*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte
‘O
ano de 2015 chegou e como disse Carlos Drumond de Andrade ‘quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de
ano, foi um indivíduo genial’. Todos
têm a oportunidade singular de rever o caminho percorrido nos últimos 365 dias
e planejar um recomeço urgente e necessário. Não se convencer da necessidade de
reiniciar, em parâmetros novos e com dinâmicas não tão equivocadas, é escolha
que compromete a paz almejada. É não assumir a maravilhosa responsabilidade,
confiada por Deus a cada pessoa de se promover a paz, celebrada mundialmente no
dia 1º de janeiro. Com o início do ano novo, um pacto precisa ser assumido para
além de superstições, remanescendo mais do que o gosto do champanhe , reluzindo
mais que os fogos de artifícios que já se apagaram : pela perpetuação do abraço fraterno, que
ajusta as diferenças e as transforma em riquezas, é preciso promover a paz.
Papa Francisco
O
Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano novo,
sublinha que é urgente recuperar a consciência de que ‘nossa vocação comum é colaborar com Deus e com todas as pessoas de boa
vontade para a promoção da concórdia e da paz no mundo’. É hora de
reconhecer e assumir comportamentos que sejam dignos de nossa condição humana e
cidadã. O ano de 2014, já passado, registrado nas páginas da história, pode
ser, embora com as lamentações inevitáveis do que nele aconteceu, uma
oportunidade de ouro para que a sociedade brasileira renasça das cinzas, como
uma fênix. Muitas cinzas foram produzidas e deixaram desolações abomináveis. Cenários de corrupção se multiplicaram, em
razão da perda do sentido autêntico do dom da vida e do segredo da simplicidade
como remédio para a ganância.
Como consequência, cresceu a globalização
da indiferença e aumentou o medo que empurra, na sua
força paralisante, para o cuidado egoísta de si, dos seus e das suas coisas. Permanecem esquecidos os pobres, uma
vergonha nacional, que nem um tratamento compensatório pode encobrir e deixar
de incomodar governantes, religiosos, cidadãos e construtores da sociedade
pluralista. A busca pela paz requer, no Brasil e no mundo, a sensibilidade e o
empenho de cada cidadão para que prevaleçam novas posturas. Sem essa novidade,
entre outras ameaças, corre-se o risco de uma irreversível deterioração do
nosso tecido cultural, que tem tudo para ser construtivo e igualitário. Uma
cultura edificada com a colaboração de personagens históricos, tempos e etapas,
privilegiada em sua natureza, que sempre oferece indicações sobre o caminho
certo a ser seguido e a conduta cidadã a ser adotada.
É
urgente o despertar de uma consciência nacional que faz cada pessoa assumir a
tarefa e a missão der ser promotor da paz. Não basta um grupo, um segmento, uma
confissão religiosa, alguns projetos. Trata-se de um dever de todos. Esse
despertar não é um simples hino, nem uma manifestação passageira. Não basta um
protesto, nem mesmo as investigações indispensáveis e as inadiáveis punições. É
preciso reconhecer com simplicidade de aprendiz os muitos sinais de morte que
transformam, aceleradamente, o tecido de nossa cultura em violência,
dependência química e em outros males. Gradativamente, são perdidos os sentidos
da fraternidade e da concórdia.
Lançar
o olhar sobre a realidade e tratá-la adequadamente deve ser prioridade para
evitar o comprometimento dos projetos que impulsionam na direção do bem. O Papa
Francisco, na sua mensagem pela paz, adverte que ‘há alguns de nós que, por indiferença, porque distraídos com as
preocupações diárias, ou por razões econômicas, fecham os olhos’. Pois é hora de abri-los bem. Caso contrário,
a mediocridade vai empurrar a sociedade para um estado gravíssimo de
escravidão, amenizado pelos luxos sem sentido, pelas esnobações de todo tipo e
pelo atraso que faz crescer o abismo entre ricos e pobres. A alegria, o bem e a
beleza podem ajudar na reconstrução da sociedade.
O
ano começou com a posse de governantes e parlamentares. Se esta virada pela promoção da paz começar
com eles - devedores da confiança da representatividade que os obriga a servir
o povo - e incluir os mais diversos segmentos, todos ancorados na convicção de
que bom é ser honesto, será dado o salto esperado na sociedade brasileira. Todos têm o dever de se reconhecerem e de
agirem como promotores da paz.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/promotores-da-paz
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