Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Os mosteiros para uma economia alternativa e sustentável [1]
Princípios da economia monástica
‘Como um grupo de homens ou mulheres que praticam
um modo de vida baseado em princípios econômicos opostos aos do modelo atual
pode inspirar soluções para os problemas que o mundo de hoje enfrenta? Este é o
objetivo da apresentação seguinte.
A vida monástica se baseia em quatro pilares que
são a oração, o trabalho, a lectio divina e a vida
comunitária. A lectio é a leitura de um texto de natureza
espiritual, seguido de uma reflexão pessoal, uma meditação e possivelmente uma
oração inspirada por este texto. Os monges geralmente dedicam entre uma e duas
horas a esta atividade. A economia monástica é construída em torno destes
quatro pilares e se baseia em dois princípios essenciais : a desapropriação e a
economia das necessidades.
A desapropriação
Na Regra de São Bento, a desapropriação se baseia
no objetivo de «nada preferir ao amor de Cristo». Ela é expressa de forma
prática pelos dois seguintes preceitos :
«Antes de tudo, o vício da propriedade deve ser
cortado do mosteiro pela raiz», e «Que tudo seja comum a todos, como está
escrito. Que ninguém diga nem tenha a presunção de achar que alguma coisa lhe
pertence» (RB 33,6).
A Regra diz também :
«Que ninguém ouse dar ou receber alguma coisa sem a
permissão do abade; nem ter nada próprio, nada absolutamente, já que não é
lícito ter a seu arbítrio nem o próprio corpo nem a vontade» (RB 33,2-4).
Em outras palavras, o monge não deve possuir nada
de próprio, nem bens materiais nem imateriais. Não dispor do corpo conduz à
castidade, não dispor da vontade conduz à obediência. Na prática, não possuir
os bens que são colocados à sua disposição obriga o monge a tomar o maior
cuidado possível com eles. A Regra pede ao celeireiro que «considere todos os
objetos e bens do mosteiro como vasos sagrados do altar» (RB 31,10). Também diz
:
«Se alguém deixar as coisas do mosteiro sujas ou as
tratar com negligência, será repreendido» (RB 32,4).
A desapropriação monástica gera a necessidade de
solidariedade e de não competição profissional. Um ofício é um serviço do qual
ninguém é o proprietário. É dado pelo abade, de acordo com as habilidades da
pessoa e as necessidades do mosteiro. Ele não dá ocasião para nenhum benefício
pessoal.
Muitos mosteiros praticam a «colação dos ofícios».
A cada três anos, ou sempre que necessário, cada monge remete seu ofício ao
abade, que decide se o mantém naquele ofício ou se lhe dá um outro. Não se
trata de uma decisão arbitrária; ela é discutida com o Conselho - os monges que
ajudam o abade em suas escolhas - e em consulta com as pessoas envolvidas. Mas
todo monge sabe que, em algum momento de sua vida, pode ocupar uma posição
importante e depois ser-lhe atribuída uma função muito mais modesta. No mosteiro,
não se faz uma carreira.
A ideia de não colocar a competição no centro das
relações interpessoais é amplamente desenvolvida na Encíclica do Papa
Francisco, Fratelli tutti, uma ideia inspirada em São Francisco :
«Francisco recebeu no seu íntimo a verdadeira paz,
libertou-se de todo o desejo de domínio sobre os outros, fez-se um dos últimos
e procurou viver em harmonia com todos» (FT 4).
A economia das necessidades
A economia das necessidades é definida no capítulo
34 da Regra, intitulado : «Se todos devem receber igualmente o necessário». Ela
se baseia na ideia de um retorno ao tempo idílico dos primeiros cristãos
descritos nos Atos dos Apóstolos : «Repartia-se para cada um conforme lhe era
necessário» (Atos 4,35; RB 34,1).
Não é uma questão de considerar todas as pessoas
como números idênticos. Pelo contrário, cada pessoa é diferente e tem
necessidades particulares. A Regra diz :
«Quem precisar de menos dê graças a Deus e não se
entristeça; quem precisar de mais, humilhe-se em sua fraqueza e não se orgulhe
por causa da misericórdia que obteve» (RB 34,3-5).
A economia das necessidades monásticas é dupla :
cada um recebe de acordo com suas necessidades, e cada um contribui de acordo
com seus meios. Assim, a cada membro da comunidade não é dada a mesma coisa.
