domingo, 30 de abril de 2023

Para melhor conhecer a Abadia da Ressurreição

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Vanderlei de Lima, 

eremita na Diocese de Amparo, BA

 

‘Neste artigo, desejamos falar, ainda que de modo muito breve, sobre a Abadia da Ressurreição, comunidade monástica beneditina masculina de Ponta Grossa (Paraná, sul do Brasil).

Tudo teve início, em junho de 1981, quando um grupo de dez monges foi do mosteiro de São Bento de São Paulo para Ponta Grossa. Destes apenas um era professo solene e sacerdote. Os outros se dividiam entre quatro professos temporários, quatro noviços e um postulante. A princípio, instalaram-se em casebres de madeira anexos a um santuário mariano, no Parque estadual de Vila Velha. Nessa época – 1981 a 1985 –, lhes faltava praticamente tudo, menos a caridade dos religiosos, das religiosas e de leigos que auxiliavam a comunidade com a oferta de alimentos. Com o tempo, porém, conseguiram a doação de máquinas para a fabricação de velas e as coisas começaram a melhorar.

Deus que não se deixa vencer em generosidade, possibilitou, graças a magnânimos benfeitores, em agosto de 1983, a compra de sete alqueires de terra a doze quilômetros da cidade. Dois anos depois, agosto de 1985, com a inauguração das 16 primeiras celas, os dois grupos que estavam separados – um na antiga residência e outro na nova – voltaram a se reunir. Em 18 de outubro de 1984, o Mosteiro foi erigido canonicamente como Priorado Simples, sob a jurisdição do Abade Presidente da Congregação Beneditina do Brasil, Dom Basílio Penido, OSB, e, em 11 de julho de 1987, como Priorado Conventual sendo nomeado o primeiro superior maior. Em 1991, o superior renunciou. Dom André Martins, OSB, membro fundador da comunidade, é eleito Prior Conventual. Uma nova fase teve, então, início para aquela comunidade beneditina. Em 21 de agosto de 1997, por decreto da Santa Sé, o Mosteiro foi elevado à condição de Abadia e Dom André eleito o seu primeiro Abade, função que exerce até hoje. Em 2008, após 27 anos de pertença à Congregação Beneditina do Brasil, a comunidade solicitou sua incorporação à Congregação Beneditina Sublacense (hoje Congregação Beneditina Sublacense-Cassinense) e, em 14 de setembro do mesmo ano, teve o seu pedido aceito.

Visando o silêncio e o recolhimento monástico, a Abadia da Ressurreição não exerce atividades pastorais externas e permanentes. Assim age, não por acreditar que elas sejam incompatíveis com o estado monástico, mas para acentuar o caráter contemplativo da comunidade e a fim de oferecer aos hóspedes e visitantes um espaço de silêncio e de contato com a natureza, tão propícios à paz e à oração. Tanto que, hoje, a comunidade de cerca de trinta monges, a viver de acordo com a Regra de São Bento, tem planos de se mudar para uma área ainda mais afastada que a atual.

Aqui, alguém poderá sadiamente indagar : mas, afinal, como é o dia de cada um desses monges? – Respondemos que o seu dia está dividido entre a oração, a leitura, o descanso e o trabalho manual e intelectual. O sino os chama, em intervalos regulares, para celebrarem juntos a Liturgia das Horas ou o Ofício Divino. Sua oração comum culmina com a celebração diária da santa Missa. Além disso, cada monge reza individualmente e faz a Lectio Divina, a leitura orante da Palavra de Deus. Tem-se, assim, a seguinte rotina : 4h : Despertar; 4h20 : Ofício de Vigílias, desjejum e Lectio Divina; 6h15 : Ofício de Laudes e Santa Missa (no domingo a Santa Missa é celebrada às 10h); Leitura pessoal; 8h30 : Ofício de Tércia (no domingo não há a celebração comunitária desse Ofício) seguida de trabalhos e/ou formação; 12h : Ofício de Sexta, almoço, lava-pratos e sesta; 14h30 : Ofício de Noa, trabalhos e/ou formação; 17h : Asseio pessoal; 17h30 : Ofício de Vésperas, jantar, lava-pratos (no sábado, há recreação comunitária) e Colações; 19h : Ofício de Completas e, a seguir, repouso. `As segundas-feiras, salvo raras exceções, são chamadas ‘dias livres’.

O candidato à vida monástica no Mosteiro da Ressurreição deve enviar um e-mail a Dom Mateus de Salles Penteado, OSB, (d.mateusdesalles@gmail.com) que lhe dará todas as informações necessárias sobre a vida monástica, a forma de ingresso e as etapas da formação até a profissão solene com a graça de Deus.

Eis, em suma, parte da história e do dia a dia dos monges beneditinos da Abadia da Ressurreição, de Ponta Grossa, no Paraná. Rezemos por eles!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2023/01/22/para-melhor-conhecer-a-abadia-da-ressurreicao/


sexta-feira, 28 de abril de 2023

O céu, nossa maior aspiração

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

  
*Artigo de Vanderlei de Lima, 

eremita na Diocese de Amparo, BA

 

‘A verdade de fé que ‘existe o paraíso, ou vida eterna, no qual os justos participam eternamente da bem-aventurança eterna’ (Bernardo Bartmann. Teologia dogmática. vol. 3. São Paulo: Paulinas, 1962, p. 425).

A definição de Bartmann é deveras importante, mas cabe dizer, logo de início, que a fé na vida eterna é tão presente (de um ou de outro modo), em todos os seres humanos de todos os tempos, que ‘a Igreja jamais teve que combater heresias relacionadas com o paraíso’ (Bartmann. Op. cit., p. 425; cf. Curso sobre problemas de fé e moral. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2007, p. 129-130). Contudo, nem por isso o Magistério deixou de oferecer, à luz da Escritura (cf. Mt 5,8; 1Cor 13,12; 1Jo 3,1-2; 2Cor 5,6-8; Lc 14,16-24; Mt 25,1-12; 22,1-14; Lc 12,37; 13,29; 23,43; Ap 21-22), sua doutrina sobre o céu.

