas participaram do encontro da Comunidade Shalom, em Roma, pelos seus quarenta anos de fundação.

Durante os dias de encontro, a Comunidade Católica Shalom foi recebida em audiência pelo Papa Francisco, no Vaticano. Vanda e Magnaura também participaram do encontro com o Pontífice. Atualmente, as duas missionárias trabalham na cidade de Antsiranana, em Madagascar. Nesta entrevista, elas nos falam sobre o encontro com o Papa e sobre a experiência missionária que fazem nesse país.

‘O encontro foi um momento único desse encontro, um momento em que a comunidade celebra os seus quarenta anos. Esse momento foi como um momento de um novo, abrindo as portas para o novo que Deus quer para a Comunidade Shalom, para nós como missionários. Estando em Madagascar há 11 anos, eu levo comigo, no meu coração, o novo que Deus nos pede. Foi um encontro maravilhoso! Estar perto do Papa Francisco. Foi maravilhoso porque ele vai nos dando direcionamentos, direções, com a simplicidade que ele tem e consegue nos alcançar, falando dos pobres, dos mais necessitados e da nossa abertura para acolher os nossos irmãos necessitados. Portanto, um encontro para renovar em nós o ardor missionário, renovar em nós a esperança, abrir um novo tempo para a Comunidade. A cada cinco anos, nós temos um encontro com o Papa para renovar em nós a força da evangelização’, disse Vanda Santos.

‘Foi uma experiência de gratidão, de celebrarmos como comunidade os seus quarenta anos de fundação, de inspiração de Deus e também de nos encontrarmos com o Papa levando a ele todas as nossas experiências de fundação, experiências de ofertas de vida. O Papa também é um missionário. O Papa também não está na terra natal dele. O Papa tem a missão de conduzir a Igreja e ser guiado pelo Espírito. Assim, Deus nos dá essa graça de sermos missionários, e sermos missionários, hoje, onde estamos em Madagascar. O tema principal do nosso encontro e da celebração dos quarenta anos foi ‘Amigo de Deus, amigo dos pobres e amigo dos jovens’. Deus nos faz este consolo para os pobres, para os jovens. Para mim, é esta experiência de gratidão e louvor. Eu volto para a minha missão, em Madagascar, com o coração inflamado por desejar mais ainda ser ainda amiga de Deus, amiga dos pobres e dos jovens’, disse Magnaura.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-11/comunidade-shalom-madagascar-deus-consolo-pobres-jovens.html

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

UISG: menos crianças nos orfanatos, mais em família

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da Vatican News


‘Com muita gratidão, em nome da União Internacional das Superiores Gerais, expresso meu apreço por esta nova iniciativa, promovida pela Catholic Care of Children, a fim de aumentar a sensibilização e dar destaque à realidade da tutela da infância’. Estas são as palavras da Ir. Nadia Coppa, presidente da UISG (União Internacional das Superiores Gerais) a respeito deste novo projeto, ‘cujas raízes estão no imperativo evangélico de cuidar dos mais frágeis, assim como na doutrina social católica, que se concentra particularmente na dignidade da pessoa’.

Menos crianças nos orfanatos

Iniciado em Uganda, Quênia e Zâmbia, o Catholic Care of Children foi oficialmente estabelecido em 2020, sob os auspícios da União das Superioras Gerais. Sua missão é dar apoio ao movimento das irmãs católicas, que tem como objetivo reduzir a necessidade de que as crianças sejam colocadas em instituições, evitar a desagregação das famílias e oferecer possíveis soluções alternativas que permitam às crianças crescerem em um ambiente familiar amoroso. Atualmente, a Catholic Care for Children International opera em mais de 200 localidades com diferentes programas, inclusive através de parcerias, em Uganda, Quênia e Zâmbia, e está procurando estender seu trabalho a outros países.

