*Artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
‘A
Igreja presta um serviço às novas gerações quando lhes possibilita, através da
vida das Comunidades Cristãs, a resposta aos apelos de Deus, que continuamente
convoca a seu serviço e ao serviço dos irmãos. Viver dignamente é identificar o
chamado que Deus faz na vida de todos os homens e mulheres, edificando a
existência num diálogo continuo com o Senhor, superando o individualismo tão
frequente na busca de carreiras e posições na sociedade. No início de um novo
ano, vale a pena abrir as perspectivas de vida à nossa juventude, para que a
generosidade inscrita em seu coração pelo próprio Deus venha a desabrochar
plenamente.
Deus
tem a ver conosco. Sua presença em nossa vida não pode ser entendida apenas
como aquele que dá o ‘chute inicial’
numa partida esportiva e depois abandona os que dela participam. Trata-se de um
maravilhoso mistério o modo como Deus cuida de nós, respeitando profundamente a
liberdade com a qual fomos criados e permanecendo, ao mesmo tempo, senhor da
história do mundo e de nossa história pessoal. Nossa existência nesta terra é
um presente do Criador, uma tarefa a ser desempenhada com dedicação, para ser entregue
de coração alegre, quando formos chamados para junto dele. Ali, teremos a
alegria de prestar contas da maravilhosa aventura da vida nesta terra,
destinada a glorificar o próprio Deus e fazer o bem ao próximo. Esta é, desde
já, a nossa realização. Fomos feitos como obra prima e destinados à felicidade
nesta terra e na eternidade, já que ninguém foi feito para a perdição!
Para
realizar seu plano de amor e conservar o dom da liberdade que nos foi
prodigalizado, Deus oferece sinais de seu chamado. O jovem Samuel (Cf. 1 Sm 3,
3-19) passou pelo processo de discernimento que o conduziu a identificar a voz
de Deus, no meio de tantos outros apelos, por três, quatro ou milhares de
vezes. Quando a Escritura se refere à voz do Senhor que pronuncia o nome do jovem
Samuel, não significa necessariamente que serão extraordinárias as intervenções
divinas na vida das pessoas. Um sinal de Deus para Samuel foi a sabedoria do
sacerdote Eli que, mesmo enfraquecido pelo peso dos anos, indicou-lhe a
resposta adequada frente ao chamado de Deus. É o serviço do conselheiro
amadurecido, tão necessário às novas gerações. Outra fonte é a Palavra de Deus,
lida, acolhida e praticada, com a qual se estabelece um relacionamento fecundo
com Deus. Esta fortalecerá o clima de escuta da voz de Deus. Ela é um
inigualável sinal do Senhor para todos os tempos, inclusive o nosso, a fim que
nossos adolescentes e jovens não deixem cair por terra nenhum de seus apelos.
Só
que Deus não impõe, mas propõe! O Senhor não força quem quer que seja a segui-lo!
É uma pena que uma pessoa passe toda a sua existência sem desfrutar a beleza de
transformá-la num diálogo fecundo com quem a pensou como obra prima.
Efetivamente o Criador, assim ‘se
arriscou’, fazendo o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, inteligência
e liberdade. A história da humanidade mostra o quanto este drama pode ser
terrível e ao mesmo tempo maravilhoso. Em situação normal, chega para todos a
hora das decisões. Muitos dos que são hoje adultos sabem identificar, no
escrínio de sua consciência, o quanto lhes custou e alegrou fazer as escolhas
que definiram a família que formaram, ou para outros, o sacerdócio, a vida
religiosa, a opção de estudo e profissão, o serviço à comunidade. É a linda
aventura da liberdade. Só que as famílias precisam reaprender, no processo
educativo dos filhos, a incluir no menu de tarefas a executar na vida a
pergunta fundamental que remete ao diálogo com Deus, o que acontecerá na medida
em que se respirar em nossas casas um ambiente de oração e de escuta.
