Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Vanderlei de Lima,
eremita
na Diocese de Amparo, BA
‘Sermões sobre o
Cântico dos Cânticos’ : Eis o título de uma das clássicas obras de São Bernardo
de Claraval (1090-1153). Foi publicada, em tradução brasileira, pela Editora
Permanência do Rio de Janeiro.
O
livro é extenso – são oitenta e seis sermões – e denso. Daí, ser nossa
intenção, aqui, propor, à luz de boas fontes, apenas um comentário geral sobre
os Sermões. Seu ‘‘gênero literário’ é mais livre […]. Não obstante, é claro que
as coleções de sermões registradas por escrito e publicadas sofreram um
paciente trabalho de redação e edição’ (Bernardo Olivera, OCSO. Introducción
a los Padres e Madres cistercienses de los siglos XII e XIII. Burgos :
Fonte & Monte Carmelo, 2020, p. 79). Ora, o Cântico dos Cânticos é um poema
de amor do Antigo Testamento que faz o homem se reencontrar com Deus de um modo
esponsal. Trata-se de um livro ‘escrito com arte pelo Espírito Santo’ (Pierre
Riché. Vida de São Bernardo. São Paulo : Loyola, 1981, p. 63).
Nele, o ‘diálogo entre a esposa e o esposo não é senão aquele que existe entre
a alma e o Verbo Divino, entre a Igreja e Cristo’ (idem, p. 62). Daí a
questão : que metodologia ou ‘linha exegética’ – diríamos hoje – usava o Abade
de Claraval para suas explanações nessa obra?
Versículo
por versículo
Responde-nos
o próprio Riché, ao demonstrar – de modo mais detalhado – a procura do santo
por Aquele que ele ama, Jesus Cristo : ‘Bernardo explica versículo por
versículo nos sentidos alegórico e místico. Com admirável domínio, com uma arte
raramente alcançada, Bernardo dedica os nove primeiros sermões ao beijo, sem
jamais perturbar-se, nem perturbar seus ouvintes. Quando é levado a falar da
sexualidade, ele age com calma e sem complexos, pois vive sóbria e castamente,
graças à leitura e à oração. Ele passa sem dificuldade do canto nupcial ao da
união mística. Na sua trajetória, conduz seus monges do jardim à adega, da
adega ao quarto. O jardim é o da criação, da reconciliação vinda do Salvador,
da colheita, do fim do mundo. As adegas guardam os aromas, os unguentos e o
vinho, isto é, as três regras de vida segundo a disciplina, a natureza e a
graça. Tudo isso requer um longo encaminhamento. O beijo da alma e do Verbo de
Deus mal acaba de se realizar, eis que corre o risco de findar bruscamente.
Bernardo confidencia aos seus monges que seu diálogo com Cristo é muitas vezes
difícil. Desde o começo em que o Verbo se retirou, tudo isso começa
imediatamente a enlanguescer no torpor e arrefece’ (idem, p. 63).
São
Bernardo
Dom
Bernardo Bonowitz, OCSO, antigo abade do Mosteiro de Nossa Senhora do Novo
Mundo, em Campo do Tenente (PR), completa a explanação de Riché assegurando que
São Bernardo foi um grande admirador de Orígenes, importante místico, filósofo
e exegeta cristão do século III. Daí ter, como ele, por referência os três
livros bíblicos atribuídos ao sábio rei Salomão : Eclesiastes, Provérbios e
Cântico dos Cânticos. Para o santo, sem essa sequência não se consegue
compreender a contento o Cântico dos Cânticos. Eis as oportunas palavras de
Bonowitz : ‘O Cântico dos Cânticos é escrito em linguagem figurativa, usa as
metáforas do amor carnal humano para aludir aos mistérios da união espiritual
entre Deus e a alma e, diz Bernardo prudentemente, se você não tiver passado
pela formação providenciada pelos dois livros anteriores de Salomão,
Eclesiastes e Provérbios, é mais do que provável que você não compreenderá a
terceira obra, que tudo coroa’ (São Bernardo, o numerólogo. Campinas:
Ecclesiae, 2019, p. 18).
Em
suma, o estudioso só tem a louvar a Editora Permanência pela publicação dessa
obra magna de São Bernardo. Não deve, contudo, deixar de notar pontos que deveriam
ser revistos. Por exemplo, as abreviaturas da Sagrada Escritura : Judite
aparece, na página 21, como JDt, quando, via de regra, se usa Jt; Sabedoria, na
página 20, Sab, mas deveria ser Sb; Hebreus, na página 113, vem como Hebr e o
correto seria Hb etc. A palavra consequência está com trema nas páginas 38 e
108, por exemplo. A nota 1 diz, sem mais, que São Roberto de Molesmes foi o
fundador de Cister, quando, na verdade, Cister é fruto de uma comunidade
fundadora a incluir os santos abades Roberto, Alberico e Estêvão Harding. Ainda
: o nome da obra poderia aparecer sempre, como no título, Cântico dos Cânticos)
mas, no corpo do livro, vem Cantar dos Cantares. No sumário, há Deus com d
minúsculo (Sermão LV), igreja em vez de Igreja (Sermão XXX) etc.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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