sábado, 31 de dezembro de 2022

Morre Bento 16, papa da terra da Reforma

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da DW (Deutsche Welle)


‘O papa emérito Bento 16 morreu neste sábado (31/12) aos 95 anos, anunciou o Vaticano. Ele faleceu em sua casa no Vaticano.

Primeiro papa alemão em quase 500 anos

Ele foi o grande papa teólogo. O que quer que fizesse ou dissesse, sempre tinha em mente a tradição e os ensinamentos da Igreja ao longo dos séculos. No entanto, suas realizações teológicas não o protegeram da visão cada vez mais crítica à medida que envelhecia. Porque na desastrosa história de abusos na Igreja Católica na Alemanha, um capítulo também se aplica a Joseph Ratzinger, arcebispo de Munique (1977-1982), que mais tarde se tornou papa. Um parecer de especialista, elaborado ao longo de muitos anos, considerou-o culpado de má conduta em quatro casos. Má conduta que presumivelmente permitiu que perpetradores individuais continuassem agindo.

Bento 16 foi o primeiro papa alemão depois de quase 500 anos, e escreveu história na Igreja com sua renúncia, em 28 de fevereiro 2013. Como líder católico, empenhou-se pelo diálogo entre razão e fé, pelo significado da religião na era moderna.

Um papa da Alemanha, 60 anos após a Segunda Guerra Mundial e o assassinato dos judeus pelo regime nazista, além disso um papa da terra de Martinho Lutero, o país da cisão da Igreja, com a Reforma Luterana. No entanto, seu pontificado de quase oito anos foi também marcado por escândalos e crises eclesiásticas.

Do interior da Baviera a Roma

‘Os senhores cardeais me elegeram. Um simples e modesto trabalhador no vinhedo do senhor’ : com essas palavras, em 19 de abril de 2005 o cardeal Joseph Ratzinger apareceu à varanda da Basílica de São Pedro, em Roma, e imediatamente angariou simpatias. Após apenas dois dias de conclave, vira-se subir fumaça branca da Capela Sistina : o religioso de 78 anos era o novo líder da Igreja Católica Apostólica Romana.

Com Bento 16, o mundo vivenciou um papa conservador e presente, que ocasionalmente surpreendia a todos. Pois ele foi capaz de combinar sua origem profundamente beata com a erudição de um acadêmico, e não deu simplesmente continuidade à linha rigorosa do cardeal da Cúria Romana Joseph Ratzinger.

Mas, no clima geral de crise na Igreja Católica, o papa engajado pelo trabalho pastoral deve ter também sofrido pessoalmente. No fim das contas, o pontificado de João Paulo 2º (1978-2005) só se encerrou com a posse de Bento 16. Como papa da transição, em 2013 ele acabou por possibilitar a eleição de um pastor próximo aos fiéis e reformador conservador : o argentino Francisco.

A escolha como papa representou para Ratzinger a coroação de sua vida, que teve início em 16 de abril de 1927 no lugarejo Marktl am Inn, no interior da Baviera. Seu pai era gendarme, a família, profundamente devota. Em 1941, ele foi convocado para a Juventude Hitlerista, como era obrigatório para todos os adolescentes do sexo masculino à época. Em 1943, serviu como ajudante numa bateria antiaérea. No fim de 1944, aos 17 anos de idade, Joseph foi recrutado como soldado pela Wehrmacht, as Forças Armadas nazistas. Pouco depois de terminada a guerra, ele e o irmão Georg, três anos mais velho, estudaram teologia. Ambos foram ordenados padres, a única irmã permaneceu solteira.

No fim dos anos 1950, Ratzinger conquistou rapidamente reconhecimento como professor de teologia. Integrando a equipe do arcebispo de Colônia, cardeal Joseph Frings, participou em 1963 do Segundo Concílio Vaticano, voltado a aplainar o caminho para a renovação da doutrina e da vida na Igreja Católica.

No entanto, os protestos estudantis de 1968 mudaram o professor da Baviera. Se antes ele também perseguira novas ideias, agora retornava à bem conhecida tradição. Em 1977, tornou-se arcebispo de Munique-Freising e logo viraria cardeal.

Pouco mais de quatro anos mais tarde, o papa João Paulo 2º o trouxe para Roma. Como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, agora Ratzinger era o mais alto guardião da fé em sua Igreja. Em questões de magistério, reformas, o papel da mulher ou o ecumenismo, defendeu um curso inflexível. Alguns o chamavam Panzerkardinal (‘cardeal tanque de guerra’).

Conservadorismo e algumas surpresas

A eleição de Ratzinger como papa, em 2005, gerou júbilo e orgulho entre os católicos da Alemanha. ‘Somos papa’, foi a manchete do tabloide de maior circulação no país. Contudo também havia ressalvas e temores : contando 78 anos, o 265º papa da história era idoso demais, dizia-se, devido a sua índole conservadora, seria incapaz de reformas.

Do ponto de vista político, seus menos de oito anos de pontificado foram uma época de transição, mas ele também foi além nesse papel, impondo acentos próprios. E nomeou mais da metade dos cardeais que, em maio de 2013, escolheriam o cardeal Jorge Mario Bergoglio como seu sucessor.

Bento 16 frisava repetidamente o papel de liderança de sua Igreja Católica, e sua pretensão de ser a única Igreja verdadeira. Os protestantes se irritavam de ser tachados de Igreja de segunda classe. Não houve nenhum passo importante no sentido de uma abertura ecumênica.

Numerosos críticos atacaram sua aproximação aos tradicionalistas da Fraternidade Sacerdotal São Pio 10º, sua paciência com esses ‘franco-atiradores’ na ala extrema de Igreja. Por medo de uma cisão permanente, ele se empenhou em reintegrar os tradicionalistas, sem sucesso.

