*Artigo de Dom Anuar
Battisti,
Arcebispo de Maringá - PR
‘Recordo aqui uma Palavra de Jesus,
como caminho necessário para celebrar a festa do banquete. ‘Portanto, se trouxeres a tua oferta ao
altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, Deixa ali
diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e,
depois, vem e apresenta a tua oferta’ (Mt 5,23-26).
Estar de bem com os irmãos, viver em
paz é condição para ser feliz e viver livre e liberto das consequências
maléficas dos rancores e ressentimentos guardados no coração. O grande
humanista Gandhi disse : ‘O fraco jamais
perdoa : o perdão é uma das características do forte.’ Em qualquer situação
de conflito, a tendência é sempre buscar um culpado. Neste caminho teremos
sempre vítimas e não pessoas a serem amadas e acolhidas, principalmente os
inimigos.
O Papa Francisco hoje é um dos homens
mais fortes do mundo, porque sempre soube perdoar. No mês de julho esteve no
sul da Itália na cidade de Caserta, para pedir perdão a um amigo pastor
protestante. A visita já é vista como histórica, pois foi a primeira vez que um
pontífice católico sai do Vaticano para se encontrar com um pastor da Igreja
Evangélica Protestante.
No seu discurso de unidade entre
cristãos, Francisco pediu perdão aos evangélicos por conta da perseguição feita
contra eles por muitos católicos : ‘Entre
as pessoas que perseguiram os pentecostais também houve católicos. Eu sou o
pastor dos católicos e peço perdão por aqueles irmãos e irmãs católicos que não
compreenderam e foram tentados pelo diabo’, afirmou o Papa.
Esse testemunho do Papa, que não é o
primeiro a pedir perdão publicamente pelos erros do passado e de se reconciliar
de maneira sincera com os grandes e pequenos inimigos históricos, faz com que
se liberte de uma bola de ferro amarrada aos pés que se chama ontem. Perdoar os
outros e saber se perdoar dos erros e pecados do passado é condição para ser um
verdadeiro líder.
Não existe peso maior na consciência do
ser humano do que ficar carregando culpa. A única saída honrosa é ter a coragem
de recomeçar. A capacidade de perdoar não vem por extinto, não é um gesto
automático e de fácil domínio. Exige sempre coragem, iniciativa, amor a si
próprio e ao outro, cultivados na fé de quem tem um Deus, que do alto da cruz
foi capaz de dizer : ‘Pai perdoai-lhes
porque não sabem o que estão fazendo’ (Lc 23,34).
Shakespeare foi brilhante quando
afirmou que ‘guardar ressentimento é como
tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra’.
Ressentimento é um verdadeiro câncer
que vai corroendo o gosto de viver, a alegria do encontro, a ternura nos
relacionamentos, enfim, criando doenças físicas e psicológicas, que em muitas
vezes a única saída é tirar a vida.
O Apóstolo Paulo nos recorda que ‘tanto quanto possível e de vós dependa,
vivei em paz com todos os homens’ (Rm 12,18). Ao mesmo tempo a vitória será
sempre dos pacíficos, pois sabem que a força de Deus não está no vento ou na
tempestade e sim na calmaria de quem sabe valorizar as pequenas coisas. O
caminho é ‘vencer o mal com o bem’
(Rm 12,21), e jamais ‘cansar de fazer o
bem’(Gl 6,9).
Essa dinâmica garante a todos o poder
incalculável do perdão, feito aos outros e principalmente a nós mesmos. ‘Ser feliz é encontrar força no perdão,
esperanças nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. É
agradecer a Deus a cada minuto pelo milagre da vida.’ (Fernando Pessoa).’
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