* Artigo
de Pe. Raniero Cantalamessa, OFM,
pregador
oficial da Casa Pontifícia (Vaticano)
Reflexões sobre a ‘Evangelii
gaudium’, do papa Francisco
‘Gostaria de
aproveitar a ausência do Santo Padre, nesta primeira meditação da Quaresma,
para propor uma reflexão sobre a sua exortação apostólica Evangelii Gaudium (EG), que eu não me atreveria a fazer em presença
dele. Não será, é claro, um comentário sistemático, e sim uma reflexão em
conjunto, procurando assimilar alguns dos seus pontos cruciais.
1. O encontro pessoal com Jesus de Nazaré
Escrita em
conclusão do sínodo dos bispos sobre a nova evangelização, a exortação
apresenta três polos de interesse interligados : o sujeito, o objeto e o método
de evangelização, ou seja, quem deve evangelizar, o que se deve evangelizar
e como se deve evangelizar. Sobre o
sujeito evangelizador, o papa diz que se trata de todos os batizados :
‘Em virtude do batismo recebido, todos os
membros do povo de Deus se tornaram discípulos missionários (cf. Mt 28,19).
Todo batizado, seja qual for a sua função na Igreja e o nível de instrução da
sua fé, é um sujeito ativo da evangelização e seria inadequado pensar num
esquema de evangelização realizado por atores qualificados e no qual o resto do
povo fiel fosse apenas receptor das suas ações. A nova evangelização tem de
envolver um novo protagonismo de cada um dos batizados’ (nº 120).
Esta
afirmação não é nova. Ela já tinha sido feita pelo beato Paulo VI na Evangelii nuntiandi e por São João Paulo
II na Christifideles laici. Bento XVI
também insistiu no papel especial de evangelização reservado à família (1). Antes ainda, o chamado universal a
evangelizar tinha sido proclamado pelo decreto Apostolicam actuositatem, do Concílio Vaticano II. Certa vez, ouvi
um leigo norte-americano começar assim um discurso de evangelização : ‘Dois mil e quinhentos bispos, reunidos no
Vaticano, me escreveram pedindo para vir anunciar o Evangelho a vocês’.
Todos, é claro, ficaram curiosos para saber quem era aquele homem. E ele então,
cheio de bom humor, explicou que os dois mil e quinhentos bispos eram os que
tinham participado do Concílio Vaticano II e escrito o documento sobre o
apostolado dos leigos. Ele estava absolutamente certo : aquele documento não
era genérico, mas dirigido a todos os batizados e ele o considerava justamente
como dirigido a ele em pessoa.
Não é,
portanto, neste ponto que se deve procurar a novidade da EG do papa Francisco.
Ele apenas reitera o que seus antecessores tinham inculcado repetidamente. A
novidade tem de ser buscada em outro lugar, no apelo que ele faz aos leitores
no início da carta e que, penso eu, constitui o coração de todo o documento :
‘Convido todos os cristãos, de todo lugar e
situação, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo, ou,
pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de procurá-lo
todos os dias com firmeza. Não há motivo para que alguém ache que este convite
não é para ele’ (EG, nº 3).
Isto quer
dizer que o objetivo último da evangelização não é a transmissão de uma
doutrina, mas o encontro com uma pessoa, Jesus Cristo. A possibilidade de tal
encontro cara a cara depende do fato de que, ressuscitado, Jesus está vivo e
quer andar ao lado de cada crente, do mesmo jeito que andou ao lado dos dois
discípulos na estrada para Emaús; mais ainda, do mesmo jeito que estava
presente no coração de ambos quando eles voltavam para Jerusalém, depois de recebê-lo
na partilha do pão.
Na linguagem
católica, o ‘encontro pessoal com Jesus’
nunca foi um conceito muito familiar. Em vez de encontro ‘pessoal’, preferia-se a ideia do encontro eclesial, que se realiza
através dos sacramentos da Igreja. A expressão evocava, aos nossos ouvidos
católicos, certas ressonâncias vagamente protestantes. O papa não pensa, é
claro, em um encontro pessoal que substitua o eclesial; quer apenas dizer que o
encontro eclesial deve ser também um encontro livre, desejado, espontâneo, não
puramente nominal, jurídico ou de mero hábito.