Ao mesmo tempo, concedeu uma segunda casa espiritual para os anglicanos, cuja Igreja considerara terem ido longe demais com reformas como a ordenação de mulheres para o sacerdócio. Além disso, Bento 16 cultivava contatos abertos com os ortodoxos.

Sombras sobre um pontificado breve

Porém sua relação com outras religiões não foi livre de tensões. Permanece na memória a indignação do mundo árabe após seu discurso em Regensburg, em 2006, que incluiu uma inegável citação do profeta Maomé. Entretanto, na sequência, o diálogo islâmico-cristão entre os especialistas ganhou uma qualidade até então inédita.

O escândalo de décadas de abuso sexual em massa acobertado de menores de idade por sacerdotes foi uma sombra sobre o papado de Bento 16. Em diversos países, como Irlanda, Estados Unidos, Austrália e Bélgica, a partir de 2010 também na Alemanha, vieram a público cada vez mais casos de violência sexual na Igreja.

Críticos condenaram a instituição católica por não reagir com a rapidez necessária, simplesmente transferindo de paróquia os agressores, tentando acobertar seus crimes, e lhe atestaram falta de vontade para abrir processos civis.

Bento 16 se empenhou por uma reavaliação e reparação, procurou o contato com as vítimas, encontrando-as durante suas viagens, sempre a portas fechadas. Era palpável seu abalo com as revelações, ele qualificou os episódios, no geral, como ‘flagelo’ e ‘um grande sofrimento’.

Em consequência, endureceu as diretrizes para formação de padres. Sob seu sucessor, ficaria ainda mais patente a dimensão do abuso na Igreja, em diversos locais do mundo. Somente em 2019 o papa Francisco convocaria uma cúpula de crise global no Vaticano.

Em 2012 o assim chamado ‘escândalo dos Vati-Leaks’ fez tremer mais ainda as bases da central do poder no Vaticano. Documentos e comunicações internas relacionados ao padre vazaram para a esfera pública, o camareiro papal Paolo Gabriele revelou-se um traidor. Após breve pena de prisão, porém, foi perdoado por Bento 16.

Contudo, observadores de longa data do papa perceberam quão duramente a traição partindo de seus círculos mais próximos o atingira. Sua decisão de renunciar ao pontificado comoveu e abalou muitos católicos; para além dos meios eclesiásticos, ela causou espanto em todo o mundo.

Sem dúvida, nos últimos meses de mandato era visível o esforço físico do ancião de 85 anos. Afinal de contas, sua renúncia foi um tributo à responsabilidade do cargo, mas também à própria dignidade pessoal. A decisão foi corajosa e um atestado de consciência de si próprio, porém causou estranhamento entre muitos fiéis que tinham durante os olhos a eterna imagem do pontífice que serve até a morte.

Parte da congregação mundial não compreendeu que, desse modo, o papa do país da Reforma humanizava e reformava o cargo supremo da Igreja Católica. O aparato vaticano encenou sua retirada em imagens portentosas : ao fim de seu último dia de trabalho, Bento 16 partiu num helicóptero branco da Santa Sé para a residência papal Castelgandolfo.

Parecia um espetacular ‘até nunca mais’. Dois meses mais tarde, contudo, Bento 16 retornou a Roma para ocupar um alojamento num pequeno mosteiro nos Jardins Vaticanos. Em 2014, participou de diversos grandes cultos na Basílica ou na Praça de São Pedro, ocasionalmente visitou seu sucessor.

Algumas de suas declarações causaram sensação : uma entrevista aqui, um discurso ali. Entre 2018 e 2020, a publicação de textos atuais seus causaram celeuma e fricções. Ele interferiu decididamente em debates eclesiásticos atuais, relacionando, por exemplo, o escândalo de violência sexualizada na Igreja a um ‘relaxamento da moral’ na sequência do movimento cultural de 1968.

Oficialmente, ele era papa emérito e um simples sacerdote. Porém não deixou de trajar batina branca, a cor papal. Os mais próximos se dirigiam a ele como ‘Santo Padre’. Ao lado de Francisco, portanto, Joseph Ratzinger foi um ‘papa aposentado’ : para os teóricos da fé, um grande tema; para a Igreja, uma questão com potencial explosivo.

Algumas das últimas imagens de vídeo divulgadas do religioso bávaro mostram um homem aquebrantado pela idade : caminhar se tornara algo penoso, ele tinha que se apoiar num andador; os olhos e a voz pareciam muito fracos.

Ele só voltou uma vez à Alemanha : em 2020, aos 93 anos, visitou Regensburg com uma comitiva surpreendentemente pequena para se despedir do irmão Georg no leito de morte, e para rezar à sepultura de seus pais. Embora de cadeira de rodas, os olhos Bento 16 brilhavam na velha terra natal.

Acusação de ter mentido

Poucos meses antes de seu 95º aniversário, um relatório de juristas sobre como a Arquidiocese de Munique-Freising lidou com casos de abuso sexual causou sensação em todo o mundo. E o tão citado esplendor da figura de Ratzinger continuou se apagando. Há muito se especulou que durante os anos de Joseph Ratzinger em Munique a arquidiocese havia acolhido um padre da diocese de Essen que havia molestado crianças. Na arquidiocese de Ratzinger, o padre desempenhou trabalho paroquial - e novamente crianças se tornaram suas vítimas. E o relatório viu mais três casos de ‘má conduta’ do então cardeal.

Ratzinger se defendeu de forma abrangente contra as acusações. Mas os especialistas questionaram um ponto-chave de seu relato. Quando Ratzinger então se corrigiu quatro dias depois e teve que admitir que havia estado presente em uma importante reunião sobre como lidar com um padre perpetrador, os críticos o confrontaram com a acusação de ‘mentir’.