Revolucionar o sistema de tutela à infância

Neste contexto, explica a Irmã Niluka Perera, coordenadora do UISG, o novo website da CCCI ’é uma solução que nos permite afirmar a necessidade premente de revolucionar o sistema de tutela da infância e compartilhar as estratégias a longo prazo que as instituições religiosas estão desenvolvendo’. Milhares de crianças ao redor do mundo vivem em instituições como orfanatos, mas não por serem desabrigadas : 80% das crianças têm um pai ou parente próximo, mas que não possuem recursos para sustentá-las. ‘Nenhuma criança deve viver em uma instituição porque a família é pobre ou sobrecarregada pela dificuldade de acesso a serviços básicos de saúde, proteção social ou educação para seu filho’, afirmou a Ir. Niluka.

Uma família para cada criança

A UISG, portanto, comprometida em mudar esta situação, utilizará o novo site para ajudar as irmãs e os institutos religiosos a compartilhar facilmente recursos entre si, com o público e com a variedade de organizações envolvidas no movimento geral. O site refletirá os esforços das irmãs no mundo inteiro, ilustrando o que é necessário para realizar a visão de ‘uma família para cada criança’. Além disso, conclui Irmã Coppa, o site ‘contribuirá profundamente para nosso crescimento, permitindo que nos familiarizemos com experiências, métodos e recursos que promovem esta nova ideia de futuro e, da mesma forma, de transformação social’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-11/uisg-site-tutela-infancia-ccci.html

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Por que alguns santos católicos romanos são chamados de doutores da Igreja?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

Papa Francisco concedeu o título de doutor da Igreja a Santo Irineu de Lyon

*Artigo de Jo Adetunji, 

editor da The Conversation UK

 Tradução   : Ramón Lara


Em janeiro de 2022, o Papa Francisco concedeu o título de doutor da Igreja a Santo Irineu de Lyon, um bispo cristão que morreu por volta de 200 d.C. Durante séculos, os cristãos nas igrejas católica romana e ortodoxa o veneraram como um santo.

Como especialista em cristianismo medieval, me peguei refletindo sobre o significado desse título e por que ele é importante hoje. Existem mais de 10.000 santos reconhecidos pela Igreja Católica Romana. No entanto, apenas algumas dezenas deles foram nomeados doutores da igreja, um título honorífico que reconhece a importância de seus ensinamentos, estudos e escritos.

Primeiros santos

Nos primeiros séculos, os cristãos executados no Império Romano por se recusarem a renunciar à sua fé – chamados mártires, que significa testemunhas – eram comemorados por suas comunidades locais e chamados de santos : sanctus ou sancta, em latim. Os túmulos desses santos eram considerados lugares sagrados, e os crentes os visitavam para orar.

Mais tarde, aqueles que foram presos, mas não condenados à morte, foram homenageados por outros cristãos por causa de sua notável coragem e força de fé. Suas comunidades os chamavam de confessores porque professavam sua fé.

Outros títulos foram eventualmente adicionados para distinguir categorias adicionais de santos, como bispo, padre ou viúva. Até as crianças eram, e ainda podem ser aprovadas para veneração santa.

Nos primeiros mil anos, homens e mulheres santos foram venerados como santos regionalmente, geralmente com a aprovação do bispo local. Mais tarde, os papas se encarregaram de proclamar oficialmente os santos, e um processo formal foi desenvolvido para examinar as candidaturas, ou causas, de candidatos santos propostos por bispos regionais ou outros grupos religiosos.

Acadêmicos e professores

Com o tempo, um punhado de santos e professores cristãos tornou-se especialmente conhecido por seus escritos ou erudição. Alguns dos primeiros séculos da Igreja foram reconhecidos como professores importantes, ou pais da Igreja, pelas igrejas ocidentais e orientais – que finalmente se dividiram nas igrejas católica romana e ortodoxa oriental, respectivamente, no século 11.