Para
entender o que significa ter um encontro pessoal com Jesus, é preciso
considerar, ainda que de modo sumário, a história da Igreja. Como é que alguém
se tornava cristão nos três primeiros séculos da Igreja? Com todas as
diferenças de indivíduo para indivíduo e de lugar para lugar, tornar-se cristão
era algo que acontecia depois de uma longa iniciação, o catecumenato, e era
fruto de uma decisão pessoal e arriscada, por causa da possibilidade do martírio.
As coisas
mudaram quando o cristianismo se tornou primeiramente uma religião tolerada (Edito de Constantino, em 313) e, depois,
num curto espaço de tempo, uma religião favorecida, quando não, até, imposta.
No início do século VI, uma lei do imperador Teodósio permitia somente aos
batizados o acesso a cargos públicos. Somou-se a isto o fato das invasões
bárbaras, que, rapidamente, mudaram por completo a configuração política e
religiosa do império. A Europa Ocidental se tornou um mosaico de reinos bárbaros,
com uma população que em alguns casos era ariana e, na maioria dos casos, pagã.
Nas regiões
do antigo império (em especial no Oriente e no centro-sul da Itália) tornar-se
cristão não era mais uma decisão do indivíduo, mas da sociedade, tanto mais
porque o batismo tinha passado a ser administrado principalmente às crianças.
Quanto aos reinos bárbaros, imperava entre a sua população o costume de seguir
a decisão do chefe. Quando, na véspera do Natal de 498 ou 499, o rei franco
Clóvis foi batizado em Reims pelo bispo São Remígio, todo o seu povo o seguiu
(é por isso que a França ganhou o título de ‘filha primogênita da Igreja’). Começava assim a prática do batismo
em massa; bem antes da Reforma protestante, vigorava a norma ‘cuius regio eius et religio’ : a religião do rei é também a do reino.
Nesta
situação, a ênfase não é mais colocada no momento e na maneira de alguém se
tornar cristão, ou seja, no ato de abraçar a fé, e sim nas exigências morais da
fé, na mudança de costumes; em outras palavras, na moralidade. A situação, no
entanto, era menos grave do que pareceria hoje, porque, apesar de todas as
incoerências que conhecemos, a família, a escola, a cultura e, aos poucos,
também a sociedade ajudavam, quase espontaneamente, a absorver a fé. Sem contar
que, desde o início da nova situação, tinham nascido formas de vida, tais como
o monacato e, depois, as várias ordens religiosas, nas quais o batismo era
vivido em toda a sua radicalidade e a vida cristã era fruto de uma decisão
pessoal, muitas vezes heroica.
Esta
situação de ‘cristandade’ mudou
dramaticamente, mas não vem ao caso, neste momento, ilustrarmos os tempos e
modos dessa mudança. Basta sabermos que não é mais como nos séculos passados,
quando a maioria das nossas tradições e a nossa própria mentalidade se formou.
O advento da modernidade, iniciado com o humanismo, acelerado pela Revolução
Francesa e pelo Iluminismo, a emancipação do Estado em relação à Igreja, a
exaltação da liberdade individual e da autodeterminação e, por fim, a
secularização radical que resultou desse processo, já mudaram profundamente a
situação da fé na sociedade.
Daí a
necessidade urgente de uma nova evangelização, isto é, de uma evangelização
cuja base seja diferente das tradicionais e que leve em conta a nova situação.
Trata-se, na prática, de criar para as pessoas de hoje as oportunidades que
lhes permitam tomar, neste novo contexto, a decisão pessoal livre e madura que
os cristãos tomavam no início, ao receberem o batismo e se tornarem cristãos
reais, não apenas nominais.
2. Como responder às novas exigências?
É claro que
não somos os primeiros a levantar a questão. Para não voltar ainda mais no
tempo, lembremo-nos da instituição, em 1972, do Rito da Iniciação Cristã dos Adultos, que propõe uma espécie de
caminho catecumenal para o batismo dos adultos. Em alguns países de religião
mista, onde muitas pessoas pedem o batismo quando adultas, este instrumento se
mostrou altamente eficaz.
Mas o que
fazer com a massa de cristãos já batizados que vivem como cristãos apenas de
nome e não de fato, completamente alheios à Igreja e à vida sacramental? A
resposta para este problema veio mais de Deus mesmo do que da iniciativa humana
: são os inumeráveis movimentos eclesiais, agregações de leigos e comunidades
paroquiais renovadas, surgidas depois do concílio. A contribuição conjunta de
todas essas realidades, apesar da grande variedade de estilos e de número, é
que elas são o contexto e o instrumento que permite que tantos adultos façam
uma escolha pessoal por Cristo, uma escolha de levar a sério o seu batismo, de
se tornarem membros ativos da Igreja.
