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terça-feira, 29 de novembro de 2022

Arcebispo Nassar: que o Advento ilumine o "calvário silencioso" do povo sírio

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da Vatican News


‘Um ‘calvário sem fim’ que já dura há 12 anos e ‘mergulhou no silêncio’ o povo sírio, que há muito tempo grita de dor pelos sofrimentos que suporta por causa da guerra, seguida de uma crise econômica e de saúde desencadeada pela ‘bomba da pobreza’.

É o que denuncia o arcebispo maronita de Damasco, capital da Síria, dom Samir Nassar, em um testemunho enviado à AsiaNews por ocasião do Advento. ‘Um silêncio - continua o prelado - que fala muito do sofrimento no coração das pessoas’ esquecidas pela comunidade internacional, enquanto no país do Oriente Médio persistem focos de conflito e a perspectiva de uma invasão por terra pelo exército turco, com mais um fardo de dor, morte e destruição.

‘Colocando-nos à escuta deste silêncio - escreve o arcebispo - é possível ler nos rostos tristes e cansados das pessoas as razões para este desânimo’. O olhar ‘melancólico’ tomou o lugar da alegria de viver e ‘mostra todo o peso do sofrimento ligado a uma crise sem fim’.

Indiferença da comunidade mundial que ‘esqueceu a Síria’

O olhar ‘preocupado’ reflete ‘as muitas carências’ que afligem a vida diária, tais como ‘a falta de combustível, eletricidade, pão cotidiano, medicamentos, gás, diesel e daqueles que são forçados a ficar em filas de espera dias inteiros’ para obter os gêneros de necessidades básicas.

E novamente o ‘olhar incerto’ para um ‘futuro perdido’ por causa do bloqueio, das sanções e da indiferença da comunidade mundial que ‘esqueceu a Síria’. Preocupação ‘pela dispersão das famílias para os quatro cantos da terra’, pela diáspora dos cristãos e pelas contínuas migrações ‘mesmo que isso às vezes signifique morrer nas estradas do êxodo’.

Por fim, ‘a angústia’ causada pelo ‘colapso da moeda local, a inflação e o consequente aumento dos preços, a falta de trabalho e o desemprego crescente, a pobreza e os muitos sofrimentos que parecem não ter um fim previsível’.

‘Riscos catastróficos’ em vista do inverno

Enquanto isso, o Escritório para Assuntos Humanitários da ONU e o coordenador regional da ONU para as crises Muannad Hadi falam de ‘riscos catastróficos’ em vista do inverno, com temperaturas rígidas, neve e chuvas torrenciais, enquanto o plano de apoio permanece à espera.

‘Até hoje, alertam os especialistas da ONU, foram alcançados apenas 42% dos fundos necessários e ainda há muito a ser feito para aliviar o sofrimento de seis milhões de pessoas em risco.’

Entre os mais afetados estão os deslocados, os idosos, os doentes e as crianças com doenças graves, um total de seis milhões de pessoas, 2,5 milhões das quais estão no noroeste. Atualmente, a maioria da população não pode arcar com itens essenciais, como roupas quentes ou aquecimento, incluindo aqueles que vivem nos centros de acolhimento.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2022-11/siria-arcebispo-nassar-advento-calvario-silencioso-relatorio-ONU.html

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Vaticano dá destaque ao drama dos trabalhadores do mar

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Benedetta Capelli (Vatican News)


‘A pandemia mudou a face do mundo e também a do trabalho no mar que, apesar das restrições, nunca parou. Esta é a primeira indicação destacada na Mensagem do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral por ocasião do Domingo do Mar, dia 11 de julho. Os navios, de fato, ‘nunca deixaram de transportar de um porto para outro equipamentos médicos e medicamentos essenciais para apoiar a luta contra a propagação do vírus’. ‘Cerca de 90% do comércio mundial – escrevem – move-se graças aos navios ou, mais precisamente, aos 1,7 milhões de marinheiros que trabalham neles. O cardeal Peter Turkson, prefeito do dicastério, e dom Bruno Duffè, secretário, agradecem à ‘gente do mar; uma gratidão que se transforma em oração’.

Não apenas uma simples força de trabalho

O texto não esconde a ‘profunda contradição’ presente no mundo da indústria marítima, ‘altamente globalizada’, mas atravessada pela fragmentação das regras sobre os direitos e a proteção dos trabalhadores. Partindo disso vem o pedido de reconhecimento dos ‘trabalhadores essenciais’, incentivando ‘mudanças na tripulação’ e dando prioridade a uma política clara de vacinação. O dicastério não esquece o grave inconveniente dos que ficaram bloqueados por causa da Covid : cerca de 400 mil pessoas em setembro de 2020 que deveriam ser repatriadas e, em vez disso, permaneceram fora de suas casas por até 18 meses. A pandemia forçou-os a trabalhar mais, afetando ‘a vida diária de suas famílias’, gerando ‘isolamento, solidão, separação e ansiedade pelos entes queridos a milhares de quilômetros de distância, juntamente com a incerteza do próprio futuro’. Fatores que ‘têm aumentado o estresse físico e psicológico a bordo dos navios, às vezes com consequências trágicas’. O convite é olhar os membros da tripulação não como uma simples ‘força de trabalho’, mas como seres humanos, desenvolvendo assim ‘práticas de trabalho, baseadas na dignidade humana e não no lucro’.