Diz o Catecismo da Igreja Católica : ‘Os que morrerem na graça e na amizade de Deus e estiverem perfeitamente purificados, viverão para sempre com Cristo. Serão para sempre semelhantes a Deus, porque O verão ‘tal como Ele é’ (1Jo 3,2), ‘face a face’ (1Cor 13,12)’ (n. 1023). O mesmo parágrafo cita a Constituição Apostólica BenedictusDeus, do Papa Bento XII, datada de 1336, a definir : todos aqueles que morrem totalmente purificados de seus pecados ‘mesmo antes de ressuscitarem em seus corpos e do Juízo universal […], estiveram, estão e estarão no céu, no Reino dos céus e no paraíso celeste, com Cristo, na companhia dos santos anjos. Desde a paixão e a morte de nosso Senhor Jesus Cristo, essas almas viram e veem a essência divina com uma visão intuitiva e face a face, sem a mediação de nenhuma criatura’. Eis a essência do céu : a visão de Deus face a face como jamais imaginada neste mundo (cf. 1Cor 2,9); a entrada e a permanência para sempre no gozo de nosso Senhor (cf. Mt 25,23).

Pergunta-se então : onde fica o céu? — Bartmann diz que ‘a essa questão não se pode dar nenhuma resposta’ (Op. cit., p. 434). Afinal, ‘segundo a fé, o paraíso está onde a alma goza da bem-aventurança, que consiste na visão de Deus e da participação do Ser e da vida de Deus’ (idem, p. 438). Correto! A participação na vida grandiosa de Deus começa neste mundo, conforme escreve Dom Estêvão Bettencourt, OSB : ‘Para o cristão, a futura visão de Deus já tem seu fundamento nos dons que o Batismo lhe comunicou e que nele vão desabrochando durante esta vida; a visão beatífica não é senão a consumação de uma caminhada iniciada na terra. Com efeito, ainda aqui, o cristão, em estado de graça, participa da vida divina; possui dentro de si o princípio que o habilita a ver a Deus como Deus vê a si mesmo’ (Curso de Escatologia. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1993, p. 43). Eis que, já neste vale de lágrimas, ‘o banquete eucarístico é uma antecipação da plenitude eterna na comunidade de amor entre Cristo e os unidos a ele’ (Michel Schmaus. Afé da Igreja. vol. 6. Petrópolis: Vozes, 1981, p. 232).

Questiona-se o seguinte : como pode o ser humano (finito) ver a Deus (infinito) face a face? – Respondemos que para a visão de Deus face a face, após a morte, no céu, é preciso que o mesmo Deus fortaleça o intelecto dos justos com a infusão da chamada luz da glória (lumen gloriae). Ela, enquanto espiritual e divina, faz a mente como que se dilatar a fim de receber em si a imensidão de Deus (cf. Reginald Garrigou-Lagrange. O homem e a eternidade. São Paulo: Flamboyant, 1959, p. 265-266).

Certo é, porém, que essa visão de Deus, no céu, supõe graus diversos (cf. Jo 14,2), segundo o amor a Ele com o qual a alma deixou este mundo. Aquela que mais amou mais será recompensada. Todavia, cada uma tem – dentro da sua capacidade de amor – a visão total de Deus uno e trino; ou seja, vê a Deus por inteiro, mas não de modo exaustivo. Afinal, a grandeza divina (o maior) não pode, por lógica, caber na criatura espiritual (o menor). Assim, Deus, embora visto em sua totalidade, será sempre novo à alma eleita, o que desperta a constante adoração (cf. Ap 4,9-11).

A alma eleita vê, em Deus, tudo o que diz respeito a ela (parentes, amigos e suas necessidades) e intercede sempre nessas intenções (cf. Cursode Escatologia, p. 39-40).

Louvemos, pois, a Deus por nos chamar à vida divina com Ele e ainda nos dar os meios para tal, sobretudo o Batismo, a Penitência e a Eucaristia.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2023/02/26/o-ceu-nossa-maior-aspiracao/

quarta-feira, 26 de abril de 2023

4 situações em que o anjo da guarda ajudou Bento XVI

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Fernando Cárdenas Lee


‘Bento XVI teve pelo menos quatro experiências com seu anjo da guarda. Ele mesmo as revelou. Duas dessas situações aconteceram quando ele era muito jovem. O padre Fernando Cárdenas, sacerdote especializado em anjos, explica isso em um vídeo que publicou em seu canal no YouTube em homenagem ao falecido Papa.

A primeira experiência ocorreu quando ele teve difteria, ainda na infância. Disseram que ele não sobreviveria, mas Ratiznger finalmente se recuperou e atribuiu sua cura ao seu anjo da guarda.

A segunda foi quando ele caiu em um tanque e conseguiu sair, graças à ajuda dos seus protetores celestiais.

Mais tarde, no fim da Segunda Guerra Mundial, Hitler o enviou para uma unidade antiaérea. Mas Ratzinger fugiu.

Ele estava doente, com sepse. Naquele momento, o jovem Joseph conheceu alguns soldados. Sua situação era grave e desertar do exército era uma traição à pátria.

Mas, devido ao seu delicado estado de saúde, deixaram-no ir e ele conseguiu voltar para casa. Em suas memórias, Ratzinger diz que parecia que um anjo o protegia.

Em 2009 já como Papa, foi de férias a Castel Gandolfo com a intenção de escrever a sua obra ’Jesus de Nazaré’. Lá, ele caiu e precisou engessar o braço. Bento XVI disse que seu anjo da guarda permitiu esta queda, para que ele pudesse descansar.

