sábado, 30 de dezembro de 2017

O 'novo' para um ano novo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG


‘O que deve acontecer para que o novo ano seja realmente novo? Eis uma pergunta que deve tocar a consciência e o coração de cada pessoa, para renovar o compromisso de todos com a cidadania.  Para construir um futuro diferente, o primeiro passo é fazer um balanço do último ano que passou.  Uma avaliação que deve nortear-se pelos parâmetros da ética e das práticas que se alicerçam na solidariedade. Imprescindível é constatar : a novidade almejada não depende somente do outro. A sociedade não avança se seus cidadãos buscam transformar apenas o que está fora da própria interioridade. Sem uma sincera avaliação pessoal é inviável reformular o que precisa ser mudado no mundo, pois se desconsidera a chama da consciência. Com isto, convive-se com a incoerência de querer uma sociedade melhor, mas, ao mesmo tempo, continuar a tratar a delinquência de forma normal e a considerar que tudo se justifica quando o objetivo é o de alcançar benefícios pessoais, além de achar que as mudanças esperadas devem sempre partir dos outros.
Quando cada pessoa não cuida da própria consciência o prejuízo é enorme para a sociedade. Prevalece um generalizado descrédito que, se não for debelado, inviabilizará os processos institucionais que são necessários para uma vida civilizada. Triste exemplo dessa situação é o desânimo dos cidadãos em relação à política e aos políticos. Essa carência de credibilidade afeta não apenas as instâncias do poder, mas também os campos da educação, da cultura, da religiosidade e das organizações empresariais. Um grave problema alimentado pelo desrespeito aos direitos, pela incompetência na eleição de prioridades, por marasmos e entraves burocráticos de governos. E assim o povo brasileiro prossegue encurralado nos cenários de misérias e exclusão que se perpetuam.
O ponto de partida para edificar uma nação é a consciência de cada um. Renovar a interioridade é compromisso pessoal, cada pessoa avaliando a própria conduta para desenvolver novos hábitos, conquistar perspectivas promissoras, ajudar a encontrar respostas para os problemas contemporâneos. Essa transformação no nível da consciência deve incidir no ambiente familiar, nos desempenhos profissionais e no desenvolvimento da competência solidária para mudar situações. Cada pessoa, na regência da própria vida, precisa refletir a respeito de sua participação na sociedade, se está orientada nos parâmetros da cidadania. Além do exame de consciência, todos precisam se organizar, com coragem, a partir do apoio de Igrejas, instâncias governamentais, segmentos da cultura e da educação, para recuperar o descrédito patológico que ameaça a participação política. Um sintoma grave desse momento crítico e difícil do Brasil.
É a partir da participação de todos, sem medo, que se conquista uma força iluminadora capaz de modelar as reformas tão necessárias ao futuro, sem prejuízos para os mais pobres e com a erradicação de privilégios. O ‘novo’ que se busca exige, pois, o cumprimento de duas etapas: inicialmente, um sério exame de consciência e, em seguida, corajosamente, participar da vida cidadã, construindo propostas capazes de ajudar na solução dos muitos problemas atuais. Trata-se de aceitar um verdadeiro recomeço para a sociedade brasileira, dando passagem ao surgimento de novos líderes, em diferentes âmbitos. O ‘novo’ para o ano novo não pode dispensar uma ampla agenda de debates, corajosa, respeitosa e incidente.
Não vale simplesmente criticar de longe. É preciso envolver-se, cotidianamente, na tarefa de erradicar as sujeiras da corrupção, muitas vezes camufladas nas instâncias do poder. Agir de modo cidadão, sem espetacularizações e favorecimento aos poucos privilegiados. A meta diária deve ser aperfeiçoar a Constituição Cidadã, sem artifícios para beneficiar quem já é muito rico. Nessa tarefa, questões urgentes devem ser consideradas, a exemplo da defesa do meio ambiente, a promoção do desenvolvimento sustentável e integral, com ações capazes de deter a idolatria e a hegemonia do mercado que alimenta uma economia excludente. Incontáveis pautas merecem e necessitam da reflexão e do envolvimento de todos. Importantes e crescentes participações qualificadas para gerar clarividências e permitir encontrar o ‘novo’ para o ano novo.’

Fonte :

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Construído na Itália primeiro mosteiro de madeira totalmente sustentável

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Irmãs buscam simplicidade e coerência com a opção religiosa que fizeram


‘Um mosteiro seguindo os princípios de construção de pré-fabricados, com todos os benefícios que uma estrutura de madeira pode oferecer : 100% natural, sustentável, mantendo a temperatura e a umidade ideais nos espaços internos.
Atendendo a um pedido das Clarissas Franciscanas, a empresa Rubner Haus construiu em apenas 8 meses, a poucos metros da Via Adriatica na Província de Lecce, Itália, o primeiro mosteiro de madeira totalmente sustentável, com o uso do sistema ‘Casablanca’.

Sobriedade e funcionalidade
O que nos conquistou foi a ideia de simplicidade e frugalidade no respeito à natureza e ao ambiente – conta Irmã Marilú, uma das religiosas que vive no novo mosteiro. Para nós, que somos ordens mendicantes, a casa de madeira simboliza ser o mais possível coerentes com a vida natural e simples que escolhemos seguir’.
O mosteiro, que também desperta muita curiosidade e admiração nos visitantes é uma moradia acolhedora, cômoda e funcional’, disse a religiosa, agradecendo aos construtores pela ‘competência e disponibilidade, dedicando-nos tempo, mesmo longos, para esclarecer com paciência e cortesia todos aspectos sobre a técnica de construção e todas dúvidas que foram surgindo ao longo da construção’.

