terça-feira, 1 de novembro de 2022

A 'nova cúria romana' na visão dos bispos brasileiros

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Mirticeli Medeiros,

jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras

credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé


A Praedicate Evangelium, a constituição de reforma da Cúria Romana, que entrou em vigor em junho deste ano, é, sem dúvida, um dos documentos mais importantes do pontificado do Papa Francisco. É o fruto material do conclave de 2013, quando os cardeais votaram no então cardeal Jorge Mario Bergoglio, então arcebispo de Buenos Aires, delegando-lhe a missão de mexer na estrutura governamental da Igreja.

E Francisco foi além. Ele não só redimensionou o organograma da Cúria Romana como continua lutando para que a Igreja Católica retome sua identidade sinodal e se torne uma instituição mais humana e acolhedora.

Muito embora o documento tenha sido publicado este ano, a verdade é que, em muitos aspectos, ele representou somente a formalização de uma transformação que Francisco já vinha realizando desde que assumiu o governo da Igreja Católica, há 9 anos.

O bispo de Cachoeiro do Itapemirim (ES), Dom Luíz Fernando Lisboa, que participa da sua segunda ad limina, disse à nossa equipe de reportagem que consegue identificar essa mudança.

‘O que mais me impressionou é que, dessa vez, se percebia que todos os dicastérios da Cúria Romana tinham a mesma linguagem. Deixaram claro que esses organismos estavam ali para servir o Papa e os bispos’.

O prelado, que por mais de 20 anos atuou na diocese de Pemba (Moçambique), primeiro como missionário passionista, depois como bispo, chegou a ser ameaçado de morte pelo governo do país africano após denunciar a guerra em Cabo Delgado, que por muito tempo vinha sendo abafado pelas autoridades locais. A Igreja, segundo ele, era a única instituição que se manifestava sobre a situação.

Agora, atuando no Brasil, Dom Luíz Fernando recorda o quanto que Francisco sempre está a par dos desafios vividos pelas igrejas locais. Ele recordou as palavras do pontífice no discurso dirigido ao grupo de bispos brasileiros no último dia 20 de outubro :

‘Sejam pastores. Nunca negociem o Evangelho. Sejam firmes, falem aquilo que tem que ser falado a partir do Evangelho. E não tenham medo’, reforçou o pontífice.

O bispo de Divinópolis (MG), Dom José Carlos, explicou o que seria, na visão dele, esse impulso sinodal que Francisco tem proposto não só para a Cúria Romana, mas para toda a Igreja.

‘Significa uma mudança de mentalidade. Precisamos pensar diferente sobre nós mesmos, ter um olhar diferente sobre nosso ofício, sobre nosso ministério. E aquilo que o Papa quer, agora, para toda a Igreja (que é a sinodalidade), não é algo de agora. Infelizmente isso se perdeu e o Papa está reforçando isso, retornando algo antigo que foi esquecido’, ressaltou.

O bispo também vê essa reforma, cuja constituição é restrita à Cúria Romana, como modelo que pode ser aplicado em outras realidades.

‘É certo que se o poder central vive isso de modo exemplar, será mais fácil até usar esse poder central como estímulo para que na base aplique-se o mesmo’, explanou.

Os bispos dos regionais Leste II e II concluíram, esta semana, a visita ad limina apostolorum, um evento que ocorre a cada 5 anos, por meio do qual os bispos do mundo todo, em espírito de peregrinação, têm a oportunidade de visitar o túmulo dos apóstolos, os vários dicastérios da Cúria Romana e participar de uma audiência privada com o Papa. É uma oportunidade única para que os membros do colégio episcopal tenham um contato mais direto com o governo central da Igreja Católica. Eles foram o penúltimo grupo da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) a visitar o Papa Francisco este ano.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticias/?id=1592077

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