Soluções para a pirataria

A atenção então se volta para o fenômeno da pirataria, que essencialmente tem registrado uma diminuição no número de casos, mas com um aumento da violência contra a tripulação. ‘Trata-se de um ponto desencorajador que mostra a fragilidade da indústria marítima, que já foi posta à prova pela pandemia’, destaca a mensagem. É um fenômeno que coloca em sério risco a saúde dos que trabalham no mar, de suas famílias e abala a economia. ‘Pedimos a todos os governos e organizações internacionais’, lê-se na mensagem, ‘para que identifiquem soluções duradouras para o flagelo da pirataria, conscientes da necessidade de enfrentar o problema fundamental da desigualdade na distribuição de bens entre países e da exploração dos recursos naturais’.

Abandonados no mar

Há também outro fenômeno preocupante : o abandono dos navios e da tripulação. Em 2019 havia 40 navios abandonados, enquanto que em 2020 chegaram a 85. Os marinheiros são forçados a viver em condições desumanas e, portanto, o apelo aos armadores é para que ativem ‘um seguro obrigatório que cubra o abandono no mar, para o pagamento de despesas incluindo alimentação, água potável, assistência médica e custos de repatriação’. A mensagem salienta que o número de naufrágios e acidentes marítimos está diminuindo ‘mas mesmo um é demais, especialmente quando os marítimos são feridos, morrem, perdem-se no mar ou são injustamente criminalizados e detidos por tempo indeterminado’. Uma situação que cria ‘desespero nas famílias’ porque as crianças ficam sem pais e não há um lugar onde colocar uma flor e rezar uma oração.

Apóstolos fiéis

A mensagem se conclui com um pensamento para os capelães e voluntários da Stella Maris que, em tempos de pandemia, sempre estiveram a serviço dos marinheiros e pescadores. Oremos para que continuem a ser ‘apóstolos fiéis à missão de anunciar o Evangelho’, mostrando ‘o rosto atento da Igreja que acolhe e está próxima a esta porção do Povo de Deus’.’

Vide também : Apostolado do mar e o migrante das águas


Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1526278/2021/07/vaticano-da-destaque-ao-drama-dos-trabalhadores-do-mar/

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Formas - não tão evidentes - de abandonar seus filhos

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 
*Artigo de Orfa Astorga,

 orientadora familiar


‘Abandonar um filho quando ele mais precisa dos pais significa deixá-lo sem atenção e cuidado, sem o amparo e proteção de que precisa, causando danos talvez irreparáveis em seu ser.

Alguns pais recorrem a elaborados mecanismos de justificação, e quanto mais o fazem, mais endurecem seu coração à verdade de estar cometendo uma ação inumana, pela qual rejeitam assumir com plenitude o amor ao maior dos dons.

Esta é a mais vil manifestação do egoísmo e covardia de quem é incapaz do amor verdadeiramente pessoal.

Muitos pais jamais abandonariam um filho na porta de uma casa qualquer. Mas existem muitas formas de abandono que não costumam ser evidentes e que já adquiriram aceitação em muitas consciências.

Tais formas de abandono têm uma história em comum: gerar os filhos foi a parte fácil, mas sua criação, que exige educação com amor de abnegação e sacrifício, dura muitos anos. E é nesta fase que pode acontecer o maior abandono.

Algumas formas de abandono :

– Quando A Sra. e o Sr. Sucesso Profissional não têm tempo pessoal para seu filho, dada sua importante ‘autorrealização’, já que ‘tempo é dinheiro’ e não dá para pensar nos outros. Então apelam ao famoso ‘tempo de qualidade’, enchendo os filhos de presentes, pagando colégios de tempo integral etc.

– Quando o tempo dos filhos é dedicado à academia, às reuniões sociais, enquanto os filhos ficam à mercê da internet, televisão ou babá.

– Quando se deixa os filhos o final de semana inteiro com os avós, ‘porque cuidarão bem deles e os amam muito’.

– Quando se deixa o filho o dia todo com os avós de maneira constante, ‘porque cuidam bem dele e o amam muito’.

– Quando se envia o filho adolescente para estudar fora do país durante anos, para evitar os problemas desta fase, e dando mais prioridade à aprendizagem de um idioma novo do que ao acompanhamento nesta etapa tão crucial da vida.

– Quando o filho se torna somente o cartão de visitas dos pais, que condicionam sua aceitação a que seja um aluno brilhante.

– Quando os pais se esquecem que a verdadeira educação acontece no ser dos filhos, e a medem apenas pelos resultados no ter, saber e fazer. Quando se negam a escutar, compreender e comunicar-se com os filhos, para ajudá-los a dirigir sua vida com plena liberdade.

– Quando os pais em conflito usam os filhos como luvas de boxe em suas frequentes brigas.

– Quando os pais se divorciam e tratam o tema da guarda dos filhos como se discutissem pela casa ou pelo carro, sem considerar o grande dano que lhes causam.

– Quando os filhos se tornam uma válvula de escape da pressão que os pais sentem diante das provações da vida, sendo então violentados, humilhados.

– Quando os pais desconhecem que seu maior valor é saber amar, acolhendo o filho somente por ele ser quem é, porque é esse amor que estrutura a personalidade do filho, mediante a identificação e as experiências vividas com seus pais.

