*Artigo de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano
As guerras, na maior parte dos casos, acontecem com o
apoio, pelo menos tácito, da opinião pública.
‘Como missionário, nunca tive de
trabalhar em países em conflito. Mas, como repórter, tive a oportunidade de
visitar pelo menos o Norte do Uganda, onde na época era perigoso viajar devido
aos perigos de emboscadas do chamado Exército de Libertação do Senhor (LRA).
Encontrei, fotografei e entrevistei jovens que tinham sido obrigados a matar os
pais e colegas desertores e a quem depois tinham sido cortados as orelhas, os
lábios ou outros membros como punição pelas suas tentativas de fuga. Nesses
jovens mutilados vi de perto o horror da guerra.
Não é complicado entender como os que
beneficiam de uma forma ou de outra do complexo militar-industrial – manipulado
por ideólogos e estrategistas frios, e pela cega sede de atingir objectivos e
obter lucros a qualquer preço de nações e empresas, muitas vezes subcontratadas
pelos governos – defendam e promovam a guerra. Mas já me é mais difícil
perceber como os cidadãos pacíficos e sem ‘interesses’
directos nos conflitos, e pelo menos com uma vaga ideia dos horrores por eles
causados, os possam defender e justificar no conforto dos seus sofás –
naturalmente, para que envolvam outros e longe! Quando a maior parte das
vítimas das guerras modernas são civis indefesos em tudo iguais a eles.
A guerra nunca é uma solução. Em vez de
resolver as desavenças e injustiças porventura existentes, semeia a morte e a
destruição e cria novos problemas às comunidades. As intervenções militares no
Afeganistão, no Iraque e na Líbia, só para citar as mais recentes, são exemplos
da total falha do uso da força bruta. A violência não é remédio para um mal,
existente ou percebido como tal; pelo contrário, suscita mais e maiores males,
ao gerar uma espiral de ressentimento e retaliação que se reflecte no presente
e ensombra o futuro.
As guerras, na maior parte dos casos, acontecem com o
apoio, pelo menos tácito, da opinião pública. A decisão do presidente Obama de
bombardear as posições do Estado Islâmico na Síria e no Iraque só foi tomada, o
que se torna claro após a leitura das sondagens, depois da decapitação do
jornalista James Foley. O presidente russo, Putin, na sua agressividade ‘restauracionista’ e imperial, conta com
o apoio dos seus concidadãos. Israel continua a cantar de galo no Médio Oriente
devido ao grande apoio econômico e militar norte-americano, condicionado pela
influência do lóbi judaico nos EUA. No dia em que este terminar, não terá
alternativa senão apostar nas soluções políticas e diplomáticas.
A violência é incompatível com o
Cristianismo. Jesus pede-nos que amemos os inimigos, enquanto o intento de
qualquer guerra é aniquilá-los. No famoso Sermão da Montanha, Ele proclamou bem-aventurados os mansos e os pacificadores
(Mateus 5,5.9), certamente uma das suas mensagens mais difíceis de aceitar.
Porque, como me disse um grande ativista americano que entrevistei recentemente,
o Padre John Dear (www.johndear.org), ‘todos estamos viciados na violência’.
Achamos que as coisas vão ao lugar por
meio do uso da força, e retaliar é uma tentação demasiado grande quando os
meios estão ao nosso alcance. O único caminho moral e cristão é, porém,
reconhecer os nossos preconceitos, enfrentar os nossos medos e sentimentos
negativos (como o da ira), perdoar as ofensas, ensaiar formas criativas de
resposta à violência que possamos ter sofrido ou estar a sofrer – o contrário
da resignação – e procurar ser amáveis para conosco, os outros e a Criação.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http
://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EukpuZFEVyvkmHdJrx
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