Na Idade Média, outros santos mestres da Europa Ocidental foram aclamados especificamente como doutores da Igreja pela autoridade dos papas. Alguns teólogos reverenciados passaram a ser conhecidos como doutores de uma ideia ou característica específica. Por exemplo, contemporâneos do teólogo medieval Santo Alberto, o Grande, que morreu em 1280, passaram a se referir a ele como o  ‘doutor universal’ por causa da ampla gama de tópicos que ele abordou em seus escritos. Mesmo um ou dois dos primeiros padres da igreja adquiriram esses títulos adicionais, como Santo Agostinho. Este santo norte-africano, um dos teólogos cristãos mais influentes, morreu em 430 e ficou conhecido como o ‘doutor da graça’ por causa de suas teorias sobre a graça como um dom gratuito de Deus. Em várias regiões, as comunidades locais deram títulos semelhantes a outras figuras respeitadas, mesmo que não fossem oficialmente reconhecidas como santas.

Listas formais desses médicos foram compiladas e expandidas durante os séculos XVI a XX. Hoje, a Igreja Católica Romana lista 37 santos oficialmente reconhecidos por pronunciamento papal como doutores da igreja.

Até depois do Concílio Vaticano II, que se reuniu de 1962 a 1965 e iniciou significativas reformas modernas na Igreja, todos os doutores da Igreja eram homens – geralmente bispos ou padres. Nas décadas seguintes, isso mudou.

Hoje, a Igreja Católica reconhece quatro mulheres santas e eruditas de vários séculos diferentes por seus escritos teológicos e espirituais. Eles incluem a mística espanhola do século XVI Teresa de Ávila e a abadessa alemã do século XII Hildegard de Bingen, especialista em fitoterapia e botânica, bem como em drama litúrgico e música.

Doutor da unidade

Então, por que adicionar outro doutor da igreja agora? Santo Irineu já era reconhecido como um dos primeiros pais da igreja. Nascido durante o século II no que hoje é a Turquia, serviu como bispo de Lyon no que hoje é a França, movendo-se de um lado para o outro do Império Romano.

O santo escreveu vigorosamente contra um movimento filosófico e religioso chamado gnosticismo (da palavra grega gnosis, ou conhecimento) que via como uma heresia que ameaçava separar os cristãos das crenças transmitidas pelos apóstolos de Jesus. Os cristãos gnósticos ensinavam que o mundo físico não foi criado por Deus, mas por um ser espiritual menor, seja por erro ou por maldade. Eles rejeitaram as crenças cristãs tradicionais de que a realidade material e o corpo humano eram fundamentalmente bons e sustentavam que o corpo era um obstáculo inútil para alcançar a perfeição espiritual.

Irineu argumentou contra os gnósticos, insistindo que Deus criou a realidade material e espiritual e que ambas estavam enraizadas na bondade de Deus. Sua crítica à visão gnóstica do ensino cristão reafirmou a importância do ensino dos apóstolos, baseado nos escritos dos profetas do Antigo Testamento e nos quatro Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. Assim, o ensino de Irineu foi valorizado por teólogos posteriores que trabalharam para fortalecer a definição da Igreja de crenças ortodoxas.

Em 2021, membros do Grupo de Trabalho Conjunto Católico-Ortodoxo de Santo Irineu, um grupo não oficial de teólogos que buscam enriquecer o entendimento mútuo, se reuniu em Roma. Durante essa reunião, o Papa Francisco declarou sua intenção de declarar oficialmente o santo doutor da Igreja. Como o Papa observou mais tarde, a vida e os ensinamentos de Irineu servem como uma ponte entre o cristianismo oriental e ocidental. Em sua própria vida, ele serviu igrejas em ambas as tradições e, apesar de suas diferenças individuais, se esforçou para mantê-las unidas contra os ensinamentos divisivos.

Pela influência de sua teologia e pelo exemplo de seu ministério, Santo Irineu será um desses doutores da Igreja, como Santo Alberto Magno, a receber um título honorífico distintivo :  ‘doutor da unidade’.