O que o Papa ensinou sobre os anjos

O jornalista Vittorio Messori entrevistou Ratzinger quando ele era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e lhe perguntou sobre o mundo invisível. A resposta veio com uma analogia : quando se olha nos olhos de uma pessoa, pode-se vislumbrar o que está lá dentro, se essa pessoa está triste ou feliz. Você não vê a tristeza, mas olhando nos olhos de uma pessoa, você pode vislumbrar algo invisível.

Messori, então, perguntou a Ratzinger se ele já tinha visto seu anjo da guarda. Ele respondeu que não e que, em todo caso, não se deve parar no anjo, mas ter comunicação com Deus.

Quanto aos anjos, Ratzinger dizia que, com base na Sagrada Escritura e na Tradição, sabe-se que são criaturas (não deuses), mas a sua natureza é estar na presença de Deus. E o segundo aspecto é que eles são mensageiros de Deus. Podem estar – e estão – perto dos homens porque estão na presença de Deus.

Certa vez, Bento XV disse aos jovens para sentirem a presença dos anjos da guarda e se deixarem guiar por eles. E para os casados, que buscassem frequentemente a ajuda de seus anjos da guarda para crescer no testemunho constante do amor autêntico.

Portanto, juntemo-nos aos anjos para entrarmos em comunicação com Deus.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2023/01/11/4-situacoes-em-que-o-anjo-da-guarda-ajudou-bento-xvi/

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Os radtrads são obcecados pela “societas perfecta”

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Mirticeli Medeiros,

jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras

credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé

 

Uma reflexão sobre manuais de história da Igreja que são editados para legitimar o ‘cristianismo bélico e glorioso’


Evitar o anacronismo é o mantra de todo historiador. E quando o assunto é história da Igreja, a atenção para não pender para esse tipo de abordagem precisa ser redobrada, já que estamos lidando com o fenômeno religioso. Porém, assumir o compromisso de não julgar o passado com categorias do presente não significa anular ou diminuir os crimes cometidos em séculos anteriores. O passado precisa ser conhecido e estudado, de modo que esses erros não sejam repetidos no presente.

Os últimos três papas, através de gestos e discursos, fizeram questão de enfatizar isso. João Paulo II, ao pedir perdão pela violência impetrada em nome de Deus por muitos homens da Igreja; Bento XVI, ao reconhecer que foi ‘providencial’, num dado momento, a Igreja ter se apartado do poder temporal; e Francisco, relendo a colonização da América, pediu perdão pelos abusos da instituição contra os povos originários. Ou seja, o papado contemporâneo olha para essa história como um percurso feito de luzes e sombras, de anjos e de demônios.

Positivismo histórico dos radtrads

Os adeptos do positivismo histórico, do século 19, viam o passado como um celeiro de mitos nacionais. Historia magistrae vitae? Sim. Mas só era mestra de vida na medida em que condecorava as personalidades ‘civilizadoras’, os heróis do Estado (muitas vezes, forçadamente fabricados pelos propagadores da ideologia dominante).

E muitos grupos sectários da atualidade têm se debruçado sobre o passado cristão pelas lentes do positivismo histórico. Há quem romantize a trajetória de Constantino, de Pepino, o jovem, de Carlos Magno e dos cavaleiros medievais. A ideia é acumular informações ‘gloriosas’ sobre a História da Igreja, não situá-la dentro de um contexto social, político ou cultural.

Os manuais de história da Igreja do século 19, que estão sendo republicados por muitas editoras controladas por esses nichos, estão repletos desses floreios. Não que tais atores não devam ser investigados e mencionados. O problema está em ressuscitá-los na pretensão de reconstruir uma ‘Idade de Ouro’ que sequer existiu.

Há quem se recorde da famigerada visão de Constantino, mas não cita os membros da família que ele executou após sua ‘conversão’. Há quem superestime as cruzadas como símbolo do triunfo, mas ignora o momento em que os cavaleiros se aliaram aos muçulmanos e o episódio em que os venezianos invadiram Constantinopla, em 1204, e profanaram a Basílica de Santa Sofia. E eu poderia citar tantos outros exemplos.

A maioria desses livros, principalmente aqueles que foram publicados antes da década de 1930, via a historiografia como um instrumento capaz de reproduzir uma narração precisa dos fatos, que era pautada somente pelos documentos oficiais. Ou seja, a história não era tratada como um processo repleto de nuances e pontos de vista, mas como uma grande crônica repleta de heróis, cujos feitos foram eternizados pela fonte escrita.

Cálculo político e erudição estéril

Sustentar uma visão anacrônica nem sempre é tão inofensivo quanto parece. O estrago, inclusive, às vezes acontece a longo prazo. Hitler se apoiou na trajetória de Lutero para criar uma religião política e nacionalista segundo os parâmetros do catecismo nazista : o ‘cristianismo positivo’. Mussolini evocou Constantino, o primeiro imperador cristão da história, para legitimar seu imperialismo. O ditador italiano, que era um anticlerical convicto, mudou o discurso e passou a tratar o catolicismo como parte integrante da cultura do país para atrair o apoio das autoridades eclesiásticas.

Em âmbito católico, os simpatizantes da erudição estéril e anacrônica isolam a história da instituição em 500 anos. O Concílio de Trento, que no século 16 padronizou o rito latino, é visto como a tradução mais perfeita da tradição, como se ela se resumisse a uma lista de rubricas e normas. Nada mais.

Nenhum concílio esgotou as possibilidades da fé católica

Só que a Tradição, para o catolicismo, escrita em T maiúsculo, se baseia principalmente no ensinamento de Jesus transmitido aos apóstolos, e não por acaso é chamada de Depositum Fidei, não de Ritus Romani. Portanto, a visão reducionista deles contradiz a própria doutrina. Dizer que um único concílio ecumênico foi capaz de interpretar o catolicismo na sua plenitude é destoar desse princípio, já que essa confissão cristã acredita na sucessão apostólica. E se o Concílio Vaticano II, constituído por um colégio de bispos, tomou certas decisões, que mais à frente foram revistas e chanceladas pelo próprio papa, deve ser seguido como todos os outros.

