terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Liberdade e respeito

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

  *Artigo do Padre António Carlos,
Missionário Comboniano

‘Os ataques de Janeiro, em Paris, contra o jornal satírico Charlie Hebdo e o supermercado kosher, que fizeram 20 mortes, chocaram o mundo inteiro, de modo particular a França e a Europa. O motivo dos atentados invocado pelos atacantes – as caricaturas insultuosas de Maomé publicadas no semanário – de maneira nenhuma justifica tais actos barbáricos e abomináveis. Aqui, a religião serviu como mera desculpa para praticar o terrorismo. É uma autêntica aberração matar em nome de quaisquer convicções religiosas e de Deus. Se, por um lado, defendemos a liberdade de expressão como um direito inalienável, por outro, recusamos a ofensa contra a dignidade da pessoa e as suas convicções profundas sob o pretexto da liberdade de imprensa.

Os cartoons que o semanário publicou ao longo dos últimos anos visando figuras religiosas eram ofensivos e de mau gosto. O que nos remete para uma reflexão sobre o papel das religiões em sociedades democráticas, ditas livres, laicas e secularizadas. O laicismo levado ao extremo conduz à desvalorização da religião, tratando-a como um fenómeno privado e sem nenhuma relevância social.

A coexistência pacífica em sociedades multiculturais assenta na aceitação da liberdade de pensamento, associação e expressão, a par da necessidade de tolerância e respeito para com a diversidade de credos e culturas. É imperativo que os cidadãos estrangeiros sejam integrados – e não assimilados – nas sociedades de acolhimento.

Quase simultaneamente aos atentados na capital francesa, cerca de 2000 pessoas eram mortas pelo grupo terrorista Boko Haram durante a captura da cidade de Baga, no Estado de Borno, no Nordeste da Nigéria. O presidente da Conferência Episcopal deste país africano, Dom Ignatius Kaigama, ao mesmo tempo que se solidarizava com as vítimas dos assassínios verificados em França, chamava a atenção para a chacina que está a ocorrer no seu país. E apelava a uma manifestação de unidade idêntica à de Paris contra o terrorismo na Nigéria. Não esqueçamos, pois, que noutras paragens do globo milhares de cidadãos estão a ser vítimas de acções tresloucadas e letais por parte de fanáticos e terroristas.

Precisamente no Sudão do Sul, há pouco mais de um ano, em Dezembro de 2013, rebentou uma guerra entre facções fiéis ao presidente em exercício, Salva Kiir, e facções do seu vice-presidente, Riek Machar. Neste número da revista, pode ler um artigo sobre o impacto muito negativo que os conflitos tiveram em todos os sectores da vida daquele país africano. O texto é escrito por um missionário que viveu os momentos dramáticos da guerra. Ele e o restante pessoal missionário tiveram de se refugiar no mato, vivendo lado a lado com os deslocados da guerra, numa experiência que o aproximou dos sofrimentos do povo. Em ano dedicado à vida consagrada, é um testemunho edificante de pessoas consagradas que partilham a sorte do seu rebanho.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EukkAVVpVpvhNKYdYQ

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