Sustentabilidade
A empresa explica que as construções de madeira respeitam o ambiente e as pessoas que nelas vivem, e quando bem projetadas, garantem eficiência energética e isolamento acústico. Também a quantidade de abetos usados em média para a construção de uma casa, é reposta na natureza em cerca de 23 segundos.
O sistema ‘Casablanca’ conjuga madeira maciça com reboco nas paredes externas.  Assim – afirmam os responsáveis – a construção responde às exigências de sobriedade das religiosas que optaram por madeira à vista na parte externa do mosteiro e reboco na parte externa da igreja adjacente.

O mosteiro
O novo mosteiro, com cerca de 600 m² de área, respeita as características típicas da arquitetura rural salentina.
A capela de 12m x 7 m - números que repropõe o número dos apóstolos e os dias da criação – separa a área da vida monástica daquela da acolhida.
A parte central da estrutura é ocupada pelo capítulo (sala destinada aos encontros da comunidade religiosa), biblioteca, laboratórios, cozinha e refeitório. Nos fundos, as seis celas com 9m² cada uma. Também há vários pátios internos e um claustro para as atividades ao ar livre.
Separado da estrutura principal, há um alojamento destinado a acolher pessoas necessitadas ou interessados em fazer um retiro espiritual.

A madeira
A madeira - natural e ecológica- usada pela empresa é proveniente de áreas de reflorestamento – 150 km² - da região alpina, próxima à Áustria.
A empresa nasceu na Província de Bolzano, de uma serraria movida à água. Atualmente o grupo emprega 1.250 pessoas, com presença além da Itália, na Áustria, Alemanha e França.’

Fonte :


quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Festa dos Santos Inocentes, Mártires

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Padre Paulo Ricardo


‘O Evangelho do dia 28 de dezembro nos recorda os santos inocentes, ou seja, aquelas crianças de dois anos para baixo que foram martirizadas em Belém e todo o território vizinho por Herodes I em sua busca furiosa pelo rei dos judeus, que, segundo o testemunho dos magos do Oriente, tinha acabado de nascer (cf. Mt 2, 2). Fixemo-nos por uns momentos nos detalhes que contextualizam o martírio destes santos pequeninos. Assistimos, pois, ao nascimento do menino Deus : uma indefesa criancinha, frágil, inerme, sem ter onde repousar a cabeça (cf. Mt 8, 20), faz tremerem as potestades da terra. À simples notícia de sua chegada ao mundo, o rei Herodes, e com ele toda Jerusalém, enche-se de pavor (cf. Mt 2, 3).
Deus, ainda que se faça impotente, ainda que se despoje de sua glória e majestade, Deus ainda assim impõe aos impérios humanos a grandeza de sua autoridade e o temor de sua presença. Ele, vindo ao mundo, diz ao homem que há um só Senhor, e a Ele pertencem a poder e a honra. Com efeito, embora nasça desprovido de todo atrativo humano — sem o brilho nem pompa —, aquele pequeno nazareno, só com o fazer-se presente ao homem, já manifesta o poder de seu braço, desconcerta os corações dos soberbos, derruba do trono os poderosos (cf. Lc 1, 51-52).
O Senhor nos chama, assim, a reconhecer que fomos feitos para Ele. Por isso, temos de deixar o trono de orgulho em que nos colocamos, temos de abandonar a postura petulante de um Herodes que, agarrando-se às aparências de um falso poder e de uma pretensa autossuficiência, quer ser a todo custo o ‘senhor’ da própria vida. É a Deus, aos seus interesse e à sua vontade que devemos servir. Esse o propósito de nossa existência, essa a fonte de toda a alegria que nos aguarda no Céu. Desçamos, pois, do nosso pedestal, abandonemos o altar de caprichos e vaidades em que nos incensamos a nós mesmos. Que os Santos Inocentes intercedam por nós e nos ajudem aceitar que há um só Rei, Jesus Cristo, e um só Reinado.’

Fonte :

