*Artigo de Padre António Carlos,
Missionário Comboniano
‘A Quaresma é uma ocasião providencial
para a renovação pessoal e comunitária, ou em linguagem bíblica, um tempo
favorável para correspondermos ao apelo da conversão. Os exercícios ascéticos
que a Igreja propõe para este período litúrgico – o jejum, a caridade e a
oração – preparam os corações e as vontades para a partilha e a solidariedade.
D. Manuel Clemente, a quem saudamos e desejamos as maiores felicidades como
novo cardeal da Igreja portuguesa, afirma na sua mensagem quaresmal que ‘a misericórdia é a alma da Quaresma’.
Trata-se, portanto, de um percurso focado na metanóia, na mudança radical de
critérios e atitudes de vida para uma maior abertura do coração a Deus e aos
outros.
Na mensagem para a Quaresma deste ano,
o Papa Francisco chama a atenção para o mal da ‘indiferença’, que afecta indivíduos, comunidades e o mundo inteiro.
O antídoto para o que ele chama ‘globalização
da indiferença’ é mais uma vez a misericórdia, ‘um coração forte e misericordioso, vigilante e generoso, que não se
deixa fechar em si mesmo’.
Nesta época, a nossa atenção e
solidariedade vão imediatamente para as vítimas da guerra no Leste da Ucrânia,
que se arrasta há um ano, as centenas de imigrantes africanos e do Médio
Oriente mortos no mar Mediterrâneo e as vítimas do terrorismo barbárico e
hediondo do Estado Islâmico e do Boko Haram. Há ainda as guerras esquecidas do
Sudão (onde recentemente foram violadas mais de duas centenas de mulheres ao
longo de 36 horas pelas forças armadas sudanesas) e da República
Centro-Africana (onde a situação se agrava de dia para dia e a violência não dá
sinais de abrandar).
A vitória do Syriza nas eleições
parlamentares da Grécia e a sua postura contra a troika veio reacender o debate sobre as políticas de austeridade
impostas aos países com excessivo déficit orçamental. Numa declaração
inesperada, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, admitiu que
a ‘troika pecou contra a dignidade dos
povos’, e que tem de se aprender com o passado, de modo que ‘não se repitam os mesmos erros’. Um
reconhecimento que enviou ondas de choque por toda a União Europeia e que no
nosso país foram contraditas pelo Governo e saudadas pelos partidos da
oposição. Não obstante alguns resultados positivos registados em Portugal,
contudo, esses sucessos tiveram um preço bastante elevado para as camadas
sociais mais desfavorecidas. O último relatório da Cáritas Europa sobre a
pobreza e o aumento das desigualdades denuncia esta situação em relação a todo
o continente europeu. O documento confirma que a pobreza se agravou com a crise
financeira e as políticas de austeridade. Numa entrevista recente, Dom António
Francisco, bispo do Porto, reconhece que o nível de austeridade terá levado ‘muitos de nós a desanimar e a perder a
confiança’. E aponta o horizonte futuro : ‘criar novos patamares de desenvolvimento da economia e de justiça
social, de equidade entre todos para que as provações e as dificuldades não
pesem sobre aqueles que menos têm.’’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EukVFpVZlyIoiotfIw
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