São João
Paulo II via nesses movimentos e comunidades paroquiais vivas ‘os sinais de uma nova primavera da Igreja’.
Na Novo millennio ineunte, ele
escreveu :
‘É de grande importância para a comunhão o
dever de promover as várias realidades agregadoras, que, seja nas formas mais
tradicionais, seja nas formas mais novas dos movimentos eclesiais, continuam a
dar à Igreja uma vivacidade que é dom de Deus e constitui uma verdadeira
‘primavera do Espírito’’(2).
Bento XVI se
expressou da mesma forma em várias ocasiões. Na homilia da Missa Crismal da
Quinta-Feira Santa de 2012, ele disse :
‘Quem olha para a história pós-conciliar é
capaz de reconhecer a dinâmica da verdadeira renovação, que, muitas vezes,
tomou formas inesperadas em movimentos cheios de vida e que torna quase
palpáveis a vitalidade inesgotável da santa Igreja, a presença e a ação eficaz
do Espírito Santo’.
3. Por que o evangelho enche de alegria o coração e
a vida do crente
Voltemos
agora à carta do papa Francisco. Ela começa com as palavras que inspiraram o
título do documento : ‘A alegria do
Evangelho enche o coração e toda a vida de quem se encontra com Jesus’. Há
uma ligação entre o encontro pessoal com Jesus e a experiência da alegria do
Evangelho. A alegria do Evangelho só pode ser experimentada mediante o
estabelecimento de uma relação íntima, de pessoa a pessoa, com Jesus de Nazaré.
Se não
queremos que as palavras sejam apenas palavras, temos de nos fazer, neste
momento, uma pergunta : por que o Evangelho seria uma fonte de alegria? A
expressão é apenas um slogan conveniente ou é a verdade? Mais ainda : por que o
Evangelho é chamado assim, euangelion,
ou seja, boa notícia, alegre e jubilosa notícia? A melhor maneira de descobrir
é olhar para o momento em que esta palavra faz a sua primeira aparição no Novo
Testamento, nos lábios do próprio Jesus. Marcos, no início do seu Evangelho,
resume em poucas palavras a mensagem fundamental que Jesus pregava nas cidades
e vilas por onde passava depois do seu batismo no Jordão :
‘Depois que João foi preso, Jesus foi para a
Galileia proclamando o evangelho de Deus e dizendo : O tempo está cumprido e o
reino de Deus está próximo; convertei-vos e crede no Evangelho’ (Mc 1,
14-15).
À primeira
vista, não é exatamente uma notícia ‘alegre’;
soa, antes, a um chamado severo, um apelo austero à mudança. É neste sentido
que ele é proposto no início da Quaresma, no Evangelho do primeiro domingo e
acompanhando o rito das cinzas sobre a cabeça : ‘Convertei-vos e crede no Evangelho!’. Por isso, é vital compreender
o verdadeiro significado deste início do Evangelho.
Antes de
Jesus, converter-se significava ‘voltar
atrás’ (como indicado pelo próprio termo usado em hebraico para esta ação :
shub); significava voltar à aliança
rompida, mediante uma renovada observância da lei. Diz o Senhor pela boca do
profeta Zacarias : ‘Convertei-vos a mim (...),
voltai atrás dos vossos caminhos perversos’ (Zc 1, 3-4; cf. ainda Jr 8,
4-5). Converter-se, por conseguinte, tem um significado principalmente
ascético, moral e penitencial, e é algo que se consegue através da mudança de
conduta na vida. A conversão é vista como condição para a salvação; o sentido é
‘convertei-vos e sereis salvo;
convertei-vos e a salvação virá para vós’.
Este é o
significado predominante da palavra conversão nos lábios de João Batista (cf.
Lc 3, 4-6). Mas, nos lábios de Jesus, o significado muda; não porque Jesus gostasse
de mudar o significado das palavras, mas porque, com Ele, a própria realidade
mudou. O significado moral passa para segundo plano (pelo menos no início da
sua pregação) em comparação com um significado novo, até então desconhecido.
