*Artigo de Padre Fernando Domingues,
Missionário Comboniano
‘Foram 15 dias bem intensos pelas
estradas do Mianmar, visitando os seminários naquele país do Extremo Oriente
que costumávamos chamar Birmânia. No total da população do país, os cristãos
são só 3 %, mas a vitalidade das comunidades é surpreendente.
A quase totalidade do povo é de
religião budista. Como budista é a família do padre que me acompanhava. Não
resisti a perguntar-lhe um dia : ‘Porque
decidiste ser padre católico?’
Ele contou-me. Era, e é de uma família
em que todos são budistas muito devotos. Quando era pequeno, a sua mãe sonhava
para ele um futuro como monge budista, e ele também o desejava com todo o
coração. Tinham ficado bem gravados no seu coração os anos que tinha passado no
mosteiro a aprender os ensinamentos de Buda, como todas as outras crianças da
sua aldeia. É costume que todas as crianças, meninos e meninas, passem um tempo
nos mosteiros; depois podem decidir continuar na vida monástica ou regressar à
própria família civil. Quando terminou a universidade, era tempo para decidir,
mas, antes de ir para o mosteiro, o jovem Ee Mwe quis conhecer também alguma
coisa da religião cristã praticada por um missionário que vivia ali perto, com
um pequeno grupo de fiéis. Estudou os Evangelhos e ficou encantado com a figura
de Jesus. O que mais o entusiasmou, disse-me ele, foi ver como no Budismo é o
homem que tenta por todos os meios aproximar-se de Deus; no Cristianismo, Deus
não espera que lá cheguemos, é ele próprio que se faz homem e vem caminhar conosco.
Estava decidido, apresentou-se ao padre católico com quem entretanto tinha
feito amizade, e pediu para ser baptizado.
‘Não’,
disse-lhe o padre, ‘todos na tua família
são devotos budistas. Tens de pensar muito bem antes de decidir. Volta a falar
comigo daqui a um ano’. O velho sonho de se consagrar a Deus continuava bem
vivo na sua alma, e um ano depois de ser baptizado, entrou no seminário para se
tornar padre. Foram mais dez anos de caminho, e agora é sacerdote católico.
Os budistas fazem ascese para tentar
chegar até Deus; nós sabemos que Deus se fez homem em Belém e veio caminhar conosco.
A verdade simples do Natal foi a primeira semente de fé na vida do meu amigo
P.e Ee Mwe (pronuncia-se É Muí).
Era uma sementinha pequena também a fé
levada pela primeira vez para aquelas terras por um grupo de comerciantes
portugueses que tinham partido nas nossas caravelas destinadas ao Oriente e se
estabeleceram ali, na margem esquerda do rio Yangon, no ano 1511. Eram apenas
um pequeno grupo de gente simples, que mais tarde foram ‘desterrados’ e forçados a imigrar para uma zona montanhosa no
Centro do país. Os descendentes deles ainda lá vivem hoje, e todos os conhecem
como os ‘portugueses’. Encontrei
alguns deles. Já não falam português, e da nossa terra mantêm alguns apelidos
nas famílias, os olhos mais arredondados e a fé cristã. Este ano alguns deles
participaram, em Yangon, na grande festa dos 500 anos da fé cristã no Mianmar,
para a qual tive a alegria de ser convidado. Pode ser só coincidência, mas hoje
um descendente daquele pequeno grupo de portugueses é arcebispo da capital do
país.
Há sementes que têm uma força
extraordinária! A fé cristã é uma delas.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EukpuZVFyAhlGVjrix
Nenhum comentário:
Postar um comentário