Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Marco Guerra
‘Vivemos uma Quaresma
sofrida, mas cheia de solidariedade, o verdadeiro acontecimento não é o
terremoto, mas a sensibilidade do mundo para conosco’. Dom Joseph Tobji,
arcebispo maronita de Aleppo, consegue captar o lado positivo de uma tragédia
que colocou a Síria no centro das atenções de toda a comunidade internacional por
várias semanas. Infelizmente, anos de guerra e devastação não conseguiram
provocar a mesma onda de compaixão e apoio.
Síria
novamente no centro das notícias
‘Vamos
observar este aspecto positivo, tantas pessoas também se ofereceram para
trabalhar no terreno, tantos jovens, tantas associações e fraternidades se
mobilizaram para ajudar aqueles que sofreram danos’, explica o prelado, ‘foram
realizadas campanhas em todo o mundo para ajudar nosso povo.’ A solidariedade
também veio de comunidades religiosas e de países vizinhos da região, como
Iraque e Emirados Árabes Unidos. ‘Em meio a esta tragédia há algo de positivo –
sublinha o prelado – a Síria voltou a aparecer nas páginas dos jornais
internacionais depois de ter sido esquecida por vários anos’. Dom Tobji recorda
então que esta Quaresma ‘diferente’ vem depois de mais de uma década de outros
acontecimentos dolorosos : ‘Doze anos de guerra, dois de pandemia de Covid,
depois cólera, sanções... Cada vez há uma cruz para carregar’.
Relações
com muçulmanos
A
Síria é formada por um mosaico de etnias e confissões religiosas e, portanto,
assume um valor ainda maior neste período de 2023 em que coincidem a Páscoa e o
Ramadã. ‘O contato entre cristãos e muçulmanos é diário – diz Tobji – claro, há
muita fraternidade, mas também algo que prejudica as boas relações, mas em
geral nos damos muito bem’. Neste contexto, são significativas as relações que
o ligam ao Gran Mufti da Síria e a todos os líderes religiosos de Aleppo : ‘Com
os muçulmanos não trocamos apenas saudações formais, mas mantemos diálogos
profundos, por exemplo, sobre a figura da Virgem Maria’. ‘Os dois feriados
coincidem – acrescenta – assim como coincidem todas as sensibilidades que
surgiram durante o terremoto e que tanta solidariedade suscitaram, estamos no
mesmo barco!’.
Sofrimento
que leva ao amor
As
celebrações comunitárias puderam decorrer de forma pacífica, apesar dos
transtornos causados pela destruição do terremoto, uma possibilidade nada óbvia
depois dos anos mais duros da guerra em que os cristãos sofreram inúmeras
proibições nos territórios controlados pelos rebeldes jihadistas. Dom Tobji
destaca que a comunidade cristã ‘se preocupa muito com este momento litúrgico’ :
‘Não podemos deixar de assistir a estas celebrações porque dão muita esperança
e o próprio significado da nossa fé’. Os cristãos, portanto, olham para a cruz
e a paixão de Cristo para obter força nas dificuldades. ‘Estamos acostumados ao
sofrimento – continua o bispo maronita – a dor educa as almas ao amor, não há
amor sem sofrimento, Cristo se ofereceu na cruz movido pelo amor e esta é a
nossa atitude’. No entanto, o prelado não pretende subestimar ‘o peso da dor’,
porque ‘as pessoas estão esgotadas por todos estes anos de crise’. A Páscoa é
também um momento de ressurreição e por isso ‘as expectativas dos jovens estão
muito altas’, mas o bispo de Aleppo pede realismo porque ‘se destrói
rapidamente e se reconstrói lentamente’. ‘Precisamos ser pacientes – diz – e
esperar que a graça do Senhor abra os corações e as consciências dos governantes
de todo o mundo, nossa oração é pela paz no mundo e pela prosperidade dos povos’.
Comunidades
cristãs sob os jihadistas
O
pensamento do bispo dirige-se também às pequenas comunidades cristãs do norte
da Síria, que ainda estão sob o controle de grupos rebeldes de extremistas
islâmicos. São aldeias onde os cristãos não podem professar livremente a sua
fé. ‘Nas áreas do norte fora do controle do governo, os cristãos sofrem, restam
muito poucos, especialmente os idosos, e eles vivem em grande sofrimento, ao
contrário em Aleppo e nas áreas vizinhas estamos bem deste ponto de vista, nós
podemos de fato realizar nossas orações, procissões e funções nas ruas’, relata
Dom Tobji. Ele, portanto, nos convida a rezar pelos cristãos nas áreas sob
controle dos jihadistas : ‘Eles só podem rezar dentro das Igrejas, e isso já é
suficiente, mas não devem exibir símbolos religiosos fora’. O prelado está em
contato com um dos poucos padres presentes naquelas áreas e o viu há cerca de
um mês, este lhe disse que o terremoto ‘devastou 80% das casas e não receberam
ajuda porque ninguém entra nas áreas controladas por extremistas’.
Cristãos
unidos pela reconstrução
Tobji
conclui sua história sobre o marco social e religioso desta Quaresma no norte
da Síria, fazendo um balanço da reconstrução pós-terremoto das estruturas da
comunidade cristã em Aleppo : ‘A maioria dos edifícios da cidade está
danificada, por isso formamos um comitê ecumênico para a ajuda de todos os
cristãos, do qual sou o presidente’. Foram lançados dois projetos, ‘o de
reconstrução e restauro de casas dos cristãos, que prevê também o apoio à renda
para quem teve de abandonar as suas casas’ e o de ajuda quotidiana sob a forma
de ‘cesta de alimentos e donativos em dinheiro’ para famílias, ‘porque o
trabalho já não andava bem antes e com o terremoto muitos outros postos de
trabalho foram perdidos ‘. A comissão ecumênica é mais um sinal de esperança e
reação diante da tragédia, os vários bispos cristãos reuniram de fato para um
projeto concreto seis comunidades católicas - orientais e de rito latino - três
ortodoxas e duas protestantes, ‘somos onze diferentes realidades cristãs, mas
trabalhamos juntos’.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2023-04/siria-pascoa-terremoto-reconstrucao.html
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