Numa época em que doenças, desastres ambientais e guerras ameaçam dividir o cristianismo e o mundo, muitos acreditam que um santo  ‘doutor da unidade’ pode inspirar um futuro mais cheio de esperança.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticias/?id=1591804 

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Da Índia à Sicília, passando por Uganda: a missão de Irmã Veera

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
A religiosa faz parte das Irmãs da Caridade e da Cruz

*Artigo da Irmã Margaret Sunita Minj


Em agosto de 2019, passei duas semanas com a Ir. Veera Bara em Caltanissetta, Sicília. Andávamos pelas ruas, os migrantes chamavam-na de longe e quando nos aproximávamos, cumprimentavam-na carinhosamente chamando-lhe ‘mamã’.

A irmã Veera, das Irmãs da Caridade e da Cruz, começou a trabalhar lá com refugiados em 2015; ela ensina-lhes italiano, ajuda-os a obter os documentos necessários e assistência médica em caso de doença. Os migrantes não sabem o seu verdadeiro nome : eles simplesmente lhe chamam ‘mamã’.

Quando lhe perguntei onde encontrou coragem para assumir o desafio desta tarefa, a irmã Veera respondeu : «O lema do nosso fundador, padre Teodósio Florentini, diz ‘nas necessidades dos tempos lemos a vontade de Deus’, e isto ajuda-me a ir além das barreiras religiosas e culturais, dá-me coragem para avançar e ajudar os outros. A Beata Madre Maria Theresia Scherer, co-fundadora da nossa congregação, costumava dizer : ‘Tudo é possível com o Senhor e para o Senhor’».

A família de Irmã Veera

A Irmã Veera nasceu a 13 de julho de 1957 em Neematoli, Farsabahar, distrito de Chhattisgarh. Ela tem dois irmãos e uma irmã mais velha. O pai faleceu seis meses após o seu nascimento. A sua família reunia-se em casa para recitar orações da noite e Veera participava no trabalho de divulgação para os jovens. Por vezes, ela guiava as orações e os cânticos na sua aldeia. Uma vez lançadas as sementes da vida religiosa, após ter frequentado uma das suas escolas, em 1978 ela entrou na congregação das Irmãs da Santa Cruz e emitiu o seu primeiro voto a 8 de dezembro de 1982.

A irmã Veera aceitou ir como missionária para o Uganda e partiu para a sua nova missão em outubro de 1993, juntamente com três outras religiosas. O desafio de se amalgamarem com o novo ambiente, a nova língua, cultura e com as pessoas era exigente. «Tudo isto me ensinou a ser mais paciente, mais corajosa, a ter um espírito missionário», diz ela. O acolhimento, o apoio e o amor que recebeu das irmãs, dos nativos e dos superiores ajudaram-na a realizar, nos 22 anos no Uganda, várias tarefas como agente pastoral e social, animadora vocacional, formadora, superiora e conselheira.

A Irmã Veera em Uganda


A missão na Sicília, comunidade inspirada pelo Papa

Em 2015, uma nova missão aguarda a irmã Veera: foi chamada para a Sicília, numa comunidade intercongregacional e internacional. Esta comunidade foi criada a pedido do Papa Francisco que, em 2013, tinha ouvido o grito dos migrantes em Lampedusa. Na altura, o Papa expressou o desejo de que as religiosas da União internacional das superioras-gerais trabalhassem em conjunto entre os migrantes. E assim, no cinquentenário da criação da UISG, em 2015, as superioras-gerais decidiram abrir dois centros na Sicília para ajudar os refugiados. Religiosas de diversas congregações foram convidadas a formar uma comunidade na qual trabalhar juntas : a escolha foi de 10 religiosas de 9 países e 8 institutos. A irmã Veera, juntamente com outras 9 religiosas, chegou a Roma em setembro de 2015 para receber formação de base na língua italiana. A 2 de dezembro, após a audiência geral, o grupo recebeu a bênção do Papa Francisco para o início da sua nova missão na Sicília.

