quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Aprender a amar

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 *Artigo de Óscar Maradiaga, 
Cardeal e Presidente Da Caritas Internacional

  
O crescimento do amor não tem limites na nossa vida. Por isso, aprender a amar é a grande tarefa da espiritualidade cristã, sempre inacabada.

‘O amor fraterno tem a sua origem em Deus que é amor e que nos amou primeiro. Ele difunde o seu amor em nós através do Espírito para que em cada um o amor cresça, amadureça e se pareça ao autêntico amor, o amor com que Cristo nos amou. Se podemos amar é porque Deus nos comunica o seu amor. Se podemos amar, é por causa da morte de Cristo, por amor, e da sua ressurreição que tornaram possível o amor. Este amor de Jesus é a medida do amor. O ideal cristão ultrapassa o puro humanismo da caridade (‘não fazer aos outros o que não queremos que nos façam a nós’), e nos impele a amar como Cristo amou. Por isso, o crescimento do amor não tem limites na nossa vida. Por isso, aprender a amar é a grande tarefa da espiritualidade cristã, sempre inacabada.

Existe às vezes o perigo de concentrar a espiritualidade noutras metas, e não em dar primazia à caridade. A bem-aventurança da misericórdia ensina-nos que, segundo o Evangelho, esta consiste ao mesmo tempo na solidariedade e compromisso de amor eficaz com o irmão necessitado que está na miséria, no perdão das ofensas e na reconciliação. A misericórdia é a prática do amor fraterno e indica-nos os caminhos concretos da encarnação do amor : a reconciliação, a libertação das misérias. Os ensinamentos de Jesus, antes de mais, revelam-nos que a prática da misericórdia é a única via universal que gera fraternidade (faz-nos irmãos e irmãs uns dos outros). Essa é a mensagem da parábola do samaritano que é a parábola da verdadeira prática da misericórdia e do amor fraterno (Lc 10, 25-37). Ao terminar a parábola, Jesus pergunta ao doutor da lei : ‘Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?’ (Lc 10, 30). Quer dizer que os três não foram irmãos do ferido. Eles podiam tê-lo sido mas, na verdade, foi ‘O que usou de misericórdia para com ele’ (Lc 10, 37). O sacerdote não é irmão do judeu e tão-pouco o levita. O samaritano sim. Para Jesus, o ser irmão dos outros não é algo ‘automático’ como um direito adquirido. Não somos irmãos da prática do amor. São Paulo recorda-nos que de nada nos serve entregarmo-nos aos pobres, ao martírio, se nos faltar o amor (I Cor. 13, 1 ss).

Perante o mandamento de crescer no amor, devemos reconhecer que não sabemos amar. O nosso amor é muitas vezes uma caricatura (Rom 12, 9). O nosso egoísmo, as nossas preocupações e a nossa sensibilidade consome-nos. Sabemos igualmente que a caridade fraterna é a realização cristã e humana mais difícil : chegar a amar como Cristo ama. Que na terra nunca alcançaremos essa perfeição do amor, sabemos que fracassamos continuamente, que não superamos as divisões e os rancores, que somos cada dia cobardes no serviço, no acolhimento, no perdão e em dar a nossa vida pelos outros. Tudo isto não quer dizer que não queremos amar ou que de facto não amemos. Os amores, os caminhos do amor, amar é querer amar. O que Deus essencialmente nos pede não é o sucesso da caridade, mas sim um esforço permanente por crescer no amor e na luta de aprender a amar, que começa todos os dias.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http ://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EukkAVAuZAHpLigpMI


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