terça-feira, 29 de abril de 2014

São Pio V, Papa

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


Nasceu nas proximidades de Alessândria (Itália), em 1504. Entrou na Ordem dos Frades Pregadores e ensinou Teologia. Ordenado bispo e criado cardeal, foi eleito, em 1566, para a Cátedra de Pedro. Continuou decididamente a reforma da Igreja, iniciada no Concílio de Trento, promoveu a propagação da fé e reformou o culto divino. Morreu a primeiro de maio de 1572.
  
A Liturgia das Horas e a reflexão no dia de São Pio V, Papa :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Dos Tratados sobre o Evangelho de João, de Santo Agostinho, bispo
(Tract. 124,5: CCL 36,684-685)     (Séc. V)

A Igreja foi fundada sobre a Pedra
que foi objeto da profissão de Pedro
Deus não cessa de oferecer consolações ao pobre gênero humano. Mas, além delas, quando chegou a plenitude dos tempos, isto é, o momento de realizar o que determinara, enviou seu Filho unigênito, por meio do qual criou todas as coisas. Sem deixar de ser Deus, ele se fez homem e se tornou mediador entre Deus e os homens : o homem Jesus Cristo (1Tm 2,5).

Os que acreditassem nele e se purificassem de seus pecados pelo batismo, ficariam livres da condenação eterna. Viveriam na fé, na esperança e na caridade, atravessando como peregrinos esse mundo cheio de tentações difíceis e perigosas. Mas ajudados pelas consolações de Deus, espirituais e materiais, chegariam à sua presença seguindo Cristo que para eles se fez caminho.

Todavia, como nem mesmo os que seguem este caminho estão isentos de pecado – consequência da fragilidade humana – deu-lhes o remédio salutar das esmolas, para garantir a eficácia das suas orações, como ele próprio nos ensinou a dizer : Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores (Mt 6,12).

Assim procede a Igreja, feliz na sua esperança, enquanto vive entre as misérias desta vida; é a obra da Igreja universal que o apóstolo Pedro representava figurativamente pela primazia do seu apostolado.

Consideradas as suas propriedades naturais, era por natureza um homem, por graça um cristão; por graça mais abundante, um apóstolo, o primeiro dos apóstolos. Mas Cristo disse a Pedro : Eu te darei as chaves do Reino dos Céus : tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus (Mt 16,19). Em virtude destas palavras, Pedro passou a representar a Igreja universal, que neste mundo é sacudida por toda espécie de provações, como se fossem chuvas torrenciais, raios e tempestades que se lançam contra ela. Contudo, não desaba, porque está alicerçada sobre a pedra, de onde Pedro recebeu o nome.

O Senhor diz : Sobre esta pedra construirei a minha Igreja (Mt 16,18). Era a resposta a Pedro que afirmara : Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo (Mt 16,16). Jesus quer significar o seguinte : sobre esta pedra, que foi objeto da tua profissão de fé, eu construirei a minha Igreja. Aquela pedra era Cristo (cf. 1Cor 10,4). Sobre este alicerce também Pedro foi edificado. De fato, ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que está aí, já colocado : Jesus Cristo (1Cor 3,11).

Portanto, a Igreja, que tem Cristo por alicerce, dele recebeu, na pessoa de Pedro, as chaves do Reino dos Céus, quer dizer, o poder de ligar e desligar os pecados. Esta Igreja é livre de todos os males, porque ama e segue a Cristo. Mas segue a Cristo mais de perto na pessoa daqueles que lutam pela verdade até à morte.


Fonte :
‘In Liturgia das Horas II’, 1554, 1556



segunda-feira, 28 de abril de 2014

Santa Catarina de Sena, Virgem e Doutora da Igreja

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Santa Catarina de Sena recebendo os estigmas
*Artigo de Bento XVI, Papa Emérito
  

‘Queridos irmãos e irmãs, hoje, eu gostaria de falar-vos sobre uma mulher que teve um papel de destaque na história da Igreja. Trata-se de Santa Catarina de Sena. O século em que viveu – o décimo quarto – foi uma época conturbada para a vida da Igreja e da sociedade em geral na Itália e na Europa. No entanto, mesmo nos momentos de maior dificuldade, o Senhor não cessa de abençoar o seu Povo, suscitando Santos e Santas que inspiram as mentes e os corações, levando à conversão e à renovação. Catarina é uma dessas e ainda hoje fala-nos e estimula-nos a caminhar com coragem rumo à santidade, para sermos cada vez mais plenamente discípulos do Senhor.

Nascida em Sena em 1347, em uma família muito numerosa, morreu em sua cidade natal, em 1380. Com a idade de 16 anos, impulsionada por uma visão de São Domingos, entrou na Ordem Terceira Dominicana, o ramo feminino dito das Mantellate. Permanecendo em família, confirmou o voto de virgindade feito privadamente quando ainda era adolescente, dedicou-se à oração, à penitência, às obras de caridade, especialmente em benefício dos doentes.

