Sequência Pascal : Victimae paschali
Monges Beneditinos da Abadia de
Notre-Dame de Fontgombault (França)
Domingo de Páscoa - Ano B – 5
de Abril de 2015
Atos 10, 34. 37-43
Salmo 117
Colossenses 3, 1-4
João 20, 1-9
Reflexões
‘A mensagem missionária das festas
pascais é evidente : Páscoa é a passagem do homem-Deus da morte à vida; é o
anúncio de um Deus que morre na cruz e ressurge, para que todos os povos tenham
vida em abundância (cf. Jo 10,10)! Páscoa é a chave de leitura do mistério mais
tremendo : o mistério da morte e da vida. A aventura do Deus-em-carne-humana
culmina no Calvário e encontra luz no sepulcro vazio : porque Cristo
Ressuscitou! Uma vida nova começa n’Ele; um novo modo de viver, de esperar e de
amar começou também em todos aqueles que acreditam n’Ele. Desde então, nasceu
um novo modo de relação : com Deus, entre os seres humanos, com o cosmos, com
as forças do bem e do mal… Novas relações, novo estilo de vida, novas certezas,
novos métodos e estratégias… O mundo não pode ser o mesmo, como se Cristo não
tivesse ressuscitado… O que é que mudou? Melhor, o que é que pode, deve mudar?
E quem será o artífice destas transformações? Com que poder? Sobre que bases?
Com que critérios? Todas estas interrogações têm apenas uma resposta : uma vida
melhor é possível para aquele que acredita em Cristo, morto e ressuscitado.
Da experiência de vida nova em Cristo
nasce também o empenho missionário do anúncio e da partilha. A missão universal
em prol de todos os povos nasce da Páscoa. De facto, Jesus envia os apóstolos
às gentes do mundo inteiro, nas aparições depois da ressurreição : Mt 28, Mc
16, Lc 24, Jo 20. Da experiência alegre de adesão ao Ressuscitado nasce o
serviço alegre aos irmãos; nasce e reforça-se o empenho da Missão. Acreditar na
ressurreição de Cristo equivale a empenhar-se pela ressurreição do homem. Dois
cristãos bem conhecidos do nosso tempo, o patriarca Atenágoras e Oliver
Clément, ambos empenhados na frente da fraternidade e do ecumenismo, dialogam
sobre o sentido e as consequências da fé na ressurreição de Jesus para a vida
do mundo e para a Missão da Igreja. A página seguinte recolhe algumas
expressões dos seus diálogos.
‘ -
Os grandes problemas, os problemas trágicos que se colocam à humanidade atual,
como relacioná-los com o milagre da ressurreição?
- Um terço da
humanidade passa fome. À fome do corpo junta-se a fome da alma : dois terços da
população do globo ainda não conhecem o nome de Cristo. Nos países que se dizem
cristãos, reina a mais profunda divergência entre o Evangelho, por um lado, e o
modo de viver dos cristãos, por outro, e as pesquisas e tendências da sociedade
por outro ainda.
Como relacionar
tudo isto com a ressurreição? É de uma evidência inequívoca! Os pretensos
cristãos não vivem a ressurreição, não são pessoas ressuscitadas! Perderam o
Espírito do Evangelho. Fizeram da Igreja uma máquina, da teologia uma
pseudo-ciência, do Cristianismo uma vaga moral. Reencontremos, revivamos a
teologia abrasadora de São Paulo : ‘Tal como Cristo ressuscitou dos mortos,
também nós, os baptizados, caminhemos numa vida nova’ (cf. Rm 6,4). Se os que
acreditam no Ressuscitado levam em si esta força de vida, então poderão
encontrar soluções para os problemas que angustiam os homens…
Trata-se antes de
mais de formar o homem interior, de o tornar capaz de uma adoração criadora.
Precisamos de homens que façam a experiência, no Espírito Santo, da
ressurreição de Cristo como iluminação do cosmos e sentido da história. Dessa
força interior brotará um impulso que dará sentido aos valores humanitários, às
grandes ideias sociais… Numa palavra : inaugurar em si uma vida nova, revestir
a alma de uma veste de festa. Então teremos as mãos repletas de dádivas
fraternas para quem sofre quer de fome do corpo quer de fome da alma’.
‘-
Mas onde encontrar o Ressuscitado para entrarem comunhão com Ele de modo que
rios de água viva possam brotar de nós, como diz o Evangelho?
- Cristo está por
todo o lado. A partir do momento da ressurreição, toda aventura humana se
desenrola n’Ele, procura-o, celebra-o, combate-o, nega-o, reencontra-o. A sua
presença secreta, a revelação que nos traz, tornaram-se fermento da inteira
existência humana. Recordemos o capítulo 25 de Mateus : ‘Tive fome, e destes-me
de comer… Todas as vezes que fizestes isto a um dos mais pequenos dos meus
irmãos, a mim que o fizestes…’ Comentando esta passagem, São João Crisóstomo
diz-nos que o pobre é o sacramento de Cristo, que Cristo incarna no pobre.
Cristo está presente sempre que se verifica um encontro verdadeiro, sempre que
se manifesta um pouco de justiça, sempre que a justiça ou a verdade são
presenteadas com generosidade, sempre que a beleza dilata o coração do homem’.
(ATENÁGORAS,
patriarca de Constantinopla, in O. Clément
Dialoghi con
Atenagoras, Brescia 1995, pp. 151-155)
Fonte :
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