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

São João Evangelista

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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‘O nome deste evangelista significa ‘Deus é misericordioso’ : uma profecia que foi se cumprindo na vida do mais jovem dos apóstolos. Filho de Zebedeu e de Salomé, irmão de Tiago Maior, ele também era pescador, como Pedro e André; nasceu em Betsaida e ocupou um lugar de primeiro plano entre os apóstolos.
Jesus teve tal predileção por João que este assinalava-se como ‘o discípulo que Jesus amava’. O apóstolo São João foi quem, na Santa Ceia, reclinou a cabeça sobre o peito do Mestre e, foi também a João, que se encontrava ao pé da Cruz ao lado da Virgem Santíssima, que Jesus disse  ‘Filho, eis aí a tua mãe’ e, olhando para Maria disse : ‘Mulher, eis aí o teu filho’. (Jo 19,26s).
Quando Jesus se transfigurou, foi João, juntamente com Pedro e Tiago, que estava lá. João é sempre o homem da elevação espiritual, mas não era fantasioso e delicado, tanto que Jesus chamou a ele e a seu irmão Tiago de Boanerges, que significa ‘filho do trovão’.
João esteve desterrado em Patmos, por ter dado testemunho de Jesus. Deve ter isto acontecido durante a perseguição de Domiciano (81-96 dC). O sucessor deste, o benigno e já quase ancião Nerva (96-98), concedeu anistia geral; em virtude dela pôde João voltar a Éfeso (centro de sua atividade apostólica durante muito tempo, conhecida atualmente como Turquia). Lá o coloca a tradição cristã da primeiríssima hora, cujo valor histórico é irrecusável.
O Apocalipse e as três cartas de João testemunham igualmente que o autor vivia na Ásia e lá gozava de extraordinária autoridade. E não era para menos. Em nenhuma outra parte do mundo, nem sequer em Roma, havia já apóstolos que sobrevivessem. E é de imaginar a veneração que tinham os cristãos dos fins do século I por aquele ancião, que tinha ouvido falar o Senhor Jesus, e O tinha visto com os próprios olhos, e Lhe tinha tocado com as próprias mãos, e O tinha contemplado na sua vida terrena e depois de ressuscitado, e presenciara a sua Ascensão aos céus. Por isso, o valor dos seus ensinamentos e o peso de das suas afirmações não podiam deixar de ser excepcionais e mesmo únicos.
Dele dependem (na sua doutrina, na sua espiritualidade e na suave unção cristocêntrica dos escritos) os Santos Padres daquela primeira geração pós-apostólica que com ele trataram pessoalmente ou se formaram na fé cristã com os que tinham vivido com ele, como S. Pápias de Hierápole, S. Policarpo de Esmirna, Santo Inácio de Antioquia e Santo Ireneu de Lião. E são estas precisamente as fontes donde vêm as melhores informações que a Tradição nos transmitiu acerca desta última etapa da vida do apóstolo.
São João, já como um ancião, depara-se com uma terrível situação para a Igreja, Esposa de Cristo : perseguições individuais por parte de Nero e perseguições para toda a Igreja por parte de seu sucessor, o Imperador Domiciano.
Além destas perseguições, ainda havia o cúmulo de heresias que desentranhava o movimento religioso gnóstico, nascido e propagado fora e dentro da Igreja, procurando corroer a essência mesma do Cristianismo.
Nesta situação, Deus concede ao único sobrevivente dos que conviveram com o Mestre, a missão de ser o pilar básico da sua Igreja naquela hora terrível. E assim o foi. Para aquela hora, e para as gerações futuras também. Com a sua pregação e os seus escritos ficava assegurado o porvir glorioso da Igreja, entrevisto por ele nas suas visões de Patmos e cantado em seguida no Apocalipse.
Completada a sua obra, o santo evangelista morreu quase centenário, sem que nós saibamos a data exata. Foi no fim do primeiro século ou, quando muito, nos princípios do segundo, em tempo de Trajano (98-117 dC).
Três são as obras saídas da sua pena incluídas no cânone do Novo Testamento : o quarto Evangelho, o Apocalipse e as três cartas que têm o seu nome.
São João Evangelista, rogai por nós!

Fonte :

domingo, 24 de dezembro de 2017

Natal : Liturgia e Tradições

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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‘No tema principal desenvolvido pela liturgia de Natal encontramos os elementos básicos da teologia e da pastoral da festa. O Natal não é só uma recordação de algo que sucedeu na história. Constantemente a liturgia enfatiza que o fato do nascimento de Jesus Cristo está ordenado à Redenção, à Páscoa, à Parusia. Segundo a terminologia dos antigos, o Natal é uma memoria (mistério), cujo centro é a morte e ressurreição de Jesus Cristo, sempre presente e operante, como alma de toda celebração litúrgica.

Ao redor da liturgia de Natal formou-se, no decurso dos séculos, uma série de costumes folclóricos que contribuíram para criar um ambiente festivo na intimidade das famílias e nas ruas das aldeias e cidades. Já no século V foram compostos cantos populares sobre o mistério da Encarnação, inspirados na teologia e na liturgia de Natal. Quando, no século XIII, São Francisco de Assis e seus discípulos propagam a devota prática de construir presépios nas igrejas e nas casas, se estendem as cantigas de Natal, caracterizados pelo tom simples e ingênuo de suas letras e de suas melodias que se referem preferentemente aos sentimentos da Virgem e dos pastores ante a pobreza que Deus escolheu ao tomar um corpo humano.

Como para expressar visivelmente o significado da ‘iluminação’ obtida pelo nascimento de Jesus Cristo, há muito tempo se introduziu o hábito de acender fogos durante a noite de Natal, substituindo tradições pré-cristãs. A iluminação extraordinária dos lugares públicos durante o tempo de Natal se inspirou nesses usos.

Desde o século XVI, nos países nórdicos, começa o hábito de reunir-se em torno de uma árvore, a árvore de Natal, símbolo da graça alcançada pela Encarnação e pela morte na árvore da cruz de Jesus Cristo, em contraposição ao pecado que se originou na árvore do paraíso.

Também, se destinou para o dia de Natal a prática de trocar presentes e felicitações; prática sugerida pela que existia em Roma no primeiro dia do ano, chamada estréia. No início, simbolizava-se que era o menino Jesus quem oferecia os presentes; e mais adiante, seriam os Reis Magos quem distribuíam os dons, e não tanto pelo Natal como pela Epifania, em que se comemora o fato da entrega de seus obséquios a Jesus Cristo.

Por último, durante a oitava de Natal se celebram as ‘memórias’ dos Santos Estevão, João Evangelista e Inocentes, como as mais antigas, às que o Oriente acrescentava a dos Santos Pedro e Paulo.

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Tradições e Costumes

As tradições e costumes são uma maneira de fazer presente o que ocorreu ou o que se costumava fazer nos tempos passados. São os fatos ou obras que se transmitem de uma geração a outra de forma oral ou escrita. A palavra tradição vem do latim ‘traditio’ que vem do verbo ‘tradere’ que significa entregar. Poder-se-ía dizer que tradição é o que nossos antepassados nos entregaram.

No caso da Natal, o mais importante das tradições e costumes não é só o aspecto exterior mas seu significado interior. Deve-se conhecer por quê e para quê se levam a cabo as tradições e costumes para assim poder vivê-las intensamente. Este é um modo de evangelizar.

Existem muitas tradições e costumes tanto do Advento como do Natal, os quais nos ajudam a viver o espírito natalino; contudo, devemos recordar que este espírito encontra-se na meditação do mistério que se celebra.