Quando a fama de sua santidade espalhou-se, foi protagonista de uma intensa atividade de aconselhamento espiritual na relação com todas as categorias de pessoas : nobres e políticos, artistas e gente do povo, pessoas consagradas, eclesiásticos, incluindo o Papa Gregório XI que, naquele período, residia em Avignon e ao qual Catarina exortou enérgica e eficazmente que retornasse para Roma. Viajou muito para solicitar a reforma interior da Igreja e promover a paz entre os Estados : também por esse motivo, o Venerável João Paulo II desejou declará-la copadroeira da Europa : o Velho Continente nunca poderá esquecer as raízes cristãs que formam a base de seu caminho e continua a desenhar, a partir do Evangelho, os valores fundamentais que asseguram a justiça e a harmonia.

Catarina sofreu muito, como muitos Santos. Alguns chegaram a pensar que se devesse ter cautela com ela ao ponto de que, em 1374, seis anos antes de sua morte, o capítulo geral dos Dominicanos convocou-a a Florença para interrogá-la. Colocaram-na junto a um frade douto e humilde, Raimundo de Cápua, futuro Mestre-Geral da Ordem. Ele tornou-se seu confessor e também seu ‘filho espiritual’ e escreveu a primeira biografia completa da santa. Foi canonizada em 1461.

A doutrina de Catarina, que aprendeu a ler com dificuldade e aprendeu a escrever quando já era adulta, está contida no Il Dialogo della Divina Provvidenza ovvero Libro della Divina Dottrina (O Diálogo da Divina Providência ou Livro da Divina Doutrina), uma obra-prima da literatura espiritual, em seu Epistolario (Correspondências) e na reunião das Preghiere (Orações). Seu ensino possui uma riqueza tamanha que o Servo de Deus Paulo VI, em 1970, declarou-a Doutora da Igreja, título que se uniu àquele de copadroeira da cidade de Roma, por desejo do Beato Pio IX, e de Padroeira da Itália, de acordo com a decisão do Venerável Papa Pio XII.

Em uma visão que jamais se apagou do coração e da mente de Catarina, Nossa Senhor apresentou-a a Jesus, que lhe deu um esplêndido anel de ouro, dizendo : ‘Eu, teu Criador e Salvador, esposo-te na fé, que conservarás sempre pura, até quando vieres celebrar comigo no céu as tuas núpcias eternas’ (Raimundo de Cápua, S. Caterina da Siena, Legenda maior, n. 115, Siena, 1998). Aquele anel foi visível somente para ela. Nesse episódio extraordinário, colhemos o centro vital da religiosidade de Catarina e de toda a espiritualidade verdadeira : o cristocentrismo. Cristo é para ela como o esposo, com quem há uma relação íntima, de comunhão e de fidelidade; é o bem amado acima de todos os outros bens.

Essa união profunda com o Senhor é ilustrada por um outro episódio da vida dessa grande mística : a troca de corações. Segundo Raimundo de Cápua, que transmite as confidências recebidas de Catarina, o Senhor Jesus lhe aparece segurando na mão um coração humano vermelho esplendente, abre-lhe o peito, introdu-lo e diz : ‘Querida filha, como no outro dia eu tomei o teu coração que tu me ofereceste, eis que agora te dou o meu, e de agora em diante ficará no lugar que ocupava o teu’ (ibid.). Catarina viveu realmente as palavras de São Paulo, ‘(...) não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim’ (Gl 2, 20).

Assim como a santa sienesa, todo o crente sente a necessidade de conformar-se com os sentimentos do Coração de Cristo para amar a Deus e o próximo como Cristo mesmo ama. E todos nós podemos deixar-nos transformar o coração e aprender a amar como Cristo, em uma familiaridade com ele nutrida pela oração, meditação da Palavra de Deus e dos Sacramentos, sobretudo recebendo frequentemente e com devoção a santa Comunhão. Também Catarina pertence àquela fileira de santos eucarísticos com que eu desejei concluir a minha Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis (cf. n. 94). Queridos irmãos e irmãs, a Eucaristia é um dom extraordinário de amor que Deus nos renova continuamente para alimentar o nosso caminho de fé, revigorar a nossa esperança, inflamar a nossa caridade, para tornar-nos sempre mais semelhantes a Ele.

Em torno de uma personalidade tão forte e autêntica foi-se constituindo uma verdadeira e própria família espiritual. Tratava-se de pessoas fascinadas pela autoridade moral desta jovem mulher de elevadíssimo nível de vida, e às vezes impressionadas também pelos fenômenos místicos de que participava, como o êxtase frequente. Muitos colocaram-se ao seu serviço e, sobretudo, consideraram um privilégio serem guiados espiritualmente por Catarina. Eles chamavam-na de ‘mamãe’, porque, como filhos espirituais, dela obtêm a nutrição do espírito.

