*Artigo de Óscar Maradiaga,
Cardeal e Presidente
Da Caritas Internacional
O crescimento do amor não tem limites na nossa vida. Por
isso, aprender a amar é a grande tarefa da espiritualidade cristã, sempre
inacabada.
‘O amor fraterno tem a sua origem em
Deus que é amor e que nos amou primeiro. Ele difunde o seu amor em nós através
do Espírito para que em cada um o amor cresça, amadureça e se pareça ao
autêntico amor, o amor com que Cristo nos amou. Se podemos amar é porque Deus
nos comunica o seu amor. Se podemos amar, é por causa da morte de Cristo, por
amor, e da sua ressurreição que tornaram possível o amor. Este amor de Jesus é
a medida do amor. O ideal cristão ultrapassa o puro humanismo da caridade (‘não fazer aos outros o que não queremos que
nos façam a nós’), e nos impele a amar como Cristo amou. Por isso, o
crescimento do amor não tem limites na nossa vida. Por isso, aprender a amar é
a grande tarefa da espiritualidade cristã, sempre inacabada.
Existe às vezes o perigo de concentrar
a espiritualidade noutras metas, e não em dar primazia à caridade. A
bem-aventurança da misericórdia ensina-nos que, segundo o Evangelho, esta
consiste ao mesmo tempo na solidariedade e compromisso de amor eficaz com o
irmão necessitado que está na miséria, no perdão das ofensas e na
reconciliação. A misericórdia é a prática do amor fraterno e indica-nos os
caminhos concretos da encarnação do amor : a reconciliação, a libertação das
misérias. Os ensinamentos de Jesus, antes de mais, revelam-nos que a prática da
misericórdia é a única via universal que gera fraternidade (faz-nos irmãos e
irmãs uns dos outros). Essa é a mensagem da parábola do samaritano que é a
parábola da verdadeira prática da misericórdia e do amor fraterno (Lc 10,
25-37). Ao terminar a parábola, Jesus pergunta ao doutor da lei : ‘Qual destes três te parece ter sido o
próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?’ (Lc 10, 30). Quer
dizer que os três não foram irmãos do ferido. Eles podiam tê-lo sido mas, na
verdade, foi ‘O que usou de misericórdia
para com ele’ (Lc 10, 37). O sacerdote não é irmão do judeu e tão-pouco o
levita. O samaritano sim. Para Jesus, o ser irmão dos outros não é algo ‘automático’ como um direito adquirido.
Não somos irmãos da prática do amor. São Paulo recorda-nos que de nada nos
serve entregarmo-nos aos pobres, ao martírio, se nos faltar o amor (I Cor. 13,
1 ss).
Perante o mandamento de crescer no
amor, devemos reconhecer que não sabemos amar. O nosso amor é muitas vezes uma caricatura (Rom 12, 9). O nosso
egoísmo, as nossas preocupações e a nossa sensibilidade consome-nos. Sabemos
igualmente que a caridade fraterna é a realização cristã e humana mais difícil
: chegar a amar como Cristo ama. Que na terra nunca alcançaremos essa perfeição
do amor, sabemos que fracassamos continuamente, que não superamos as divisões e
os rancores, que somos cada dia cobardes no serviço, no acolhimento, no perdão
e em dar a nossa vida pelos outros. Tudo isto não quer dizer que não queremos
amar ou que de facto não amemos. Os amores, os caminhos do amor, amar é querer
amar. O que Deus essencialmente nos pede não é o sucesso da caridade, mas sim
um esforço permanente por crescer no amor e na luta de aprender a amar, que
começa todos os dias.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http
://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EukkAVAuZAHpLigpMI
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