Eles recebem o que precisam, de acordo com sua própria situação. Na organização
do trabalho dos monges : aquele que é jovem e talentoso oferece tudo o que
pode; aquele que é mais velho e com menos possibilidades contribui de acordo
com seus meios.
Nas lojas ou oficinas monásticas, o trabalho do
monge dá origem a uma remuneração da comunidade. Mas esta remuneração não está
ligada ao valor do trabalho realizado. É calculado sobre as necessidades de uma
pessoa que trabalha, da mesma forma, quer o trabalho seja básico ou altamente
qualificado.
A economia monástica como uma economia alternativa
e sustentável
Estes dois princípios operacionais fazem do
mosteiro uma sociedade especial. Não é um conservatório de costumes de outra
época, porque é um lugar onde vivemos no presente. Não é um laboratório porque
não é um lugar de experimentação social. É o lugar de uma economia alternativa,
porque questiona o mundo sobre suas práticas e tenta inspirar soluções para os
novos problemas. Aqui, vou limitar-me à questão do trabalho.
O trabalho
No mundo, o trabalho serve para produzir bens e
fornecer uma remuneração para a compra de outros bens. Esta é a base para o
funcionamento da economia liberal. Esta troca de mercadorias é uma oportunidade
para a comunicação entre as pessoas. O trabalho contribui para o
estabelecimento de uma hierarquia social e é um elemento de reconhecimento, da
parte dos outros e de si mesmo.
Karl Marx define três formas de alienação no
trabalho : quando a remuneração representa apenas uma pequena parte do valor
dos bens produzidos, quando o trabalho visa apenas a obtenção de um salário,
quando o trabalhador não pode realizar uma atividade física e intelectual que
seja livre.
No mosteiro, a desapropriação provoca uma completa
dissociação entre trabalho e remuneração. Com este modo de operação, as três
formas de alienação do trabalho desaparecem : visto que o monge não recebe
remuneração, ele não a compara ao valor do que produziu; o trabalho que ele faz
não visa principalmente a obtenção de um salário; finalmente, o trabalho monástico
é geralmente de tipo artesanal, o que deixa ao trabalhador mais liberdade de
ação do que o trabalho em linha de montagem.
Podemos atribuir ao trabalho três finalidades :
trabalhar para ganhar a vida, trabalhar para ser reconhecido pelos outros e por
si mesmo e, tratando-se de um cristão, trabalhar para participar da obra
criadora de Deus.
Trabalhar para ganhar a vida
John Galbraith sublinha um paradoxo :
«A palavra ‘trabalho’ é aplicada simultaneamente
àqueles para quem o trabalho é exaustivo, entediante, desagradável e para
aqueles que manifestam evidente prazer e não provam nenhuma repulsão nele. ‘Trabalho’
refere-se tanto à obrigação imposta a alguns como à fonte de prestígio e alta
remuneração que outros anseiam e desfrutam» [2].
Na economia liberal, a remuneração é definida pelas
duas únicas forças reconhecidas, o Mercado e a Lei. É o Mercado que define os
valores globalmente; a Lei os regulamenta de forma a limitar abusos :
salário-mínimo, remuneração dos estagiários, limitação do horário de trabalho,
proibição do trabalho infantil, etc. A Lei é relativamente eficaz na
regulamentação dos baixos salários. É totalmente ineficaz no controle de altas
rendas.
Os monges de hoje não querem viver de caridade
pública, por isso estão cientes da necessidade de trabalhar para apoiar sua
comunidade. Mas como o trabalho não proporciona nenhum benefício pessoal,
remuneração ou consideração, a natureza do trabalho realizado torna-se menos
importante : administrar o economato ou varrer o claustro não são
fundamentalmente diferentes. Eles são apenas serviços correspondentes às
habilidades do titular e à necessidade da comunidade. Portanto, não há
competição por cargos.
Trabalhar
para ser reconhecido
Além do salário, o reconhecimento é uma motivação
importante. Mas o valor do salário é, na prática, um elemento deste
reconhecimento. A busca pelo reconhecimento no trabalho muitas vezes se traduz
na busca pelo poder, seja pela imagem que se dá de si mesmo ou pelos benefícios
materiais que se obtém. No mundo, o poder é medido em termos do número de
pessoas que se tem sob o seu comando, o número de negócios que se dirige, etc.