Também hoje a Igreja recebe um grande benefício do exercício da maternidade espiritual de tantas mulheres, consagradas e leigas, que alimentam nas almas o pensamento por Deus, fortalecem a fé do povo e orientam a vida cristã rumo a picos sempre mais elevados. ‘Filho, digo-vos e chamo-vos – escreve Catarina dirigindo-se a um de seus filhos espirituais, o cartuxo João Sabatini –, enquanto dou-vos à luz através de contínuas orações e lembrança constante diante de Deus, como uma mãe dá à luz ao filho’ (Epistolario, Lettera  n. 141 : A don Giovanni de’ Sabbatini). Ao frade dominicano Bartolomeu de Dominici era usual dirigir-se com estas palavras : ‘Diletíssimo e queridíssimo irmão e filho em Cristo, doce Jesus’.

Uma outra característica da espiritualidade de Catarina está relacionada com o dom das lágrimas. Elas expressam uma sensibilidade profunda e requintada, capacidade de comoção e ternura. Não poucos santos tiveram o dom das lágrimas, renovando a emoção do próprio Jesus, que não reteve ou escondeu suas lágrimas diante do sepulcro de seu amigo Lázaro e da tristeza de Maria e Marta, e à vista de Jerusalém, em seus últimos dias terrenos. Segundo Catarina, as lágrimas dos Santos se mesclam ao Sangue de Cristo, de quem ela falava com tons vibrantes e imagens simbólicas muito eficazes : ‘Fazei memória de Cristo crucificado, Deus e homem (...). Tenhais como objetivo Cristo crucificado, esconde-te nas chagas de Cristo crucificado, mergulha-te no sangue de Cristo crucificado’ (Epistolario, Lettera n. 16 : Ad uno il cui nome si tace).

Aqui nós podemos entender porque Catarina, embora consciente das carências humanas dos padres, sempre teve uma grandíssima reverência por eles : dispensam, através dos Sacramentos e da Palavra, o poder salvador do Sangue de Cristo. A Santa Sienesa convidou sempre os ministros sagrados, também o Papa, a quem chamava de ‘doce Cristo na terra’, a serem fiéis às suas responsabilidades, movida sempre e somente pelo seu amor profundo e constante pela Igreja. Antes de morrer, disse : ‘Partindo-me do corpo, na verdade, consumei e dei a vida na Igreja e pela Igreja Santa, o que me é singularíssima graça’ (Raimundo de Cápua, S. Caterina da Siena, Legenda maior, n. 363).

De Santa Catarina, portanto, aprendemos a ciência mais sublime : conhecer e amar Jesus Cristo e sua Igreja. No Dialogo della Divina Provvidenza, ela, com uma imagem singular, descreve Cristo como uma ponte entre o céu e a terra. Essa ponte é composta por três escadas, constituídas pelos pés, pelo lado e pela boca de Jesus. Elevando-se através das escadas, a alma passa por três fases de toda a via de santificação : a separação do pecado, a prática das virtudes e do amor, a união doce e afetuosa com Deus.

Queridos irmãos e irmãs, aprendemos de Santa Catarina a amar com coragem, de modo intenso e sincero, Cristo e a Igreja. Façamos nossas, por isso, as palavras de Santa Catarina, que lemos no Dialogo della Divina Provvidenza, na conclusão do capítulo que fala de Cristo-ponte : ‘Por misericórdia lavou-nos no sangue, por misericórdia desejastes conversas com as criaturas. Ó, Louco de amor! Não te bastou encarnar-te, mas desejastes também morrer! (...) Ó misericórdia! O coração meu afoga-se no pensar em ti : que para onde quer que eu dirija meu pensamento, não encontro nada que não seja misericórdia’ (cap. 30, pp 79-80).’


Fonte  :


sexta-feira, 25 de abril de 2014

Missionárias Combonianas em Israel : Flores no deserto

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
* Artigo de Padre E. Ismael Piñón,
Missionário Comboniano


 Em Israel, a terra de Jesus, há realidades que não saltam à vista, como a situação dos beduínos ou a tragédia dos imigrantes e refugiados africanos que chegam a este país depois de uma infernal odisseia no Sinai. A estas duas realidades entregam-se de corpo e alma duas missionárias combonianas : a espanhola Alicia Vacas e a eritréia Azezet Habtezghi.


‘As Missionárias Combonianas já trabalham há muitos anos na Terra Santa. Vivem em Betânia, numa bonita casa literalmente pegada ao muro de segurança que separa Jerusalém da zona palestina e na qual têm um pequeno jardim-de-infância frequentado por meia centena de crianças. Quando o Governo israelita levantou o muro, cortou-lhes praticamente a possibilidade de estar em contacto com as pessoas. Desde então, duas delas, as Irmãs Alicia Vacas e Azezet Habtezghi, vivem numa pequena casa arrendada do outro lado do muro, apenas a cinquenta metros da casa de Betânia, mas à qual só se pode chegar fazendo um desvio de 18 quilómetros. Não foi uma decisão fácil, mas se queriam estar presentes no meio das pessoas, não lhes restava outra alternativa.


Beduínos

Várias vezes por semana vão visitar os acampamentos de beduínos, uma comunidade que vive completamente marginalizada e cuja subsistência depende quase exclusivamente do que recebe das Nações Unidas. Quando se criou o Estado de Israel, em 1948, muitos deles negaram-se a ir para o Exército israelita para cumprir o serviço militar, o que teve como consequência ser-lhes negado o passaporte e verem-se votados a um abandono total por parte de Israel.

