Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Comemoramos
os aniversários dos acontecimentos fundadores de nossas famílias (casamentos,
nascimentos) e fazemos o mesmo com a fundação de nossa fé, a Ressurreição de
Cristo, na Páscoa e inclusive todos os domingos, em todas as missas.
Assim,
da mesma maneira que nós gostamos nesses aniversários de família folhear juntos
um álbum de fotos (ver nele as lembranças de um casamento ou um nascimento),
quando abrimos o Evangelho, encontramos o nosso Senhor Jesus Cristo no frescor
da Páscoa junto com Maria Madalena, junto com Pedro, João e os discípulos de
Emaús. Vamos caminhar com seus sentimentos e ser surpreendidos, como eles, pelo
Cristo Ressuscitado.
Encontrar
Jesus Cristo Ressuscitado com Maria Madalena
Maria
Madalena vai chorar no túmulo de quem ela amava e quem, é claro, acreditava
estar morto, depois de ser testemunha diante da cruz. São Gregório Magno viu na
sua obstinação de ir em direção à Cristo, mesmo depois que ele estava morto, um
modelo para todos. Mesmo quando nossa fé está no ‘escuro’ e Cristo está morto
para nós, continuemos a nos aproximar a ele e amá-lo com todas as nossas
forças.
Mas
o túmulo está aberto e vazio! Maria não entende nada, ela acredita que alguém
pegou o corpo de Cristo e levou ele para algum lugar. Ela dirá isso aos
apóstolos e depois voltará ao túmulo, aos anjos e ao próprio Jesus Cristo, a
quem ela se confundirá. Por que não reconhece quem continuou aos pés da cruz?
É
fácil para nós conceber a idéia da Ressurreição de Cristo, pois a Igreja à
proclama desde faz dois mil anos, mas vamos entender que para ela foi a
primeira vez que ela tinha experiência com algo assim e era totalmente
inimaginável. Os mortos não ressuscitam. É verdade que Lázaro voltou à vida,
graças a Jesus, o único que podia fazê-lo, e agora Jesus está morto!
E é
então o próprio Jesus que chama ela suavemente pelo seu nome : ‘Maria’. Nem
tambores, nem trombetas, nem a chegada chocante surgindo sobre as nuvens, como
o do Filho do homem anunciado por Daniel (7,13).
Quanta
discrição nesta primeira aparição após a sua vitória sobre a morte! E é pela
voz, o órgão da fé (‘A fé, portanto, nasce da pregação e a pregação é feita em
virtude da Palavra de Cristo’, Romanos 10, 17), que Maria
reconhece. Assim que Maria se vira, ou seja, ela se transforma
(etimologicamente são a mesma palavra), ela grita seu amor : ‘Raboní!’ E Jesus
responde : ‘Não me retenha, porque ainda não subi ao Pai’.
Ele
a faz se desapegar de sua afeição pelo homem que ela conheceu antes da Paixão
para aprender a conhecer o Senhor. E Jesus acrescenta : ‘Diga aos meus irmãos :
‘Vou para cima junto ao meu Pai, o Pai de vocês; meu Deus, o Deus de vocês'‘.
Jesus
Cristo ressuscitado vem ao nosso encontro para confiar-nos uma missão : sermos
suas testemunhas. A Ressurreição é o centro da História, mas não é o último
ato, e, como Deus é seu autor, oferece-nos a possibilidade de proclamar o seu
anúncio e o que isso significa para todos : a possível vitória sobre o mal e a
morte, a esperança da vida e da bondade eternas.
Encontrar
o Cristo Ressuscitado com São João e São Pedro
Corremos
junto com João para o túmulo. Ele vê as telas e acredita. De fato, seus olhos
só vêem as telas e uma mortalha, vazias, mas seu coração compreende : Cristo
não está mais no túmulo, ele está vivo. Quanto a Pedro, o Evangelho de São João
não especifica sua reação no túmulo nem seu caminho pessoal no reconhecimento
da Ressurreição.
Mas,
além do que São Lucas escreve, que Jesus Cristo lhe apareceu na Páscoa, temos
algo melhor : seu próprio testemunho no Pentecostes (Hb 2: 14-36).
Pedro foi o primeiro que descobriu, à luz do seu encontro com o Ressuscitado,
aquilo que proclama nesse dia : o plano de Deus para a salvação dos homens
através da História, culminando na ressurreição daquele que foi pregado na cruz
.
Além
disso, os Evangelhos da Ressurreição especificam a missão de Pedro (e,
portanto, dos seus sucessores). Maria Madalena vai correndo até ele quando vê o
túmulo vazio (Jo 20,1-2) e João, o discípulo amado, sai diante dele
na entrada do túmulo (Jo 20,3-10): a Igreja do amor reconhece sua
primazia. Mais tarde, nas margens do lago da Galiléia, Jesus Ressuscitado
confirma e especifica sua missão como pastor e especifica seu papel para toda a
Igreja : ‘Leva a pastar minhas ovelhas’ (Jo 21,15-19).