Os especialistas enfatizaram criticamente que Ratzinger só confirmou o que podia ser provado. E muitos que leram os comentários de Ratzinger ficaram irritados com sua visão fria da má conduta sacerdotal contra menores, que estava desatualizada mesmo quando o crime foi cometido, por volta de 1980. Tudo isso se encaixa na imagem de uma Igreja que estava encontrando cada vez mais dificuldade para enfrentar a escala de crimes clericais.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticias/?id=1597467

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Coragem!

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Geovane Saraiva,

jornalista, colunista e pároco

de Santo Afonso de Fortaleza, CE


Coragem, pois o convite que Deus nos faz neste tempo que precede o Natal é o de ‘participar da divindade daquele que uniu a Deus nossa humanidade, manifestando-se como luz a iluminar todos os povos no caminho da salvação’, na inefável troca de dons entre o Céu e a Terra. Veja-se, pois, envolvido com a vida, num exuberante e alegre contentamento, na clareza de consciência de si mesmo, não sobrando espaço algum para duvidar do único clamor, o da vida, o de se convencer de mais vida e vida intensamente bem vivida! Como é maravilhoso, quando as pessoas querem mais encanto com a vida, mais amor, mais dignidade e mais sabedoria, numa determinação de rejeitar a vida inútil, insípida e sem sentido!

Tenha mais gosto e entusiasmo, vendo a vida com sentido, a partir de um Deus indulgente e clemente, que seja o mais aguçado possível, mas a partir da realidade do Brasil e do mundo, mesmo diante das provações, dores, sofrimentos e angústias desafiadoras, antevendo, no mundo compreendido por contrastes e diversidades, uma nova civilização, no mais alargado e expandido sonho, na busca de uma vida fecunda e cheia de graça. A vida, além de carecer de ânimo e coragem, quer que respondamos aos apelos de Deus, não se apegando aos bens ilusórios e passageiros do mundo, nem parado de braços cruzados e acomodados.

De maneira segura e inequívoca, somos convidados a olhar, pela ótica de Deus, uma consistente esperança e um espírito de perseverança, inspirados pelo sonho de um mundo novo, no compromisso de promover uma realidade melhor e mais durável, sem fome, mais digna e menos egoísta, livrando-nos do pecado da indiferença para com a vida, dom e graça. Cabe a nós contemplarmos, associados ao mistério dos anjos, que povoaram os céus naquela noite feliz e memorável, na linguagem por demais conhecida : ‘Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade’. Ele aponta para nós o caminho da salvação; que seja de todos o esforço pela proposta solidária e fraterna, fundamentada na prática da justiça, firmada na paz duradoura.

A chegada de Jesus de Nazaré ao mundo nos afasta do desânimo e estabelece e robustece passos do nosso caminhar, por chão sólido e seguro. Manifesta-se, assim, a clara consciência de que o Messias esperado leva a história à sua consumação. Em Jesus o tempo histórico chegou ao ápice, razão da nossa mais elevada contemplação, acolhendo-o, mas na certeza de que nele se encontra o destino definitivo da humanidade; nele está a consolidação da eternidade dos povos, na participação da promessa salvífica : ‘Do novo céu e da nova terra, nos quais habitará a justiça’.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticias/?id=1597197

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Emergência: mais de 149 milhões de crianças sofrem pelas guerras

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Crianças afegãs refugiadas  (AFP or licensors)

*Artigo da Vatican News


Segundo a informação da Save the Children, em 2022 mais de 149 milhões de crianças em todo o mundo precisaram de assistência humanitária por causa da guerras e das crises climáticas e econômicas, 26 milhões a mais do que no ano passado. De uma análise realizada pela Organização sobre as sete principais emergências que afetaram crianças durante 2022, o Afeganistão e a República Democrática do Congo (RDC) encabeçaram a lista dos países com o maior número de crianças necessitadas de ajuda.

Sete emergências no mundo

Este aumento de 26 milhões é a consequência de um ano complexo no qual a tempestade perfeita criada por novos e prolongados conflitos, a crise climática, a fome e a crise econômica causaram sofrimento a milhões de crianças em todo o mundo. De acordo com a análise da Save the Children, o Afeganistão que está no topo da lista tem a previsão de 14 milhões de crianças necessitadas até o final de 2022. É seguido de perto pela República Democrática do Congo, onde a estimativa é de 13,9 milhões. Apesar de ser o país com o maior número de pessoas necessitadas em 2022, a resposta humanitária da RDC recebeu menos da metade do financiamento estipulado pelas Nações Unidas. Países como Etiópia, Iêmen e Paquistão também estão na lista das sete emergências da Save the Children nos quais há o maior número de crianças que necessitam de serviços essenciais, como alimentação, água potável, abrigo e apoio psicossocial e de saúde mental.

Violência e impunidade

Atualmente o número de conflitos no mundo inteiro é o maior desde o final da Segunda Guerra Mundial e todos têm um impacto devastador na vida das crianças. Durante uma guerra, as crianças ficam muito mais propensos a morrer por causa de ferimentos causados por explosão do que os adultos. As crianças que vivem em áreas de conflito em países como Etiópia, Afeganistão, República Democrática do Congo e Iêmen também estão expostas às contínuas violações dos direitos humanos. Em muitas áreas, continua havendo uma falta de controle real sobre as violações contra crianças, resultando em impunidade frequente para os perpetradores.

Crise climática

A crise climática também levou a catástrofes naturais mais frequentes e mais graves. Este ano, os desastres relacionados ao clima tiveram um impacto devastador sobre as crianças, desde inundações extremas no Paquistão até secas que levaram à grave escassez de alimentos em países como Etiópia, Somália e regiões vizinhas, e, como a organização aponta, pela primeira vez em décadas, os desastres relacionados ao clima contribuíram para aumentar a fome e a desnutrição entre as crianças em todo o mundo.