A Autoridade Nacional Palestiniana (ANP) também não se preocupa com eles, o que faz com que seja um povo abandonado à sua sorte. Vivem precariamente no deserto da Judeia, entre Jerusalém e Jericó. Pelo menos, têm o estatuto de refugiados, o que os coloca sob a protecção das Nações Unidas. Na actualidade, a ONU tem registados 24 acampamentos nestas condições, onde vivem cerca de 450 famílias no total, à volta de quatro mil pessoas.

Quando começaram os colonatos judaicos’, conta-me Alicia enquanto conduz o carro por uma estrada empedrada a caminho do acampamento de Wadi Abi Hindi, ‘construíram-se justamente sobre as fontes de água e criaram-se zonas de segurança ao seu redor, nas quais os beduínos não podem entrar, pelo que já não têm acesso à água. Não têm, igualmente, a possibilidade de apascentar, e sem esta forma de sustento animal, eles não podem alimentar os rebanhos, ficando sem o seu principal recurso para sobreviver. A pouca água que têm no acampamento chega-lhes através de uma simples canalização à superfície a partir de um povoado palestino que se encontra a 14 quilómetros.’ A dado momento do nosso trajecto, passámos diante da lixeira de Jerusalém Este, onde o Governo israelita tinha planeado abandoná-los. Por sorte, o plano chegou aos ouvidos das Nações Unidas e pôde ser travado.

À medida que crescem os colonatos judaicos, vai-se reduzindo o espaço vital dos beduínos. Vivem praticamente em reservas ao ar livre. Ao não poder alimentar o gado, foram-no vendendo. Cada família mantém apenas dez ou doze cabras, quando antes os seus rebanhos somavam 200 ou 300 animais. ‘Perderam a sua forma de vida tradicional e tornaram-se dependentes das Nações Unidas, que a cada três meses, desde há 65 anos, lhes dá uns sacos de farinha, lentilhas, umas latas de azeite ou de açúcar’, queixa-se amargamente Alicia.

Por definição, os beduínos estão todos no deserto’, comenta Alicia. ‘Não têm autorização de construção, não podem ampliar a casa, por exemplo, quando se casa um filho. Vivem em barracas de chapa de zinco ou de madeira. Se construírem uma barraca para os animais, inclusive, é imediatamente demolida. Em quase todos os lugares onde trabalhamos há ordens de demolição pendentes. Daí nasceu a ideia de construir uma escola com rodas de carro. Não tem alicerces, nem estrutura metálica, nem cimento. Mas até essa, antes de estar terminada, já tinha a ordem de demolição. A nós, confiscaram até os baloiços de um centro de educação infantil.


Prioridade para a educação

A presença das Combonianas nesta realidade data de 2007. Primeiro de maneira muito simples, visitando as famílias para conhecer a sua realidade e saber quais eram as suas necessidades mais urgentes. ‘Com outra Irmã e um membro da ONG Rabinos pelos Direitos Humanos, comecei a ir de acampamento em acampamento’, afirma a Irmã Alicia, que acrescenta : ‘Aí dei-me conta de que para eles a primeira prioridade era a educação. São conscientes de que os seus filhos não vão ser beduínos, que a sua forma de vida tradicional está a acabar e que não têm outras alternativas, e vêem na educação a única saída. Por isso, vamos onde formos, pedem-nos sempre escolas. Dão muitíssima importância à educação. Começámos então a colaborar com outros organismos para a construção das escolas e a formar raparigas dos acampamentos para que possam ser professoras.’

À parte a educação, o tema sanitário ocupa o segundo lugar nas prioridades. Graças à ajuda de outros organismos, conseguiram formar como agentes de saúde 18 jovens beduínas, três das quais foram contratadas pelo Ministério da Saúde palestino e são já funcionárias públicas.


Uma tragédia no Sinai

Tanto a Irmã Alicia como a Irmã Azezet colaboram também com a ONG Médicos pelos Direitos Humanos (MPDH), uma organização internacional cuja delegação israelita se ocupa especialmente daquelas pessoas que em Israel não têm acesso à assistência sanitária. Além de uma clínica móvel, que se desloca todos os sábados a território palestino para oferecer um serviço especializado, a MPDH tem uma clínica aberta em Jaffa, na periferia de Telavive, onde atende nomeadamente as pessoas que não têm médico seguro nem gozam de qualquer tipo de seguro de saúde; entre eles, os refugiados e imigrantes sem papéis, a maioria dos quais são africanos.

Enquanto vamos a caminho da visita a este centro, a Irmã Alicia dá-me pormenores de uma realidade trágica que brada aos céus. ‘Em 2007, começaram a chegar mais de cem sudaneses por dia, quase todos do Sul, devido à violência que se vivia naquele então Sudão Meridional. A clínica entrou em colapso e a ONG Médicos pelos Direitos Humanos começou a questionar-se a que se devia essa enorme afluência de sudaneses.’

