*Artigo de Padre Gian Luigi Morgano
‘Pode-se
entender melhor o significado da Quaresma, decidida pelo Vaticano II, conhecendo
a história deste tempo litúrgico. A celebração da Páscoa, nos três primeiros
séculos da Igreja, não tinha um período de preparação. Limitava-se a um jejum
realizado nos dois dias anteriores. A comunidade cristã vivia tão intensamente
o empenho cristão, até o testemunho do martírio, que não sentia a necessidade
de um período de tempo para renovar a conversão já acontecida com o batismo.
Ela
prolongava, porém, a alegria da celebração pascal por cinqüenta dias (Pentecostes).
Após a Paz de Constantino, quando a tensão diminuiu no empenho da vida cristã,
começou-se a perceber a necessidade de um período de tempo para admoestar os
fiéis sobre uma maior coerência com o batismo. Nascem assim as prescrições
sobre um período de preparação à Páscoa.
No Oriente,
encontramos os primeiros sinais de um período pré-pascal, como preparação
espiritual à celebração do grande mistério, no princípio do século IV. Santo
Atanásio nas ‘Cartas pascais’ (entre
os anos 330 e 347), São Cirilo de Jerusalém nas Protocatequeses e nas
Catequeses mistagógicas (347), fala desse período como realidade conhecida.
Eusébio (+340) em De solemnitate paschali
fala do ‘quadragesimo exercitium...santos
Moyses e Eliam imitantes’ (Cf. PG 24,697).
No Ocidente,
temos testemunhos diretos somente no fim do século IV. Falam desse período
Etéria (385) em seu Itinerarium
(27,1) pela Espanha e Aquitânia; Santo Agostinho para a África; Santo Ambrósio
(+ 396) para Milão. Não sabemos com certeza onde, por meio de quem e como
surgiu a Quaresma, sobretudo em Roma; apenas sabemos que ela foi se formando
progressivamente. Ela tem uma pré-história, ligada a uma praxe penitencial
preparatória à Páscoa, que começou a firmar-se desde a metade do século II. Até
o século IV, a única semana de jejum era aquela que precedia a Páscoa. Na
metade do século IV, já vemos acrescentadas a esta semana outras três,
compreendendo assim quatro semanas. A partir do fim do século IV, a estrutura
da Quaresma é aquela dos ‘quarentas dias’,
considerados à luz do simbolismo bíblico, que dá a este tempo um valor
salvífico-redentor, cujo sinal é a denominação ‘sacramentum’.
Celebrar
a Quaresma é portanto, reconhecer a presença de Deus na caminhada, no trabalho,
na luta, no sofrimento e na dor da vida do povo. Como o povo de Israel, que
andou 40 anos no deserto antes de chegar à terra prometida, terra da promessa
onde corre leite e mel. Como Jesus, que passou quarenta dias de retiro no
deserto antes de anunciar a vinda do Reino. Que subiu a Jerusalém para cumprir
a missão que o Pai lhe confiou : dar a sua vida e ser glorificado. A Quaresma, e isso é bem evidenciado na sua
história, é um tempo forte de conversão e de mudança interior, tempo de deixar
tudo o que é velho em nós, tempo de assumir tudo o que traz vida para a gente. Tempo
de graça e salvação, em que nos preparamos para viver, de maneira intensa,
livre e amorosa, o momento mais importante do ano litúrgico, da história da
salvação, a Páscoa, aliança definitiva, vitória sobre o pecado, a escravidão e
a morte. A espiritualidade da quaresma é caracterizada também por uma atenta,
profunda e prolongada escuta da Palavra de Deus. É esta Palavra que ilumina a
vida e chama à conversão, infundindo confiança na misericórdia de Deus. O confronto com o Evangelho ajuda a
perceber o mal, o pecado, na perspectiva da Aliança, isto é, a misteriosa
relação nupcial de amor entre deus e o seu povo. Motiva para atitudes de
partilha do amor misericordioso e da alegria do Pai com os irmãos que voltam
convertidos. Fazer da Quaresma um tempo favorável de avaliação de nossas opções
de vida e linha de trabalho, para corrigir os erros e aprofundar a vivencia da
fé, abrindo-nos a Deus, aos outros e realizando ações concretas de
fraternidade, de solidariedade.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.catequisar.com.br/texto/materia/celebracoes/quaresma/16.htm
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