O calendário

Ao fixar-se esta data, também ficaram fixadas à da Circuncisão e da Apresentação; a da Expectação (Nossa Senhora da Esperança) e, quiçá, a da Anunciação da Santíssima Virgem Maria; também a do Nascimento e Concepção do Batista. Até o século décimo o Natal era considerado, nos documentos pontifícios, o inicio do ano eclesiástico, como continua sendo nas Bulas; Bonifácio VIII (1294-1303) restaurou temporalmente este costume, o qual a Alemanha sustentou durante algum tempo mais.


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As três Missas

As três missas assinaladas para esta data no Missal de Gelasio e no Gregoriano, com um martirológio especial e sublime, e com a dispensa, se for necessário, da abstinência, ainda hoje são guardadas. Embora Roma indique somente três Missas para o Natal, Ildefonso, um Bispo espanhol de 845, alude a uma tripla Missa no Natal : Páscoa, Pentecostes, e a Transfiguração. Estas Missas, de meia-noite, ao alvorecer, e in die, estão misticamente relacionadas com a distribuição judia e cristã, ou ao triplo ‘nascimento’ de Cristo : na Eternidade, no Tempo, e na Alma. As cores litúrgicas variavam : negro, branco, vermelho; e o Glória era só entoado ao princípio da primeira Missa desse dia.


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Os presépios

No ano 1223 São Francisco de Assis deu origem aos presépios que atualmente conhecemos, popularizando entre os leigos um costume que até esse momento era do clero, fazendo-o extra-litúrgico e popular. A presença do boi e do burro deve-se a uma errônea interpretação de Isaías 1, 3 e de Habacuc 3, 2 (versão ‘Italiana’), apesar de aparecerem no magnífico ‘Presépio’ do século quarto, descoberto nas catacumbas de São Sebastião no ano de 1877.


Os hinos e cantigas de natal

As primeiras cantigas de natal que se conhecem foram compostos pelos evangelizadores no século V com a finalidade de levar a Boa Nova aos aldeãos e camponeses que não sabiam ler. Suas letras falavam em linguagem popular sobre o mistério da encarnação e estavam inspiradas na liturgia da Natal. Chamavam-se ‘villanus’ ao aldeão e com o tempo o nome mudou para vilancicos (do Espanhol ‘villancicos’). Estas falam em um tom simples e engenhoso dos sentimentos da Virgem Maria e dos pastores ante o Nascimento de Cristo. No século XIII estendem-se por todo o mundo junto com os presépios de São Francisco de Assis.

O famoso ‘Stabat Mater Speciosa’ é atribuído a Jacopone Todi (1230-1306); ‘Adeste Fideles’ data do século decimo sétimo. Mas, estes ares populares, e inclusive palavras, devem ter existido muito tempo antes que fossem postos por escrito.

Os vilancicos, ou cantigas de Natal, favoreciam a participação na liturgia de Advento e de Natal. Cantar cantigas de Natal é um modo de demostrar nossa alegria e gratidão a Jesus e escutá-los durante o Advento ajuda à preparação do coração para o acontecimento do Natal.


Os cartões de Natal

O costume de enviar mensagens natalinas se originou nas escolas inglesas, onde se pedia aos estudantes que escrevessem algo que tivesse a ver com a temporada natalina antes de sair de férias de inverno e o enviassem pelo correio à sua casa, com a finalidade de que enviassem a seus pais uma mensagem de Natal.

Em 1843, W.E. Dobson e Sir Henry Cole fizeram os primeiros cartões de Natal impressos, com a única intenção de pôr ao alcance do povo inglês as obras de arte que representavam o Nascimento de Jesus.

Em 1860, Thomas Nast, criador da imagem de Papai Noel, organizou a primeira grande venda de cartões de Natal em que aparecia impressa a frase ‘Feliz Natal’.

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A Árvore De Natal

Os antigos germânicos criam que o mundo e todos os astros estavam sustentados pendendo dos ramos de uma árvore gigantesca chamada o ‘divino Idrasil’ ou o ‘deus Odim’, a quem rendiam culto a cada ano, no solstício de inverno, quando se supunha que se renovava a vida. A celebração desse dia consistia em adornar um pinheiro com tochas que representavam as estrelas, a lua e o sol. Em torno desta árvore bailavam e cantavam adorando ao seu deus.

Contam que São Bonifácio, evangelizador da Alemanha, derrubou a árvore que representava o deus Odim, e no mesmo lugar plantou outro pinheiro, símbolo do amor perene de Deus e o adornou com maçãs e velas, dando-lhe um simbolismo cristão: as maçãs representavam as tentações, o pecado original e os pecados dos homens; as velas representavam Cristo, a luz do mundo e a graça que recebem os homens que aceitam Jesus como Salvador. Este costume se difundiu por toda a Europa na Idade Média e com as conquistas e migrações chegou à América.

Pouco a pouco, a tradição foi evoluindo : trocaram as maçãs por bolas e as velas por luzes que representam a alegria e a luz que Jesus Cristo trouxe ao mundo.

As bolas atualmente simbolizam as orações que fazemos durante o período de Advento. As bolas azuis são orações de arrependimento, as prateadas de agradecimento, as douradas de louvor e as vermelhas de preces.

Costuma-se colocar uma estrela na ponta do pinheiro, que representa a fé que deve guiar nossas vidas.

Também costuma-se pôr adornos de diversas figuras na árvore de Natal. Estes representam as boas ações e sacrifícios, os ‘presentes’ que daremos a Jesus no Natal.