A imagem que se dá à família e aos amigos é muito importante e pode influenciar
muito o comportamento. Cada um obtém um reconhecimento pessoal através do
sentimento de ser útil para sua empresa, sua família e sua comunidade.
Ao contrário do que acontece com os salários, o
trabalho como meio de realização pessoal é importante para os monges. Aquele
que realiza um trabalho útil para a comunidade aprecia o reconhecimento da
parte dela, mas se não o consegue, torna-se uma ascese.
Trabalhar para participar da obra criadora de Deus
Na visão cristã, o homem foi criado à imagem de
Deus.
«Deus disse : ‘Façamos o homem à nossa imagem e
segundo nossa semelhança. Que ele domine sobre os peixes do mar, as aves do
céu, os animais domésticos, todos os animais da terra e tudo o que rasteja
pela terra’» (Gn 1,26).
O fato de o homem ter sido criado à imagem de Deus
lhe confere uma dignidade especial. Esta dignidade não se baseia em seus bens,
seu sucesso, sua aparência. A autoridade que lhe é atribuída é à imagem da
autoridade de Deus, uma autoridade de amor. A teologia da criação contínua se
opõe à ideia de que a criação é apenas a construção de uma enorme máquina que
funcionaria por si só. Deus continua a intervir no mundo, e o homem, criado à
sua imagem, é chamado a contribuir para esta intervenção.
O homem, criado à imagem de Deus, participa da obra
do Criador através de seu trabalho, e continua, na medida de suas
possibilidades, a desenvolvê-la e completa-la, progredindo na descoberta dos
recursos e valores incluídos em todo o mundo criado.
Assim, o trabalho, especialmente em sua concepção
monástica, não é simplesmente utilitário e individualista : ganhar a vida e
obter reconhecimento. É realizar uma obra, como entende Hannah Arendt. É uma
visão comunitária, porque o que conta é o que se traz para o mundo.
No século XIX, se desenvolveu a expressão «trabalho
beneditino», que significa um trabalho longo, que exige muita paciência. É a
preocupação com o trabalho bem feito, que está ligada à obrigação de cuidar de
todos os bens do mosteiro. O conceito beneditino do trabalho implica em se
dedicar ao que é útil. Evitar de se ocupar com zelo e piedade do «nada». Dom
Bertrand Rolin explica, com relação ao capítulo 48 da Regra, intitulado «Do
trabalho manual quotidiano» :
«O que é importante neste capítulo é que se trata
de um trabalho ‘verdadeiro’. E o trabalho ‘verdadeiro’ é aquele ‘a ser feito’,
diz a Regra, ou seja, aquele que é útil para a vida da comunidade e para sua
ação, qualquer que seja o seu valor segundo os critérios da sociedade» [4]
Com que frequência fazemos coisas que são
perfeitamente inúteis, mas que nos fazem parecer bem porque demonstram nossos
talentos?
Trabalho e remuneração
Na economia monástica há uma completa desconexão
entre trabalho e remuneração, o que não é o caso no mundo. No mosteiro, o abade
tem que encontrar uma pessoa para cada trabalho e dar uma função a cada pessoa.
Em princípio, não há desemprego. Isto tem duas consequências. A primeira é que
a existência de uma função não depende do equilíbrio entre o que ela custa e o
que ela beneficia. Mesmo que cultivar uma horta custe mais do que comprar
legumes no supermercado, vale a pena considerar o fato de que ela proporciona
trabalho para alguém. A segunda é a questão do desemprego e sua indenização.
Damos prioridade à redução do desemprego ou à sua indenização? A política
tradicional pode sugerir que a luta contra o desemprego é, em certa medida,
desviada por uma boa indenização dos desempregados. As ações contra o
desemprego muitas vezes parecem ser impulsionadas principalmente pela
necessidade de reduzir o custo da indenização. Entretanto, como vimos, o
trabalho é certamente uma fonte de renda, mas não a única. Indenizar os
desempregados é necessário, mas não é suficiente : é preciso dar-lhes trabalho.
É uma questão de dignidade, como expressa pelo Papa Francisco em Fratelli
tutti.
Conclusão sobre o trabalho
O conceito monástico de trabalho não se aplica
apenas aos monges. Ele inspira os oblatos, esses leigos que, ligados a uma
comunidade, procuram viver a Regra no mundo. Ele se baseia em um ensino
derivado da tradição, mas também em uma adaptação ao mundo atual. Os monges não
hesitam em utilizar máquinas ultra modernas em suas oficinas. Esse conceito
pretende inspirar o mundo a progredir, inspirar a todos, cristãos ou não
cristãos, de maneiras diferentes.
