*Artigo
de Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo Metropolitano de Belém, PA
‘Abre-se
a porta da misericórdia! O Pai das Misericórdias enviou seu Filho amado ao
mundo e derramou sobre a humanidade a unção do Espírito Santo, para a festa do
perdão, arte das artes, que tem na Trindade Santa sua fonte e realização, em
benefício da humanidade. Abre-se a porta da Quaresma... Graças ao amor
misericordioso de Deus não há pecado, por maior que seja, que não possa ser
perdoado, nem pecador que seja posto de lado. Todas as pessoas que se
arrependerem serão recebidas por Jesus Cristo, com perdão e imenso amor. Diante de tamanha bondade, cabe-nos responder
com a sinceridade da vivência quaresmal. O pregão bíblico da penitência, com o
gesto da imposição das Cinzas, vivido pela Igreja, quer ser o convite a que
todos estejam dispostos a morrer para o homem velho.
A
Igreja aprendeu e ensinou no correr dos séculos a importância do tempo, como
oportunidade da graça de Deus, através do que chamamos Ano Litúrgico, com o
qual percorremos o ciclo dos mistérios de Cristo, colhendo todos os presentes
que são oferecidos. O tempo da Quaresma é o convite a voltar os olhos para a
Páscoa, dedicando as próximas semanas à revisão de vida, prática da Penitência,
Sacramento da Reconciliação, Leitura Orante da Palavra de Deus, Participação na
Eucaristia e Exercício da Caridade.
Cada
ano a Igreja oferece temas e propostas de vida nova a todos os cristãos. O Papa
Francisco desejou, neste ano de 2015, convidar-nos a refletir e mudar de
atitude, na superação de um dos desafios mais urgentes, a globalização da
indiferença. Diz o Papa : ‘Dado que a
indiferença para com o próximo e para com Deus é uma tentação real também para
nós, cristãos, temos necessidade de ouvir, em cada Quaresma, o brado dos
profetas que levantam a voz para nos despertar’. Depois de indicar passos a
serem dados pela Igreja, pelas Paróquias, Comunidades e por todos os cristãos,
considerados pessoalmente, assim convidou : ‘Para superar a indiferença e as nossas pretensões de
onipotência, gostaria de pedir a todos para viverem este tempo de Quaresma como
um percurso de formação do coração, a que nos convidava Bento XVI (Carta
encíclica Deus caritas est, 31). Ter um coração misericordioso não
significa ter um coração débil. Quem quer ser misericordioso precisa de um
coração forte, firme, fechado ao tentador, mas aberto a Deus; um coração que se
deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos
irmãos e irmãs; no fundo, um coração pobre, isto é, que conhece as suas
limitações e se gasta pelo outro. Por isso, amados irmãos e irmãs, nesta
Quaresma desejo rezar convosco a Cristo : ‘Fazei o nosso coração
semelhante ao vosso’ (Súplica das Ladainhas ao Sagrado Coração de Jesus).
Teremos assim um coração forte e misericordioso, vigilante e generoso, que não
se deixa fechar em si mesmo nem cai na vertigem da globalização da indiferença’.
Também
no Brasil acontece um intenso esforço de mudança de vida, com a Campanha da
Fraternidade, realizada anualmente na Quaresma, desde 1964, com a qual deseja
oferecer nossa contribuição à sociedade, para a construção de um mundo melhor.
Em 2015, nossa Campanha é sobre ‘Fraternidade
: Igreja e Sociedade’, com o lema ‘Eu
vim para servir’ (Cf. Mc 10, 45). O bonito cartaz da Campanha retrata o
Papa Francisco lavando os pés de um fiel na Quinta-feira Santa de 2014. A
Igreja atualiza o gesto de Jesus Cristo ao lavar os pés de seus discípulos. O
lava-pés é expressão de amor capaz de levar a pessoa a entregar sua vida pelo
outro.
A
Igreja católica participa das alegrias e tristezas do povo brasileiro, e quer
dar a sua contribuição, para que nosso povo seja mais disponível ao serviço das
pessoas umas às outras. Queremos manter uma atitude de serviço, diálogo e
cooperação. Queremos atuar em favor de tudo o que eleva a dignidade humana.
Nossa colaboração quer ser ainda uma resposta ao convite do Papa para maior
atenção aos pobres e sofredores, indo às periferias geográficas e existenciais,
uma Igreja em saída, como diz o Papa Francisco.
Alguns
temas serão tratados com intensidade e transformar-se em prática dos cristãos,
como fruto da Campanha da Fraternidade : a proteção dos direitos fundamentais
das pessoas, o bem comum, a justiça social e o serviço da Igreja à sociedade.
Desejamos procurar continuamente o que Deus quer de nós, discernindo nossas
ações a partir do que existe em nossas comunidades, atuando através das
pastorais sociais, dialogar com todas as forças da sociedade em vista do bem
comum, introduzir cada vez mais o tema da paz e da superação da violência em
nossas orações e nosso comportamento, acompanhar pessoas e famílias em situação
de conflito, participar de forma consciente e construtiva no caminho do país
para a reforma política.
Os
cristãos não desejam privilégios, mas têm o direito de participar da vida da
sociedade. Sabemos que existem posições contrárias à religião, numa sociedade
que pretende cancelar as referências à transcendência e o reforço do
individualismo. Há assuntos graves que pedem a participação de todas as forças
da sociedade, como a educação, a saúde e a paz social. A Igreja tem uma palavra
a dizer sobre estes temas e propõe modos de vida que não excluam pessoas e
grupos da sociedade. Acolhendo o convite do Papa Francisco, em sua mensagem
quaresmal, os católicos não se deixarão tomar pela globalização da indiferença.
Saberão chorar com os que choram e rir com aqueles que riem (Cf. Texto-base da Campanha da Fraternidade 2015).
Começa
uma ‘Campanha’, esforço intenso,
durante a Quaresma, unindo forças humanas e corações iluminados pela fé. Uma
Campanha ‘da Fraternidade’, sonhando
alto e fazendo a nossa parte para que homens e mulheres de nosso tempo sejam
mais fraternos. É uma Campanha da Igreja, que pretende ser ‘Campanha de Opinião Publica’,
contribuindo para a elevação do nível de vida do povo brasileiro. O caminho
está em Cristo, que veio ‘para servir’.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.arquidiocesedebelem.org.br/index2.html
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