Porque, para bem ou para mal, os pais serão sempre a principal referência da identidade dos filhos.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2020/10/25/formas-nao-tao-evidentes-de-abandonar-os-seus-filhos/

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Situação da Igreja na Alemanha é dramática, lamenta sacerdote

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 


‘O vigário episcopal da Diocese de Ratisbona (Regensburg) escreveu uma reflexão intitulada ‘A situação é dramática’, na qual destaca os principais pontos da carta que o Papa Francisco enviou aos católicos na Alemanha, onde enfrenta a ‘erosão’ e ‘a declínio da fé’ no país europeu.

O texto foi originalmente publicado em alemão na CNA Deutsch e depois em inglês na CNA, agências irmãs da ACI Digital, após a difusão em 29 de junho da carta do Santo Padre.

Mons. Fuchs ressalta que a carta de Francisco ‘é uma palavra de advertência e ao mesmo tempo de encorajamento. É uma intervenção séria’.

Os antecedentes da carta são uma série de eventos na Igreja Católica na Alemanha nos últimos anos, particularmente nos últimos meses, diversas ações e cartas de protesto, sobre os planos atuais do chamado 'processo sinodal', assim como das exigências e expectativas associadas. Seu direcionamento e sua veemência devem ter feito com que o Papa Francisco nos dirija algumas palavras’.

O ‘processo sinodal’ citado por Mons. Fuchs foi anunciado pelos bispos alemães no início deste ano, como um debate amplo sobre o que alguns consideram que seja a origem dos abusos sexuais : o celibato sacerdotal, os ensinamentos da Igreja sobre moral sexual e a ‘redução do poder clerical’.

Em sua carta, explica o vigário de Ratisbona, ‘Francisco não responde a pontos específicos nem se concentra nos detalhes. A crise da Igreja na Alemanha é muito mais profunda e, portanto, a carta tem uma abordagem mais fundamental’ e remete-se em várias ocasiões ao discurso dirigido aos bispos alemães no Vaticano, em 20 de novembro de 2015. ‘Esta carta deve ser lida e entendida com base nesse discurso’, ressalta Mons. Fuchs.

Em ambos os textos, continua o sacerdote, ‘o Papa, depois de elogiar as conquistas na Alemanha, identifica claramente os sintomas da crise atual : poucos católicos vão à missa aos domingos ou se confessam. A essência da fé de muitos evaporou e o número de sacerdotes está caindo. Francisco nos assegura a sua proximidade e seu apoio em nossos esforços para superar essa crise e encontrar novas maneiras de fazê-lo. Ele quer nos encorajar’.

Em sua carta, o Papa Francisco ‘identifica várias tendências que lhe concernem sobre a busca alemã de soluções (...). A primeira é a preocupação de que a Igreja na Alemanha possa romper seus laços com a Igreja universal e se separar da comunidade global da fé’.

O Pontífice, em seguida, alertou para a ‘tentação dos promotores do gnosticismo’, que ‘buscavam dizer sempre algo novo e diferente do que a Palavra de Deus lhes dava’, e acrescenta que há ‘uma tentação do mestre da separação (...) que acaba fragmentando de fato o corpo do santo Povo fiel de Deus’.

Mons. Fuchs indicou que o Papa Francisco também adverte sobre uma mera ‘mudança estrutural, organizacional ou funcional’, que constituiria ‘um novo pelagianismo’, uma heresia ‘rechaçada pela Igreja no século V que alegava que não era necessário que Cristo nos salvasse do pecado, mas que o homem era suficientemente bom e forte para fazer isso sozinho’.

Em seguida, o vigário episcopal de Ratisbona destacou que o Papa Francisco fala várias vezes em sua carta de ‘tensão’ e ‘adaptação’ quando adverte sobre a tendência da Igreja na Alemanha de ceder à pressão de grupos privados em vez de continuar retamente a tarefa da evangelização.

Muito do que foi dito antes do ‘processo sinodal' prega-se como uma necessidade angustiante de não deixar de estar em contato com a pluralidade do mundo, assim como com a intenção de preencher o espaço que existe entre a Igreja e a realidade da vida. O Papa Francisco descarta este argumento de modo decisivo’.

Mons. Fuchs explicou que o que a Igreja deve fazer, como disse o Santo Padre, é recuperar a primazia da evangelização com uma atitude de ‘vigilância e conversão’ com as armas da oração, do arrependimento e da adoração.

Abandonamos a primazia da evangelização na Alemanha e perdemos, por meio da obstinação e do desafio, a alegria da fé? O Papa Francisco nos fala claramente sobre o que quer dizer com evangelização e encontrar os pobres; e critica qualquer redução ou mera adaptação, bem como reformas administrativas e a tendência ao isolamento’.

O vigário de Ratisbona recordou que o Papa foi enfático em seu não à ordenação sacerdotal de mulheres e à abolição do celibato, duas tendências na Alemanha defendidas por alguns, incluindo alguns bispos. Também criticou que no país tenham rejeitado o recente documento publicado pelo Vaticano sobre a ideologia de gênero na educação.

Mons. Fuchs também ressaltou que ‘a carta do Papa exige reescrever completamente o 'processo sinodal', que deve tender à evangelização e à renovação espiritual, dirigindo-se ao povo das periferias’.

Este processo, concluiu o vigário, ‘não se adapta, mas confia em Deus que pode renovar e converter e nos dar a alegria do Evangelho’.

Os números da crise

As últimas cifras da Conferência Episcopal Alemã pintam um quadro negativo : mais de 160.000 fiéis deixaram a Igreja Católica em 2016, enquanto apenas 2.547 pessoas se converteram (a maioria do luteranismo)’, escreveu em 2017 Christoph Wimmer, editor da CNA Deutsch, agência em alemão do Grupo ACI.

