sábado, 16 de agosto de 2014

Missão Intercultural

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

   *Artigo de José Rebelo,
Missionário Comboniano


Evangelizamos não tanto com o que pregamos, mas pela maneira como vivemos e pomos em prática os valores em que acreditamos.

‘A fé é a razão de ser da missão. O missionário parte para testemunhar a sua fé em Jesus Cristo. Não haverá razões humanas suficientes que o levem a fazer o sacrifício de deixar para trás a família, amigos, contexto social, e mesmo gastronomia... para viver em situações pelo menos mais desconfortáveis, servir e, se necessário, dar a vida. Com ele leva, contudo, a sua cultura, os seus valores, o seu conhecimento, os seus dons, a sua maneira de ser e viver. É verdade que é chamado a assumir os valores da cultura que o acolhe, mas por mais que queira será sempre sinal de uma cultura diferente, visível desde logo na cor da sua pele, estatura e restante aparência física.

A internacionalidade e interculturalidade desempenham um papel importante na missão. A simples presença de um missionário entre um povo diferente do seu suscita um diálogo cultural – nem sempre explícito – em que há desafio e enriquecimento mútuos. Ambas as partes são confrontadas com atitudes e valores que levam (ou deveriam levar) a um questionamento das próprias assunções culturais e estilos de vida e a um enriquecimento humano e cultural.

Nada do que somos é estranho ao trabalho missionário que realizamos. Certamente que boa parte do desenvolvimento humano realizado pelos missionários se deve a essa interculturalidade, também representada pelos agentes humanitários e emigrantes. Além disso, evangelizamos não tanto com o que pregamos mas pela maneira como vivemos e pomos em prática os valores em que acreditamos – nas relações que instauramos com as pessoas que encontramos e entre as quais vivemos. É nesse diálogo-confronto que os valores são apreciados e apropriados de parte a parte.

A missão faz com que o missionário se defronte com culturas diferentes da sua que o interpelam e o desafiam a entender, a aceitar e, eventualmente, o fazem mudar. A missão enriquece-o no conhecimento e na maneira de ver a vida, mas também na maneira de ser e agir. Por outro lado, o missionário é sinal de uma realidade diferente que não pode não interpelar, começando pelas razões da sua presença num contexto de pobreza e não poucas vezes de insegurança e de conflito.

Nos sete anos que passei nas Filipinas, não pude não apreciar a religiosidade natural daquele povo; a humildade e a bondade de pessoas espoliadas ao longo de séculos pelas elites coloniais e locais, que para sobreviverem têm de recorrer a formas de dependência quase feudais, aos subterfúgios, às meias verdades, às desculpas, e mesmo ao desaparecimento.

Agora na África do Sul o contexto é diferente, mas há tendências que se mantêm numa sociedade bastante desigual onde o materialismo e a cobiça acompanham o crescimento econômico. O testemunho de trabalho e dedicação sem fins lucrativos e sem aspiração a ter posições não pode não ser significante. O diálogo e valorização das diversas etnias, mesmo estrangeiras, num país que ainda não resolveu o problema racial e é tentado a recorrer à violência e à xenofobia é outro desafio.

Daí que a presença dos missionários, além de ser um sinal de fé contribui para criar um mundo mais fraterno e pacífico. Mesmo que um país esteja evangelizado, a falta de missionários seria sempre uma pobreza – para a Igreja e para a sociedade em geral. Eles são sinais de amor, gratuidade, despojamento, convivência pacífica, da possibilidade de diálogo e entendimento entre os povos. Houve missionários assassinados e colonos que tiveram de fugir após as descolonizações, mas o facto de a África, que tem vivido mais do que o seu quinhão de conflitos e atrocidades, nunca ter tido nenhum sério conflito racial pode ser um sinal da importância da presença dos missionários e dos valores cristãos e civilizacionais que eles incarnam.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EFAAFZulplZJyrkHax



Nenhum comentário:

Postar um comentário