Não por acaso, as resistências em relação ao papa Francisco começaram justamente entre os tridentinos da internet, que inclusive têm uma visão completamente distorcida em relação ao conceito de reforma da Igreja Católica. Para eles, muito ligados ao espírito de Trento, reformar é impor ‘um modelo’, e ter um pontífice — e um concílio, no caso — que foca na renovação de seus membros, não nos acessórios, que muitas vezes ofuscam a essência da vida cristã, é demais para a cabeça deles.’ 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://rafaelmariae.medium.com/os-radtrads-s%C3%A3o-obcecados-pela-societas-perfecta-a8ce3f121fb3

domingo, 23 de abril de 2023

A existência do diabo é um dogma de fé?

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Francisco Vêneto,

jornalista

 

‘Será que um católico deve acreditar na existência do diabo por força de dogma de fé? Existe algum dogma da Igreja que declare a obrigatoriedade de acreditarmos que o demônio é um ser real?

Não, não existe, propriamente falando, nenhum dogma específico que faça esta declaração. Mas também não existe nenhum dogma de fé que tenha sido promulgado oficialmente pela Igreja para decretar que existe Deus.

Quem explica o motivo disso, com muita clareza e brevidade, é o pe. José Eduardo de Oliveira, que esclareceu este assunto mediante esta publicação em sua rede social :

A alegação de que a existência do demônio não foi declarada como dogma de fé não passa de uma desculpa tão improvisada quanto cínica. Há verdades de fé que são pressupostos de toda a doutrina da Igreja e que não necessitam ser declaradas dogmaticamente, justamente porque são os pressupostos lógicos de todos os dogmas. Por exemplo, a Igreja nunca fez uma declaração dogmática de que Deus existe, de que há alma, de que existe a Revelação Divina etc.

O próprio Evangelho é explícito ao declarar a existência do diabo, que é confirmada por Jesus em diversas passagens. Jesus se dirige a Satanás para repreendê-lo e fala dele como de ‘alguém’ que é real – e não meramente um símbolo. São especialmente conhecidas as passagens bíblicas sobre as tentações de Jesus no deserto (Mt 4, 1-11) e sobre os numerosos exorcismos que Ele realizou (Cafarnaum: Mc 1, 23-28; Gerasa: Mt 8, 28-34; a filha da cananeia: Mc 7, 25-29 – entre outros). Os escritos apostólicos e o Apocalipse recolhem esta vitória de Cristo, que se consumará no final dos tempos.’ 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2023/03/09/a-existencia-do-diabo-e-um-dogma-de-fe/

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Izmir, uma igreja partilhada entre católicos e ortodoxos, sinal de fraternidade

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo da Vatican News com a Asia News


A ‘partilha de uma igreja’ num ‘contexto’ como o contexto turco é um ‘dom precioso’, porque ‘não é fácil’ construir novos lugares de culto e dar o uso de um já existente ‘a uma comunidade irmã como a ortodoxa é um dom de amor’.

O vigário apostólico de Istambul, dom Massimiliano Palinuro, sublinha a AsiaNews o valor do acordo alcançado na Quinta-feira Santa no Fanar de Constantinopla entre o superior da ordem franciscana frei Massimo Fusarelli e o patriarca ecumênico Bartolomeu I.

Ele prevê a concessão do uso da igreja (católica) de Santa Maria em Izmir, datada do século XVII, aos ortodoxos para atender às necessidades expressas pelo metropolita da cidade.

O Papa, os frades franciscanos e a comunidade ortodoxa

Um acordo alcançado graças à vontade comum do Papa Francisco, dos frades franciscanos e da comunidade ortodoxa : ‘A igreja - continua o prelado - foi concedida para uso gratuito, um gesto de grande fraternidade que mostra como o caminho ecumênico progrediu’.

A comunidade católica é muito afeiçoada à igreja de Santa Maria, porque era a antiga catedral de Izmir, que hoje vê a presença cristã florescer novamente em termos numéricos, especialmente entre os ortodoxos, a ponto de a pequena igreja de Agia Fotinì ser insuficiente para as necessidades do culto.

Hoje, na terceira cidade mais importante da Turquia, depois da capital Ankara e Istambul, o coração econômico e comercial do país, há cerca de 2 mil católicos, 17 sacerdotes e 12 igrejas de uma população total de mais de 4,2 milhões e cerca de 6 mil mesquitas em todo o território.

Esperança de alcançar a plena comunhão eucarística

‘O passo que esperamos com a maior esperança - explica dom Palinuro - é que logo alcancemos a partilha dos sacramentos, a plena comunhão eucarística’, que deve ser não somente ‘um ponto de chegada’, mas também um ‘elemento de encorajamento’ no caminho ecumênico.

Nas relações entre católicos e ortodoxos, durante muito tempo ‘insistiu-se que a plena comunhão dos sacramentos deveria ser reservada para o término do percurso’, observa o vigário, uma vez ‘resolvidos todos os problemas doutrinários e jurídicos’.

Em vez disso, ‘aqui na Turquia estamos convencidos de que o passo necessário e indispensável para aplainar os obstáculos disciplinares e doutrinários é precisamente a plena comunhão dos sacramentos’.

É na Eucaristia que se constrói a comunhão

‘Porque - adverte ele - é na Eucaristia que se constrói a comunhão, é na oração e na celebração comum dos sacramentos que são aplainados todos os obstáculos que as interpretações teológicas desajeitadas ou as diferentes tradições jurídicas têm sido capazes de criar’.

‘Estamos realmente ansiosos pela plena comunhão dos sacramentos, que já havia ocorrido aqui no passado sob a liderança iluminada do patriarca Athenagoras’, lembra o vigário de Istambul, que há muito - mesmo antes de sua nomeação - cultivou uma relação pessoal de estima com Bartolomeu.

