Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo da Edifa
‘`As
vezes hesitamos em falar mal da cruz às crianças, por medo de
impressioná-las e dar-lhes uma imagem triste da fé cristã. Em si, não há nada
de agradável na cruz: é o instrumento de uma tortura particularmente cruel e
pode-se compreender a revolta de quem olha para ela sem saber o que
significa. Se Jesus fosse um dos torturados entre outros, se fosse apenas
um homem condenado à morte injustamente, seria de fato uma demonstração de um
masoquismo doentio colocar crucifixos nas paredes de nossas casas e
igrejas. Mas Jesus não é um homem como os outros, e se ele sofreu a
crucificação, não é porque ele não pôde evitar. Filho de Deus, e o próprio
Deus, ele ofereceu sua vida por amor a nós. Ele poderia ter eliminado
aqueles que o mataram, mas livremente escolheu não fazer isso, a fim de
salvá-los, de nos salvar. Por isso é importante, principalmente na
Sexta-Feira Santa, conversar sobre o assunto com as crianças.
Não
se demore em detalhes macabros, mas anuncie o amor do Senhor
A
cruz é impressionante, é verdade. Crianças muito sensíveis podem ser
profundamente afetadas pelo realismo de certos crucifixos ou por imagens de
Jesus coberto de sangue, exausto e cheio de dores. Sob o pretexto de
explicar o quanto Jesus nos amou, não vamos usar este tipo de representações:
as crianças correm o risco de ficar marcadas apenas pelo horror dos tormentos
infligidos a Jesus e ficar aterrorizadas por isso. Além disso, é
importante evitar que muitos pais e catequistas se sintam tentados a falar o
mínimo possível sobre a Paixão e a crucificação aos pequenos, passando
rapidamente na Sexta-Feira Santa para ir diretamente à alegria da Páscoa.
A
cruz não é um aspecto acessório de nossa fé. É um mistério central. ’Nós,
como nos lembra São Paulo, proclamamos um Messias crucificado’. (1 Cor 1, 23)
Ou seja : anunciamos Jesus, que veio para nos revelar a infinita misericórdia
de Deus. Falar da cruz não é demorar-se em detalhes macabros, mas é
anunciar o amor do Senhor por cada um de nós : Ele, o Filho de Deus, o
Todo-Poderoso, torna-se pobre e impotente entre as nossas mãos, para dar sua
vida por amor. E a cruz é o sinal tangível desse amor.
Confie
no Evangelho
Para
ajudar as crianças a entender esse mistério, não devemos nos confiar na
descrição detalhada das torturas de Jesus, mas na Palavra de Deus! Não são
as nossas palavras que os introduzirão no mistério da cruz, é o próprio
Espírito Santo, por meio do que vamos dizer. O Senhor precisa de nós para
se dar a conhecer aos nossos filhos, mas somos chamados, como São Paulo, a
anunciar o Evangelho ‘sem recorrer à sabedoria da linguagem humana, que
tornaria sem sentido a cruz de Cristo’ (1 Cor 1, 17). ’Também eu, quando
fui ter convosco, irmãos, não fui com o prestígio da eloquência nem da
sabedoria anunciar-vos o testemunho de Deus. Julguei não dever saber coisa
alguma entre vós, senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado’ (1 Cor 2,
1-2).
Comecemos
pelo próprio texto do Evangelho. Por exemplo, todas as noites desta
semana, na hora de orar em família, podemos reler uma passagem da
Paixão. Os mais jovens não vão ouvir tudo, talvez, nem entender tudo (nem
nós), mas a palavra de Deus vai passar por eles. O que se esconde dos
sábios e dos eruditos se revela aos pequenos, não o esqueçamos. Podemos
mostrar a eles um crucifixo, que homenagearemos na Sexta-Feira Santa, no nosso
cantinho de oração, por exemplo. O importante é viver isso em um clima de
paz, amor e contemplação, não só no momento da oração, mas ao longo de toda a
Semana Santa.
A
cruz não pode ser separada da ressurreição
Enquanto
damos mais ênfase na na cruz na Sexta-feira santa e na
ressurreição no domingo de Páscoa, esses dois eventos são inseparáveis um
do outro. É por isso que é bom, especialmente para as crianças, para quem
três dias é uma eternidade, terminar as Estações da Cruz ou a oração familiar
da Sexta-Feira Santa, anunciando a Ressurreição e a festa da Páscoa.
Se
ignorarmos a Paixão de Jesus, o que podemos dizer sobre a
ressurreição? Corremos o risco de reduzi-la a uma renovação da vida, como
a da primavera após o inverno. Ao querermos tornar as coisas acessíveis às
crianças, podemos correr o risco de distorcê-las.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://pt.aleteia.org/cp1/2021/04/01/sexta-feira-santa-como-falar-as-criancas-sobre-a-cruz/
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