Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das
poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa
da Santa Sé
No pontificado de Bento XVI, por
exemplo, citamos o caso do cardeal Bertone. No de Francisco, por sua vez, o de
Georg Gänswein, ex-secretário pessoal de Papa Ratzinger, e do cardeal
australiano Georg Pell, que até sua morte, ao menos publicamente, nunca havia
se oposto abertamente ao pontífice argentino.
Que Francisco não é bem quisto
por muitos grupos da Cúria Romana, isso a gente já sabe. A questão está em
analisar quem realmente está do lado dele e até que ponto existe uma adesão
sincera a seu projeto de reforma. Ou seja, a questão agora está em checar por
onde andam os inimigos que dão tapinha nas costas do Papa. E há muitos desses,
que inclusive ocupam cargos-chave dentro da cúria.
As próprias nomeações de padres
para a Secretaria de Estado que, no passado, eram abertamente contrários à
linha de governo do papa atual, impressionam.
Nesse sentido, não entendemos se
é uma estratégia de Francisco para que eles estejam sob sua vigilância ou se,
de fato, o pontífice argentino esteja já na fase de delegar algumas pessoas
para se encarregarem dessas nomeações.
Sabemos, por exemplo, que, quando
o assunto é América Latina, é o cardeal Óscar Rodríguez Maradiaga, de Honduras,
quem acaba exercendo um papel preponderante na hora de decidir quais
latino-americanos são dignos de integrar o grupo de colaboradores do Papa em
Roma.
Agora sim, sem dúvida, podemos
falar de uma solidão vivida pelo Papa Francisco. As resistências à sua reforma,
nos últimos anos, só se intensificaram. Além disso, muitos daqueles sobre os
quais ele depositou uma certa confiança acabaram abandonando o barco. Uns por
não conseguirem lidar com as disputas internas; outros por estarem apegados a
um modelo de igreja que não corresponde ao ‘poliedro’ que Papa Francisco
propõe.
Isso faz com que as cartas
jogadas no próximo conclave ainda sejam incertas, muito embora, aparentemente,
o grupo de cardeais pró-Francisco seja expressivo. O que podemos esperar, nos
próximos anos, é uma oposição silenciosa, mas bastante consolidada, que fará de
tudo para apagar o legado de Francisco. É esperar para ver.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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