‘Esperamos que o mais rápido possível - acrescenta - os líderes das comunidades cristãs sejam capazes de fazer gestos corajosos e proféticos a este respeito, porque realmente não há razão para que a Igreja católica e os Ortodoxos orientais mantenham limites à plena comunhão nos sacramentos’.

Terremoto, a solidariedade entre as diversas comunidades

Também a fortalecer a cooperação entre as Igrejas foi o recente terremoto devastador que atingiu a Turquia (e a Síria) em 6 de fevereiro. ‘Foi terrível - lembra dom Palinuro - ver igrejas de todas as denominações cristãs, sinagogas, mesquitas destruídas’.

‘Como acontece frequentemente, nos piores momentos, o melhor da natureza humana brilha : a solidariedade que foi vista entre as diversas comunidades, e que continua a acontecer, foi e é extraordinária’.

O terremoto, continua ele, criou danos que ‘levarão décadas para serem reparados, portanto será necessário continuar colaborando e ajudando-se uns aos outros’, deixando de lado ‘toda diferença e discriminação’.

Relação com o patriarca Bartolomeu

Por fim, o vigário apostólico de Istambul relata a relação com o patriarca Bartolomeu que cresceu ao longo do tempo. ‘Um conhecimento pessoal precioso - explica ele - porque o verdadeiro ecumenismo é feito não tanto através de conferências e declarações teológicas’, mas com ‘diálogo fraterno, na frequência, na partilha de momentos de oração e fraternidade’.

Com o primaz ortodoxo, seus colaboradores e os metropolitanos há reuniões semanais ou quinzenais, conclui, durante as quais ‘ideias, preocupações e projetos são compartilhados, e isto certamente vai na direção de relações cada vez mais marcadas pela verdadeira fraternidade’.’ 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2023-04/izmir-ecumenismo-igreja-partilhada-catolicos-ortodoxos-turquia.html

terça-feira, 18 de abril de 2023

Os Sermões sobre o Cântico dos Cânticos de São Bernardo de Claraval

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Vanderlei de Lima, 

eremita na Diocese de Amparo, BA

 

‘Sermões sobre o Cântico dos Cânticos’ : Eis o título de uma das clássicas obras de São Bernardo de Claraval (1090-1153). Foi publicada, em tradução brasileira, pela Editora Permanência do Rio de Janeiro.

O livro é extenso – são oitenta e seis sermões – e denso. Daí, ser nossa intenção, aqui, propor, à luz de boas fontes, apenas um comentário geral sobre os Sermões. Seu ‘‘gênero literário’ é mais livre […]. Não obstante, é claro que as coleções de sermões registradas por escrito e publicadas sofreram um paciente trabalho de redação e edição’ (Bernardo Olivera, OCSO. Introducción a los Padres e Madres cistercienses de los siglos XII e XIII. Burgos : Fonte & Monte Carmelo, 2020, p. 79). Ora, o Cântico dos Cânticos é um poema de amor do Antigo Testamento que faz o homem se reencontrar com Deus de um modo esponsal. Trata-se de um livro ‘escrito com arte pelo Espírito Santo’ (Pierre Riché. Vida de São Bernardo. São Paulo : Loyola, 1981, p. 63). Nele, o ‘diálogo entre a esposa e o esposo não é senão aquele que existe entre a alma e o Verbo Divino, entre a Igreja e Cristo’ (idem, p. 62). Daí a questão : que metodologia ou ‘linha exegética’ – diríamos hoje – usava o Abade de Claraval para suas explanações nessa obra?  

Versículo por versículo

Responde-nos o próprio Riché, ao demonstrar – de modo mais detalhado – a procura do santo por Aquele que ele ama, Jesus Cristo : ‘Bernardo explica versículo por versículo nos sentidos alegórico e místico. Com admirável domínio, com uma arte raramente alcançada, Bernardo dedica os nove primeiros sermões ao beijo, sem jamais perturbar-se, nem perturbar seus ouvintes. Quando é levado a falar da sexualidade, ele age com calma e sem complexos, pois vive sóbria e castamente, graças à leitura e à oração. Ele passa sem dificuldade do canto nupcial ao da união mística. Na sua trajetória, conduz seus monges do jardim à adega, da adega ao quarto. O jardim é o da criação, da reconciliação vinda do Salvador, da colheita, do fim do mundo. As adegas guardam os aromas, os unguentos e o vinho, isto é, as três regras de vida segundo a disciplina, a natureza e a graça. Tudo isso requer um longo encaminhamento. O beijo da alma e do Verbo de Deus mal acaba de se realizar, eis que corre o risco de findar bruscamente. Bernardo confidencia aos seus monges que seu diálogo com Cristo é muitas vezes difícil. Desde o começo em que o Verbo se retirou, tudo isso começa imediatamente a enlanguescer no torpor e arrefece’ (idem, p. 63).

São Bernardo

Dom Bernardo Bonowitz, OCSO, antigo abade do Mosteiro de Nossa Senhora do Novo Mundo, em Campo do Tenente (PR), completa a explanação de Riché assegurando que São Bernardo foi um grande admirador de Orígenes, importante místico, filósofo e exegeta cristão do século III. Daí ter, como ele, por referência os três livros bíblicos atribuídos ao sábio rei Salomão : Eclesiastes, Provérbios e Cântico dos Cânticos. Para o santo, sem essa sequência não se consegue compreender a contento o Cântico dos Cânticos. Eis as oportunas palavras de Bonowitz : ‘O Cântico dos Cânticos é escrito em linguagem figurativa, usa as metáforas do amor carnal humano para aludir aos mistérios da união espiritual entre Deus e a alma e, diz Bernardo prudentemente, se você não tiver passado pela formação providenciada pelos dois livros anteriores de Salomão, Eclesiastes e Provérbios, é mais do que provável que você não compreenderá a terceira obra, que tudo coroa’ (São Bernardo, o numerólogo. Campinas: Ecclesiae, 2019, p. 18).