O número total de sacerdotes na Alemanha em 2016 foi de 13.856, uma queda de 200 comparado com o ano anterior. Matrimônios, crismas e outros sacramentos estão em queda’, assinalou.

Além disso, ‘o sacramento da Confissão, sobre o qual a Conferência Episcopal não disponibiliza números, desapareceu, para todos os efeitos, de muitas, se não da maioria, das paróquias’, lamentou.

Em 2015, apenas 2,5 milhões de católicos, de um total de 24 milhões, iam à missa aos domingos.


Fonte :

domingo, 17 de abril de 2016

Escravidão infantil, flagelo do século XXI : romper as correntes

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



‘A demanda de mão de obra de baixo custo, a pobreza, a falta de oportunidades, a desagregação do núcleo familiar e a perda de valores da comunidade são as principais causas da escravidão de menores e dos abusos que continuam a se verificar ainda hoje, 200 anos depois da abolição da escravidão, e envolvem pelo menos 9 milhões de crianças.

Por ocasião do Dia contra a Escravidão Infantil, celebrado anualmente em 16 de abril, a Procura das Missões Salesianas enviou à Fides uma nota sobre o compromisso dos Salesianos, presentes em várias partes do mundo, no combate a este flagelo. ‘Queremos dar voz a milhões de crianças, denunciar a escravidão infantil e exigir medidas para erradicar este flagelo do século XXI’, afirmam os Salesianos, propondo uma campanha global intitulada ‘Romper as correntes’.

As fábricas de tijolo e de tecidos no Afeganistão e na Índia usam crianças no trabalho, em condições de escravidão. No Brasil, são empregadas em minas. Em Mianmar trabalham em canaviais. Em Serra Leoa, na procura de diamantes e de coltan, na República Democrática do Congo. Na coleta de algodão no Egito e no Benin, de cacau na Costa do Marfim. Em muitos outros lugares do mundo, milhões de crianças e jovens são explorados todos os dias no trabalho doméstico, na prostituição, na mendicância. Na Colômbia, Índia, Benin, Costa do Marfim e Mali, os Salesianos enfrentam estra trágica realidade e tentam oferecer às crianças vítimas da escravidão uma segunda chance, para que sejam protagonistas de suas vidas e rompam, assim, as correntes que os prendem.’


Fonte :
* Artigo na íntegra


quarta-feira, 13 de abril de 2016

Marajó : miséria e prostituição infantil. Como se vive na ilha?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


‘Melgaço, no Arquipélago de Marajó, é o município com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país. Em uma escala que vai de 0 a 1, a cidade alcança 0,418. É comum moradores viverem em palafitas, numa realidade em que falta quase tudo : saneamento, educação, saúde de qualidade e policiamento. O banheiro dos moradores é o rio. A cidade é isolada até mesmo do resto do Estado; para chegar a Melgaço, partindo de Belém, são necessárias pelo menos 16 horas de barco.  Mais de 96% desses moradores vivem com renda per capita inferior a meio salário mínimo. São 26 mil habitantes, dos quais 12 mil não sabem ler e nem escrever.


A visita do Cardeal Cláudio Hummes

Como Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, o Cardeal Cláudio Hummes já visitou mais de 30 dioceses na região. Sua última viagem, em março deste ano, foi a Marajó. Levado pelo bispo, Dom José Luis Azcona, Dom Cláudio voltou consciente de que é preciso denunciar esta realidade ao Brasil e ao mundo. É ele mesmo que conta.


Desemprego e miséria

Esta área é muito abandonada pelo poder público estadual e federal; praticamente não há investimentos. Melgaço é o município mais pobre do Brasil. O povo está muito aflito por falta de oportunidade de trabalho, não existe trabalho. O desemprego é colossal, não há investimentos ali. Os municípios não têm condições, porque não têm arrecadação, uma vez que não existe produção. Grande parte deste povo vive da bolsa família e às vezes de um ou outro aposentado que ajuda a sua parentela a sobreviver. Quando andamos por Melgaço, à beira do rio, vemos as pessoas andando, ou sentadas em casa, porque não existe trabalho. É muito triste’.


Bandidagem e impunidade

‘Além disso, há uma boa dose de bandidagem, cada vez maior, porque a vigilância policial é pouquíssima ou nula, praticamente a segurança é nula. A própria polícia diz ‘não temos nenhuma infraestrutura, não temos gente, não temos barco, não temos combustível para os barcos’; não conseguem atender nada. Os rios são como as nossas grandes estradas. As nossas rodovias, lá são os rios, que fazem todo o transporte. Que se fizesse vigilância de tudo aquilo que ocorre nesses rios, mas não existe nada. Aquilo é um abandono colossal’.


Prostituição infantil

Uma das coisas piores que existe é a exploração sexual das crianças, o que é feito nas grandes balsas de transporte daqueles rios, e onde a pobreza das famílias que não têm como se sustentar chega a oferecer muitas vezes as suas crianças ou não fazem nada para evitar, porque estas crianças buscam um pouco de comida ou alguma coisa nestas balsas, em troca de serem abusadas sexualmente por este pessoal que passa ali’.


A Igreja presente

Também existe uma bandidagem crescente de bandidos que simplesmente assaltam barcos e barquinhos para roubar. E o povo não tem com o que se defender, não tem polícia a quem apelar; e se apela, a polícia diz ‘não temos como chegar lá’. É uma impunidade inaceitável, intolerável. E vai assim... O único que cuida do povo é o bispo local. E o povo aplaude muito; em todo lugar onde Dom Azcona chega o povo aplaude, porque é o único que de fato se interessa por cuidar daquele povo. É a Igreja’.