Converter-se não significa mais voltar atrás; significa, antes, dar um salto
para frente e entrar, mediante a fé, no Reino de Deus que está presente entre
os homens. Converter-se é tomar uma ‘decisão
propícia’ diante da realização das promessas de Deus.
‘Convertei-vos e crede’ não significa
duas coisas diferentes e sucessivas, mas a mesma ação : convertei-vos, ou seja,
crede; convertei-vos crendo! É o que também afirma Santo Tomás de Aquino : ‘Prima conversio fit per fidem’, a primeira conversão consiste em crer (3). Conversão e salvação trocaram de
lugar. Não é mais pecado - conversão - salvação (‘Convertei-vos e sereis salvos : convertei-vos e a salvação virá a vós’),
mas sim pecado - salvação - conversão (‘Convertei-vos
porque fostes salvos, porque a salvação já veio a vós’). Os homens não
mudaram, não são melhores nem piores do que antes; é Deus quem mudou e, na
plenitude dos tempos, enviou o seu Filho para que recebêssemos a adoção como
filhos (cf. Gal 4, 4).
Muitas
parábolas evangélicas reiteram este feliz anúncio inicial. Uma delas é a do
banquete. Um rei ofereceu um banquete pelo casamento do filho; na hora marcada,
enviou os seus servos para chamar os convidados (cf. Mt 22, 1). Os comensais
não tinham pagado o preço com antecedência, como nos almoços sociais; não, o banquete
é gratuito. Trata-se apenas de aceitar ou recusar o convite. Outra é a parábola
da ovelha perdida. Jesus a encerra com as palavras : ‘Digo-vos, pois, que há alegria diante dos anjos de Deus por um único
pecador que se converte’ (Lc 15,10). Mas em que consistiu a conversão da
ovelha? Ela acaso voltou ao redil pelas próprias patas? Não, foi o pastor quem
foi buscá-la e a trouxe de volta ao redil em seus ombros. Dela dependeu apenas
deixar-se levar sobre os ombros.
São Paulo,
em sua carta aos Romanos (3, 21 e seguintes), será o anunciante indômito dessa
extraordinária novidade evangélica, depois que Jesus o fez viver a dramática
experiência na própria vida. Ele relembra assim o fato que mudou o curso da sua
história :
‘Todas essas coisas (ser circuncidado, judeu,
irrepreensível quanto à observância da lei), que para mim eram lucro, eu as
considerei perda por causa de Cristo. Acredito, em verdade, que tudo é perda
perante a sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por ele eu
abandonei todas essas coisas e as considero lixo para ganhar a Cristo e
encontrar-me nele, tendo por minha justiça não a que vem da lei, mas a que vem
da fé em Cristo, a justiça que vem de Deus, baseada na fé’ (Fil 3, 7-9).
É por isso
que o Evangelho se chama Evangelho e é por isso que ele é fonte de alegria. Ele
nos fala de um Deus que, por pura graça, veio ao nosso encontro em seu Filho
Jesus. Um Deus que ‘amou tanto o mundo
que deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna’ (Jo 3, 16).
Do
Evangelho, muitos se lembram quase apenas da frase de Jesus : ‘Se alguém quiser seguir-me, negue-se a si
mesmo, tome a sua cruz e siga-me’ (Mt 16, 24), e estão convencidos de que o
Evangelho é sinônimo de sofrimento e abnegação, não de alegria. Mas acaso nos
aprofundamos no chamado ‘siga-me’?
Até aonde? Até o Calvário, até a morte na cruz? Não! No Evangelho, esta é a
penúltima etapa, nunca a última. Siga-me, por meio da cruz, até a ressurreição, até
a vida, até a felicidade sem fim!
4. A fé e as obras e o Espírito Santo
Mas será
que, assim, não reduzimos o Evangelho a uma única dimensão, a da fé,
negligenciando as obras? E como conciliar a explicação recém-exposta com outras
passagens do Novo Testamento, onde a palavra conversão é dirigida a quem já
acredita? Aos apóstolos que o seguiam já fazia tempo, Jesus disse um dia : ‘Se não vos converterdes e vos tornardes como
crianças, não entrareis no reino dos céus’ (Mt 18,3); João, no Apocalipse, repete a cada uma das sete
igrejas o imperativo ‘converte-te’
(metanoeson), cujo sentido inequívoco é ‘volta
ao fervor primitivo, sê vigilante, cumpre as obras de antes, não te aninhes na
ilusão de estares bem com Deus; sai da tua mornidão!’ (cf. Ap 2-3).