Falta financiamento

Para agravar a situação estão as dificuldades enfrentadas pelas Organizações humanitárias em todo o mundo para chegar aos que necessitam de ajuda. Falta financiamento, o acesso às áreas afetadas é dificultado pelo contexto restritivo e pelas limitações impostas pelas normas antiterroristas e pelas sanções. Save the Children pede aos governos ação imediata e que intensifiquem a diplomacia para acabar com estas crises, facilitando ao mesmo tempo a assistência humanitária para os que mais precisam.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2022-12/save-the-children-emergencia-2022-criancas-guerra.html


segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Direção espiritual: 6 pontos a ter em mente

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Marzena Devoud


‘Preciso de direção espiritual, para poder pedir conselhos para avançar em minha vida como batizada’, disse Christine a Aleteia. A médica de Cannes, 44 anos, conheceu seu diretor espiritual, um padre jesuíta, há vinte anos. Para a estudante que se convertera e fora batizada dois anos antes, era ‘algo necessário e natural ao mesmo tempo’. ‘Ele era como um guia para mim. Eu não tinha ninguém em minha família para responder minhas dúvidas. Consegui avançar graças à sua ajuda. Ele me ouviu e se preocupou, me apoiou e também soube apontar as coisas que não estavam certas’, explica ela.

Apoio na busca de Deus

Chamada de ‘direção espiritual’ com sua longa tradição na Igreja desde os Padres do Deserto no século IV, a orientação espiritual continua sendo indispensável para muitos cristãos que buscam apoio em sua busca por Deus. Na verdade, ‘mais do que nunca’, adverte o Papa Francisco, que fala disso em sua encíclica Evangeli Gaudium. Diante da falta de pontos de referência de todos os tipos, a demanda por este tipo de acompanhamento está crescendo o tempo todo. A aspiração de ‘viver melhor’ está ecoando em todos os lugares…

Entretanto, a arte do acompanhamento espiritual e do discernimento requer habilidades e regras muito precisas : a experiência, a forma de proceder, a escuta, a prudência e a capacidade de compreensão… Para cultivá-las, é preciso estar bem ciente de todos os pontos de atenção, vigilância ou alerta. O que são eles? Que abordagem deve ser adotada para apoiar alguém espiritualmente? Aqui estão algumas chaves para um acompanhamento espiritual bem-sucedido que os Padres do Deserto, Santo Inácio de Loyola e Santa Teresa d’Ávila consideravam essenciais.

1 – Não cair na confusão entre psicologia e direção espiritual

Os psicólogos não tomaram hoje o lugar dos diretores espirituais? Não, pois a ajuda psicológica não se opõe à ajuda espiritual. O perigo é o de substituir um pelo outro. A pessoa que recorre ao apoio psicológico quer entender o que está acontecendo com ela para melhorar, enquanto que o acompanhamento espiritual é uma busca para poder colocar Deus no coração de sua vida.

O cuidado espiritual não é um processo de duas pessoas, mas um processo de três pessoas, com a presença do Espírito Santo.

‘Há uma distinção essencial entre os dois : o acompanhamento espiritual não é feito ‘a dois’, mas ‘a três’, com a presença do Espírito Santo’. É em seu nome que o acompanhante dirá as coisas e a pessoa que está sendo acompanhada ouvirá. ‘Isto muda tudo’, diz Micheline Claudon, psicoterapeuta que dirige cursos de treinamento para conselheiros espirituais da Anima Mea, à Aleteia.

‘Os sacerdotes e psicólogos têm cada um seu lugar, seu papel e seu campo de competência. Eles não devem tentar fazer o que o outro faz, mesmo que, por mais paradoxal que pareça, a psicologia e a espiritualidade se entendam e falem uma com a outra. Isto é o que diz o Padre Laurent Lemoine, dominicano e psicanalista, autor de ‘What’s New Doctor? La psychanalyse au fil du religieux (Salvator).

Mas como podemos evitar esta confusão? ‘Lutando contra uma certa desconfiança entre os clérigos com relação ao conhecimento do que é o apoio psicológico’. Não é uma questão de escolher um ou outro. Os dois são compatíveis, mesmo que às vezes seja necessário saber como priorizar um ou outro’, explica Micheline Claudon.

2 – Saber sobre as expectativas da outra pessoa

‘Assim que há um encontro no contexto do acompanhamento espiritual, há uma expectativa por parte da pessoa que está sendo acompanhada. Isso será decisivo para a natureza deste encontro. Encontrei na Lettre à un père spirituel um texto sobre o acompanhamento espiritual escrito pelo padre jesuíta Jean Gouvernaire, uma frase de imensa exatidão : ‘Não se aproxima das profundezas de uma pessoa com impunidade’.

Isto significa que um nunca sai incólume do encontro com o outro. Nunca se é neutro por definição. Por que isto é assim? Porque há transferências, um termo que vem da psicanálise. Isso significa que atitudes e contra-atitudes estão envolvidas em todas as nossas relações humanas e serão a força motriz por trás de nossas ações’, diz Micheline Claudon. Estar consciente de que a neutralidade em um encontro ‘acompanhado’ não existe é um ponto muito importante de vigilância.

3 – Assegurar a estrutura do encontro

Outro ponto-chave de atenção é garantir a estrutura do encontro. O diretor espiritual (hoje chamado ‘pai espiritual’ ou ‘conselheiro espiritual’) está, desde o início, em uma posição assimétrica. Estar ciente disso nos permite ter cuidado para não usá-lo de forma inadequada.

Por exemplo, a partir do momento em que o diretor espiritual sabe que a pessoa acompanhada espera algo dele ou dela que a coloque em uma posição inadequada, isto pode levar a uma deriva em direção a um abuso da posição de poder. Padre Laurent Lemoine, capelão do Hospital Sainte-Anne em Paris e psicanalista, recusa-se a aceitar como psicanalista alguém que ele conheceu na capelania. ‘Há um risco, não apenas de confusão, mas de onipotência. Ao se colocar em todos os lugares, você pode confundir a outra pessoa’, disse ele à Aleteia.