A comboniana prossegue o seu relato : ‘A nossa surpresa aconteceu sobretudo quando vimos que vinham com feridas de bala. Logo de seguida, começaram a chegar pacientes com sinais evidentes de tortura; chagas infectadas, golpes, ferimentos provocados pela corrente eléctrica, queimaduras de plástico... Ao princípio, aquilo ultrapassava-nos, porque não tínhamos nem o tempo nem a capacidade de compreender o que se estava a passar. Os pacientes falam pouco, estão traumatizados, não querem contar muito, não sabem a língua.

Nesse contexto, entre 2008 e 2009, fez-se um estudo sobre o número de mulheres que tinham chegado à clínica a pedir para abortar, porque diziam que as tinham violado no Sinai. ‘Em pouco tempo’, prossegue a Irmã Alicia Vacas, ‘o número tinha duplicado, e quase todas aduziam a mesma razão : que as tinham violado no Sinai. Aquilo cheirava-nos mal por todos os lados. Começámos a investigar e a fazer um questionário a todos os que chegavam. O que nos acontecia do ponto de vista médico, sucedia também a outras organizações de apoio social.’

Foi nessa época que chegou a Irmã Azezet. Para Alicia e os demais médicos, foi como um presente de Deus, porque ao ser eritréia e ao ter trabalhado no Sudão conhecia a língua e podia comunicar-se sem problemas com os refugiados que chegavam. Antes de entrar no processo médico, Azezet tinha uma entrevista com eles para tentar saber o que se estava a passar no Sinai.


Rede de tráfico

Esta comboniana eritréia fez mais de 1800 entrevistas e o que descobriu foi aterrador : havia toda uma rede de tráfico de seres humanos desde os seus países de origem ou desde os países limítrofes, campos de refugiados da Etiópia, do Sudão ou Egipto até Israel, através do Sinai. ‘Cada vez se via com maior clareza como funciona a coisa’, explica-me a Irmã Alicia. ‘Nos seus próprios países ou nos campos de refugiados, alguém se aproxima deles e oferece-se para os passar para Israel por um preço entre os 2000 e os 2500 dólares. Mas quando chegam ao Sinai são retidos e submetidos a tortura e extorsão. Os 2500 dólares vão subindo e multiplicando-se. Põem-nos ao telefone com as famílias para que mandem mais dinheiro. Quanto mais tarda em chegar o dinheiro, mais se incrementam as torturas ou são vendidos a outros grupos. Temos pacientes que estiveram nove meses no Sinai. Alguns a trabalhar como escravos a cuidar dos camelos, outros a sofrer castigos corporais, as mulheres, na sua maioria, como escravas sexuais. O que seja até que consigam pagar. Agora ainda estão a pagar até 40 mil dólares por sair do Sinai.’

O enorme esforço de escuta das vítimas e o seu grande trabalho para dar a conhecer e denunciar esta situação valeu à Irmã Azezet ser galardoada com vários prémios internacionais, entre os quais sobressai o Prémio Heróis contra o Tráfico de Pessoas, do Departamento de Estado dos Estados Unidos, que recebeu em Julho de 2012.


Mulheres desesperadas

Na parte sul de Telavive há também uma casa de acolhimento para mulheres que permaneceram vários meses no deserto do Sinai. Enquanto vamos visitá-la, Alicia e Azezet põem-me ao corrente da situação destas mulheres, a maioria das quais foram violadas e chegam a Israel grávidas de seis ou sete meses e com o desejo de abortar. A Irmã Azezet é para elas uma tábua de salvação, porque podem falar e desabafar com ela. Em Julho, a casa foi atacada pelos vizinhos. ‘Uma casa que recolhe somente mulheres grávidas e bebés’, protesta a Irmã Alicia. Neste momento há 17 mulheres grávidas ou com bebés nessa casa, que necessitam de protecção.

A Irmã Azezet vai a Telavive todas as terças-feiras e fica a dormir lá. De manhã, faz um trabalho de seguimento e acompanhamento, visitando especialmente as mulheres. À tarde, ajuda na clínica. É ela que suporta toda a carga emocional, já que ao conhecer a língua e a cultura dos imigrantes é quem escuta os seus testemunhos, as torturas e os vexames que sofrem. Está constantemente a receber chamadas telefónicas de todas as partes, gente desesperada que procura nela uma palavra de consolo ou simplesmente um coração aberto que escute as suas penas e lhe dê um pouco de paz. Não é fácil, porque as sequelas humanas que a tortura ou a violação deixam são enormes. ‘Em poucos meses, tivemos três casos de suicídio, casos de violência doméstica ou alcoolismo. Várias organizações humanitárias, juntamente com a União Europeia, iniciaram um programa de reabilitação e ajuda a esta gente e deram-lhe o nome ‘Projecto Azezet’’, explica a comboniana espanhola.