Dom Cláudio Hummes é também Presidente e fundador da Rede Eclesial Pan-amazônica, a REPAM.’


Fonte :
* Artigo na íntegra


terça-feira, 1 de setembro de 2015

Enquanto se discute a inseminação artificial, o verdadeiro problema é a queda nas adoções

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

  

‘Discutem-se em muitos países o direito dos casais homossexuais à adoção de crianças.

Os defensores dessa lei reivindicam o direito da laicidade do Estado, como se a questão da adoção de crianças por casais homossexuais fosse apenas um problema religioso e não, primariamente, uma questão natural.

Já a drástica redução do número de adoções por parte das famílias naturais, fundamentadas no matrimônio entre um homem e uma mulher, é um fator que mal se aborda nesses mesmos países. Na Itália, por exemplo, a falta de interesse no assunto é evidenciada pelo fato de que CAI (Comissão de Adoções Internacionais) ainda não publicou seu relatório estatístico de 2014, que todo ano era publicado a mais tardar no final de fevereiro.

O atraso da publicação é aparentemente imputado à máquina burocrática. Na verdade, porém, ele reflete a falta de interesse na missão social e humana que, nas últimas décadas, tornou as famílias italianas apreciadas em muitos países do mundo.

Não haverá uma intencionalidade neste atraso? Por exemplo, deixar o assunto despercebido até que se aprove a chamada Lei Cirinnà, cujo objetivo é legalizar no país a adoção de crianças por casais homossexuais. O parlamento italiano está tentando, em outras palavras, alterar a natureza da missão adotiva, destruindo a vontade das famílias e mantendo inalterados os longos tempos de espera e os custos elevados dos processos de adoção.

Curiosamente, a questão dos custos foi resolvida muito rapidamente no caso da fecundação heteróloga. Antes mesmo da aprovação da lei, a assembleia das regiões italianas redigiu uma proposta que reduzia o preço da fecundação heteróloga nos serviços de saúde pública. Já o peso econômico para uma família que quer seguir o caminho da adoção internacional continuou intocado.

Dado este desequilíbrio de vontades, é urgente o despertar das consciências para voltar a enxergar a beleza da adoção por parte de um pai e de uma mãe. Muitas famílias escolhem as práticas da inseminação artificial homóloga ou heteróloga porque a burocracia obstaculiza a adoção com longos tempos de espera e com altos custos, além de haver uma tentativa de desvalorizar o acolhimento de uma vida abandonada.

A mentalidade relativista do nosso tempo não entende qual é a resposta mais natural à dolorosa esterilidade biológica. Depois de se recorrer às práticas médicas não invasivas para a saúde das mulheres e dos homens, a escolha para o casal que quer filhos é normalmente esta : adoção ou fertilização.

Por que os casais escolhem cada vez com mais frequência a fertilização? Por que a ideia de adotar causa tanta desconfiança e receio?

O desejo de acolher uma criança que sofreu o trauma do abandono é fruto da fecundidade espiritual capaz de vencer a esterilidade física. Um homem e uma mulher que escolhem a adoção têm clara a ideia de que ser pai e mãe é uma missão que vai além da geração.

O pai e a mãe adotivos têm a consciência de que o filho é um dom a ser recebido, mais do que uma vida a ser gerada. Aqueles que não receberam a graça de dar a vida biológica têm a imensa vocação de educar, acompanhar e compartilhar a vida, que tem o poder intrínseco de levantar, sobre os escombros do abandono e da infertilidade, o novo edifício fecundo e acolhedor da família adotiva.

Defender a missão adotiva não diz respeito apenas a poucas pessoas : é um projeto que merece ser promovido por todos, porque evoca uma filiação que vai além das regras da carne e uma paternidade e maternidade que revelam em sua gratuidade a presença do transcendente neste mundo.’


Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.zenit.org/pt/articles/enquanto-se-discute-a-inseminacao-artificial-o-verdadeiro-problema-e-a-queda-nas-adocoes


sábado, 2 de maio de 2015

Trágedias no Mediterrâneo : as pessoas atrás dos números

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
  

‘O drama dos imigrantes que tentam atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa atinge níveis assustadores. Além da tragédia dos mortos, a Itália precisa cuidar dos sobreviventes, muitos deles doentes, outros menores de idade.

Rafael Belincanta e Bianca Fraccalvieri estiveram no Sul da Itália aonde ouviram o relato de alguns sobreviventes e de quem trabalha na acolhida de pessoas, não de números.

O mar está calmo. Madhi Isaac, porém, olha para o Mediterrâneo com perplexidade. Não acredita que sobreviveu à travessia.

Não é algo que um ser humano possa enfrentar. Estamos arriscando nossa vida. Estamos arriscando nossa vida’.

Madhi tem 40 anos. Saiu do Benin há 7 meses. Atravessou a pé e na boleia o Níger e o deserto até chegar a Trípoli, na Líbia.


A travessia

Eu paguei duas vezes. Paguei para que não me empurrassem (para fora do barco) e paguei a outro 1,4 mil dinares (cerca de mil euros) para vir de Trípoli até aqui. Fomos colocados num barco pequeno em Trípoli. Agradecemos a Deus. Quando entramos no barco, cristãos e muçulmanos, começamos a rezar para que chegássemos. Deus ouviu nossas preces : chegamos’.