Há ainda
outro serviço a ser oferecido pelas gerações mais maduras, a saber, a proposta
aos jovens de grandes ideais, para que seja superado o terra a terra do
quotidiano feito apenas de necessidades primárias, ainda que estas sejam hoje
entendidas como os sonhos de consumo que habitam os corações das pessoas. Falta
maior radicalidade, visão de futuro, senso do bem comum, enfim, idealismo e
admiração por figuras emblemáticas de todos os tempos e de nossos dias.
O
jovem Samuel da Bíblia, os discípulos de João Batista que vieram a seguir
Jesus, André e João, ou Simão, que veio a se chamar Pedro, quem sabe seu nome
seja Filipe ou Natanael, vieram a estar com o Senhor e com ele permaneceram.
Sintam-se reconhecidas e valorizadas aqui todas as pessoas de nomes e idades
diferentes que já experimentam permanecer com o Senhor durante minutos, horas
ou dias, para descobrir que o sentido da vida plena se encontra na comunhão com
ele.
De
propósito, desejo ainda provocar as gerações adultas que podem ter se esquecido
do primeiro amor da descoberta de Jesus Cristo, ou gente que se habituou demais
com as coisas de Deus. Limpe-se a poeira ou a ferrugem do tempo, das manias e
dos pecados. Comecem uma nova etapa, nestes primeiros dias do ano, quem sabe
com uma boa e frutuosa confissão, com a qual se renovem na graça. Não se
esqueçam que a chama acesa por Deus em seus corações não é feita para ficar
guardada, mas passada adiante. Vejam os jovens nestas gerações mais maduras a
beleza dos grandes ideais, dignos da vida da graça que Deus plantou em nossos
corações.
Esta
é a proposta de uma visão da vida humana e cristã com chave vocacional, na qual
a Igreja deseja comprometer a todos. Nas Paróquias e Comunidades, é tempo de
oferecer às crianças, adolescentes e jovens as oportunidades de discernimento
do chamado de Deus. Se este não existisse, o Senhor teria abandonado seu povo,
o que não é verdade. Deus chama sempre, mesmo quando nos parece que sejam raros
os seus apelos (Cf. 1 Sm 3, 1). Não falta a voz do Senhor, ainda que possam faltar
ouvidos e corações abertos. Como o otimismo da fé nos conduz, cada pessoa
adulta, cristão ou cristã que tenha feito uma sincera e consistente experiência
do amor de Deus, descubra-se convocado a chamar, em nome do Senhor e da Igreja,
as novas gerações para o serviço do anúncio do Evangelho, nas várias vocações e
estados de vida.
Enfim,
as Comunidades paroquiais se transformem em casas com portas abertas, para
dizerem a todos, com sua organização, liturgia e vivência do Evangelho, ‘Vinde ver’ (Cf. Jo 1, 39) a todos os que
indagarem pela morada do Senhor! E rezemos : ‘Senhor da Messe e Pastor do Rebanho, faze ressoar em nossos ouvidos teu
forte e suave convite : 'Vem e segue-me'. Derrama sobre nós o teu Espírito. Que
ele nos dê sabedoria para ver o caminho e generosidade para seguir tua voz.
Senhor, que a Messe não se perca por falta de Operários. Desperta nossas
comunidades para a Missão. Ensina nossa vida a ser serviço. Fortalece os que
querem dedicar-se ao Reino na vida consagrada e religiosa. Senhor, que o
Rebanho não pereça por falta de Pastores. Sustenta a fidelidade de nossos
bispos, padres e ministros. Dá perseverança a nossos seminaristas. Desperta o
coração de nossos jovens para o ministério pastoral em tua Igreja. Senhor da
Messe e Pastor do Rebanho, chama-nos para o serviço de teu povo. Maria, Mãe da
Igreja, modelo dos servidores do Evangelho, ajuda-nos a responder Sim. Amém’
(Cf. Oração do Ano Vocacional).’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.cnbb.org.br/artigos-dos-bispos-1/426-dom-alberto-taveira-correa/15686-o-chamado-de-deus
Nenhum comentário:
Postar um comentário