Para aproveitar a tradição : Adornar a árvore de Natal ao longo de todo o advento, explicando às crianças o simbolismo. As crianças elaborarão suas próprias bolas (24 a 28 dependendo dos dias que tenha o Advento) com uma oração ou um propósito em cada uma, e conforme passem os dias as irão colocando na árvore de Natal até o dia do nascimento de Jesus.

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Papai Noel (Santa Claus) ou São Nicolau

A imagem de Papai Noel, velhinho gorducho e sorridente que traz presentes às crianças boas no dia do Natal teve sua origem na historia de São Nicolau.

Existem várias lendas que falam acerca da vida deste santo :

Em certa ocasião, o chefe da guarda romana daquela época, chamado Marco, queria vender como escravo um menino muito pequeno chamado Adrian e Nicolau o impediu. Em outra ocasião, Marco queria apoderar-se de umas jovenzinhas se seu pai não lhe pagasse uma dívida. Nicolau se inteirou do problema e decidiu ajudá-las. Tomou três sacos cheios de ouro e na Noite de Natal, em plena escuridão, chegou até a casa e colocou os sacos pela chaminé, salvando, assim, as meninas.

Marco, que queria acabar com a fé cristã, mandou queimar todas as igrejas e prender todos os cristãos que não quisessem renegar sua fé. Assim foi como Nicolau foi capturado e preso. Quando o imperador Constantino se converteu e mandou liberar todos os cristãos, Nicolau havia envelhecido. Quando saiu do cárcere, tinha a barba crescida e branca e tinha as roupas vermelhas que o distinguiam como bispo; contudo, os longos anos de cárcere não conseguiram tirar sua bondade e seu bom humor.

Os cristãos da Alemanha tomaram a história dos três sacos de ouro deixados pela chaminé no dia de Natal e a imagem de Nicolau ao sair do cárcere, para tecer a história de Papai Noel, velhinho sorridente vestido de vermelho, que entra pela chaminé no dia de Natal para deixar presentes para as crianças boas.

O Nome ‘Santa Claus’ vem da evolução paulatina do nome de São Nicolau : St. Nicklauss, St. Nick, St. Klauss, Santa Claus, Santa Clos.

Não obstante, o exemplo de São Nicolau nos ensina a ser generosos, a dar aos que não têm e a fazê-lo com discrição, com um profundo amor ao próximo. Nos ensina além disso, a estar atentos às necessidades dos demais, a sair de nosso egoísmo, a ser generosos não só com nossas coisas mas também com nossa pessoa e nosso tempo.

Por isso, o Natal é um tempo propício para imitar São Nicolau em suas virtudes.’


Fonte :


sábado, 23 de dezembro de 2017

Véspera de Natal convida à reflexão sobre órfãos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

É um fenômeno difícil de entender esse de que existam pessoas que abandonam os seus mais próximos.
*Artigo do Ir. João Antônio Johas,
leigo consagrado do Sodalício de Vida Cristã


‘No dia 24 de dezembro lembra-se o dia de todas as crianças órfãs. É também a véspera da celebração que culmina o tempo do advento, o Natal do Senhor Jesus. Não é uma data do calendário da Igreja, mas do calendário civil. No entanto, a proximidade das duas datas pode levar a uma reflexão sobre a orfandade tanto física como espiritual em que vivem tantas pessoas atualmente. Vale a pena pensar por onde podemos tentar entender esse fenômeno e o que podemos fazer para ajudar a que cada vez menos pessoas vivam suas vidas sem a proteção e o amor de uma família.
Talvez possamos voltar até Adão e Eva para encontrar neles os primeiros órfãos da humanidade. Quando pecam, se afastam daquele que lhes dera a vida, de Deus Pai que os formou com amor para que vivessem junto a Ele no paraíso. Com esse primeiro afastamento do Pai, o mal entra no mundo, no coração do homem. Toda a história de Israel pode ser entendida como a história de um povo que caminhou pelo tempo em busca do retorno a casa do Pai. Desde Abraão até a vinda de Jesus, vemos como Israel foi crescendo em nova intimidade com Iahweh.
Jesus, que é o mesmo Deus que se encarna, se faz homem no seio de uma família. E o faz justamente para mostrar que para que o ser humano seja pleno, ele precisa do apoio, do amor, do carinho, da experiência de uma família bem estruturada, que tenha a Deus como o centro de suas vidas. Mas isso não quer dizer que o Senhor não experimentou o mal da orfandade. Pelo contrário, Ele, sendo quem era, experimentou o abandono do Pai de uma forma tão intensa que não podemos senão nos maravilhar e mesmo nos assustar um pouco com suas palavras na cruz : ‘Pai, porque me abandonaste?’ Ele experimentou uma solidão real, e assim compartilha certamente os sofrimentos daqueles que ainda hoje sofrem essa mazela.
É um fenômeno difícil de entender esse de que existam pessoas que abandonam os seus mais próximos. É igualmente difícil entender também como pode existir, em uma comunidade cristã, pessoas que se sintam excluídas, à margem, sem família seja pelo motivo que for. Podemos pensar naqueles que perderam os pais em alguma tragédia natural, ou mesmo em algum ataque feito por mãos humanas (Ainda mais triste e trágico de aceitar). O ponto é o seguinte : Enquanto alguém não se sentir amado, não estamos realmente conseguindo transmitir a vida cristã para esse mundo. Pois o que Jesus veio fazer foi justamente alcançar com seu amor todas as pessoas, em especial as que mais sofrem. Dentre os que mais sofrem, desde o antigo testamento se contam as viúvas e os órfãos. Não podemos fechar os olhos para essas pessoas, porque é Deus mesmo que quer olhar por eles através da comunidade cristã.
Talvez ajude a ter os olhos mais abertos a essa realidade o tomar consciência de que somos todos, de alguma forma, órfãos. A cada pecado que cometemos, desde o pecado original de Adão e Eva, nos afastamos de Deus Pai e ficamos longe da nossa verdadeira casa que é o Céu. Estamos todos caminhando para a nossa verdadeira pátria. E se nesse caminho temos a benção de contar com uma família que nos auxilie, parece meio óbvio pensar que isso mesmo nos traz a responsabilidade de acolher com muito amor aqueles que foram privados de tão grande dom por qualquer razão. Para que essa perda possa ser interiorizada, reconciliada e que eles possam caminhar mais dignamente como verdadeiros filhos e filhas amadas de Deus que são.’
  