A travessia da Líbia para a Itália demorou 15 horas. Madhi foi resgatado em alto mar junto com outros 60 imigrantes. Por que ele arriscou a vida?

Foi por causa do meu futuro que eu vim. Se eu tivesse um futuro no meu país eu não sairia de lá. Eu teria ficado no meu país para construir meu futuro. Mas no Benin não há futuro. Eu tive que encontrar uma solução fora do Benin, é por isso que eu vim’.

Outro sobrevivente, Gibrail Sowe, de 22 anos, do Gâmbia, também justifica a travessia mortal. ‘Não é fácil. A vida é colocada em risco. Tudo se resume à pobreza. Você não vai conseguir nada ficando lá’.

Madhi e Gibrail estão em um abrigo improvisado em um ginásio para onde os sobreviventes foram encaminhados. Eles sofreram com sarna e piolhos e não podem seguir viagem – seja lá para onde forem – até que estejam completamente curados.

Lá também está Nahom Aron, de 21 anos, da Eritreia. Depois de ser resgatado, ficou dois dias embarcado em um navio da marinha italiana. Durante a travessia, ficou a maior parte do tempo no porão do barco.

Faltava ar, era muito quente. Vomitaram em cima de mim, dentro das minhas roupas. É muito difícil recordar isso’.

Nahom sonha em ir para a Suíça, onde teria amigos e parentes. Quando perguntei como pagou, concretamente, os atravessadores, uma vez que havia dito que não tinha dinheiro, disse que se tratava de ‘blood money, black market’, e se afastou.


Menores

Em outro abrigo, meninos de 10, 11 anos jogam bola no pátio. Algo trivial se estes meninos não fossem sobreviventes dos recentes naufrágios no Mediterrâneo. A creche em Reggio Calábria, no sul da Itália, virou um centro de acolhimento de emergência somente para os menores imigrantes. Eles se negaram a ser identificados pela imigração. Por serem menores, têm assim mesmo a proteção do Estado italiano até completarem 18 anos. Mas também querem evitar serem registrados na Itália, já que muitos deles pretendem chegar em outros países da União Europeia.

O clima é de tensão. Um ônibus do Ministério da Imigração italiano aguarda do lado de fora : deveria seguir viagem com ao menos quarenta menores. Destino : centros de educação sociais na Itália. Muitos não aceitam, não querem que o grupo se separe. Evitam conversar comigo, escondem o rosto diante da máquina fotográfica. São mais de 150 menores, entre meninos e meninas, que, sem documentos, são apenas números. Números de uma suposta rede internacional de tráfico de pessoas que ninguém afirmou existir, mas que se faz perceber pelos 'olheiros' entre os menores.

A missionária italiana Lina Guzzo estava lá. Para ela, a presença destes ‘olheiros’ que controlam todos os passos dos menores é um sinal claro desta rede.

Para mim, deu a entender que eles têm domínio sobre os pequenos. Uma vez que eles estão fora, eu não sei o que vai acontecer destes pequenos. Ou eles se tornam como este aqui, opressores, ou eles acabam mortos, desaparecem’. 

Junto com Madhi, Gibrail, Mahon está o padre Bruno Mioli, 86 anos, que leva esperança aos imigrantes, concreta. Empresta o telefone celular, com consentimento da polícia, para que possam entrar em contato com parentes e amigos na Europa. O telefone é monitorado pela Interpol.

Padre Bruno levanta a voz contra Estrasburgo. Diz que a ajuda financeira à operação Triton veio tarde e diz que é preciso atacar o problema na raiz.

Certo que do outro lado estão os atravessadores que se sentem encorajados deste qualquer um que os recruta, quem será? Esta é a contradição que existe. O problema não está resolvido. E nós estamos vivendo nessa emergência de uma emergência’.’



Fonte :
* Artigo na íntegra de www.news.va/pt/news/tragedias-no-mediterraneo-as-pessoas-atras-dos-num

terça-feira, 28 de abril de 2015

Nigéria : a fúria dos integralistas de Boko Haram

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


‘A fúria dos integralistas islâmicos de Boko Haram continua a flagelar a Nigéria. Novos ataques no Estado de Kogi, na pequena cidade de Damasak, no Borno; teriam sido assassinadas cerca de 400 pessoas.

O Padre Giulio Albanese, Diretor da Agência de notícias  MISNA, afirmou à Rádio Vaticano que a consequência dos ataques é terrível : ‘corpos em avançado estado de decomposição disseminados ao longo das ruas, outros abandonados dentro de casas, para não falar da identificação de numerosas valas comuns perto de um rio, e até mesmo pilhas de tanta humanidade sem vida no leito do rio sem água nesta época do ano’.

Segundo algumas testemunhas os corpos encontrados seriam cerca de 400 na cidadezinha de Damasak, no Borno, Estado do norte da Nigéria. Uma pequena cidade devastada pelos integralistas de Boko Haram cerca de um mês atrás. Então se pensava que os milicianos jihadistas tivessem sequestrado as vítimas. Certamente algumas delas foram levadas como reféns, mas muitos dos civis foram assassinados no local a tiros ou machadas.

Reconquistada nos dias passados pelas forças nigerianas e chadianas, Damasak é a metáfora de uma tragédia infinita. E se isso não fosse o suficiente, cerca de vinte pessoas foram encontradas sem vida ao longo de uma estrada do Borno, enquanto em outro Estado nigeriano, Kogi, uma bomba destruiu uma emissora de rádio privada. Ainda impreciso o número de vítimas.