4 – Estabelecer limites para si mesmo e para o outro

É essencial que o conselheiro espiritual faça a si mesmo estas duas perguntas : que limites devem ser estabelecidos para si mesmo e para o outro? Que lugar deves ocupar no espaço relacional da pessoa que está acompanhando? ‘Imagine alguém que diz ao seu conselheiro : ‘Ah, ainda bem que eu posso vê-lo, Padre. Você vai ser o meu único contato pessoal da semana!’ ‘É evidente que esta reunião exigirá uma vigilância especial por parte do conselheiro. Independentemente de seu próprio valor e do que aconteça, é claro que a expectativa da pessoa acompanhada será grande’, analisa Micheline Claudon.

5- Evitar o deslize da posição de ‘salvador’

É sempre importante garantir que a pessoa apoiada não se concentre em um único encontro ou em uma única pessoa. ‘Neste tipo de situação, um terapeuta perguntará facilmente à pessoa que está sendo aconselhada sobre seus amigos e suas atividades fora do trabalho. O objetivo? Para evitar focalizar exclusivamente o encontro entre o terapeuta e o paciente, pois há um risco real de escorregar mantendo a posição de ‘salvador’. O mesmo deslize é possível na orientação espiritual.

Para evitar o deslize da posição de ‘salvador’, é essencial seguir um treinamento apropriado.

‘Para evitar isto, nunca é demais repeti-lo, é essencial seguir um treinamento apropriado. Um certo desconforto pode ser um sinal para não ficar isolado, mas ir falar com uma pessoa competente e confiável’, sublinha o psicoterapeuta.

Se o conselheiro se encontra repetidamente na posição de ‘salvador’, ela continua, ele deveria fazer a si mesmo esta pergunta : O que me leva a me encontrar na posição de ‘salvador’ tantas vezes? O que isso significa para mim? Este trabalho requer supervisão para ser capaz de analisá-lo adequadamente. Isso permitirá uma melhor compreensão do próprio funcionamento, mas também da forma como isso terá impacto na relação com a pessoa que está sendo apoiada.

6 – Saber como detectar uma emergência psiquiátrica

Se o conselheiro espiritual for treinado, ele será capaz de detectar uma emergência psicológica ou mesmo psiquiátrica na pessoa que está sendo acompanhada. Se não tiver treinamento, ele pode confundir os sintomas da depressão melancólica (que é a mais grave das depressões) com uma dificuldade ligada ao relacionamento com Deus. Neste caso, não é um problema espiritual, mas uma complicação psiquiátrica grave que pode levar ao suicídio. Se o conselheiro for bem treinado, ele ou ela terá algumas chaves para identificar se o caso exige acompanhamento psiquiátrico imediato.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2022/12/22/direcao-espiritual-6-pontos-a-ter-em-mente/

sábado, 24 de dezembro de 2022

Natal: a salvação se faz presente

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Fabrício Veliq,

teólogo protestante


Neste próximo final de semana, grande parte do Ocidente celebra o Natal. Possivelmente, este será mais um texto refletindo sobre a data, dentre tantos outros que também farão o mesmo. Afinal, as datas comemorativas, e principalmente o Natal, nos fazem pensar sobre o cotidiano e refletir sobre elas.

Falar do Natal, por sua vez, implica a lembrança da narrativa do nascimento de Jesus, ainda que qualquer pessoa que estude a Bíblia e a história de uma maneira mais aprofundada saiba que Jesus não nasceu no mês de dezembro. Mas, mais importante do que a data exata (algo que nunca sabermos), é a mensagem trazida pelos evangelistas que colocaram tal narrativa em seus escritos.

Em Mateus, vemos uma narrativa que foca em Jesus como sendo o cumprimento das promessas de Deus a Israel. Alguns elementos podem nos dar esses indícios, tais como o fato de ter iniciado seu texto com uma genealogia de Jesus, mostrando-o como aquele que descendia da linhagem de Davi e, portanto, o Messias esperado pelo povo; ou a presença dos magos que vieram do Oriente e entregaram seus presentes ao bebê nascido, simbolizando a promessa de que todos os povos se prostariam diante de Javé; ou ainda, ao fazer o contraponto entre Jesus, o novo Moisés, e o antigo, ao relatar que assim como o primeiro Moisés havia sido ameaçado de morte pelo rei quando era uma criança, tendo sido criado no Egito, lugar do qual sairá depois, libertando o povo de Israel, também Jesus precisa ir para o Egito fugindo de Herodes, para depois retornar para sua terra, trazendo a salvação ao povo. O paralelo entre Moisés e Jesus se mostra uma importante chave de leitura para compreensão do Evangelho de Mateus, algo que, aparentemente, o autor deixa claro desde a narrativa do nascimento.

Em Lucas, por sua vez, vemos uma narrativa diferente. Não se fala de sua genealogia, nem cita os magos que vieram do Oriente para entrega de presentes. Nada disso parece ser importante para o propósito lucano. Seu foco está tanto em falar do nascimento de João Batista, colocando este como precursor do Messias, como o Elias que haveria de ‘preparar ao Senhor um povo bem disposto’, conforme Lucas 1,17, como apresentar Jesus como aquele que é concebido pelo Espírito e, consequentemente, como mostrado em Atos, aquele que dispensa o Espírito para a formação da comunidade dos que creem. A revelação do nascimento, por sua vez, não se deu nos palácios. Lucas nem relata que Herodes ficou sabendo disso, mas tal anúncio é feito aos pastores que estavam no campo, que seguem a caminho de Belém, encontram o menino e voltam glorificando a Deus.

Lucas também faz questão de falar da circuncisão de Jesus, bem como do cumprimento da lei por parte dos pais, e ainda das personagens de Simeão e Ana, que dão testemunho a respeito da salvação que chega por meio desse menino que nasce.