Gostaria de enfatizar a ideia de que o trabalho não
deve ser apenas uma fonte de renda. O trabalho deve ser um elemento de
desenvolvimento pessoal. E este desenvolvimento pessoal inclui ser útil para a
comunidade. Para um trabalhador de base, é necessário que ele seja capaz de se
orgulhar daquilo que faz. Para alguém com responsabilidades hierárquicas, é
necessário que ele organize o trabalho de seus colaboradores para que possam
florescer naquilo que fazem. Para os políticos e as administrações, não é somente
preciso indenizar o desempregado, mas reduzir o desemprego.
Por outro lado, o trabalho deve dar à pessoa uma
vida digna. Os movimentos do Comércio equitativo ou dos AMAP [5] trabalham em prol deste objetivo.
O trabalho não deve ser um lugar de competição, mas
um lugar de cooperação.
Finalmente, trabalhar mais para ganhar mais,
consumir mais não é uma abordagem responsável, a partir do momento que se
obtenha as necessidades. Isto levanta a questão do lugar do crescimento em
nossas análises econômicas. Levanta também a questão da publicidade. Um aspecto
moderno da clausura monástica consiste em se preservar dos incentivos ao
consumo, em particular limitando o acesso à Internet. A publicidade não é ruim
em si mesma, mas seu uso deve ser controlado.
A recepção da Encíclica Laudato si’ nos
mosteiros
A publicação pelo Papa Francisco da Encíclica Laudato
si’ provocou uma onda de entusiasmo nos círculos ecologistas, mesmo
não-cristãos. Eles encontraram nela uma confirmação de seu discurso, passando
voluntariamente os pontos que os perturbavam, como a defesa da vida.
Paradoxalmente, nos círculos monásticos, a Encíclica demorou a se impor,
enquanto que os documentos do magistério são geralmente recebidos aí muito
favoravelmente. Para tentar entender este paradoxo, apresento uma hipótese :
enquanto os militantes ecologistas viram na Encíclica uma verdadeira revolução
na doutrina social da Igreja, os monges inicialmente a viram como uma nova
expressão do que eles vivem diariamente desde as origens.
A vida monástica é uma vida de oração,
essencialmente comunitária, baseada no canto dos salmos. O saltério contém 150
salmos; os monges normalmente os cantam em sua totalidade a cada semana. Vários
autores trabalharam sobre a ecologia nos salmos. Alguns falam de salmos ecológicos,
outros de salmos da natureza ou salmos da criação. Cinquenta e um salmos se
enquadram em pelo menos uma dessas três categorias; em outras palavras, uma
parte significativa do saltério é ecológica. Portanto, um monge, a menos que
esteja cantando sem levar em conta o que está cantando, é necessariamente um
ecologista, talvez sem conhecê-lo ou reconhecê-lo.
Após algum tempo de maturação, muitos mosteiros
adotaram Laudato si’, quando descobriram que se tratava de uma brilhante
formulação daquilo que eles tentam viver e que isso os ajudava a progredir.
A principal contribuição da economia monástica para
a questão ecológica é a «sobriedade feliz». Esta é uma expressão desenvolvida
por Pierre Rabhi [6], mas que, de certa forma, é parte integrante da
espiritualidade monástica desde suas origens. Para Pierre Rabhi, os recursos do
planeta são limitados. Os recursos fósseis não são renováveis e a capacidade da
biosfera de absorver a poluição é limitada.
A noção de limite é constitutiva da fé cristã, já
em Gênesis Deus diz : «Podes comer de todas as árvores do jardim, mas da árvore
do conhecimento do bem e do mal não comerás» (Gn 2,16-17). Esta noção de limite
se opõe à ideia de que a tecnociência dará ao homem um poder ilimitado sobre
seu ambiente. Em Laudato si’ o Papa Francisco afirma que o
desenvolvimento tecnológico é bom, mas somente na condição de que seja
«acompanhado por um desenvolvimento do ser humano em responsabilidade, em
valores, em consciência».
Pierre Rabhi afirma que o crescimento econômico é
irrealista e absurdo : é um modelo que traz a morte. É necessário, portanto,
estabelecer uma política de civilização baseada na sobriedade. Devemos
satisfazer nossas necessidades vitais com os meios mais simples e saudáveis. Laudato
si’ diz a mesma coisa quando fala sobre a necessidade de conversão dos
corações. Em linguagem cristã, a sobriedade feliz de Pierre Rabhi se resume no
respeito pela criação e na preocupação pelas gerações futuras, às quais devemos
deixar um ambiente habitável.