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/nigeria-a-furia-dos-integralistas-de-boko-haram
  

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Crianças de rua desfavorecidas e vulneráveis

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

   *Artigo de Carlos Reis, jornalista
  
‘Pobreza, marginalização e desagregação familiar desestabilizam o tecido social, e o peso destas situações recai sobre as crianças, justamente as que deveriam receber maior protecção e amparo. Trinta milhões de crianças em África vivem na rua, de um total de 120 milhões no mundo inteiro, revela a UNICEF, que alerta para os maus tratos a que estão sujeitas, nomeadamente ‘a violência sexual, física, psicológica e a negligência, que assumem proporções alarmantes’, aponta Yves Kassoka, especialista de protecção do fundo das Nações Unidas para a infância.


Numerosas causas

A presença das crianças na rua deve-se a numerosas causas, como serem ‘confiadas’ a tutores, aos maus tratos e violência doméstica, conflitos armados, mudanças climáticas, desentendimentos no seio do casal, separação dos pais, à pobreza e a consequência das doenças sexualmente transmissíveis. Todas estas causas têm forçado mais e mais crianças a deixar as suas casas para viver e trabalhar nas ruas, expostas à violência e à exploração.

Por ocasião do Dia da Criança Africana, que se celebra em Junho, a UNICEF apelou aos governos para que reforcem os sistemas de apoio que fornecem as bases para um ambiente mais protector nas famílias e nas comunidades para manter as crianças seguras e fortalecer as capacidades familiares, por meio da oferta de cuidados de saúde e sociais básicos, além da promoção da educação. ‘Estas crianças já foram privadas da protecção dos seus lares e estão sujeitas a riscos ainda maiores na rua’, afirma Anthony Lake, director executivo da UNICEF.

Na África Subsariana, cerca de 50 milhões de crianças perderam um ou ambos os pais, quase 15 milhões dos quais por causa da infecção por HIV. Alguns destes menores são forçados a crescer por conta própria, com limitado ou nenhum apoio de tutores adultos. Muitas vezes, em casos de novo casamento após a morte ou divórcio, os filhos do primeiro casamento não são bem-vindos e às vezes são maltratados e insultados pelo novo parceiro. As crianças com deficiências são frequentemente escondidas pela família nos primeiros anos e depois abandonadas à rua.


Nunca bem-vindas

As crianças que trabalham e vivem nas ruas das cidades africanas são apenas a face visível de violações em grande escala dos direitos humanos dos menores.Isso é consequência de factores socioeconómicos, tais como a pobreza, explosão demográfica, migração rural-urbana, crises políticas, bem como de problemas interpessoais, tais como violência e rejeição em famílias desestruturadas’, observa Agnès Ouattara, presidente do ACERWC, comité africano de especialistas sobre os direitos e bem-estar da criança. Esses desafios reforçam a necessidade de fortalecer o papel das famílias e comunidades na promoção e protecção da saúde das crianças. Como consequência, os governos, com o apoio de parceiros, precisam investir em recursos adequados nas comunidades rurais desfavorecidas para reduzir as disparidades entre regiões e escalões de rendimentos, bem como enfrentar a discriminação baseada no género, idade e etnia.

Nos últimos anos, vários países africanos conseguiram ganhos importantes na construção de uma estrutura de direitos da criança e do adolescente. Muitos Estados introduziram mecanismos de protecção social, incluindo as transferências de rendimentos, que desempenham um papel fundamental no apoio às famílias vulneráveis e evitam que crianças saiam das suas casas para trabalhar’, comprova o escritório regional da UNICEF para África.

O sociólogo senegalês Djiby Diakhaté atribui o fenómeno das crianças de rua à própria ‘metamorfose da sociedade’, explicando que ‘passámos de uma sociedade tradicional no seio da qual a criança ocupava o centro da comunidade para uma sociedade moderna e materialista onde ela é cada vez mais marginalizada’. As consequências na vida destas crianças são a vulnerabilidade a todas as formas de exploração e de maus tratos, perseguição, detenção pelas autoridades, delinquência, utilização e tráfico de droga, mendicidade, roubo e agressões armadas, entre outras. Rosalie Diop, socióloga senegalesa autora do livro Survivre à la Pauvreté et à l’Exclusion, refere que as crianças ‘adoptam essas atitudes para se adaptar ao contexto de crise’. As crianças de rua aprendem a cuidar de si mesmas e a escolher os mercados ao ar livre como a sua casa, fazendo pequenos trabalhos, mendigando, roubando e aí dormindo escondidas entre toldos fechados. Crescem sem aprender a ler e escrever e sentem-se rejeitadas. Quase nunca são bem-vindas.




Monstros infernais

O aspecto mais preocupante do flagelo das crianças de rua é que ‘a maior parte dos governos e a sociedade civil em geral tende a ignorá-lo. Chega-se mesmo a perseguir essas crianças como delinquentes porque sujam a imagem das cidades’, aponta a revista Mundo Negro. ‘As imagens desses grupos é fortemente influenciada pela imprensa, que muitas vezes apresentam esses jovens como monstros infernais, delinquentes contra os quais se pode agir de maneira violenta’, denuncia a publicação dos Missionários Combonianos.