Tudo e para sempre

Já em casa, converso amigavelmente com estas duas missionárias que são como duas flores no meio do deserto israelita. Chama-me enormemente a atenção a sua vitalidade e, sobretudo, a sua alegria. A resposta, dão-ma elas mesmas : o segredo está na sua fé em Deus e na convicção de que a sua vocação está enraizada em Cristo.

Alicia decidiu-se a consagrar a sua vida depois de uma Páscoa missionária em que participou quando tinha 17 anos. ‘Foi fundamental para a orientação da minha vida’, confessa. ‘Desde então, começou uma reflexão sobre para onde estava a levar a minha vida, que espaço tem a missão nela e o que tem que ver Jesus Cristo com esta missão. Foi como um chamamento a passar de uma inquietude pelo social, pelos pobres e a missão a ir mais além. Para mim, foi-se confirmando cada vez mais a vocação de consagrada, que no princípio não entrava nos meus horizontes nem no meu programa original, mas que encaixava como resposta a esse chamamento que eu sentia dentro de mim. Quando queria encaixar a missão na minha vida de fé, a resposta que me surgia sempre era “tudo e para sempre” e isso agradara-me ou não implicasse uma consagração.’

Azezet começou a trabalhar com leprosos. A sua primeira missão foi o Sul do antigo Sudão, onde passou treze maravilhosos anos, segundo ela própria confessa. Para ela, a chave de tudo é a sua convicção de que Deus é Pai de todos. ‘É a primeira vez que venho a Israel e que tenho contacto com o povo judeu, as suas sinagogas, as suas orações, a sua crença e a sua visão’, afirma. E acrescenta : ‘São os nossos antepassados na fé, Jesus era hebreu. Sou afortunada por ter crescido em Massawa, onde a maioria é muçulmana, todos os meus amigos e colegas de escola eram muçulmanos. Na Etiópia também há coptas e protestantes. Para mim, Deus é único, para as três religiões é o Pai de todos, que ama a todos e nos criou à sua imagem e semelhança. Todos – judeus, católicos, muçulmanos ou protestantes – somos filhos de Deus, criados à Sua imagem. A diferença está em que nós partimos de baixo, das nossas diferenças, em vez de partir de cima, da nossa crença de que todos somos imagem de Deus.’


O nosso lugar

Israel é um país com uma situação muito complexa, com realidades tão distintas como são os beduínos ou os refugiados. Porém, ambas respondem a uma única pergunta, que é uma pergunta muito comboniana : ‘Quem são os mais pobres e abandonados aqui e agora?’ Esta é a pergunta que ressoava na comunidade das Combonianas quando a Irmã Alicia chegou : ‘Projectávamos como dar resposta a esta situação concreta como combonianas. O nosso ser missionárias coloca-nos nas fronteiras, sejam geográficas, culturais ou humanas. Estes dois grupos humanos com os quais escolhemos trabalhar são a resposta à pergunta de onde devemos estar neste momento. Onde estejam essas fronteiras, aí está o nosso lugar.’

O facto de viver em Jerusalém não é alheio à vivência que estas duas missionárias têm da sua vocação. Aqui, na Terra Santa, tudo se vê e se vive de maneira diferente. ‘Parte da serenidade, da força, da alegria que recebemos vem da certeza de que nesta terra a paixão, a morte e a ressurreição de Cristo ainda se vivem hoje’, confessa a Irmã Alicia.

Por seu lado, a Irmã Azezet admite : ‘Com Jesus Cristo, sinto-me mais enraizada na minha fé. Ao encontrar tanto sofrimento, sinto que Cristo vive a cruz comigo e me ajuda a viver as cruzes e sofrimentos que encontro todos os dias nas pessoas. Esse sofrimento faz-me entrar na vida de Jesus, na sua cruz, e isso ajuda-me em todos os sentidos, faz-me ser mais radical, já que não posso passar de maneira superficial pela vida que encontro em cada dia.’

Estes povos e esta terra são para elas uma riqueza inegável : ‘Vejo como a minha vida e o meu caminho espiritual se dilatam quanto mais conheço e quanto mais participo na sua vida, nos grandes acontecimentos como o casamento, o nascimento de um filho, a morte…’, reconhece Alicia, para acrescentar que ‘é algo específico que dá um sentido muito pessoal à minha própria experiência da vida, da morte, da dor, do sofrimento, do conflito, do perdão.’’


Fonte  :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EFAyVkkpuAONaCqaKw
  

quinta-feira, 24 de abril de 2014

São Marcos, Evangelista

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

São Marcos pregando em Alexandria

Era primo de Barnabé. Acompanhou o apóstolo Paulo em sua primeira viagem, e depois também o seguiu até Roma. Foi discípulo de Pedro, de cuja pregação se fez intérprete no Evangelho que escreveu. Atribui-se a ele a fundação da Igreja de Alexandria.