As 10 religiosas que formam a comunidade junto à Irmã Pat Murray (no centro)

De novo, tudo é novo - o lugar, como começar, desafios desconhecidos... Impelida pelo carisma e pelo lema da sua congregação, a irmã Veera dá um passo após outro. Foi-lhe pedido que assistisse 20 mulheres nigerianas alojadas num convento local. Esta experiência ensinou-lhe realmente muito sobre o tráfico de pessoas : aquelas jovens, destruídas física, mental e espiritualmente, precisam de alguém que as ouça, compreenda e ame como são.

Em outubro de 2016, a irmã Veera transferiu-se para Caltanissetta. Depara-se com a visão de cerca de 170 refugiados muçulmanos que vivem ao ar livre, sob abrigos feitos de arbustos, sem água, alimentos, medicamentos, com o mínimo indispensável de roupa e higiene inexistente. A necessidade urgente de bens de primeira necessidade fá-la esquecer as suas pequenas dificuldades. A presença da religiosa faz com que os refugiados compreendam que Alá está com eles, e a esperança começa a renascer nos seus corações despedaçados. A sua confiança, o respeito, a preocupação e o amor que sentem por ela libertam-na do temor que tinha antes de os encontrar : pelas ruas, nos campos de refugiados, nos hospitais, nas famílias, nas igrejas. Em abril de 2017, aceitou outro desafio: começou a ensinar italiano aos refugiados. Surpresa: em poucos dias, a sua classe chega a ter 25-30 jovens que apreciam o seu método de ensino. A irmã Veera tornou-se também mediadora entre os migrantes e os líderes religiosos, médicos, advogados, polícia e autoridades escolares em Caltanissetta. Em tudo isto, tornou-se realidade o que o seu falecido irmão lhe previra : «Deixaste a tua família, mas encontrarás muitas casas e pessoas que te amam. Onde quer que vás, encontrarás a tua família, encontrarás irmãos e irmãs». A irmã Veera começou a sentir-se parte destas famílias migrantes e partilha a sua pobreza e as suas labutas.

«Sinto-me feliz - disse a irmã Veera - quando as famílias dos migrantes me consideram uma deles e partilham comigo as suas alegrias e tristezas. As crianças, filhos dos migrantes paquistaneses e africanos, os jovens, todos me chamam ‘mamã’».

Depois de cinco anos de serviço entre os refugiados na Sicília, a irmã Veera regressou ao Uganda, onde continua a sua missão.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-11/sisters-project-veera-bara-uisg-migrante-irmas-carita-ingenbohl.html

domingo, 13 de novembro de 2022

A luz de um congresso

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,

Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG

Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil


Congressos compõem a engenharia do conhecimento, a oportunidade da troca de experiências com possibilidades de inovações nos serviços e nas soluções que abrem caminhos. Podem ajudar, assim, instituições no cumprimento de sua missão. Por isso mesmo, a Igreja também promove congressos, de muitos modos, com variados alcances, a partir de suas muitas instituições, particularmente aquelas dos campos educativo e científico. Desde o dia 11 de novembro até o próximo dia 15, a Igreja Católica, no Brasil, sob o patrocínio mais direto da Arquidiocese de Olinda e Recife, Pernambuco, com envolvimentos significativos e de diferentes alcances, realiza o 18º Congresso Eucarístico Nacional. Uma tradição que remonta ao ano de 1933, quando aconteceu a primeira edição, em São Salvador da Bahia. O segundo Congresso, já em 1936, foi acolhido em Belo Horizonte, seguido de outras importantes edições, em diferentes regiões do Brasil. Cada encontro, configurado por densa programação espiritual, artística, cultural, precedido de longo tempo de preparação, oferece oportunidade para revisitar o centro e o ápice da vida cristã católica, explicitação de incontestável verdade da fé : a Igreja nasce e vive da Eucaristia. Verdade intocável, que reconhece a centralidade do sacrifício redentor de Cristo, Senhor e Salvador, alicerce da identidade e missão da Igreja. 