Fonte :


sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Advento de mudanças

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

A flexibilidade para viver transformações é uma urgência e o Natal aponta a mudança que o ser humano precisa buscar. 
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG


 ‘Admitir a urgência de mudanças é um dos maiores desafios existenciais. Reconhecer a necessidade de promover transformações exige percorrer um longo caminho. É superar obstáculos que incluem o apego a garantias e confortos e a resistência ao novo. Diante das dificuldades, a tendência é resistir às mudanças nos processos existenciais, sociopolíticos e culturais, causando uma cadeia de prejuízos à sociedade. O ser humano é constantemente desafiado a compreender que as mudanças e as conquistas de novas etapas são uma exigência da vida.
Nesse horizonte, a celebração do Natal é oportunidade para assumir o desafio de encontrar respostas novas, o que exige flexibilidade. Resiste-se a mudanças porque falta a clarividência para enxergar um percurso diferente, capaz de dar rumo novo à vida, aos muitos processos que constituem responsabilidades pessoais e profissionais. O conforto conquistado, quando emoldurado por mediocridades, cega a competência para perceber a hora de mudar. As consequências são sempre tristes : vidas naufragam e as oportunidades para qualificar a sociedade são perdidas. Tudo porque uma pessoa ou segmento social acredita estar preso a uma situação em que as mudanças não são possíveis. Percebe-se, assim, que o vetor mais preponderante na resistência às mudanças é a mentalidade.
Posturas pouco cidadãs emolduram atitudes mesquinhas. Atitudes que revelam uma visão obscurecida, impedindo o ‘pensar grande’, prejudicam modos de agir que poderiam atender aos anseios da realidade social, política, cultural e religiosa. Crescem os equívocos nas escolhas. Agravam-se o fenômeno das considerações aprisionadas no enrijecimento e a visão distorcida do mundo. A tendência é a repetição de esquemas falidos que provocam colapsos institucionais e existenciais. Com isso, são desperdiçadas riquezas e possibilidades, substituídas pela mediocridade que contamina a convivência cidadã. Compreende-se, assim, a razão de uma nação rica, com potencial para ser uma economia forte, estar ferida por cenários de exclusão social e desigualdades que alimentam a violência.
A flexibilidade para viver transformações é uma urgência e o Natal - acontecimento de proporções incalculáveis – aponta a mudança que o ser humano precisa buscar, de modo engajado, como prática existencial. A encarnação do Verbo de Deus, Jesus Cristo, é a mais perfeita indicação de que a humanidade só avança quando se abre às reformulações necessárias. O Mestre ensina cada pessoa a compreender-se como sujeito de mudanças, capaz de alcançar um estágio de desenvolvimento que somente o ser humano, no conjunto de toda a criação de Deus, pode alcançar. Essa lição é revelada na encarnação do Verbo, assumindo a condição humana, igual em tudo, exceto no pecado. E, se mudar o ser humano, muda o mundo, a vida, a história.
 O Natal é a vinda do Salvador que fecunda transformações em todos, para que, assim, se tornem autores de uma nova história, capazes de qualificar a sociedade, promovendo e respeitando a dignidade humana. Celebrar o Natal, além das festas, gastos, enfeites e barulhos é, sobretudo, a oportunidade para assumir, na própria vida, novos propósitos, priorizando o compromisso de cultivar a solidariedade e a fraternidade – um advento de urgentes e inadiáveis mudanças.’

Fonte :


quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Papa Francisco explica a Missa : ritos introdutórios

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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‘O Papa Francisco conduziu a Audiência Geral desta quarta-feira, realizada na Sala Paulo VI em clima natalino.
Dando prosseguimento ao ciclo sobre a eucaristia, em sua catequese o Pontífice recordou as duas partes que compõem a missa : a liturgia da Palavra e a Liturgia eucarística. Para explicar melhor cada uma delas, nesta ocasião explicou os ritos introdutórios : a entrada, a saudação, o ato penitencial, o Kyrie eleison, o Glória e a oração chamada Coleta, das intenções de todo o povo de Deus.

A finalidade destes ritos introdutórios é fazer com que os fiéis congregados formem comunidade e se disponham a escutar com fé a Palavra de Deus e a celebrar dignamente a Eucaristia’, afirmou o Papa.

Não é um bom hábito ficar olhando o relógio, ‘ainda estou em tempo’, o cálculo. Com o sinal da cruz, com esses ritos, começamos a adorar a Deus, por isso é importante não chegar atrasado, mas sim com antecedência, para preparar o coração a este rito.’
Na procissão de entrada, o celebrante chega ao presbitério, saúda o altar com uma inclinação e, em sinal de veneração, beija-o e incensa-o, porque o altar é sinal de Cristo, que, oferecendo o seu corpo na cruz, tornou-Se altar, vítima e sacerdote. ‘Quando olhamos o altar, vemos onde Cristo está. O altar é Cristo’, explicou.