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia de São Marcos, Evangelista :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Do Tratado contra as heresias, de Santo Irineu, bispo
(Lib. 1,10,1-3:PG 7,550-554)     (Séc.II)

A pregação da verdade
A Igreja, espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra, recebeu dos apóstolos e de seus discípulos a fé em um só Deus, Pai todo-poderoso, que criou o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe (cf. At 4,24); em um só Jesus Cristo Filho de Deus, que se fez homem para nossa salvação; e no Espírito Santo, que, pela boca dos profetas, anunciou antecipadamente os desígnios de Deus: a vinda de Jesus Cristo, nosso amado Senhor, o seu nascimento de uma Virgem, a sua paixão e ressurreição de entre os mortos, a ascensão corporal aos céus, a sua futura vinda do céu na glória do Pai. Então ele virá para recapitular o universo inteiro (cf. Ef 1,10) e ressuscitar todos os homens, a fim de que, segundo a vontade do Pai invisível, diante de Cristo Jesus nosso Senhor, Deus, Salvador e Rei, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua o proclame (cf. Fl 2,10-11), e ele julgue todos os homens com justiça.

A Igreja recebeu, como dissemos, e guarda com todo cuidado esta pregação e esta fé; apesar de espalhada pelo mundo inteiro, guarda-a como se morasse em uma só casa. Acredita nela como quem possui uma só alma e um só coração; e a proclama, ensina e transmite, como se tivesse uma só boca. Porque, embora através do mundo haja línguas muito diferentes, a força da Tradição é uma só e a mesma para todos.

As Igrejas fundadas na Germânia, as que se encontram na Ibéria e nas terras celtas, as do Oriente, do Egito e Líbia, ou as do centro do mundo, não creem nem ensinam de modo diferente. Assim como o sol, criatura de Deus, é um só e o mesmo para todo o universo, igualmente a pregação da verdade brilha em toda parte e ilumina todos os homens que querem chegar ao conhecimento da verdade.

E dos que presidem às Igrejas, nem mesmo o mais eloquente, dirá coisas diferentes das que afirmamos, pois ninguém está acima do divino Mestre; nem o orador menos hábil enfraquecerá a Tradição. Sendo uma só e mesma a fé, nem aquele que muito diz sobre ela a aumenta, nem aquele que diz menos a diminui.


Fonte :
‘In Liturgia das Horas II’, 1540, 1542
  
  

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Sofrimento útil

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

* Artigo de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano

‘O sul-africano Cyril Axelrod é o único padre completamente surdo e cego no mundo. Filho de pais judeus, quis ser rabi. Mas o rabinato não é para pessoas com deficiência. Começa então a estudar Contabilidade, mas Deus tinha outros planos para ele. A semente da vocação sacerdotal plantada durante os seus anos numa escola católica para surdos cresce e aos 23 anos pede ao bispo de Port Elizabeth para o admitir ao baptismo e ao sacerdócio na Igreja Católica. Estuda Filosofia nos Estados Unidos e Teologia no seminário nacional em Pretória. É ordenado padre em 1975. A mãe assiste comovida à cerimónia.

Cyril nasceu com a síndrome de Usher, o que significa que a sua surdez inata era acompanhada de retinite pigmentosa (visão em túnel), que o tornaria progressivamente cego. Quando o diagnóstico lhe foi confirmado em 1981, numa clínica norte-americana em Washington, o seu superior estava com ele e testemunha : ‘Depois do choque inicial, Cyril sorriu e com uma paz interior profunda comentou : ‘Deus tem usado a minha surdez para o seu trabalho. Talvez, ele queira usar também a minha cegueira.’’ Fica completamente cego em 1990 e passa a andar com uma bengala.

O ministério sacerdotal de Cyril em favor dos surdos, que já abrangia todo o país, assume proporções internacionais. Depois de se tornar redentorista começa a ser requisitado para pregar em missões e retiros para os surdos na Itália, Irlanda, Reino Unido, Holanda, EUA, França, Singapura e Austrália. Em Singapura apercebe-se da grande falta de cuidado pastoral de que são alvo os surdos no Extremo Oriente. Parecia que Deus o estava a chamar para campos de missão ainda mais vastos. De regresso à África do Sul, começou a estudar o cantonês. Depois de dois anos sente que está pronto para aceitar a oferta de um ministério para surdos em Hong Kong e Macau, para onde se mudou em 1988. Uma vez na China, começa a estabelecer serviços sociais para os surdos e cegos.

Aos 72 anos, Cyril vive em Londres, o ponto mais central para o seu apostolado internacional que o leva à China duas vezes por ano e regularmente a Malta, Eslováquia, Coreia, Singapura, Japão, Austrália, Canadá e África do Sul. Fluente em braille e em várias línguas como o inglês, africâner e cantonês, Cyril recebeu vários prémios internacionais e um doutoramento honoris causa. Em novembro de 2013, recebeu a Ordem do Império Britânico (OBE) em Windsor das mãos da rainha Isabel II de Inglaterra.

O caso de Cyril, em que a deficiência se torna uma oportunidade de missão, não é único. O padre comboniano Fabio Gilli é também paradigmático. Em vez de o incapacitar, a cegueira levou-o a exercer um magnífico ministério de compaixão em favor dos invisuais do Togo, que até aí eram completamente esquecidos. Quando o entrevistei, disse-me com uma serenidade invejável : ‘A minha vida é toda ela luz.’