Mesmo que os relatos sejam diferentes, uma vez que, claramente, foram escritos para comunidades diferentes, com questões e problemas diferentes, a tônica da salvação por meio desse menino que nasceu é comum. Seja apresentando Jesus como o novo Moisés, seja falando de Jesus como aquele concebido pelo Espírito de Deus, ambos querem mostrar que Deus não se esqueceu de sua promessa feita ao seu povo, mas em seu tempo, promoveu a salvação, que foi reconhecida somente por aquelas pessoas que estavam atentas aos sinais dos tempos, tais como os magos, os pastores, Simeão e a profetisa Ana. Em outras palavras, a salvação é anunciada aos estrangeiros, aos humildes, às mulheres, e reconhecida por meio do Espírito de Deus.

Mesmo com as diferenças narrativas, a mensagem permanece do Natal permanece : Deus não se esqueceu da sua criação, e por meio do seu Espírito nos faz perceber que sua salvação se faz presente por meio de Jesus.

Feliz Natal.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticias/?id=1596702

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Na Síria, o testemunho do padre Jallouf: "guerra e sofrimento, mas Deus nunca nos traiu"

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Padre Jallouf com o Papa Francisco   (Vatican Media)

*Artigo de Paolo Ondarza


‘É uma testemunha silenciosa do Evangelho dos cristãos das três aldeias de Knaye, Yocoubieh e Gidaideh, no Vale Orontes, a 43 quilômetros de Antioquia, na região de Idlib, nas mãos dos jihadistas de Hayat Tahrir al-Sham. Há 12 anos havia 10.000, hoje existem apenas 600, pouco mais de 200 famílias. Ali o padre Hanna Jallouf continua sendo o único religioso, juntamente com um coirmão, a levar conforto espiritual, material e médico. ‘Todos eles fugiram’, diz aos microfones de Rádio Vaticano - Vatican News. ‘Há doze anos estamos em guerra, sob o domínio dos jihadistas, longe do governo, não temos recursos econômicos ou forças para nos proteger’.

O sequestro em 2014 

Os olhos do padre Jallouf revelam o sofrimento do povo sírio, traem os medos de um destino sombrio, mas também irradiam a luz de uma certa esperança, fundada em Cristo. ‘O Senhor sempre esteve conosco, Ele nunca nos traiu. Nem mesmo quando fui sequestrado’, diz ele, lembrando o sequestro por milicianos em 2014. ‘Eles queriam me forçar a me converter, mas o Senhor me deu a força e a coragem para testemunhar a fé cristã’.

Viver a fé com as restrições

Sem dinheiro, sem defesa, os cristãos destas terras vivem a vida diária altamente condicionada. ‘Nosso testemunho é a vida, as pessoas com quem vivemos sabem que somos reais, sinceros e de bom comportamento’. Nós conduzimos o barco para frente, mas há muitas dificuldades’. Por exemplo, explica o frade, ‘somos forçados a viver e dar testemunho de nossa fé somente dentro das igrejas’. Lá fora, todos os nossos símbolos religiosos foram cancelados, não podemos tocar os sinos, não podemos usar o hábito franciscano, as mulheres têm que se cobrir. O contexto é muito difícil’.

Mas apesar destas restrições’, continua padre Jallouf com um sorriso, ‘nossa fé cresce’. Quanto mais eles apertam, mais nós nos expandimos. Também no Natal poderemos realizar nossas celebrações eucarísticas, novenas ou montar o presépio dentro da igreja, mas fora ou dentro das casas é proibido até mesmo ter uma ‘árvore de Natal’.

Natal

A esperança dos franciscanos é que em breve chegue um dia de paz para viver o Natal em plenitude. Para fortalecê-lo neste sentimento veio como um presente inesperado o encontro nos últimos dias com o Papa Francisco por ocasião da entrega do reconhecimento ‘Flor da Gratidão’ promovido pelo Dicastério para o Serviço da Caridade, símbolo do amor que sustenta o mundo e homenagem a Madre Teresa de Calcutá.  ‘Este reconhecimento é uma alegria depois de tanto sofrimento para meu povo e minha gente. Receber a flor representada para mim e para nosso povo é um vislumbre de esperança e alegria. Quando o cardeal Mario Zenari, nosso núncio, me chamou, ele disse : ‘O Santo Padre quer premiá-lo. Eu respondi : ‘Não sou digno’. ‘Venha e veja’, ele me disse. Então pensei : vamos fazer como São Paulo fez quando entrou em Damasco e lhe disseram : ‘Entre e ali você saberá o que tem que fazer’. Foram necessários três dias e três noites só para chegar a Aleppo’.

O incentivo do Papa

O franciscano também teve a oportunidade de falar pessoalmente com o Papa : ‘Ele expressou sua proximidade para com nosso povo junto com o desejo de que esta guerra termine e em breve se consiga a paz, verdadeira e segura, a justiça e o alívio para nosso povo’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-12/siria-testemunho-padre-jallouf-guerra-sofrimento.html


terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Parlamento Europeu reconhece Holodomor como genocídio

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo da Vatican News


Holodomor é o nome dado à fome que foi provocada no território da Ucrânia de 1932 a 1933 pela antiga URSS (União das Repúblicas Soviéticas Socialistas), que causou várias milhões de mortes. O termo deriva da expressão ucraniana moryty holodom, combinando as palavras ucranianas holod (fome, carestia) e moryty, (matar de fome, esgotar), e a combinação das duas palavras visa destacar a intenção de provocar a morte pela fome.


O Parlamento Europeu reconheceu nesta quinta-feira, 15, como genocídio o Holodomor, a fome na Ucrânia causada pela União Soviética há 90 anos, que resultou na morte de vários milhões de pessoas.

