*Artigo do Padre António Carlos,
Missionário Comboniano
‘Os ataques de Janeiro, em Paris,
contra o jornal satírico Charlie Hebdo e o supermercado kosher, que fizeram 20
mortes, chocaram o mundo inteiro, de modo particular a França e a Europa. O
motivo dos atentados invocado pelos atacantes – as caricaturas insultuosas de
Maomé publicadas no semanário – de maneira nenhuma justifica tais actos
barbáricos e abomináveis. Aqui, a religião serviu como mera desculpa para
praticar o terrorismo. É uma autêntica aberração matar em nome de quaisquer
convicções religiosas e de Deus. Se, por um lado, defendemos a liberdade de
expressão como um direito inalienável, por outro, recusamos a ofensa contra a
dignidade da pessoa e as suas convicções profundas sob o pretexto da liberdade
de imprensa.
Os cartoons que o semanário publicou ao
longo dos últimos anos visando figuras religiosas eram ofensivos e de mau
gosto. O que nos remete para uma reflexão sobre o papel das religiões em
sociedades democráticas, ditas livres, laicas e secularizadas. O laicismo
levado ao extremo conduz à desvalorização da religião, tratando-a como um
fenómeno privado e sem nenhuma relevância social.
A coexistência pacífica em sociedades
multiculturais assenta na aceitação da liberdade de pensamento, associação e
expressão, a par da necessidade de tolerância e respeito para com a diversidade
de credos e culturas. É imperativo que os cidadãos estrangeiros sejam
integrados – e não assimilados – nas sociedades de acolhimento.
Quase simultaneamente aos atentados na
capital francesa, cerca de 2000 pessoas eram mortas pelo grupo terrorista Boko
Haram durante a captura da cidade de Baga, no Estado de Borno, no Nordeste da
Nigéria. O presidente da Conferência Episcopal deste país
africano, Dom Ignatius Kaigama, ao mesmo tempo que se solidarizava com as
vítimas dos assassínios verificados em França, chamava a atenção para a chacina
que está a ocorrer no seu país. E apelava a uma manifestação de unidade
idêntica à de Paris contra o terrorismo na Nigéria. Não esqueçamos, pois, que noutras paragens
do globo milhares de cidadãos estão a ser vítimas de acções tresloucadas e
letais por parte de fanáticos e terroristas.
Precisamente no Sudão do Sul, há pouco
mais de um ano, em Dezembro de 2013, rebentou uma guerra entre facções fiéis ao
presidente em exercício, Salva Kiir, e facções do seu vice-presidente, Riek
Machar. Neste número da revista, pode ler um artigo sobre o impacto muito
negativo que os conflitos tiveram em todos os sectores da vida daquele país
africano. O texto é escrito por um missionário que viveu os momentos dramáticos
da guerra. Ele e o restante pessoal missionário tiveram de se refugiar no mato,
vivendo lado a lado com os deslocados da guerra, numa experiência que o
aproximou dos sofrimentos do povo. Em ano dedicado à vida consagrada, é um
testemunho edificante de pessoas consagradas que partilham a sorte do seu
rebanho.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EukkAVVpVpvhNKYdYQ
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