Em suma, o estudioso só tem a louvar a Editora Permanência pela publicação dessa obra magna de São Bernardo. Não deve, contudo, deixar de notar pontos que deveriam ser revistos. Por exemplo, as abreviaturas da Sagrada Escritura : Judite aparece, na página 21, como JDt, quando, via de regra, se usa Jt; Sabedoria, na página 20, Sab, mas deveria ser Sb; Hebreus, na página 113, vem como Hebr e o correto seria Hb etc. A palavra consequência está com trema nas páginas 38 e 108, por exemplo. A nota 1 diz, sem mais, que São Roberto de Molesmes foi o fundador de Cister, quando, na verdade, Cister é fruto de uma comunidade fundadora a incluir os santos abades Roberto, Alberico e Estêvão Harding. Ainda : o nome da obra poderia aparecer sempre, como no título, Cântico dos Cânticos) mas, no corpo do livro, vem Cantar dos Cantares. No sumário, há Deus com d minúsculo (Sermão LV), igreja em vez de Igreja (Sermão XXX) etc.’ 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2023/04/16/os-sermoes-sobre-o-cantico-dos-canticos-de-sao-bernardo-de-claraval/

sábado, 15 de abril de 2023

Tendes algo de comer?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,

Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG

Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil


‘Esta pergunta - ‘Tendes algo de comer?’ - veio do coração do Mestre Jesus, ressuscitado, o vencedor da morte. Era uma manhã na praia, conforme narra o evangelista João. Os pescadores, discípulos de Jesus, ouviram o questionamento e, desolados, responderam que nada tinham. Então o Mestre indicou : ‘Lançai a rede à direita do barco e achareis’. Eles obedeceram e não conseguiram puxá-la, por causa da grande quantidade de peixes. Neste momento, os discípulos reconheceram o milagre, também aquele que o promovera : é o Senhor! Um mistério que remete à aprendizagem da nova e definitiva lição, formulada pelo apóstolo Paulo, na Carta aos Romanos. Paulo sublinha que Cristo Ressuscitado dos mortos não morre mais, a morte já não tem poder sobre Ele. Pois Aquele que morreu, morreu para o pecado uma vez por todas, mas Aquele que vive é para Deus que vive.

O discipulado no seguimento de Jesus Ressuscitado toca a vida no seu núcleo de sustentação  : Cristo, referência insubstituível e inigualável, é fonte da lógica que deve presidir toda a existência. Ter algo para comer é imprescindível para viver. O alimento definitivo vem pela iluminação alcançada na oferta redentora que Cristo faz de si, na ceia pascal, consumada no alto da cruz, pela oblação que faz de Seu corpo e sangue. Os discípulos compreendem e são desafiados a reger-se pela competência de responder à interrogação do Mestre Jesus : a partir de Cristo, o ser humano encontra seu verdadeiro alimento, aquele que conduz à vida. Longe desse alimento, o caminho da humanidade será orientado por dinâmicas destrutivas : ressentimentos e mágoas que sufocam a fraternidade, deixam espíritos conturbados, impondo uma cegueira nas pessoas que passam a enxergar apenas nos limites dos próprios juízos e escolhas, aprisionadas em interesses pequenos, pouco nobres. Com isso, deixa-se de reconhecer a presença de Deus na própria vida. Uma perda grave, que leva a adoecimentos.

‘Tendes algo de comer?’ É uma interrogação com força de advertência, explicitando os limites humanos. Remete à importância determinante de escutar os clamores dos outros, especialmente daqueles que não têm algo para comer - são milhares e milhões pelo mundo afora. A escuta dos clamores daqueles que sofrem, particularmente de quem enfrenta a fome, à luz da pergunta formulada por Jesus, conduz à lógica da generosidade e da partilha - remédio para as inimizades e mágoas forjadas por limitações humanas e espirituais : a incapacidade para perdoar e alargar o coração e hospedar o amor. O amor é o único agente de reconciliação e de recomposição da fraternidade universal.

A pergunta do Mestre remete ao flagelo da fome – uma ameaça à dignidade humana. Sabe-se que uma carência prolongada de alimentação provoca debilidades graves, instaura apatias, impõe a perda do sentido social. Compreende-se a urgência da escuta da pergunta do Mestre e a importante celeridade para respondê-la com um ‘sim’. São urgentes os envolvimentos organizacionais da sociedade e a adoção de políticas públicas capazes de vencer a fome. Uma vitória que depende também da efetivação de um novo estilo de vida - compromisso de todos - distante dos hábitos que levam ao esgotamento do meio ambiente. Reverter os cenários abomináveis de desolação e de abandono provocados pela fome significa também contribuir para superar situações que destroem as famílias, levam violência aos lares, às cidades e ao campo. A carência alimentar gera, ainda, adoecimentos físicos e psíquicos.

Acolher a pergunta que brotou do coração de Cristo Ressuscitado, voz dos famintos e excluídos, é o primeiro passo para reverter a aporofobia tão disseminada na sociedade. É desolador constatar que muitos cultivam aversão e desprezo em relação aos pobres, hostilizando ainda as iniciativas que buscam oferecer dignidade a quem sofre. A interpelante interrogação feita por Jesus aos seus discípulos desafia todos os cidadãos, especialmente os cristãos. Deve inspirar sensatez e humanismo, para que sejam alcançadas novas respostas, mais eficazes no enfrentamento de muitos flagelos sociais, particularmente no combate à fome. Aqueles que exemplarmente trabalham pela cura dessa chaga social podem ser inspiração, convencendo cada vez mais pessoas a também se unirem para amparar quem não tem o que comer.

