*Artigo de Padre Manuel João P. Correia,
Missionário Comboniano
Por decisão do Papa Francisco, 2015 é dedicado à vida
consagrada. Para assinalar tal acontecimento especial, o papa escreveu uma
carta onde apresenta os grandes objectivos, expectativas e horizontes deste
ano.
‘Bom Ano Novo a todos os caminhantes
que, abandonando os velhos e gastos caminhos, vão traçando, confiantes, novas
sendas em busca dos horizontes da paz e da fraternidade! Também a eles se
refere o profeta Isaías, quando afirma : ‘aqueles
que confiam no Senhor renovam as suas forças; adquirem asas de águia. Correm
sem se cansar, vão para a frente sem se fatigar’ (Is 40,31).
Ao escolher o tema para o nosso
percurso vocacional deste ano, achei que deveríamos ter em conta
particularmente que o ano 2015 é dedicado à Vida Consagrada, por decisão do
Papa Francisco. Proponho-vos pois reflectirmos durante este ano sobre a vocação
de consagração. Tomaremos como pano de fundo o Cântico dos Cânticos e como tema
‘Vocação com Paixão’.
O Ano da Vida Consagrada começou no dia
30 de Novembro de 2014, primeiro Domingo de Advento e início do ano litúrgico,
e terminará no dia 2 de Fevereiro de 2016, festa da Apresentação de Jesus no
Templo e Dia dos Consagrados. O papa para tal ocasião escreveu uma carta, de
irmão para irmãos, sendo ele mesmo um consagrado (jesuíta). Nela apresenta os
três grandes objectivos, as cinco suas expectativas para este ano e os cinco
horizontes por ele visados. Eis aqui uma breve síntese.
Os três objectivos
1.
Olhar
com gratidão o passado
O primeiro objectivo é olhar com
gratidão o passado. ‘Neste ano será
oportuno que cada família carismática recorde os seus inícios e o seu
desenvolvimento histórico, para agradecer a Deus que deste modo ofereceu à
Igreja tantos dons que a tornam bela e habilitada para toda a boa obra.’
Pois ‘narrar a própria história é louvar
a Deus e agradecer-lhe por todos os seus dons’. Além disso, ‘repassar a própria história é indispensável
para manter viva a identidade e também robustecer a unidade da família e o
sentido de pertença dos seus membros’. O papa especifica que ‘não se trata de fazer arqueologia nem
cultivar inúteis nostalgias, mas de repercorrer o caminho das gerações passadas
para nele captar a centelha inspiradora, os ideais, os projectos, os valores
que as moveram, a começar dos Fundadores, das Fundadoras e das primeiras
comunidades’.
2.
Viver
com paixão o presente
Como segundo objectivo, este ano
chama-nos a viver com paixão o presente. ‘A
lembrança agradecida do passado impele-nos, numa escuta atenta daquilo que o
Espírito diz hoje à Igreja, a implementar de maneira cada vez mais profunda os
aspectos constitutivos da nossa vida consagrada.’
A pergunta que somos chamados a pôr
neste ano – diz o papa – é se e como nos deixamos nós hoje interpelar pelo
Evangelho : ‘se este é verdadeiramente o
vademecum para a vida de cada dia e para as opções que somos chamados a fazer’.
E ainda, se ‘Jesus é verdadeiramente o
primeiro e o único amor, como nos propusemos quando professámos os nossos votos’.
Os nossos Fundadores sentiram em si
mesmos a compaixão que se apoderava de Jesus quando via as multidões como
ovelhas extraviadas sem pastor e, tal como Jesus, ‘se puseram ao serviço da humanidade, à qual eram enviados pelo Espírito
servindo-a dos mais diversos modos…’.
O Ano da Vida Consagrada questiona-nos,
pois, sobre a fidelidade à missão que nos foi confiada. E o papa pergunta-nos :
‘Temos a mesma paixão pelo nosso povo,
solidarizamo-nos com ele até ao ponto de partilhar as suas alegrias e
sofrimentos?’ ‘Viver com paixão o
presente significa tornar-se ‘peritos em comunhão’’, e por isso o papa
lança-nos este convite : ‘sede mulheres e
homens de comunhão, marcai presença com coragem onde há disparidades e tensões,
e sede sinal credível da presença do Espírito que infunde nos corações a paixão
por todos serem um só (cf. Jo 17, 21). Vivei a mística do encontro’.
3.