Em seguida, o sacerdote e restantes membros da assembleia fazem o sinal da cruz : com este sinal, não só recordamos o nosso Batismo, mas afirmamos também que a oração litúrgica se realiza ‘em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo’, desenrola-se no espaço da Santíssima Trindade, que é espaço de comunhão infinita; toda a oração tem como origem e fim o amor de Deus Uno e Trino que se manifestou e nos foi doado na Cruz de Cristo.

E mais uma vez Francisco pediu aos pais e aos avós que ensinem bem as crianças a fazer o sinal da cruz.

Depois o sacerdote dirige a saudação litúrgica à assembleia : ‘O Senhor esteja convosco!’. ‘Ele está no meio de nós’ : responde-lhe o povo de Deus. Assim se expressa a fé comum e o mútuo desejo de estar com o Senhor e viver em união com toda a comunidade.

Estamos no início da missa e devemos pensar no significado de todos esses gestos e palavras. Estamos entrando numa ‘sinfonia’, na qual ressoam várias tonalidades de vozes, inclusive momentos de silêncio, com a finalidade de criar o ‘acordo’ entre todos os participantes, isto é, de se reconhecer animados por um único Espírito e para um mesmo fim.’

Esta sinfonia apresenta logo um momento tocante, que é o ato penitencial, isto é, o momento de reconhecer os próprios pecados. ‘Todos somos pecadores. Talvez alguns de vocês não’, brincou o Papa com fiéis, pedindo que o ‘não pecador’ levantasse a mão para ser reconhecido pela multidão. ‘Vocês têm uma boa fé’, disse Francisco, já que ninguém se manifestou.

Não se trata somente de pensar nos pecados cometidos, mas é muito mais : é o convite a confessar-se pecadores diante de Deus e dos irmãos, com humildade e sinceridade, como o publicano no templo’, concluiu o Papa, acrescentando que devido à sua importância, a próxima catequese será dedicada justamente ao ato penitencial.’


Fonte :



terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O mal-estar da teologia

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Sem um investimento concreto na teologia a Igreja se empobrece.
*Artigo de Marcello Neri, 
teólogo e padre italiano, 
professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha


‘O debate promovido pelo site Settimana News sobre a teologia, sobre a sua capacidade de destinação no nosso tempo e na Igreja Católica, que Francisco vai imaginando para além das fronteiras às quais todos estávamos tranquilamente acostumados, ainda está em andamento. Pensado como abertura entre mundos e gerações diferentes entre si, seria bom se ele pudesse continuar sem saber bem quando chegará à conclusão. Será o próprio caminho empreendido que ditará os ritmos de um discernimento em vista de uma decisão.

Pontos críticos
Neste espaço aberto, em que se inseriram sensibilidades teológicas, perspectivas pastorais e aspirações geracionais não homogêneas entre si (mas este é precisamente o sentido do próprio debate), parece-me que chegou o momento de pôr sobre a mesa da discussão alguns elementos críticos estruturais da obra teológica na contemporaneidade. Pensar criticamente o saber da fé significa honrar a sua própria razão de ser na comunidade dos discípulos e das discípulas do Senhor.
Comunidade que não vive para si mesma, mas está desde sempre destinada às muitas exterioridades do mundo e da vida comum dos homens e das mulheres. Não é diferente a tarefa evangélica que pertence à própria teologia. Ela existe não para falar de si mesma, para encontrar um cantinho de reconhecimento consolatório cômodo e imediato. Fazer teologia significa, em primeira instância, cultivar sabiamente a notícia evangélica de Deus na forma de mediação cultural da fé.
Ela nasce na Igreja e nas vivências de fé que fazem a realidade da sua presença entre o humano que é comum a todos nós; mas, desde as suas origens, a teologia nunca se contentou em interromper o seu caminho, uma vez alcançado o limiar da comunidade cristã. Ao contrário, pensando-se como acompanhamento da vivência de fé e sua legitimação, nos territórios comuns do viver humano e nas formas institucionais da sua organização.

Extramuros
Esses limiares, nos seus melhores tempos, sempre foram superadas por ela para transbordar em dimensões mais amplas do viver e da cultura; sem temer frequentar territórios externos, pouco conhecidos, talvez até hostis. Porque é precisamente aqui que é posta à prova a bondade da teologia para a própria fé. É nas suas capacidades de exterioridade que ela pode se propor à fé vivida concretamente como um saber que sustenta a sua aventura e que amadurece culturalmente o seu discernimento sintonizado com o imaginário evangélico de Deus.
Para poder ser tudo isso também hoje, a teologia pede um sábio cultivo do tempo. Não pode ser apenas uma aplicação parcial ao lado de muitas outras, talvez ditadas por urgências contingentes. Se quisermos fazer teologia, é preciso se dedicar a ela, prontos também para pagar o preço de um trabalho cotidiano que exige sacrifício e aplicação, além de inteligência.

Profissão teólogo/a : um bem para a Igreja
Sem um investimento concreto na teologia, ou seja, em homens e mulheres que podem se dedicar a ela em tempo integral, a Igreja se empobrece, torna-se dependente na elaboração do seu discernimento cultural do Evangelho e na adequação do seu juízo de civilização.
A Igreja acaba importando, a esse respeito, em sua própria casa, vozes e posições que têm muito pouco a ver com o cuidado da fé no tempo presente e com a incisão evangélica da sua palavra nas vivências dos nossos contemporâneos. Ela corre o risco de ir em busca de ideologias muito distantes da tarefa que o Senhor lhe confiou, apenas porque, nelas, se ilude de encontrar uma espécie de margem que a confirma e a tranquiliza.
Não é possível ser teólogo ou teóloga e fazer mil outras coisas ao mesmo tempo – mesmo que necessárias, talvez até urgentes para uma Igreja local. O poder de dispersão acabaria existindo, aqui, em detrimento a um pensamento teológico à altura da própria tarefa. E a própria Igreja local sofreria com isso, muito além de qualquer solução provisória para situações de emergência. Ela simplesmente acabaria sendo mais pobre, ficaria sem aquela amplitude de imaginação e de inteligência que o Evangelho exige dela.