A partir de Cristo, é urgente forrar corações com o tecido da compaixão, capaz de inspirar uma nova ordem social livre do flagelo da fome. Especialmente os cristãos devem ter sempre presente a advertência de São João Crisóstomo que, por volta do século quarto da era cristã, disse : ‘Muitos cristãos saem da Igreja e contemplam fileiras de pobres, e passam longe, sem se comover, como se vissem colunas e não corpos humanos. Apertam o passo como se vissem estátuas em lugar de homens que respiram. E, depois de tamanha desumanidade, se atrevem a levantar as mãos aos céus e pedir a Deus misericórdia e perdão pelos seus pecados’. A voz de Jesus seja escutada como clamor dos pobres e famintos : ‘Tendes algo de comer?’’ 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domhelder.edu.br/noticias/pagina/religiao

quinta-feira, 13 de abril de 2023

Formar as novas gerações

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo de Irmã Sarah Laker,

Missionária Comboniana 


O Egito é o meu primeiro país de missão. Fiz os meus primeiros votos em 2019 como missionária comboniana e vim para o Egito para estudar árabe, a língua em que agora comunico. Embora este país do Norte de África seja muito diferente do meu país natal, o Uganda, adaptei-me gradualmente e sinto-me em casa entre os meus novos irmãos e irmãs. Nós, Irmãs Missionárias Combonianas, realizamos trabalho pastoral com os católicos que vivem neste país de maioria muçulmana e temos também compromissos no campo da saúde. Contudo, a nossa principal missão é na área da educação, especialmente em Assuã e no Cairo, onde me encontro.

Atualmente, somos seis irmãs em Helwan, um subúrbio localizado a cerca de 25 quilometros a sul da capital egípcia. Para a congregação, é um lugar de grande valor histórico porque a comunidade foi fundada no dia 1 de Agosto de 1888, apenas alguns anos após a morte de São Daniel Comboni. Aqui trabalho como professora de Inglês na escola primária feminina Sagrada Família. Do outro lado da rua está a escola dos rapazes com o mesmo nome, dirigida pelos Missionários Combonianos. 

Trabalho educativo

O dia começa muito cedo para nós. Às seis horas da manhã, já estamos na capela para a oração. A partir daí, começa a pressa, pois gostamos de chegar antes das alunas, mas muitas vezes isso não é possível. Como muitos pais começam a trabalhar muito cedo, e por vezes longe daqui, preferem deixar as suas filhas na escola para não enfrentarem o trânsito caótico do Cairo. Isto obriga-nos a chegar a tempo para que as meninas não fiquem sozinhas. Apesar do horário apertado, todas as manhãs, um pouco antes das oito horas, os professores e as freiras temos uma pequena reunião. Estamos convencidos de que o diálogo entre nós é importante para prosseguirmos com este serviço na educação.

A experiência na escola feminina de Helwan é muito enriquecedora e ajuda-me a viver apaixonadamente a minha vocação missionária. Sinto-me tocada pelo acolhimento das raparigas, que não hesitam em expressar o seu afeto com um abraço ou um sorriso.

Um aspecto interessante da nossa missão na escola de Helwan é a presença de raparigas cristãs e muçulmanas que estudam juntas como boas amigas. É bom ver como algumas famílias muçulmanas apreciam o nosso trabalho e escolhem enviar as suas filhas para uma escola cristã. É assim que vivemos a fraternidade, aquilo a que outros chamam diálogo inter-religioso, com simplicidade e espontaneidade todos os dias. Para mim, este é um verdadeiro testemunho do Evangelho. Jesus sempre insistiu no mandamento do amor, e é isso que procuramos e tentamos pôr em prática nesta escola.

Estou convencida de que a nossa missão educacional em Helwan é importante e tem impacto nas raparigas e nas suas famílias. Estamos a contribuir com o nosso testemunho para criar unidade num mundo dividido e isso dá-me grande alegria e sustenta-me no meu trabalho diário.’ 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/artigos/8/935/formar-as-novas-geracoes/

terça-feira, 11 de abril de 2023

O que é a Oitava de Páscoa e qual é a sua importância?

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Felipe Aquino,

professor


‘Após o domingo de Páscoa, a Igreja vive o Tempo Pascal; são sete semanas em que celebra a presença de Jesus Cristo Ressuscitado entre os Apóstolos, dando-lhes as suas últimas instruções (At1,2). Quarenta dias depois da Ressurreição Jesus teve a sua Ascensão ao Céu, e ao final dos 49 dias enviou o Espírito Santo sobre a Igreja reunida no Cenáculo com a Virgem Maria. É o coroamento da Páscoa. O Espírito Santo dado à Igreja é o grande dom do Cristo glorioso.

Tempo Pascal

O Tempo Pascal compreende esses cinquenta dias (em grego = ‘pentecostes’), vividos e celebrados ‘como um só dia’. Dizem as Normas Universais do Ano Litúrgico que : ‘os cinquenta dias entre o domingo da Ressurreição até o domingo de Pentecostes devem ser celebrados com alegria e júbilo, ‘como se fosse um único dia festivo’, como um grande domingo’ (n. 22).

É importante não perder o caráter unitário dessas sete semanas. A primeira semana é a ‘oitava da Páscoa’. Ela termina com o domingo da oitava, chamado ‘in albis’, porque nesse dia os recém batizados tiravam as vestes brancas recebidas no dia do Batismo.

Esse é o Tempo litúrgico mais forte de todo o ano. É a Páscoa (passagem) de Cristo da morte à vida, a sua existência definitiva e gloriosa. É a Páscoa também da Igreja, seu Corpo. No dia de Pentecostes a Igreja é introduzida na ‘vida nova’ do Reino de Deus. Daí para frente o Espírito Santo guiará e assistirá a Igreja em sua missão de salvar o mundo, até que o Senhor volte no Último Dia, a Parusia. Com a vinda do Espírito Santo à Igreja, entramos ‘nos últimos tempos’ e a salvação está definitivamente decretada; é irreversível; as forças o inferno vencidas pelo Cristo na cruz, não são mais capazes de barrar o avanço do Reino de Deus, até que o Senhor volte na Parusia.

Prolongar a alegria da Ressurreição

A Igreja logo nos primórdios começou a celebrar as sete semanas do Tempo Pascal, para ‘prolongar a alegria da Ressurreição’ até a grande festa de Pentecostes. É um tempo de prolongada alegria espiritual. Esse tempo deve ser vivido na expectativa da vinda do Espírito Santo; deve ser o tempo de um longo Cenáculo de oração confiante.