Abraçar
com esperança o futuro
Abraçar com esperança o futuro é o
terceiro objectivo que se pretende neste ano. Não obstante as muitas
dificuldades que enfrenta a vida consagrada! ‘É precisamente nestas incertezas que partilhamos com muitos dos nossos
contemporâneos, que se actua a nossa esperança, fruto da fé no Senhor da
história que continua a repetir-nos : ‘Não terás medo (…), pois Eu estou
contigo’ (Jr 1,8), afirma o papa. Esta esperança não se funda sobre números
ou sobre as obras, mas sobre Aquele em quem pusemos a nossa confiança (cf. 2 Tm
1, 12) e para quem ‘nada é impossível’
(Lc 1, 37). ‘Esta é a esperança que não
desilude e que permitirá à vida consagrada continuar a escrever uma grande
história no futuro, para o qual se deve voltar o nosso olhar, cientes de que é
para ele que nos impele o Espírito Santo a fim de continuar a fazer, connosco,
grandes coisas’. E por isso o papa exclama : ‘Não cedais à tentação dos números e da eficiência, e menos ainda à
tentação de confiar nas vossas próprias forças. Com atenta vigilância,
perscrutai os horizontes da vossa vida e do momento actual.’
As cinco expectativas
1. Que onde estejam os religiosos haja
alegria! ‘Somos chamados a experimentar e
mostrar que Deus é capaz de preencher o nosso coração e fazer-nos felizes sem
necessidade de procurar noutro lugar a nossa felicidade, que a autêntica
fraternidade vivida nas nossas comunidades alimenta a nossa alegria, que a
nossa entrega total ao serviço da Igreja, das famílias, dos jovens, dos idosos,
dos pobres nos realiza como pessoas e dá plenitude à nossa vida.’ E, por
conseguinte, ‘que entre nós não se vejam
rostos tristes, pessoas desgostosas e insatisfeitas, porque ‘um seguimento
triste é um triste seguimento’’. A Igreja não cresce por proselitismo, mas
por atracção. ‘A vida consagrada não
cresce, se organizarmos belas campanhas vocacionais, mas se as jovens e os
jovens que nos encontram se sentirem atraídos por nós, se nos virem homens e
mulheres felizes! (…) É a vossa vida que deve falar, uma vida da qual
transparece a alegria e a beleza de viver o Evangelho e seguir a Cristo.’
2. Que ‘desperteis o mundo’! Porque a nota característica da vida
consagrada é a profecia, ‘espero que
saibais, sem vos perder em vãs ‘utopias’, criar ‘outros lugares’ onde se viva a
lógica evangélica do dom, da fraternidade, do acolhimento da diversidade, do
amor recíproco’.
3. Que sejais ‘peritos em comunhão’! ‘Espero
que a ‘espiritualidade da comunhão’ (…) se torne realidade e que vós estejais
na vanguarda abraçando ‘o grande desafio que nos espera’ neste novo milénio : ‘fazer
da Igreja a casa e a escola da comunhão’’.
4. Que saiais de vós mesmos para ir às
periferias existenciais! ‘Ide pelo mundo
inteiro’ foi a última palavra que Jesus dirigiu aos seus e que continua hoje a
dirigir a todos nós (cf. Mc 16, 15). A humanidade inteira aguarda. ‘Não vos
fecheis em vós mesmos, não vos deixeis asfixiar por pequenas brigas de casa,
não fiqueis prisioneiros dos vossos problemas. Estes resolver-se-ão se sairdes
para ajudar os outros a resolverem os seus problemas, anunciando-lhes a Boa
Nova. Encontrareis a vida dando a vida, a esperança dando esperança, o amor
amando.’
5. Que vos interrogueis sobre o que
pedem Deus e a humanidade de hoje! ‘Neste
ano, ninguém deveria subtrair-se a um sério controlo sobre a sua presença na
vida da Igreja e sobre o seu modo de responder às incessantes e novas
solicitações que se levantam ao nosso redor, ao clamor dos pobres. Só com esta
atenção às necessidades do mundo e na docilidade aos impulsos do Espírito é que
este Ano da Vida Consagrada se tornará um autêntico kairòs, um tempo de Deus
rico de graças e de transformação.’
Os cinco horizontes
1. Os leigos que partilham ideais,
espírito, missão das diversas famílias religiosas, a quem o papa encoraja a
viver este Ano da Vida Consagrada como uma graça que pode torná-los mais
conscientes do dom recebido.
2. A Igreja inteira, todo o povo
cristão, convidados a tomar cada vez maior consciência do dom que é a presença
de tantas consagradas e consagrados, herdeiros de grandes Santos que fizeram a
história do Cristianismo.
3. As pessoas consagradas pertencentes
a Igrejas de tradição diversa da católica : ‘Que cresça o conhecimento mútuo, a estima, a cooperação recíproca, de
modo que o ecumenismo da vida consagrada sirva de ajuda para o caminho mais
amplo rumo à unidade entre todas as Igrejas.’
4. O monaquismo e outras expressões de
fraternidade religiosa presentes em todas as grandes religiões : ‘Caminhar juntos é sempre um enriquecimento e
pode abrir caminhos novos nas relações entre povos e culturas que, neste
período, aparecem carregadas de dificuldades.’
5. O episcopado : ‘Que este ano seja uma oportunidade para acolher, cordial e
jubilosamente, a vida consagrada como um capital espiritual que contribua para
o bem de todo o corpo de Cristo.’
Boa caminhada, com muita generosidade,
entusiasmo e paixão!’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http
://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EukpuZyklFeXEiWBUD
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