* Artigo de Dom Gregório Paixão, OSB,
Bispo da Diocese de Petrópolis (RJ)
‘Ecoa em minha memória o poema de
Carlos Drummond de Andrade : ‘No meio do
caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. Tinha uma pedra.
No meio do caminho tinha uma pedra’.
A aparente obviedade dos versos do
poeta pode ilustrar os sentimos confusos que, há dois mil anos, dilaceravam o
coração dos Discípulos de Jesus. Sim! Puseram uma pedra sobre a sepultura do
Mestre, e tudo estava acabado. Dentro, o silêncio de um corpo inerte; fora, a
decepção dos que acreditaram que Ele jamais morreria. Os maus venceram... e
agora sobrara, tão somente, o luto os justos!
Entretanto, a vitória dos maus dura
pouco, porque a vitória do amor não termina nunca. A história terrena de Deus
não podia findar com o riso farfalhoso da aliança diabólica selada entre
Herodes, Pilatos, Judas e o Sinédrio. Se o mal aprisiona, Deus liberta. Tudo o
que não pôde ser, tudo o que ficou pelo meio, tudo o que foi arruinado pelo
desamor, encontrará no Ressuscitado a sua plena transformação. A vida venceu a
morte, expulsando para longe o desejo do poder como norma de vida, e a morte
como sentença para os desafetos. Ele deu o ‘direito
de o ferirem’ e nos concedeu o ‘direito’
de salvação. Nisso está todo o mistério do amor misericordioso de Deus para
conosco.
Assim, na Páscoa de Jesus o amor se
revelou mais forte do que o mal e a morte. Ele nos dá a conhecer em que mãos estamos,
e para onde ela nos conduz. Viver desta alegria não é perder a lucidez perante
o drama do sofrimento, do desemprego, da precariedade de vidas e das
incertezas. O povo traz na pele sua paixão, sua dor, sua morte. Porém, somente
a certeza de que a Vida venceu - e vencerá - nos põe a caminho para superar
nossas mazelas estruturais.
A Páscoa é a ressurreição do Cristo e,
nela, a restauração de nossas almas. Este é o dia de renascer, começar tudo de
novo. De nos libertarmos do mal que corrompeu nossas almas e nos recobrirmos
com o véu da pureza que um dia tivemos. Hoje é dia de abandonarmos tudo o que é
velho e antigo e olharmos para a frente com coragem, dedicando-nos à vida como
quem sorve o sumo de um fruto saboroso, que somente Jesus pode nos fazer saborear.
Sim, Jesus ressuscitou! E sua presença
se torna ainda mais viva em nosso dia a dia, pois, por causa desse Senhor, uma
pedra de desesperança foi removida de nossas vidas. Por isso nós cremos... por
isso temos a certeza de que ressuscitaremos, pois Ele nos precedeu no triunfo
sobre a morte, fazendo com que a vida tomasse um rumo novo, baseado no amor e
na misericórdia de um Deus vivo, que nos dá participar da mesma vida que Ele
fez surgir e sobre a qual tem total poder.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.news.va/pt/news/no-meio-do-caminho-tinha-uma-pedra
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