quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Irmãos, não escravos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 *Artigo de Felipe Arizmendi Esquivel,
Bispo de San Cristóbal de las Casas - México
  
‘Faz alguns anos, um meu parente distante, agricultor muito pobre, ficou desaparecido durante vários meses sem que a família soubesse nada do seu paradeiro. É compreensível a angústia e a preocupação de todos nós. Com o tempo, ele apareceu em casa e contou que os narcotraficantes o tinham levado, junto com outros agricultores pobres, para trabalhar e cuidar de plantações de maconha no Estado vizinho de Guerrero. Ele foi mantido escravo e vigiado por guardas que usavam armamento pesado. Ficou quase sem comer, obrigado a cultivar a droga. Depois de muitas orações, escapou e voltou, maltratado e desnutrido, para a sua casa.

Um bispo desse mesmo Estado, a caminho de uma reunião provincial em Acapulco, foi interceptado na rodovia. Sua camionete foi roubada por um grupo cujo líder era um jovem, a quem o bispo começou a falar em tom sereno para mostrar a injustiça que eles estavam cometendo. O jovem respondeu : ‘Eu recebo ordens e, se não levar esta camionete para o meu chefe, eles me matam e matam a minha família’. Ele não agia assim por gosto, mas por ser escravo.

É o mesmo caso de muitos jovens que, sem possibilidades de estudar e trabalhar, caem nas mãos de redes de malfeitores e narcotraficantes e são obrigados a vender drogas, sequestrar e matar.


PENSAR

O papa Francisco, na 48ª Jornada Mundial da Paz, denuncia muitas escravidões de hoje como ‘o flagelo cada vez mais generalizado da exploração do homem pelo homem; é um crime contra a humanidade. Este fenômeno abominável, que pisoteia os direitos fundamentais dos outros e aniquila a sua liberdade e dignidade, assume múltiplas formas’.

E ele enumera as seguintes : Há milhões de pessoas privadas da liberdade e obrigadas a viver em condições semelhantes à escravidão. Falo de tantos trabalhadores e trabalhadoras, inclusive menores, oprimidos de maneira formal ou informal em todos os setores, do trabalho doméstico ao agrícola, da indústria manufatureira à mineração. Penso também nas condições de vida de muitos emigrantes que, na sua dramática viagem, passam fome, são privados da liberdade, são despojados de seus bens ou sofrem abusos físicos e sexuais. Naqueles que, chegados ao destino depois de uma viagem cruel, com medo e insegurança, são detidos em condições muitas vezes desumanas.

Penso nos que são obrigados à clandestinidade por diferentes motivos sociais, políticos e econômicos e naqueles que, para permanecer dentro da lei, aceitam viver e trabalhar em condições inadmissíveis... Sim, penso no trabalho escravo.

Penso nas pessoas obrigadas a exercer a prostituição, entre as quais muitos menores, e nos escravos e escravas sexuais; nas mulheres obrigadas a se casar, nas que são vendidas para casamentos forçados ou entregues em sucessão a um familiar depois da morte do marido, sem o direito de dar ou não seu consentimento. Não posso deixar de pensar nas crianças e adultos que são vítimas do tráfico e da comercialização para a extração de órgãos, para ser recrutados como soldados, para a mendicância, para atividades ilegais como a produção ou venda de drogas ou para formas encobertas de adoção internacional. Penso em todos os sequestrados e mantidos em cativeiro por grupos terroristas, usados como combatentes ou, em especial as meninas e as mulheres, como escravas sexuais. Muitos desaparecem, outros são vendidos várias vezes, torturados, mutilados ou assassinados’.


AGIR

Nossos legisladores precisam atualizar as leis que permitem ou facilitam estas escravidões, para evitá-las.

Cada um analise se, no lar, na escola, no trabalho, no partido, na comunidade eclesial, trata alguém como escravo, e decida converter-se e tratar a todos como irmãos.

Evitemos o machismo, o predomínio sobre os outros, os baixos salários e tantas outras formas de escravidão.


Fonte  :
* Artigo na íntegra de http ://www.zenit.org/pt/articles/irmaos-nao-escravos

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