A pastoralidade da teologia
A pastoralidade não é um acréscimo externo à obra teológica, alcançável fazendo outra coisa, mas sim um habitus, uma sensibilidade de fundo que deve ser cultivada cotidianamente como responsabilidade eclesial e cultural do teólogo e da teóloga. Ela nasce da consciência de que cada discurso seu, cada pensamento seu são dirigidos ao humano que vive concretamente, dentro de uma história, de um contexto cultural, de uma conjuntura de época. Na falta disso, pode-se fazer talvez academia, mas não teologia.
E é precisamente em nome de uma pastoralidade assim entendida que o teólogo e a teóloga se opõem a esgotar a sua obra e a sua paixão nas questões caseiras, por mais importantes que possam ser. O seu olhar deve ir além delas, dirigindo-se constantemente às condições daquele tempo histórico ao qual o Deus de Jesus deseja ser efetivamente contemporâneo. A teologia deve ser adequadamente familiar a essas condições do tempo; ou, melhor, deve saber se dizer justamente nelas, em toda a sua exterioridade em relação ao cotidiano da comunidade cristã.

Uma necessidade pública de teologia
Grande parte da teologia europeia parece estar em dificuldade diante do aprendizado dessa familiaridade, desse cultivo de um movimento nas exterioridades da cultura, do saber, da socialidade humana.
E continua sendo produzida como mundo fechado em si mesmo, sem porosidades nem contaminações. Impedindo-se, desse modo, de aprender o léxico elementar do homem e da mulher que vivem concretamente. Acabando por falar uma linguagem esotérica e alheia para a própria experiência da fé.
Para o sucesso desse itinerário de aprendizado, não basta abrir as portas das faculdades teológicas ou dos congressos a colegas de disciplinas ‘laicas’ (um artifício com o qual tentamos prover muitas das nossas atividades), se, depois, tudo para por aqui, se, depois, então o monopensamento teológico não se encontra posto em discussão por essa fugaz hospitalidade convencional. A frequência com as exterioridades do saber deve se tornar forma mentis interna da própria obra teológica.
E também não basta uma inserção da teologia na universidade pública, se ela for pensada como solução mágica para uma representação do saber da fé no espaço frequentado por todos. É claro, algo do gênero pode fazer bem para a teologia, mas, por si só, não é capaz de romper a autorreferencialidade que a caracteriza.
Isso poderia funcionar, se ela nos obrigasse a um radical repensamento do currículo teológico, da sua configuração e da sua destinação. Se, em suma, fôssemos capazes de nos perguntar e de responder à pergunta : ‘Qual teologia no espaço público da socialidade humana de todos?’.
Mas, diante dessa pergunta, parece surgir apenas um grande silêncio, uma falta de imaginação e liberalidade em favor de uma circulação mais ampla da res teológica, de tão acostumados que estamos a geri-la entre nós, grupo de iguais que se espelham uns nos outros – seja qual for a nossa colocação nas muitas, e muitas vezes inúteis, disputas eclesiais que sugam todas as energias que temos à disposição.
Falta-nos o léxico mínimo, até mesmo em nível mental, para arrastar a teologia ao espaço público da coexistência civil, precisamente no momento em que esta última evidencia não apenas uma abertura de fundo, mas também a urgente necessidade de teologias que sejam exercidas justamente lá. A abertura dessa janela, dadas as transformações e os desafios que a esfera civil europeia se vê enfrentando neste momento, não é por tempo indeterminado e ilimitado. É agora, aqui, com condições precisas.

Transversalidade
O hábito de cultivar a teologia em âmbitos nos quais os seus códigos são imediatamente inteligíveis e não requerem uma reconfiguração da sua arquitetura geral corre o risco de torná-la incapaz de aproveitar essa oportunidade que se escancara diante dela.
Corresponde a isso uma visão quase infantil, por parte da chamada academia secular dos saberes, da obra teológica; ignorante não só daquilo que a teologia produziu nos últimos 20 anos, mas também atestada em uma compreensão totalmente inadequada das figuras teológicas fundamentais no seu desenvolvimento histórico.
Na encruzilhada dessa dupla fraqueza, corre o risco de se queimar, antes ainda de poder lhe dar alguma forma adequada, a exigência de um alargamento público de amplo alcance da presença das teologias no contexto contemporâneo da Europa.
O paradoxo é que não faltam teólogos e teólogas que seriam capazes de corresponder a essa oportunidade (um verdadeiro sinal dos tempos, eu diria), mas a sua habilidade e competência na concepção de percursos para um ultrapassamento público do saber teológico ao âmbito mais amplo da esfera civil da cultura e da socialidade europeia encalham, de partida, diante das formas estruturais e institucionais vigentes dentro das quais eles exercem a sua profissão.
Portanto, é preciso idealizar percursos de planejamento a longo prazo, capazes de convocar em torno de temas específicos, atuais e transversais as várias disciplinas do saber, que permitam desbloquear a condição das teologias do impasse em que se encontram neste momento. Imaginando, por todo o tempo que seja necessário, uma distinção, o mais dialógica possível, entre a didática e a pesquisa teológica.
Mas isso não será possível sem uma correspondente mudança de mentalidade e de modus operandi por parte dos próprios teólogos e teólogas, na consciência de que só o abandono do terreno seguro no qual eles continuam se movendo será capaz de delinear a legitimidade pública e civil da sua obra.’

IHU/ Settima News - Tradução: Moisés Sbardelotto

Fonte :