‘Felicito o Parlamento Europeu pelo reconhecimento do Holodomor como um genocídio do povo ucraniano’, escreveu o presidente ucraniano Volodymyr Zelesnky no Twitter após o anúncio da decisão da União Europeia. ‘Estou grato à presidente Roberta Metsola’, escreveu ele no tweet, ‘aos eurodeputados e a toda a Europa unida por esta importante e justa decisão’, ‘espero um ulterior reconhecimento do Holodomor como um genocídio por parte de todos os países civilizados do mundo’.

Num texto votado quase por unanimidade (507 votos a favor, 12 votos contra e 17 abstenções), os eurodeputados reunidos em Estrasburgo consideram que o Holodomor (extermínio pela fome, em ucraniano) foi cometido ‘pelo regime soviético com a intenção de destruir um grupo de pessoas impondo deliberadamente condições de vida que conduzem inexoravelmente à sua aniquilação física’.

‘Os atuais crimes russos na Ucrânia são uma reminiscência do passado’, insistiu em um comunicado de imprensa o Parlamento Europeu, que na quarta-feira em Estrasburgo entregou seu Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento ao povo ucraniano, que luta contra a invasão da Rússia.

Os parlamentares pedem a ‘todos os países e organizações’ que também reconheçam esta fome como genocídio diante de um ‘regime russo que manipula a memória histórica para sua própria sobrevivência’.

Na Audiência Geral de 23 de novembro, ao rezar pela paz no mundo e pelo fim de todos os conflitos, o Papa Francisco havia recordado o aniversário ‘do terrível genocídio do Holodomor, o extermínio pela fome em 1932-33 causado artificialmente por Stalin. Rezemos pelas vítimas deste genocídio e rezemos por tantos ucranianos, crianças, mulheres e idosos, crianças, que hoje sofrem o martírio da agressão.’

Chamada de ‘o celeiro da Europa’ pela fertilidade de seus solos negros, a Ucrânia perdeu de quatro a oito milhões de habitantes na grande fome de 1932-1933, em um cenário de coletivização de terras, orquestrada segundo historiadores por Stalin para reprimir qualquer nacionalista e separatista desejo neste país, então uma república soviética.

A Ucrânia faz campanha há anos para que o Holodomor seja oficialmente reconhecido como genocídio, um conceito cunhado durante a Segunda Guerra Mundial.

A Rússia nega categoricamente tal classificação, argumentando que a grande fome que assolou a União Soviética no início dos anos 1930 causou não apenas vítimas ucranianas, mas também russas, cazaques, alemães do Volga e membros de outros povos.

A Alemanha, que em novembro também reconheceu o Holodomor como genocídio, foi acusada por Moscou de ‘demonizar’ a Rússia.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2022-12/parlamento-europeu-reconhece-holodomor-gucrania-enocidio.html

domingo, 18 de dezembro de 2022

Natal Cristão

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Geovane Saraiva,

jornalista, colunista e pároco

de Santo Afonso de Fortaleza, CE

 

O Natal cristão de verdade, sim, no Menino Jesus que vamos encontrar na manjedoura, na mensagem que percorre o mundo, aquele que o infinito imutável e irrevogável nos manifestou em Jesus de Nazaré, que desceu do céu, que, segundo Afonso Maria de Ligório, ‘desceu das estrelas’. Ele quer de nós a sua centralidade, num visível e favorável ambiente, com as marcas da simplicidade, da modéstia e do comedimento, no amor ao próximo, começando com o mais próximo.

Que o Natal, verdadeiramente cristão, encontre eco em nós, não deixando espaço para aquela profética palavra de João Batista na sua pregação : ‘raça de víboras’ (cf. Mt 3, 7ss). Lugar, sim, para que o anúncio, incômodo e provocador de João Batista, deixe clara a necessidade de contrariar a realidade contraditória vivenciada por ele, na acolhida do seu clamor, naquilo que causa enorme prejuízo à íntegra mensagem por ele proclamada, dizendo não à indiferença.

Notória é a necessidade de um cristianismo longe da indiferença, que tanto mal fez e continua fazendo, mas um cristianismo com Cristo; repetindo: ele no centro, porque a ‘vida eterna que estava no Pai se manifestou’ na comunidade dos batizados, na disposição de preparar o caminho do Senhor. Nosso tempo, mais do que nunca, requer dos corações encascalhados, pelas ilusórias vantagens do mundo, que se neutralizem a insensibilidade e a indiferença, na confiança de um ‘Deus que é luz e nele não há vestígio de trevas’ (1 Jo 1, 1-5).

No mistério da encarnação, temos resposta infinitamente maior e superior a qualquer indagação que se possa ser sugerida pelas criaturas humanas. Deus mesmo, pelo Filho, mergulha na nossa vida finita, passageira e relativa; mergulha na nossa miséria. Pensemos, pois, no Deus que, sendo infinito e absoluto, sofre junto conosco e com toda a humanidade, num amor ilimitado. É a redenção em nosso meio, como diz São João : ‘De tal modo Deus amou o mundo, que, por ele, entregou seu Filho único’ (Jo 3, 16).’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticias/?id=1596087

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Monjas na Itália fazem um apelo: pedimos apoio e facilidades ao governo

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Salvatore Cernuzio


À espera de uma ajuda do ‘alto’, não do céu mas do governo italiano que as ‘exclui’ dos bônus, incentivos e reduções fiscais, ou da Igreja com a qual por vezes é difícil encontrar um diálogo ‘mais construtivo e criativo’, as monjas de toda a Itália decidiram arregaçar as mangas e desenrascar-se sozinhas. Ou melhor, já o fazem há anos. Mas agora, com a aproximação do inverno e a crise energética, com edifícios de até 10.000 metros quadrados que correm o risco de ficar ao frio e a dificuldade de adquirir produtos alimentares e de higiene, há necessidade de ‘fazer rede’ a fim de que a voz desta parte de população, que não obstante a crise vocacional, ainda é muito grande, ressoe mais alto.