Certamente a vontade normal de Deus é de que gozemos de boa saúde. Mas o sofrimento que nos ‘assalta’ contra a nossa vontade não tem de ser uma maldição; pode transformar-se numa oportunidade de crescimento e ajuda. Um caso recente ilustra-o bem : um ano depois do suicídio do seu filho, o popular evangelista e autor norte-americano Rick Warren, em parceria com a diocese católica de Orange, está a começar um ministério na área da saúde mental inspirado pela sua tragédia pessoal.

Matthew Warren, de 27 anos, cometeu suicídio em abril do ano passado depois de ter lutado durante anos contra uma depressão grave que o levava a ter pensamentos suicidas. A decisão do pai é inspiradora : ‘Não vou certamente desbaratar esta dor. Uma das coisas em que eu acredito é que Deus nunca desperdiça uma dor e que muitas vezes o nosso maior ministério resulta do nosso sofrimento mais profundo.’ E concluía : ‘No jardim da graça de Deus até as árvores quebradas dão frutos.’’



  
Fonte  :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EFAyVkpkVFQvRTpzDS


terça-feira, 22 de abril de 2014

São Jorge, Mártir

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


Já no século IV era venerado em Dióspolis, na Palestina, onde foi construída uma igreja em sua honra. Seu culto propagou-se pelo Oriente e Ocidente desde a Antiguidade.


A Liturgia das Horas e a reflexão no dia de São Jorge, Mártir :

Ofício das Leituras

Segunda leitura
Dos Sermões de São Pedro Damião, bispo
(Sermo 3, De sancto Georgio: PL 144, 567-571)    (Séc.XI)

Invencivelmente protegido pelo estandarte da cruz
A festa de hoje, caríssimos irmãos, renova a alegria pascal e, como pedra preciosa, faz brilhar com a beleza do próprio esplendor o ouro em que se engasta.

Jorge foi transferido de uma milícia para outra, porque deixou o cargo de oficial de um exército terreno para se dedicar à milícia cristã. Nesta, como valente soldado, começou por libertar-se dos bens terrenos, distribuindo-os aos pobres; assim, livre e desembaraçado, revestido com a couraça da fé, lançou-se na linha de frente do combate como valoroso guerreiro de Cristo.

Isto nos ensina claramente que não podem lutar com forca e eficácia, em defesa da fé, aqueles que ainda têm medo de se despojar dos bens da terra.

Inflamado pelo fogo do Espírito Santo e invencivelmente protegido pelo estandarte da cruz, São Jorge combateu de tal modo contra o rei iníquo que, vem vencendo este enviado de Satanás, derrotou o chefe de toda iniquidade e estimulou os soldados de Cristo a lutarem com valentia.

Assistia ao combate o supremo e invisível Árbitro que, segundo os planos da sua providência, permitiu que os ímpios atormentassem. De fato, entregou o corpo de seu mártir às mãos dos carrascos, mas guardou a sua alma com proteção constante no baluarte inexpugnável da fé.

Caríssimos irmãos, não nos limitemos a admirar este combatente do exército celeste, mas imitemo-lo também. Eleve-se o nosso espírito para o premio da glória celeste, contemplemo-lo com os olhos do coração. Assim não nos abalaremos nem pelo sorriso enganador do mundo nem pelas ameaças do seu ódio perseguidor.

Purifiquemo-nos de toda mancha na carne e no espírito, como nos manda São Paulo, para merecermos um dia entrar naquele templo da bem-aventurança, que por ora apenas entrevemos com o olhar do espírito.

Todo aquele que quer se oferecer a Deus em sacrifício no templo de Cristo, que é a Igreja, depois de lavar-se no banho sagrado do batismo, tem ainda que se revestir com as vestes das várias virtudes, conforme está escrito : Que os vossos sacerdotes se vistam de justiça (Sl 131,9). Quem pelo batismo renasce como homem novo em Cristo, não se vestirá com a mortalha do homem velho, e sim com a veste o homem novo, vivendo sempre renovado numa vida pura.

Só assim, purificados da imundície da nossa antiga condição pecadora e brilhando pelo fulgor de uma vida nova, seremos dignos de celebrar o mistério pascal e imitarmos verdadeiramente o exemplo dos santos mártires.


Fonte :
‘In Liturgia das Horas II’, 1534, 1536


segunda-feira, 21 de abril de 2014

Livros Raros do Mosteiro de São Bento da Bahia

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



 Graças ao nosso oblato Fernando Clarindo (Ir. Miguel)
soubemos desta iniciativa fantástica do 
Mosteiro de São Bento da Bahia.

           Com a anuência obtida ainda hoje, da própria 
Prof. Dra. Alícia Duhá Lose
 (Coordenadora do Centro de Pesquisa e Documentação 
do Livro Raro do Mosteiro de São Bento da Bahia), disponibilizamos uma página 
exclusivamente aos livros
(clique na respectiva aba acima)

           Em breve, agregaremos outros conteúdos 
relativos ao tema.

           Aproveitem, divulguem e opinem!