Isto se explica
através de uma simples analogia com o que acontece na vida física. A criança
não pode fazer nada para ser concebida no seio da mãe; ela precisa do amor de
pai e mãe, que lhe dão a vida; mas, uma vez dada à luz, tem de acionar os seus
pulmões, respirar, sugar o leite, pois, do contrário, a vida recebida se apaga.
É neste sentido que deve ser entendida a frase de São Tiago ‘A fé sem obras é morta’ (Tg 2, 26), isto
é : sem as obras, a fé ‘morre’.
Este é
também o sentido que a teologia católica sempre deu à definição paulina da ‘fé
que se torna operosa por meio da caridade’ (Gal 5, 6). Não se é salvo pelas
boas obras, mas tampouco sem as boas obras : podemos resumir assim o que diz o
Concílio de Trento sobre este ponto, que o diálogo ecumênico torna cada vez
mais amplamente compartilhado entre os cristãos.
A exortação
apostólica do papa Francisco reflete esta síntese entre a fé e as obras. Depois
de começar a falar da alegria do Evangelho que enche o coração, ele recorda, no
corpo da carta, todos os grandes ‘nãos’
que o Evangelho pronuncia contra o egoísmo, a injustiça, a idolatria do
dinheiro, e todo grande ‘sim’ que ele
nos anima a dizer ao serviço dos outros, ao compromisso social, aos pobres. É a
demonstração de que o encontro pessoal com Jesus, do qual nos falava o começo
da carta, é tudo menos uma experiência privatizada e individualista; ela se
torna, pelo contrário, a mola mestra da evangelização e da santificação
pessoal.
A
necessidade de compromisso que o Evangelho envolve não atenua, no entanto, a
promessa de alegria com que Jesus abre o seu ministério e o papa a sua
exortação, e sim a reforça. Aquela graça que Deus ofereceu aos homens enviando
o Seu Filho ao mundo, agora que Jesus morreu, ressuscitou e enviou o Espírito
Santo, não deixa o crente sozinho, em luta com as exigências da lei e do dever;
ela faz nele e com ele, mediante a graça, aquilo mesmo que lhe comanda : faz
com que ele ‘superabunde de alegria inclusive na tribulação’ (2 Cor 7,4).
Esta é a
certeza com que o papa Francisco encerra a sua exortação. O Espírito Santo,
recorda ele, ‘nos assiste em nossa
fraqueza’ (Rm 8,26; EG, nº 280). Ele é o nosso grande recurso. A alegria
prometida pelo Evangelho é fruto do Espírito (Gl 5, 21) e não se mantém sem que
seja graças a um contato permanente com Ele.
Em recente
encontro com os líderes das fraternidades carismáticas, o papa Francisco usou o
exemplo do que ocorre na respiração humana (4).
Ela se realiza em duas fases : a inspiração, com a qual recebemos o ar, e a
expiração, com que o colocamos para fora. Elas são,
dizia ele, uma bela figura do que deve acontecer no organismo espiritual. Nós inalamos o
oxigênio que é o Espírito Santo através da oração, da meditação da palavra de
Deus, dos sacramentos, da mortificação, do silêncio; e derramamos o Espírito
quando saímos ao encontro do outro, proclamando a fé e realizando as obras da
caridade.
O tempo da
Quaresma, que estamos apenas começando, é, por excelência, um tempo de
inspiração. Respiremos, neste tempo, profundamente; enchamos do Espírito Santo
os pulmões da nossa alma, e, assim, sem percebermos, o nosso alento exalará o
perfume de Cristo. Boa Quaresma a todos!'
Fonte :
*Artigo na íntegra http://www.zenit.org/pt/articles/primeira-pregacao-da-quaresma-a-alegria-do-evangelho-enche-o-coracao-e-a-vida
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(1) Bento XVI, Discurso
na Plenária do Pontifício Conselho para a Família, 2011.
(2) Novo
millennio ineunte, 46.
(3) S. Tomás de Aquino, Summa theologiae, I-IIae, q.113,a,4.
(4) Discurso aos membros da ‘Catholic Fraternity of Charismatic Covenant Communities and Fellowships’,
sexta-feira, 31 de outubro de 2014.
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