Nestes cinquenta dias de Tempo Pascal, e, de modo especial na Oitava da Páscoa, o Círio Pascal é aceso em todas as celebrações, até o domingo de Pentecostes. Ele simboliza o Cristo ressuscitado no meio da Igreja. Ele deve nos lembrar que todo medo deve ser banido porque o Senhor ressuscitado caminha conosco, mesmo no vale da morte (Sl 22). É tempo de renovar a confiança no Senhor, colocar em suas mãos a nossa vida e o nosso destino, como diz o salmista : ‘Confia os teus cuidados ao Senhor e Ele certamente agirá’ (Salmo 35,6).

Domingos de Páscoa

Os vários domingos do Tempo Pascal não se chamam, por exemplo, ‘terceiro domingo depois da Páscoa’, mas ‘III domingo de Páscoa’. As leituras da Palavra de Deus dos oito domingos deste Tempo na Santa Missa estão voltados para a Ressurreição. A primeira leitura é sempre dos Atos dos Apóstolos, as ações da Igreja primitiva, que no meio de perseguições anunciou o Senhor ressuscitado e o seu Reino, com destemor e alegria.

Portanto, este é um tempo de grande alegria espiritual, onde devemos viver intensamente na presença do Cristo ressuscitado que transborda sobre nós os méritos da Redenção. É um tempo especial de graças, onde a alma mais facilmente bebe nas fontes divinas. É o tempo de vencer os pecados, superar os vícios, renovar a fé e assumir com Cristo a missão de todo batizado : levar o mundo para Deus, através de Cristo. É tempo de anunciar o Cristo ressuscitado e dizer ao mundo que somente nele há salvação.

Então, a Igreja deseja que nos oito dias de Páscoa (Oitava de Páscoa) vivamos o mesmo espírito do domingo da Ressurreição, colhendo as mesmas graças. Assim, a Igreja prolonga a Páscoa, com a intenção de que ‘o tempo especial de graças’ que significa a Páscoa, se estenda por oito dias, e o povo de Deus possa beber mais copiosamente, e por mais tempo, as graças de Deus neste tempo favorável, onde o céu beija a terra e derrama sobre elas suas Bênçãos copiosas.

Bênçãos da Páscoa

Mas, só podem se beneficiar dessas graças abundantes e especiais, aqueles que têm sede, que conhecem, que acreditam, e que pedem. É uma lei de Deus, quem não pede não recebe. E só recebe quem pede com fé, esperança, confiança e humildade.

As mesmas graças e bênçãos da Páscoa se estendem até o final da Oitava. Não deixe passar esse tempo de graças em vão! Viva oito dias de Páscoa e colha todas as suas bênçãos. Não tenha pressa! Reclamamos tanto de nossas misérias, mas desprezamos tanto os salutares remédios que Deus coloca à nossa disposição tão frequentemente.

Muitas vezes somos miseráveis sentados em cima de grandes tesouros, pois perdemos a chave que podia abri-lo. É a chave da fé, que tão maternalmente a Igreja coloca todos os anos em nossas mãos. Aproveitemos esse tempo de graça para renovar nossa vida espiritual e crescer em santidade.

O Círio Pascal

O Círio Pascal estará acesso por quarenta dias nos lembrando isso. A grande vela acesa simboliza o Senhor Ressuscitado. É o símbolo mais destacado do Tempo Pascal. A palavra ‘círio’ vem do latim ‘cereus’, de cera. O produto das abelhas. O círio mais importante é o que é aceso na vigília Pascal como símbolo de Cristo – Luz, e que fica sobre uma elegante coluna ou candelabro enfeitado.

O Círio Pascal é já desde os primeiros séculos um dos símbolos mais expressivos da vigília, por isso ele traz uma inscrição em forma de cruz, acompanhada da data do ano e das letras Alfa e Ômega, a primeira e a última do alfabeto grego, para indicar que a Páscoa do Senhor Jesus, princípio e fim do tempo e da eternidade, nos alcança com força sempre nova no ano concreto em que vivemos. O Círio Pascal tem em sua cera incrustado cinco cravos de incenso simbolizando as cinco chagas santas e gloriosas do Senhor da Cruz.

O Círio Pascal ficará aceso em todas as celebrações durante as sete semanas do Tempo Pascal, ao lado do ambão da Palavra, até a tarde do domingo de Pentecostes. Uma vez concluído o tempo Pascal, convém que o Círio seja dignamente conservado no batistério. O Círio Pascal também é usado durante os batismos e as exéquias, quer dizer no princípio e o término da vida temporal, para simbolizar que um cristão participa da luz de Cristo ao longo de todo seu caminho terreno, como garantia de sua incorporação definitiva à Luz da vida eterna.

Sacramental

No Vaticano, a cera do Círio Pascal do ano anterior é usada para a confecção do ‘Agnus Dei’ (Cordeiro de Deus), que muitos católicos usam no pescoço; é um sacramental valioso para nos proteger dos perigos desta vida, pois é feito do Círio que representa o próprio Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ele é confeccionado de cera branca onde se imprime a figura de um cordeiro, símbolo do Cordeiro Imolado para reparar os pecados do mundo.

Esses ‘Agnus Dei’ são mergulhados pelo Papa em água misturada com bálsamo e o óleo Sagrado Crisma. O Sumo Pontífice eleva profundas orações a Deus implorando para os fiéis que os usarem com fé, as seguintes graças : expulsar as tentações, aumentar a piedade, afastar a tibieza, os perigos de veneno e de morte súbita, livrar das insidias, preservar dos raios, tempestades, dos perigos das ondas e do fogo – impedir que qualquer força inimiga nos prejudique – ajudar as mães no nascimento das crianças.’ 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2022/04/17/a-importancia-da-oitava-de-pascoa/