*Artigo de Felipe
Arizmendi Esquivel,
Bispo de San Cristóbal de las Casas - México
‘Faz
alguns anos, um meu parente distante, agricultor muito pobre, ficou
desaparecido durante vários meses sem que a família soubesse nada do seu
paradeiro. É compreensível a angústia e a preocupação de todos nós. Com o
tempo, ele apareceu em casa e contou que os narcotraficantes o tinham levado,
junto com outros agricultores pobres, para trabalhar e cuidar de plantações de
maconha no Estado vizinho de Guerrero. Ele foi mantido escravo e vigiado por
guardas que usavam armamento pesado. Ficou quase sem comer, obrigado a cultivar
a droga. Depois de muitas orações, escapou e voltou, maltratado e desnutrido,
para a sua casa.
Um
bispo desse mesmo Estado, a caminho de uma reunião provincial em Acapulco, foi
interceptado na rodovia. Sua camionete foi roubada por um grupo cujo líder era
um jovem, a quem o bispo começou a falar em tom sereno para mostrar a injustiça
que eles estavam cometendo. O jovem respondeu : ‘Eu recebo ordens e, se não levar esta camionete para o meu chefe, eles
me matam e matam a minha família’. Ele não agia assim por gosto, mas por
ser escravo.
É o
mesmo caso de muitos jovens que, sem possibilidades de estudar e trabalhar,
caem nas mãos de redes de malfeitores e narcotraficantes e são obrigados a
vender drogas, sequestrar e matar.
PENSAR
O
papa Francisco, na 48ª Jornada Mundial da Paz, denuncia muitas escravidões de
hoje como ‘o flagelo cada vez mais
generalizado da exploração do homem pelo homem; é um crime contra a humanidade.
Este fenômeno abominável, que pisoteia os direitos fundamentais dos outros e
aniquila a sua liberdade e dignidade, assume múltiplas formas’.
E
ele enumera as seguintes : ‘Há milhões de pessoas privadas da liberdade e
obrigadas a viver em condições semelhantes à escravidão. Falo de tantos
trabalhadores e trabalhadoras, inclusive menores, oprimidos de maneira formal
ou informal em todos os setores, do trabalho doméstico ao agrícola, da indústria
manufatureira à mineração. Penso também nas condições de vida de muitos
emigrantes que, na sua dramática viagem, passam fome, são privados da
liberdade, são despojados de seus bens ou sofrem abusos físicos e sexuais.
Naqueles que, chegados ao destino depois de uma viagem cruel, com medo e
insegurança, são detidos em condições muitas vezes desumanas.
Penso
nos que são obrigados à clandestinidade por diferentes motivos sociais,
políticos e econômicos e naqueles que, para permanecer dentro da lei, aceitam
viver e trabalhar em condições inadmissíveis... Sim, penso no trabalho escravo.
Penso
nas pessoas obrigadas a exercer a prostituição, entre as quais muitos menores,
e nos escravos e escravas sexuais; nas mulheres obrigadas a se casar, nas que
são vendidas para casamentos forçados ou entregues em sucessão a um familiar
depois da morte do marido, sem o direito de dar ou não seu consentimento. Não
posso deixar de pensar nas crianças e adultos que são vítimas do tráfico e da
comercialização para a extração de órgãos, para ser recrutados como soldados,
para a mendicância, para atividades ilegais como a produção ou venda de drogas
ou para formas encobertas de adoção internacional. Penso em todos os
sequestrados e mantidos em cativeiro por grupos terroristas, usados como
combatentes ou, em especial as meninas e as mulheres, como escravas sexuais.
Muitos desaparecem, outros são vendidos várias vezes, torturados, mutilados ou
assassinados’.
AGIR
Nossos
legisladores precisam atualizar as leis que permitem ou facilitam estas
escravidões, para evitá-las.
Cada
um analise se, no lar, na escola, no trabalho, no partido, na comunidade
eclesial, trata alguém como escravo, e decida converter-se e tratar a todos
como irmãos.
Evitemos
o machismo, o predomínio sobre os outros, os baixos salários e tantas outras
formas de escravidão.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http ://www.zenit.org/pt/articles/irmaos-nao-escravos
Nenhum comentário:
Postar um comentário