* Artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
‘‘Jesus
Cristo morreu, Jesus Cristo ressuscitou, Jesus Cristo é o Senhor, Jesus Cristo
há de voltar!’ Poucas palavras, com as quais se resume o essencial da fé
cristã. Impressiona o fato de que os seguidores de Jesus, nos Atos dos
Apóstolos, tenham tido tamanha força transformadora, capaz de compungir os
corações mais endurecidos. De lá para cá, é a mesma verdade, a certeza que
decide a vida das pessoas, anunciada em todos os recantos da terra, até
alcançar os confins do mundo que o Senhor nos deu. É que os pregadores do
Evangelho não falam sozinhos e nem são portadores de mensagens próprias. Apenas
se colocam à disposição de Deus, que envia a força do Espírito Santo,
dando-lhes palavras adequadas e a força para o testemunho corajoso de Jesus
Cristo.
Como somos humanos e vivemos a fé no
correr do tempo a pedagogia da Igreja nos faz percorrer, num aprofundamento
contínuo do mistério cristão, as diversas etapas da história da salvação. Com a
Semana Santa, que está para começar, Jesus Cristo, o único Salvador e Senhor,
não percorre de novo os passos da Via Dolorosa, ou vem a morrer de novo na
Cruz, para depois ressuscitar. Agora é a nossa vez! E começa a Semana Santa com
o convite a visitarmos os lugares santos, para recolher os ensinamentos
deixados e, mais do que tudo, recebermos a graça de Deus que nos é dada em
tempo oportuno.
Pelas ruas começa nosso giro pelos
lugares da fé na manhã do Domingo de Ramos. Começando pelas crianças até chegar
aos mais velhos, as ruas da Jerusalém de ontem e de hoje devem ficar
fervilhando de gente, aclamações e orações, com os ramos da fé erguidos em
louvor ao Senhor. Peço que a juventude nos tome pelas mãos, na Jornada Mundial,
desta feita celebrada em cada Igreja Local, no mundo inteiro. O Papa Francisco
escolheu como tema da Jornada uma bem-aventurança : ‘Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu’ (Mt
5, 3). Nesta estação do Domingo de Ramos, três lições : ser
livres em relação às coisas, despojando-nos do que é supérfluo, pondo Jesus em
primeiro lugar em nossas escolhas, com a coragem para viver a sobriedade;
depois, cuidar dos mais pobres e sofredores. Diante das mais variadas formas de
pobreza, o desemprego, a emigração, dependências dos mais variados tipos,
permanecer vigilantes e conscientes, vencendo a tentação da indiferença. Ainda
uma lição : os mais pobres são mestres para nós. Ensinam-nos que uma pessoa não
vale por aquilo que possui. Mesmo sem bens materiais, conserva sempre a sua
dignidade.
Entremos numa casa! Com nossas boas
vindas a este novo ‘turismo religioso’,
peço a alguns amigos de Jesus, Marta, Maria e Lázaro, assim como os apóstolos
do Senhor, que nos acompanhem de segunda até quarta-feira. São dias de mais
oração e intimidade com Jesus. Sugerimos um tempo de silêncio e adoração,
diante de Jesus Eucaristia, aquele que gostava de ir à casa de Betânia. O lugar
santo para esta etapa da peregrinação da Semana Santa pode ser a sua própria
casa, ou quem sabe, um pouco mais de silêncio e revisão de vida.
Visitar a Igreja! Na quinta-feira pela
manhã, a Igreja quer conduzir-nos ao coração de seu mistério de unidade.
Visite, se possível, a Catedral de sua Diocese, para participar da Missa da
Unidade. Lá você acompanhará a Bênção dos Óleos dos Catecúmenos e dos Enfermos
e a Consagração do Óleo do Crisma. Os padres renovarão, diante de você e de
todo o povo, como testemunhas qualificadas, seus compromissos de serviço. O
lugar Santo é a Igreja que se realiza em torno do Bispo, unida ao mundo
inteiro! É bom sentir que somos Igreja viva, povo sacerdotal, que bendiz ao seu
Senhor.
Bem vindo ao Cenáculo! Desde o início
da Quaresma, vivemos para acompanhar Jesus e com ele vivermos a sua Páscoa.