O fenómeno urbano das ‘crianças bruxas’ afecta as crianças de rua, com as acusações violentas a virem das famílias e igrejas carismáticas ou pentecostais. A perseguição de ‘crianças bruxas’ tem-se tornado um fenómeno lucrativo para muitos pastores-profetas cujas acções complementam as dos curandeiros tradicionais, denuncia a UNICEF.

Em África, crianças vagueiam pelas ruas da maioria das cidades. Elas estão por toda parte e organizam-se em quadrilhas para sobreviver nas ruas. ‘A maioria tem família, e até mesmo casa para retornar à noite. Estão na rua por falta de escolas ou qualquer coisa melhor para fazer. Alguns motivos levam-nas à rua, como serem órfãos da aids ou fugirem de situações negativas que enfrentam em casa. A vida de rua tem atracções como a liberdade e o compromisso para com sócios. Mas também há violência, perigo e abuso’, observa a MIAF, missão para o interior de África.

As crianças e adolescentes de rua são consideradas uma ameaça e são frequentemente reunidas e detidas pela polícia quando há eventos internacionais ou visitas de Estado nas cidades. ‘Estas crianças dormem na rua, mesmo quando chove’, denuncia o director da missão cristã Every Child Ministries. Durante o dia, escondem a esteira, um tapete ou cartão canelado, com que se protegem contra o frio e chão úmido. São também objecto de ataques sexuais, por parte de adultos que sabem que não haverá acusações contra os seus actos. As meninas na rua são uma presa fácil para qualquer homem que lhes ofereça um dólar ou uma boa refeição. Acabam por se voltar para a prostituição, contrair aids e ser mães de crianças que não têm pai nem casa e que são obrigados a caminhar pelas ruas com as suas mães. Algumas são já a terceira ou quarta geração nas ruas. Usadas e abusadas, jamais serão respeitadas ou valorizadas.


Destinos de rua

‘Passava fome’
Mary, 17 anos, Acra (Gana)

A antiga estação de comboios de Acra, capital do Gana, é lar de mendigos, deficientes, drogados e pequenos vigaristas. Mary, de 17 anos, morou na estação três anos, desde que deixou a casa dos pais em Ashanti. Deixou a família por desentendimentos com os pais sobre quem devia assumir a custódia dela e dos quatro irmãos. Em 2009, engravidou e passou a ser agredida pelo namorado. ‘Passava fome’, lembra. Com a ajuda da Street Child Africa, recebeu abrigo e cuidados de saúde. Agora, com o filho na creche da organização, faz doces para vender, enquanto aprende costura.
  
‘Vou ficar na rua o tempo todo’
Peter, 16 anos, Jinja (Uganda)

Órfão desde os 13 anos, Peter vive sozinho numa tenda improvisada nas ruas de Jinja, no Uganda. Para sobreviver, transporta pesados sacos de carvão vegetal no porto da cidade. Sozinho no mundo, tem um trabalho físico duro e mal pago. Ainda assim, consegue ganhar o suficiente para pagar as despesas na escola que frequenta. Agora, depois de ficar ferido nas costas devido às cargas pesadas, está incapaz de trabalhar e impossibilitado de pagar as mensalidades escolares. ‘Vou ficar na rua o tempo todo’, lamenta Peter, perante a falta de opções de sobrevivência.
  
‘Sobrevivia na rua’
Milika, 16 anos, Kitwe (Zâmbia)

Quando Milika nasceu, a sua mãe tinha apenas 16 anos. O pai morreu quando ela tinha seis meses de idade. A vida tornou-se ainda mais difícil para a família e Milika ficou encarregada de cuidar da sua avó cega, o que a obrigou a mendigar. Quando a avó morre, passa a ‘sobreviver na rua’. Só um ano depois, conseguiu ingressar no centro residencial Cibusa House, onde começou a estudar. Recentemente, voltou à casa de família em Kitwe e sonha em continuar os estudos até se formar como advogada.
  

Pequenas e numerosas

ETIÓPIA
– Maioria das crianças de rua trabalham duas a três horas por dia nas ruas. Oito por cento das crianças de rua trabalham na rua apenas aos fins-de-semana.
– A idade média das crianças de rua é de 10,7 anos.
– ONG estimam em 600 mil crianças de rua no país (100 mil na capital, Adis-Abeba).

EGIPTO
– ONG calculam cerca de um milhão de crianças de rua no país (a maioria no Cairo e Alexandria).
– A UNODCCP aponta como causas o abuso em casa ou no trabalho (82 por cento) e a negligência (62 por cento).
– A maioria das crianças abandona a escola (70 por cento) ou nunca foram à escola (30 por cento).

QUÉNIA
– Mais de 300 mil vivem e trabalham nas ruas do país (60 mil na capital Nairobi).

NIGÉRIA
– Maioria das crianças de rua estigmatizadas como ‘bruxas’ por pastores e pais.

GANA
– Mais de 21 mil crianças de rua na capital Accra (6000 bebés).

ÁFRICA DO SUL
– 12 mil crianças de rua no país (idade média de 13/14 anos).

RUANDA
– 35 por cento das crianças de rua são sexualmente activas.
– 93 por cento das meninas de rua são forçadas a relações sexuais.

SUDÃO
– Abandonados 110 bebés todos os meses na capital Cartum (metade morre dentro de horas).

CONGO
– 50 por cento das crianças de rua na capital Brazzaville são órfãos.

ZÂMBIA
– 22 por cento das crianças de rua da capital, Lusaca, perderam ambos os pais (26 por cento o pai e 10 por cento a mãe)’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http ://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EFlVAAyEEkkLbGNRAM