Assim, cada edição do Congresso Eucarístico é oportunidade de novos encontros que revitalizam e fecundam a missão da Igreja, a partir de sua tradição bimilenar. Ao revisitar suas fontes, a Igreja contribui para fazer emergir aquilo que é novo e inovador, particularmente, no tecido experiencial e espiritual dos participantes de cada Congresso, de suas comunidades de fé, revigorando a missão de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo. Fundamental é compreender, celebrar e vivenciar, sempre e cada vez mais, a Eucaristia - realidade salvífica da doação que Jesus faz de si mesmo, revelando o amor infinito de Deus por homens e mulheres, seus filhos e filhas. A entrega de Cristo na cruz, sua morte e ressureição, devem se desdobrar, com fortes incidências no compromisso de cada pessoa com a fraternidade. 

A Eucaristia - celebrada e professada - se alicerça no amor ininterrupto de Jesus, que constitui parâmetros para a vida do mundo, a organização da sociedade, a partir de gestos concretos de fraternidade universal, capazes de consolidar um mundo de mais justiça e paz. Contracena no Congresso Eucarístico Nacional o mesmo enlevo que deve ter se apoderado do coração dos discípulos nos primórdios da Igreja, há mais de dois mil anos : o compromisso com uma vida mais fraterna. Assim, o horizonte do Congresso Eucarístico Nacional no Recife está emoldurado pelo tema ‘Pão em todas as mesas’. A vivência do mistério da Eucaristia, com autenticidade, impulsiona na direção corajosa e profética de lutar para que haja pão em todas as mesas. Meta concreta e muito pertinente quando se considera o grave momento atual da sociedade brasileira, com milhões de pessoas submetidas à fome ou à insegurança alimentar. 

O enlevo eucarístico, indispensável e insubstituível, incomparável a qualquer outra experiência humana e espiritual, é caminho para efetivar verdadeiro e duradouro sentido de solidariedade, que conduz o mundo em direção ao amor fraterno. A Eucaristia, pois, na beleza do seu ritual, é a experiência de um encontro transformador, que renova o coração humano, ao alimentá-lo com a verdade. 

A Igreja testemunha que na Eucaristia está o seu centro vital, a partir também da realização de um Congresso Eucarístico, para anunciar a todos que Deus é amor. Cada dia, sempre e de novo, a Igreja se alimenta de Cristo, anunciando que o Mestre se fez alimento, de verdade, para todos, um dom de Deus. A fé da Igreja é essencialmente eucarística. E o mistério da Eucaristia tem inesgotável fecundidade, remetendo a um caminho experiencial que se desdobra em mudanças profundas, corajosas posturas, alicerçadas na generosidade e na solidariedade. Corajosas posturas pedidas pela sociedade, para que seja garantido pão em todas as mesas, desafio de instâncias governamentais que exige, ainda, corajosa lucidez das instituições. A falta de pão a muitas pessoas revela a fragilidade da atual organização social. Expõe a necessidade de uma lógica espiritual capaz de mudar cenários, de resgatar a dignidade de cada ser humano.  