Da Sicília ao Trentino, cerca de 80 clarissas e cistercienses, beneditinas e carmelitas, e muitas mais pertencentes a outras ordens, reuniram-se em Roma no início de novembro para «compreender melhor as necessidades a nível de gestão económica, administrativa e fiscal das comunidades monásticas» e partilhar as best practices sobre como se mover nos mercados.

«Somos entidades juridicamente canônicas reconhecidas pela Sé Apostólica e pelas Prefeituras. Para efeitos de benefícios fiscais ou para a possibilidade de aceder a contribuições, etc., não somos nada», diz a franciscana irmã Chiara Francesca Lacchini, promotora do encontro em Roma, agora na sua segunda edição. Voz quase como uma speaker radiofônica, ao telefone durante um intervalo, a religiosa não fala para reclamar nem para suscitar polêmicas. Ela simplesmente regista uma realidade factual : a de ordens inteiras que devem providenciar sozinhas a si mesmas e pôr-se em ação. «Sim, mas sejamos claros. A necessidade de trabalhar deriva de uma exigência de ‘saúde mental’ porque o trabalho ajuda a equilibrar forças, a canalizar energias, a desenvolver uma criatividade que cada um de nós cultiva como um dom de Deus».

Trabalhar, naturalmente, é também uma necessidade : «a de ganhar», explica a franciscana. «A nossa vida é feita, sim, de oração, mas também de contas para pagar, de necessidades médicas e educacionais, de casas para manter. E as nossas casas não têm 90 metros quadrados, mas 2.000 ou até 10.000. Por isso, é muito importante para nós termos rendimentos».

E se pensarmos agora na questão do aquecimento, com a energia cara, é também um grande problema. «Encontrámo-nos, como todos, a ver as nossas contas triplicar nos meses de verão, e ainda não ligamos todos os aquecedores! Algumas procuram ir em frente o mais possível ou racionalizar. Mas pensai nas religiosas nas montanhas ou nas comunidades com irmãs idosas e doentes...». A ideia é criar uma ‘aliança’ em que todas as comunidades se unam para negociar com um gestor para manter o preço da energia baixo: «Esperamos o melhor, caso contrário ficaremos ao frio durante algum tempo...».

As religiosas falaram sobre este tema e muitos outros durante o congresso em Roma. «Encontramo-nos principalmente para partilhar práticas de angariação de fundos e de comunicação. Procuramos compreender em conjunto se as nossas comunidades e especialmente as nossas propriedades podem aceder aos fundos pnrr»1. Imóveis com valor histórico, arquitetônico, relevante que «com os tempos atuais, permanecem quase vazios e com elevados custos de gestão. Muitas comunidades já não as podem sustentar. A necessidade de compreender como funciona a angariação de fundos decorre principalmente disto».

Na mesma ótica, as religiosas puseram em comum as várias experiências a nível de trabalho. As trapistas de Vitorchiana Serena, por exemplo, falaram do laboratório de cosmética e das quintas com as quais obtêm produtos de mercado. Do Mosteiro de Potenza veio a experiência da cooperativa para a panificação, herdada por uma das irmãs. E as beneditinas de Santa Ana em Bastia Umbra explicaram que começaram recentemente a utilizar as terras que possuem ou em redor do mosteiro para colher azeitonas e cultivar malte, trigo e outros cereais. «Conseguiram interceptar as empresas que compram o produto cultivado e colocam-no no mercado», explica a Irmã Chiara. «Trabalhamos muito mas depois quando vamos vender, não temos o número de contribuinte, não podemos aceder às lojas, temos sempre de fazer pedidos de ofertas livres que na maioria das vezes não correspondem ao custo dos materiais ou ao tempo de utilização».

No caso das beneditinas, foi também criada uma marca, Bottega delle Monache. «Elas não especificam quais monjas. A ideia é que outros com a possibilidade de criar produtos semelhantes também possam entrar na mesma marca. Já não é uma coisa minha, mas uma coisa nossa». Esta, para a franciscana, é a chave para o futuro da própria vida consagrada : «Fazer sinergia! Até há alguns anos, continuávamos a ser autorreferenciais entre as várias ordens, apercebemo-nos de que temos diferenciações carismáticas, mas, a um nível prático, vivíamos os mesmos problemas. Por isso é importante unir-nos, também porque alguém antes de nós pode ter encontrado caminhos que se podem tornar patrimônio de todas. Além disso, pelo menos na Itália, a presença numérica diminui rapidamente, pelo que, à medida que nos tornamos menos numerosas, estarmos juntas é uma grande ajuda».

O apelo ao governo

Por mais fortes, unidas e capazes que sejam, as religiosas necessitam, no entanto, de apoio. Por conseguinte, apelam ao governo : «Percebemos que permanecemos fora de qualquer esquema de incentivos ou ajudas. Pedimos que talvez sejam criados regulamentos que incluam experiências como a nossa, de modo que não seja sempre tudo e apenas fruto de doação». À Igreja as religiosas pedem um diálogo mais construtivo : «Muitos vivem no mito : ‘Mas não recebeis o 8xmille?»2. Não, não recebemos um apoio direto. Certo, não faltam as ajudas por parte da Cei ou o interesse de cada bispo, mas digamos que às vezes há uma sensibilidade mais ampla, e por vezes menos».’

1 Piano nazionale di ripresa e resilienza [Plano nacional de retomada e resiliência].


2 8xmille é uma recolha de fundos por parte da Igreja católica na Itália graças à qual os bispos apoiam mais de 8.000 projetos por ano, na Itália e no mundo, a favor dos mais débeis.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-12/sisters-project-monjas-italia-reuniao-roma-fazem-rede.html