Quinta-feira à noite começa a Páscoa. O primeiro lugar a ser visitado tem o
nome de Cenáculo, sim, lugar da ceia! Ali, quando chega a ‘hora’ de Jesus, ele se despoja de suas vestes, lava os pés dos
discípulos, gesto inusitado e ao mesmo tempo coerente com tudo o que tinha
vivido junto deles. Dá de presente o seu mandamento, ‘amai-vos uns aos outros como eu vos amei’ e, para a grata surpresa
de todos, institui a Eucaristia, memorial permanente de seu eterno amor. Corpo,
Sangue, Alma e Divindade estão verdadeiramente presentes! Todas as vezes que
comemos deste Pão e bebemos deste Vinho, anunciamos a Morte do Senhor e
anunciamos a sua Ressurreição, até que ele venha! Sejam bem vindos os irmãos e
irmãs que ultrapassam os umbrais do Cenáculo, para participar da Mesa do Senhor
e aprender as lições do altar! Depois da Missa da Ceia do Senhor, os peregrinos
da Semana Santa são convidados a adorarem em silêncio o grande Mistério!
Agora, a subida do Calvário. Daqui para
frente, despedida, dor, apreensão, correria, crise. São os discípulos de Jesus
que se dispersam por não conseguirem acompanhar seu intrépido Senhor. E nós
vamos juntos, pois suas dificuldades retratam o que nós mesmos somos e vivemos.
Saia de sua casa, irmão ou irmã, vá pelas ruas, recolha as dores e os pecados
próprios ou dos outros, siga o Senhor dos Passos ou a Virgem Dolorosa,
representados pelas suas imagens. Abra os ouvidos do coração, pois o esperam
três horas de sabedoria pura, destilada da Escritura, no Sermão das Sete
Palavras. Em Belém, é a centésima trigésima quinta vez que a cidade interrompe
tudo o que faz para apenas ouvir a pregação da Palavra de Deus. Depois, é hora
da Igreja, para repousar à sombra dos braços do Servo Sofredor de Javé, ouvir
com piedade a narrativa da Paixão, beijar a Cruz e comungar. É a Páscoa da
Cruz!
A casa do silêncio! De repente, tudo se
faz silêncio. É Sábado Santo! Percorra com os passos do coração o Jardim de
José de Arimateia. Aproveite para recordar outros jardins, o da criação, o do
Horto das Oliveiras, o do Calvário. Procure a sepultura do Senhor e não
desperdice qualquer detalhe. Guarde bem as imagens, registre o som do silêncio.
Da Cruz ao Sepulcro e à Galileia!
Estamos preparados para o ato final, derradeira etapa de nossa visita aos
lugares santos da Semana Santa. Ninguém fique em casa! Noite de sábado, roupas
festivas, velas nas mãos, uma fogueira nos atrai. É fogo novo, sinal de um
acontecimento que mudou o mundo. A Igreja acende no único Círio Pascal, as
velas de todos os fiéis. A luz do Lume aceso nas noites do mundo, a Igreja nos
faz contemplar a história da Salvação, Criação, Alianças, Êxodo, Profetas,
Esperanças!
Nenhum roteiro de viagens pode
conduzir-nos a tal experiência. É necessário ser peregrinos da fé, desejosos de ver Deus e a sua
vitória. Para nossa renovada surpresa, ressoa de novo o Aleluia! O Evangelho,
perene Boa Nova, anuncia que Jesus Cristo ressuscitou. Ele está vivo no meio de
nós. É o Senhor e portador da Paz. É hora de acompanhar os que são recebidos na
Igreja na noite santa e renovar os compromissos batismais. Somos filhos da
Igreja, somos irmãos, somos um povo de fé! E o Domingo, que veio a se tornar a
Páscoa Semanal dos cristãos, celebrado com alegria e devoção, abrirá a
peregrinação cotidiana dos homens e mulheres que, voltando às suas casas,
tornar-se-ão anunciadores do mesmo mistério.’
Fonte :
* Artigo na íntegra
de http://www.zenit.org/pt/articles/jesus-cristo-nao-vem-a-morrer-de-novo-na-cruz-agora-e-a-nossa-vez
Nenhum comentário:
Postar um comentário