Encontrar
o Cristo Ressuscitado com os discípulos de Emaús
Mais
uma vez, é Jesus quem toma a iniciativa no caminho. Ele vai caminhar junto com
dois homens tristes pelo drama do Calvário. Eles também não o reconhecem,
embora o conhecessem bem antes de sua morte, como acontece frequentemente
quando não o reconhecemos quando Ele caminha conosco ao nosso lado na vida.
Esse trajeto até Emaús é importante para entender o papel da Palavra de Deus no
encontro com Jesus.
O
que Ele diz à eles durante o trajeto sobre Ele mesmo é muito diferente do que
um jornalista diria quando ressurgisse extraordinariamente do mais profundo da
morte. Dá à eles, a partir da Escritura, o significado do que Ele viveu. É a fé
em Cristo Ressuscitado que abre a inteligência da Escritura para nós, e não o
contrário, mas, em troca, entendemos melhor o que Sua Ressurreição significa
para nós quando nos alimentamos da Palavra de Deus.
Quando
chegaram em Emaús, Jesus se senta à mesa com os dois discípulos. E é então,
quando ‘ele pegou o pão e pronunciou a bênção; depois ele quebrou o pão e deu à
eles ‘(como o padre na missa), os quais compreendem e reconhecem quem é Ele.
Desde então, a Eucaristia tem sido o lugar do nosso encontro sensível com Jesus.
‘Não temos, nem vemos outra coisa verdadeira e sensível neste mundo desse
Altíssimo Senhor, exceto seu Corpo e Sangue’, dizia São Francisco de Assis.
E,
como Maria Madalena, como João, os dois discípulos entendem que é através do
amor que avançam em direção à Ele : ‘Não ardia nosso coração, por acaso,
enquanto Ele nos falava durante o caminho e explicava as Escrituras para nós?’
Os peregrinos de Emaús sabiam – e nos convidam a fazer isso com eles – que esse
caminho para a felicidade perfeita que eles percorreram com Jesus Cristo
Ressuscitado e que correm para compartilhar com os Apóstolos é, de fato, Ele
mesmo : ‘Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida ‘(Jo 14,6).
Um
caminho que serve para todos nós
Estes
encontros de Páscoa podem ser procurados por cada um de nós através de outros
testemunhos da Ressurreição : as mulheres santas, São Tomé, os Apóstolos. São
como lampejos de uma realidade que sempre nos dominará e nos fará vislumbrar o
que Cristo Ressuscitado espera de nós :
- É sempre Ele quem toma a
iniciativa e quem se manifesta livremente escolhendo quem Ele quer;
- Ele quer ser reconhecido e
mostra sinais para alcançá-lo, mas não força nada. Deixa seu interlocutor
encontrar sua resposta em liberdade;
- Esse encontro quebra de tal
maneira todas as concepções sobre a vida e a morte que cada um deve passar
por uma jornada de reconhecimento, medo, dúvida, alegria incrédula,
choque, adoração (alguns não conseguem);
- Cada um revela suas disposições
internas e entendemos que a coisa decisiva para avançar em direção à Ele é
o amor;
- Depois de ser reconhecido,
Jesus revela que ele não está mais morto, mas sim vivo (ele fala, anda,
come), que continua sendo o mesmo, mas diferente, mestre das limitações
deste mundo;
- Jesus inscreve sua Ressurreição
na história de Israel e nas Sagradas Escrituras e convida à lê-las e
compreendê-las à luz do evento pascal;
- Ele conduz do visível ao
invisível, do contato físico aos sinais, da presença sensível aos
sacramentos em que se entregará e, sobretudo, na Eucaristia;
- Seus interlocutores entendem
que Jesus é mais que o Messias : ‘Meu Senhor e meu Deus!’, exclama Tomé.
Todos
esses encontros terminam com um envio de missão. Jesus confia a cada um a
responsabilidade de contar esse encontro com Ele e de dar testemunho da boa
nova da Salvação. Assim, Jesus forma o coração e o intelecto para dar
testemunho dele, antes que o Espírito Santo dê forças para fazê-lo. Todas essas
aparições de Cristo Ressuscitado refletem, portanto, um encontro pessoal com
Ele. Cada um de nós é chamado a isso nos sacramentos, na oração e em toda a
vida. Jesus é sempre nosso contemporâneo e nós também somos chamados por Ele a
aceitar o mesmo desafio que as suas primeiras testemunhas.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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