Mas a sobriedade feliz monástica difere da
sobriedade feliz ecologista. Enquanto os ecologistas a baseiam principalmente
na proteção dos recursos naturais e do meio ambiente, os monges a baseiam
também em um aspecto social : consumir o supérfluo significa privar os outros
do necessário. Na visão de um ecologista, devemos trabalhar menos para destruir
menos recursos. Isto é um decrescimento. Em uma visão monástica, é menos uma
questão de trabalhar para produzir mais do que para satisfazer as próprias
necessidades ou as da própria comunidade, porque é preciso ser capaz de
compartilhar com aqueles que não têm os meios para produzir tudo o que
precisam.
Conclusão
Nesta breve apresentação da economia monástica como
economia alternativa e sustentável, identificamos alguns aspectos que podem
inspirar o mundo. O valor do trabalho como meio de desenvolvimento pessoal, o
dano potencial da concorrência nas relações econômicas, a busca do consumo como
fonte de felicidade. Isto leva ao valor da ideia de sobriedade feliz, que deve
ser considerada não apenas em seu aspecto ambiental, mas também em seu aspecto
social. Como uma extensão desta proposta, a questão da desigualdade social deve
ser abordada. A vida monástica nos permite evitar a armadilha de um
desequilíbrio insuportável. A economia das necessidades questiona fortemente a
implementação do princípio de igualdade.
A palavra «pax» é o lema beneditino. São Bento a
apresenta como um bem que devemos procurar avidamente. É a palavra que melhor
resume a harmonia, característica da existência do monge. No prólogo da Regra,
São Bento nos pede para buscar a paz e persegui-la incessantemente; esta busca
da paz está associada à busca de Deus, como dois objetivos que se fundem um no
outro. A economia monástica, baseada na desapropriação, e a economia das
necessidades, à qual se acrescenta a não competição e a sobriedade feliz,
oferecem os meios para obter esta paz. E é a paz que torna a organização
sustentável.’
[1] Benoît-Joseph Pons é um engenheiro agrícola francês. Ele começou sua carreira na indústria como pesquisador em microbiologia de alimentos. Tornou-se, depois, gerente de empresa na indústria química farmacêutica. É Mestre em Teologia e Doutor em Economia pela Faculdade de Ciências Sociais e Econômicas do Institut Catholique de Paris. Atualmente, ele é pesquisador junto da Cátedra Jean Bastaire da Université Catholique de Lyon. Em 2018, lançou o livro : ‘L'économie monastique. Une économie alternative pour notre temps’.
[2] Regra de São Bento (RB) 31, 1.
[3] John GALBRAITH, Les mensonges de l’économie –
Vérité pour notre temps, Paris, Bernard Grasset, 2004, p. 34.
[4] Dom
Bertrand ROLLIN, Vivre aujourd’hui la Règle de saint Benoît – Un
commentaire de la Règle, Bégrolles en Mauge, Bellefontaine, coll. Vie monastique n° 16, 1983, p. 54.
[5] AMAP (Association pour le maintien d'une
agriculture paysanne) destina-se a promover a agricultura camponesa e
orgânica, que luta para sobreviver diante da agroindústria. O intuito é criar
um vínculo direto entre os agricultores e os consumidores, que se comprometem a
comprar os produtos destes últimos a um preço justo e pagando antecipadamente.
[Nota do editor]
[6] Pierre Rabhi (1938-2021), agricultor,
ensaísta e conferencista francês de origem argelina, é considerado um dos
pioneiros da agroecologia, que visa regenerar o ambiente natural, excluindo
pesticidas e fertilizantes químicos. Seus numerosos livros obtiveram grande
sucesso. Ele cofundou o movimento cidadão Colibris, que convida às ações locais
tais como jardins compartilhados, fazendas pedagógicas e ainda os circuitos de
aprovisionamento curtos. Ele também é controverso por seus métodos não
científicos, por suas ligações com a filosofia esotérica desenvolvida por
Rudolf Steiner nos anos 20 (antroposofia), e por suas relações com os chefes de
grandes grupos industriais. [Nota do editor]
Fonte : *Artigo na íntegra