Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Padre Michael Rennier,
sacerdote católico ordenado através da Provisão Pastoral para ex-clérigos episcopais que foi criado pelo Papa São João Paulo II
‘Às
vezes, eu me perco de propósito. Em uma corrida, viro em uma rua aleatória
porque quero ver como são as casas naquele bairro intrigante, ou talvez haja um
parque escondido na esquina ou uma vista diferente do rio. Dessa forma, ao me
sentir perdido, encontrei lugares que não consigo encontrar de novo – delicadas
fontes urbanas de cobre com crostas verdes por décadas ao sol, riachos
salpicados de peixes prateados entrando e saindo da sombra, um cemitério
antigo, coberto de grama, da civilização pré-colombiana que viveu nas margens
do rio Mississippi há mil anos. São experiências únicas que me ocorrem
espontaneamente. Tudo o que tenho a fazer é vagar.
Lembro-me
de quando aceitei minha primeira designação para pastorear uma igreja. Eu
recentemente havia me formado no seminário. E um pequeno grupo de pessoas me
pediu para ir a Cape Cod para ajudá-los a iniciar uma nova paróquia anglicana.
Assim, aceitar a posição foi um salto de fé e, para dizer a verdade, eu estava
mais perdido do que esperava. Não tinha ideia de como construir uma igreja.
Então, felizmente, concordei em me perder no imenso desafio de servir a uma
comunidade cristã desde os primeiros momentos de seu nascimento.
Amadurecimento
Minha
vontade de me perder de diferentes maneiras ao longo dos anos rendeu frutos.
Primeiramente, aprendi muito com meus paroquianos e amadureci como pastor.
Então passei a pensar nesses paroquianos como minha família. E juntos nossa
comunidade experimental prosperou. Na verdade, como não tinha ideia do que
estava fazendo, não tinha preconceitos sobre como exatamente se faz para fazer
uma igreja prosperar. Então formamos uma comunidade unida e tentamos todos os
tipos de coisas. Enfim, se eu tivesse chegado lá com tudo rigorosamente
planejado, toda a experiência teria sido muito menos frutífera.
Da
mesma forma, nunca poderia planejar descobrir as partes esquecidas e escondidas
da cidade onde moro, porque não tinha ideia de que existiam. A vontade de se
perder é o único caminho.
Sentir-se
perdido nem sempre é muito divertido. Literalmente falando, nada é pior do que
estar em um carro – perdido – enquanto a pessoa ao lado grita que você errou.
Metaforicamente, estar perdido como um estado de espírito é estressante. É
aquela sensação desagradável de não saber o que fazer a seguir, de não ver um
caminho produtivo adiante, de sentir-se inseguro sobre para onde a vida está
indo.
Acontece
com todos nós em algum ponto ou outro. Pode-se estar preso em uma carreira
insatisfatória, mas sem saber qual seria o melhor caminho. Pode-se saber que há
uma vocação específica em sua vida, mas você se vê incapaz de localizá-la.
Quando a próxima etapa é incerta, perdemos o equilíbrio. Enfim, isso se torna
uma grande fonte de estresse e insatisfação.
Oportunidade de
crescimento ao se sentir perdido
Tudo
depende de como reagimos ao estarmos perdidos. O poeta Rainer Maria Rilke, em
uma carta a um jovem poeta que estava perdido sobre o que escrever e o que
fazer, escreve : ‘Seja paciente com tudo o que não está resolvido em seu
coração e tente amar as próprias questões como se fossem quartos trancados ou
livros escritos em uma língua muito estrangeira. Viva as perguntas agora.
Talvez então você irá, gradualmente, sem perceber, viver uma longa jornada até
a resposta.’
A
paciência durante os momentos de sensação de estar perdido, de acordo com
Rilke, é a chave para coisas novas e surpreendentes. Estar aberto à experiência
é vital. A abertura não torna a experiência mais fácil. Embora eu me lembre com
carinho de ter trabalhado com aquela igreja nova, também me lembro de momentos
intensos de estresse e frustração. Mas se formos pacientes e estivermos de
mente aberta, a experiência de estarmos perdidos eventualmente nos levará a
transformação.
Correr riscos
Na
verdade, não sabemos o que podemos nos tornar até que o tornemos. Então, se
nunca estivermos dispostos a correr riscos, nunca iremos experimentar qualquer
crescimento pessoal. De que outra forma podemos expandir nossos horizontes, a
menos que estejamos dispostos a ir além de nossos limites habituais para um território
desconhecido?
Nesse
sentido, trata-se de um ato de equilíbrio. Acima de tudo, não estou dizendo
para ser imprudente. Mas isso não deve nos impedir de ser aventureiros. E,
claro, sentir-se perdido costuma ser uma condição que a vida nos impõe contra
nossa vontade. O que realmente importa é como enfrentamos o desafio.
Quando
olhamos para trás em nossas vidas, podemos ver como os acontecimentos
inesperados, mesmo os momentos muito difíceis, os momentos em que estávamos
ansiosos e preocupados, inseguros quanto ao nosso futuro, foram os
catalisadores de períodos de enorme crescimento. Então, eu digo, de vez em
quando vire à direita, onde normalmente você vira à esquerda. Abra uma nova
porta. Vá em frente e se perca.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2020/10/19/os-grandes-beneficios-de-se-sentir-perdido/
Nenhum comentário:
Postar um comentário