Em um momento delicado da sociedade, o Congresso Eucarístico Nacional pode contribuir para a abertura de um novo ciclo nos entendimentos sociais e políticos, pela iluminação de motivações que ultrapassam as estreitezas de certas discussões, para fazer valer lógicas enraizadas na espiritualidade eucarística. ‘Pão em todas as mesas’, tema do 18º Congresso Eucarístico Nacional, convoca cristãos católicos a caminharem de mãos dadas com as pessoas de boa vontade. Todos se iluminarem pelo mistério inigualável do amor de Deus. Assim, podem ser superados estreitamentos preconceituosos e prejudiciais, para a construção de um novo modo de se viver na casa comum, alicerçado no amor. A convocação ‘pão em todas as mesas’ remeta a gestos fraternos e solidários, dando novo vigor missionário à Igreja, novo rumo à sociedade brasileira, pela força do amor de Deus.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticias/?id=1593416

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Dia Mundial dos Pobres: «Uma sadia provocação»

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Rita Valadas,

Presidente da Cáritas portuguessa


No horizonte do Dia Mundial dos Pobres, somos este ano provocados pelo Santo Padre a «refletir sobre o nosso estilo de vida e as inúmeras pobrezas da hora atual», somos naturalmente convocados a olhar o que fazemos. São tempos muito difíceis estes. A realidade do mundo, a nossa realidade social e a consciência do muito que está já a chegar, não nos sossega e não nos deixa distrair. Entre crises sucessivas, desastres naturais e sanitários, guerras, desinformação, riscos, angústia e fome, percebemos que temos de olhar a pobreza de uma forma ativa que envolva todos os recursos e conte com todas as pessoas, mesmo as mais vulneráveis. Todos temos trunfos que devem ser usados no apoio às vulnerabilidades e muitas vezes ousamos não os considerar.

Agir em rede é um imperativo e um desafio que a rede Cáritas tem tentado perseguir no âmbito local, diocesano, nacional e mundial. A pobreza ouve-se e vê-se se estamos próximos, mas numa crise distante também podemos fazer a diferença, se agirmos em rede. O olhar atento para o que se passa junto de nós (nas paróquias) e a atenção comprometida com os apelos de emergência para o que vai acontecendo no mundo.

Agir sobre as realidades sociais é uma missão tão complexa quanto maior é a complexidade dos problemas sociais que enfrentamos. Não há receitas prontas e a solução que é boa num território pode não o ser num território vizinho. Não há uma só pobreza, nem a pobreza é um fenómeno só do mundo do rendimento. A falta de saúde, o isolamento, as fragilidades do ensino e conhecimento, a pobreza digital e energética, todos os tipos de iliteracia configuram fragilidades que nos atiram para a pobreza.

Há um fenómeno de proteção que nos torna desatentos quando uma novidade se sobrepõe a outra. Uma crise faz normalmente esquecer a outra e isso não pode acontecer. Hoje, ainda temos de manter a proteção contra o contágio da pandemia, prevenir problemas e riscos na saúde e ir acompanhando os novos sinais. Este é o repto. Ouvir e cuidar, com a serenidade possível, os recursos que pudermos partilhar, manter a consciência do que se passa no mundo e não deixar de olhar para perto de nós.

«Não é o ativismo que salva, mas a atenção sincera e generosa que me permite aproximar dum pobre como de um irmão que me estende a mão para que acorde do torpor em que cai», diz o papa. A guerra da Ucrânia fez brotar uma enorme onda solidária e espero que, de forma organizada, possa ser um caminho e não um acontecimento. Temos uma solidariedade abundante que não podemos deixar que se torne em desperdício. Não podemos, como se usa dizer, deixar ninguém para trás. Temos de pôr a render competências e talentos, reconfigurar a nossa ação para podermos agir com propósito, resultados e harmonia e, ainda, reafirmar os afetos com uma nova proximidade e o adequado distanciamento.

Com o Dia Mundial dos Pobres inicia-se também a campanha 10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz. Uma iniciativa da Cáritas que, simbolicamente, se materializa na venda de uma pequena vela, mas que tem um significado muito maior do que isso. Mesmo gestos pequenos podem fazer a diferença. Francisco diz esperar que o Dia Mundial dos Pobres «seja uma sadia provocação». Vamos, então, fazê-lo juntos.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/835/dia-mundial-dos-pobres-uma-sadia-provocacao/