*Cardeal Dom Orani João Tempesta, O. Cist.,
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro,
RJ
‘A
doença nos mostra o quanto somos limitados. A busca da saúde e a preocupação
com a dignidade da assistência fazem parte de nossa faina e de nosso próprio
instinto. Diante de tantas circunstâncias e situações, a Pastoral
dos Enfermos é
uma presença da Igreja em todos os âmbitos ligados a esta situação. É o anúncio
de que Deus está presente em nossa vida, de maneira especial nesse momento de
fragilidade em que aprendemos a trabalhar de um outro modo e a ser mais
contemplativo, além do esforço de arrancar o mal pela raiz. É o que celebramos
na Unção dos Enfermos. Pela sagrada Unção dos Enfermos e pela oração dos
presbíteros, a Igreja toda entrega os doentes aos cuidados do Senhor sofredor e
glorificado, para que os alivie e salve. Exorta os mesmos a que livremente se
associem à paixão e à morte de Cristo, e contribuam para o bem do povo de Deus.
O
Sacramento da Unção dos Enfermos, que podemos receber mais de uma vez quando
passamos por doenças graves que necessitam de cuidados, é essa presença de fé e
esperança nesse momento da vida. Costuma-se, na celebração, o padre dar ao
doente o Sacramento da Confissão, com o propósito de o doente também
arrepender-se de seus pecados e viver esse momento na graça de Deus.
Um
importante requisito para a realização do Sacramento é a vontade do doente em
querer recebê-lo. A família pode aconselhá-lo, chamar o padre a casa dele e
propor o Sacramento, mas sem impô-lo ao doente. Recebido com fé, o Sacramento
dará muitos frutos e graças.
Jesus
sempre teve um grande carinho pelos doentes. Quando os judeus os desprezavam,
porque consideravam a doença um castigo de Deus, Ele os acolhia com amor e os
curava. ‘E passando, Jesus viu um cego de
nascença. Os seus discípulos perguntaram-lhe : Mestre, quem pecou, este ou seus
pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu : nem ele nem seus pais, mas foi para se
manifestarem nele as obras de Deus’ (Jo 9, 1-3). Jesus quis que aqueles que
o acompanhavam continuassem sua missão, por isso deu a seus discípulos o dom da
cura. ‘Então os discípulos partiram e
pregaram para que as pessoas se convertessem. Expulsavam muitos demônios e curavam
muitos doentes, ungindo-os com óleo’ (Mc 6, 12s). O Senhor ressuscita e
renova este envio e confirma, através de sinais realizados pela Igreja, ao
invocar seu nome : ‘Quando colocarem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados’
(Mt 16, 18).
Para aprofundar este tema é que temos a
oportunidade de viver mais um Dia Mundial do Doente. Ele foi instituído por São
João Paulo II em 1992, e é celebrado, anualmente, em 11 de fevereiro, na
festividade de Nossa Senhora de Lourdes. Em nossa Arquidiocese, além da
celebração na Basílica de Lourdes, teremos missa especial em hospitais de cada
Vicariato com os agentes da pastoral, doentes, familiares, médicos, enfermeiros
e funcionários para aprofundar esta proximidade da Igreja junto àquele que
sofre.
Para
reflexão desse dia, a Santa Sé divulgou, no dia 30 de dezembro de 2014, a mensagem
do Papa Francisco para esse XXIII Dia Mundial do Doente.
O
tema deste ano convida-nos a meditar uma frase do livro de Jó : ‘Eu era os olhos do cego e servia de pés para
o coxo’ (29,15). O Papa Francisco encoraja a fazer esta meditação na
perspectiva da ‘sapientia cordis’, ou
seja, da sabedoria do coração, e frisa que sabedoria do coração significa
servir o irmão. Com efeito, as palavras de Jó evidenciam o serviço aos
necessitados – insiste o Papa –, recordando aqui as pessoas que permanecem
junto dos doentes que precisam de assistência contínua, de ajuda para se lavar,
vestir e alimentar.
Este
serviço, especialmente quando se prolonga no tempo, pode tornar-se cansativo e
pesado; é relativamente fácil servir alguns dias, mas torna-se difícil cuidar
de uma pessoa durante meses ou até anos, inclusive quando ela já não é capaz
nem de agradecer. E, no entanto, que grande caminho de santificação é este! –
exclama o Papa. Em tais momentos, pode-se contar, de modo particular, com a
proximidade do Senhor, sendo, também, de especial apoio a missão da Igreja –
escreve o Papa –, que continua : sabedoria do coração é sair de si para ir ao
encontro do irmão.
Às
vezes, o nosso mundo se esquece do valor especial que tem o tempo gasto à
cabeceira do doente, porque, obcecados pela rapidez, pelo frenesi do fazer e do
produzir, esquece-se a dimensão da gratuidade, do prestar cuidados, do
encarregar-se do outro. No fundo, por detrás dessa atitude, há muitas vezes uma
fé morna, que esqueceu a palavra do Senhor que diz : ‘a Mim mesmo o fizestes’. Por isso, o Papa Francisco recorda uma vez
mais a ‘absoluta prioridade da ‘saída de
si próprio’ para se pôr ao serviço do irmão necessitado.
Na
mensagem, o Papa Francisco fala das sabedorias :
1-
Sabedoria do coração;
2-
Sabedoria do coração é servir o irmão;
3-
Sabedoria do coração é estar com o irmão;
4-
Sabedoria do coração é sair de si ao encontro
do irmão;
5-
Sabedoria do coração é ser solidário com o
irmão, sem julgá-lo.
Ao
concluir a mensagem, o Papa Francisco se remete a Maria Santíssima, pois foi
ela que acolheu em seu ventre a Sabedoria Encarnada, que é Jesus Cristo, e
depois recitou uma prece : ‘Ó Maria, Sede
da Sabedoria, intercedei como nossa Mãe por todos os doentes e quantos cuidam
deles. Fazei que possamos, no serviço ao próximo sofredor e através da própria
experiência do sofrimento, acolher e fazer crescer em nós a verdadeira
sabedoria do coração’.
Temos
um belo serviço de visita aos enfermos, que vejo com alegria que cada vez
melhor se organiza. Agradeço a Deus e a tantos irmãos do clero que se desdobram
em ser essa presença. Convido outros irmãos e irmãs para que se associem nessa
missão evangelizadora e importantíssima, seja nas visitas aos hospitais, seja
nas residências. Eu mesmo gostaria de ter mais possibilidade de ter essa
presença, e, quando consigo, agradeço a Deus, como pude fazer algumas vezes
durante a Trezena de São Sebastião.
Este
é um convite que faço a todos os arquidiocesanos, para que, neste Ano da
Esperança Cristã, levemos a esperança que é Cristo para os que estão nos leitos
hospitalares, ou em suas residências presos a uma cama, enfermos. Tenho visto
muitos exemplos e sinais dessa presença.
Que
a luz divina do Cristo Ressuscitado brilhe nos corações de todos os enfermos e
nas suas famílias. Que Maria Santíssima, Auxiliadora dos Cristãos, Mãe dos
Enfermos e Consoladora dos Aflitos nos ensine a aceitar o caminho do sofrimento
guiado pela Palavra de Deus, que nos anima e nos guia ao do Cristo Redentor!’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.zenit.org/pt/articles/visitar-os-enfermos
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