No início do século XVIII , a fé cristã
entrou pela primeira vez em terras da Coréia, por iniciativa de alguns leigos,
de cujo esforço, sem pastores, surgiu uma comunidade forte e fervorosa. Só em
1836 os primeiros missionários, vindos da França, entraram furtivamente no
país. Nesta comunidade, floresceram, com as perseguições de 1839, 1846 e 1866,
cento e três mártires, entre os quais sobressaem o primeiro sacerdote e
ardoroso pastor de almas André Kim Taegón e o insigne apóstolo leigo Paulo
Chóng Hasang, a que se juntaram muitos leigos, homens e mulheres, casados e
solteiros, velhos, jovens e crianças. Todos eles consagraram com seu testemunho
e sangue as primícias da Igreja coreana.
A Liturgia
das Horas e a reflexão no dia de Santo André Kim Taegón,
presbítero e Paulo
Chóng Hasang, e seus companheiros, mártires :
Ofício das
Leituras
Segunda leitura
Da última
Exortação de Santo André Kim Taegón, presbítero e mártir
(Pro Corea. Documenta., ed. Mision Catholique Séoul,
Séoul-Paris 1938, Vol. I,74-75)
(Séc.XIX)
A
fé é coroada pelo amor e a perseverança
Meus caríssimos irmãos e amigos, considerai como Deus no princípio dos
tempos dispôs os céus, a terra e todas as coisas; meditai também com que
especial intenção criou o ser humano à sua imagem e semelhança.
Se, pois, nesta vida de perigos e miséria, não reconhecermos o Criador,
de nada nos servirá termos nascido e continuar vivendo. Já neste mundo pela
graça divina, pela mesma graça recebemos o batismo, entrando no seio da Igreja
e tornando-nos discípulos do Senhor. Mas, trazendo assim o precioso nome de
cristãos, de que nos servirá tão grande nome, se na realidade não o formos?
Seria inútil termos nascido e ingressado na Igreja se traíssemos o Senhor e a
sua graça; melhor seria não termos nascido do que, recebendo a sua graça,
pecarmos contra ele.
Considerai o agricultor ao lançar a semente no campo : primeiro, prepara
a terra com o suor do seu rosto e depois joga a preciosa semente; chegando o
tempo da colheita, alegra-se de coração com as espigas cheias, esquecendo seu
trabalho e suor, e dançando de alegria; se porém as espigas permanecem vazias
não sendo mais que palha e casca, o agricultor deplora o duro labor com que
suou, sentindo-se tanto mais desesperado quanto mais trabalhou.
De modo semelhante, cultiva o Senhor a terra como seu campo, sendo nós os
grãos de arroz; rega-nos com o seu sangue na sua Encarnação e Redenção para que
possamos crescer e amadurecer; quando, no dia do juízo, vier o tempo da
colheita, quem pela graça for achado maduro gozará o reino dos céus como filho
adotivo de Deus. Quanto aos outros, que não amadureceram, tornar-se-ão
inimigos, punidos para sempre, embora também tenham se tornado filhos adotivos
de Deus pelo batismo.
Irmãos caríssimos, lembrai-vos de que nosso Senhor Jesus, descendo a este
mundo, sofreu inúmeras dores e tendo fundado a Igreja por sua paixão, ele a faz
crescer pelos sofrimentos dos fiéis. Apesar de todas as pressões e
perseguições, os poderes terrenos não poderão prevalecer : da Ascensão de
Cristo e do tempo dos apóstolos até hoje, a santa Igreja continua crescendo no
meio das tribulações. Também
nesta nossa terra da Coréia, durante os cinquenta ou sessenta anos em que a
santa Igreja se estabeleceu aqui, os fiéis sempre sofreram perseguições. Hoje
acendeu-se de novo a perseguição; muitos amigos são, como eu, lançados nos
cárceres, enquanto também sofreis tribulações. Unidos num só corpo, como não
ficarão tristes os nossos corações? Como, humanamente, não experimentarmos a
dor da separação?
Deus, porém, como diz a Escritura, cuida de cada cabelo de nossa cabeça,
e o faz com toda a sabedoria; portanto, como não considerar esta perseguição
senão como permitida pelo Senhor, ou mesmo, seu prêmio ou, até, sua pena? Abraçai,
pois, a vontade de Deus, combatendo de todo o coração pelo vosso chefe Jesus e
vencendo o demônio, já vencido por ele.
Eu vos peço : não deixeis de lado o amor fraterno, mas ajudai-vos uns aos
outros, perseverando até que o Senhor tenha piedade de nós e afaste a
tribulação. Aqui
somos vinte e, pela graça de Deus, todos ainda estão bem. Caso algum de nós
venha a morrer, peço não negligenciardes a sua família. Muitas coisas teria
ainda a dizer-vos, mas como posso exprimi-las em tinta e papel? Por isso vou
terminar minha carta. Aproximando-se para nós a luta, peço-vos finalmente que
caminheis com fidelidade, de modo que no céu nos possamos congratular.
Deixo-vos aqui meu ósculo de amor.
Fonte :
‘In
Liturgia das Horas IV’, 1295, 1297
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